
Assim que deu baixa da Marinha, após o fim da Segunda Guerra Mundial, meu pai veio para o Rio de Janeiro. O primeiro ofício que aprendeu aqui foi o de auxiliar de alfaiate. Logo estava com sua própria clientela, especializou-se em fazer calças para mulheres. E uma de suas clientes mais ilustres foi Dna. Sara Kubitschek. Ele sempre dizia que ela era uma mulher elegante, educada, simpática e gentil. Enfim, uma verdadeira dama.
Alguns anos mais tarde meu pai conseguiu um emprego numa subsidiária do Ministério das Minas e Energia como escriturário. Continuou fazendo calças para mulheres em casa. No Ministério ele conheceu minha mãe e os dois se casaram, em 1960. Por algum motivo alheio à sua vontade, meu pai teve uma promoção legítima negada pelos seus superiores imediatos. Ele não pensou duas vezes: escreveu uma carta ao então presidente Juscelino Kubitschek explicando a sua situação e pedindo que o presidente interviesse a seu favor. Não tardou para que Juscelino lhe respondesse de próprio punho garantindo-lhe a promoção. Meu pai sempre foi grato a JK por isso e o considerava – não apenas por essa ajuda pessoal, mas por todo o seu governo – o melhor chefe de Estado que o Brasil já teve.
Hoje meus pais já não estão mais entre nós, mas assistindo ao último capítulo da minissérie JK senti vontade de contar aqui essa pequena história "da minha aldeia" para que ela não se perdesse na poeira do tempo.
"Minha alma chorou tanto que de pranto está vazia
Desde que aqui fiquei sem a tua companhia"
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Na foto, eu e meus pais em dezembro de 1967 no Aterro do Flamengo.