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segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

'A MULHER DO LADO' ('La Femme d'à Côté', 1981), de François Truffaut

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Drama


Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Jean Aurel, Suzanne Schiffman
Produção: François Truffaut / Films du Carrosse, Gaumont, TF1 Films
Fotografia: William Lubtchansky, Jean-Pierre Kohut-Svelko
Montagem: Martine Barraqué-Curie
Música: Georges Delerue
Direção de Arte: Jean-Pierre Kohut-Svelko
Elenco: Gérard Depardieu, Fanny Ardant, Henri Garcin, Michèlle Baumgartner, Véronique Silver, Philippe Morier-Genoud, Roger Van Hool, Olivier Becquaert, Roland Thénot

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"Impossível viver com ela, impossível viver sem ela."
(Bernard Coudray)

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François Truffaut é um dos meus cineastas favoritos e não podia pular de "A Noite Americana" para um outro filme qualquer. Pensei em fazer alguns "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977, de Steven Spielberg, onde Truffaut interpreta o cientista Claude Lacombe), mas decidi ficar um tempo aqui no cinema europeu. Hoje em dia conheço muito pouca gente que sabe apreciar os filmes europeus e gente demais viciada no videoclipado cinema de Hollywood. Isso me irrita profundamente. Gosto dos dois, mas estou completamente saturado do cinema norte-americano. Prefiro buscar o ritmo mais orgânico do velho continente e rever filmes que fizeram minha cabeça e meu coração nos anos 80, época em que descobri o cinema europeu.

E "A Mulher do Lado" é um dos filmes que mexem demais com meu coração. Conta a história de Bernard Coudray (Gérard Depardieu), sujeito bem casado com Arlette (Michèlle Baumgartner) e que vive feliz com ela e com Thomas (Olivier Becquaert), o filho dos dois. Até que um dia o casal Mathilde e Philippe Bauchard (Fanny Ardant e Henri Garcin) se mudam para a casa ao lado. O problema é que Bernard e Mathilde tiveram um intenso caso anos antes e a chama da paixão reacende nesse reencontro, sem que os respectivos cônjuges desconfiem de nada. A relação dos dois toma dimensões extraordinárias, e traz conseqüências inesperadas.

"A Mulher do Lado" está longe de ser uma história original, porém François Truffaut conta esse caso de amor de uma forma nunca antes vista, bem condizente com seu cinema apaixonado e emocional. Depardieu está excelente como sempre e Fanny Ardant - última esposa de Truffaut - está extraordinária e belíssima, deixando o espectador de olhos brilhando. Para quem já viveu uma paixão intensa, este é um exemplo que fascina e choca ao mesmo tempo.

Lembro que assisti "A Mulher do Lado" com minha primeira namorada no Cine Arte UFF, em Niterói, e saí do cinema trocando as pernas, de tão forte que o filme me bateu, especialmente o final. Apesar de não me recordar dos detalhes, o sentimento do filme continua muito forte e impressionante na minha memória. Uma grande obra, de um dos maiores cineastas de todos os tempos, que merece ser revista, sempre.

sábado, 15 de janeiro de 2005

"A NOITE AMERICANA" ("La Nuit Américaine", 1973), de François Truffaut

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Classics


Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut, Jean-Louis Richard, Suzanne Schiffman
Produção: Marcel Berbert / Columbia Pictures, Films du Carrosse, Productions et Editions Cinematographic Francaise, Produzione International Cinematografica, Warner Brothers
Fotografia: Pierre-Wiliam Glenn
Montagem: Martine Barraqué-Curie, Yan Dedet
Música: Georges Delerue
Direção de Arte: Damien Lanfranchi
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Jacqueline Bisset, Valentina Cortese, Jean-Pierre Aumont, François Truffaut, Alexandra Stewart, Dani, Nathalie Baye, Gaston Joly, Jean Champion, Bernard Menez, Walter Bal, Jean-François Stévenin, Marcel Berbert, Christophe Vesque, David Markham

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"Fazer um filme é como atravessar o velho oeste numa diligência. No começo você espera fazer uma viagem agradável. A partir de um certo ponto você apenas reza para chegar vivo até o final."
(Ferrand, o diretor)

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Jacqueline Bisset foi minha primeira musa internacional, e ela sempre me faz lembrar três filmes. O principal deles é esta obra-prima do cinema mundial. Muitos críticos já esbanjaram a expressão "uma declaração de amor ao cinema" para caracterizar muitos filmes que não mereciam esse mérito. "A Noite Americana" é 'A' declaração de amor ao cinema por excelência. Considerado pelos críticos como o "Oito e Meio" de François Truffaut, o filme é a síntese de como ele via o cinema. Ex-delinquente juvenil, salvo da vida criminosa por sua paixão pelos filmes, Truffaut é - ao lado de Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Claude Chabrol e Eric Rohmer - um dos fundadores do movimento conhecido como "nouvelle vague", surgido em 1959. Sua brilhante carreira se distanciou do experimentalismo de seu velho amigo Godard mas nunca perdeu a emoção, a delicadeza e a paixão, até sua morte precoce em 1984.

"A Noite Americana" mostra a realização de um filme, um longa-metragem chamado "Quero que Conheçam Pamela", do primeiro ao último dia de filmagem. Todos no set se entregam de corpo e alma ao trabalho. Jacqueline Bisset é Julie, que interpreta Pamela, Jean-Pierre Léaud é Alphonse, que faz seu noivo no filme dentro do filme. Jean-Pierre Aumont e Valentina Cortese são os atores que encarnam os pais do personagem de Alphonse. Além do elenco, toda a equipe de "...Pamela" vive intensamente cada minuto da filmagem, como a continuísta (Dani) que tem um caso com Alphonse e o trai nos bastidores com o dublê, ou a assistente Joelle (Nathalie Baye), que "trocaria um homem por um filme, mas jamais um filme por um homem".

O amor pela sétima arte transpira em cada cena de "A Noite Americana". E no meio de tudo isso está o diretor Ferrand (o próprio François Truffaut), que abre mão da vida particular para dedicar-se inteiramente ao seu filme. Até mesmo dormindo Ferrand não abandona o cinema: ele tem sonhos sucessivos de um garoto (Christophe Vesque), à noite, roubando lobby cards de "Cidadão Kane" no foyer de um cinema. Além disso ele tem que agüentar a pressão dos produtores e uma morte inesperada quase no fim das filmagens.

O título se refere a um efeito fotográfico que simula noite ao se filmar de dia, através do uso de filtros na câmera.

Cheio de referências reais e de histórias dos bastidores de outros filmes – inclusive alguns do próprio Truffaut –, "A Noite Americana" revela os truques e o cotidiano dos profissionais envolvidos numa filmagem, e mostra que são pessoas como quaisquer outras, com fraquezas, dúvidas, virtudes e sonhos, mas sobretudo com muita paixão pelo que escolheram fazer: dedicar suas vidas ao cinema. Para mim este é o melhor filme de François Truffaut e sem dúvida um dos melhores filmes de todos os tempos.