Mostrando postagens com marcador johnhuston. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador johnhuston. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

"O HOMEM QUE QUERIA SER REI" ("The Man Who Would Be King", 1975), de John Huston

Rating:★★★★
Category:Movies
Genre: Action & Adventure


Direção: John Huston
Roteiro: Gladys Hill e John Huston, baseado no conto homônimo de Rudyard Kipling
Produção: John C. Foreman / Columbia Pictures
Fotografia: Oswald Morris
Montagem: Russell Lloyd
Música: Maurice Jarre
Direção de Arte: Tony Inglis, Alexandre Trauner
Elenco: Sean Connery, Michael Caine, Christopher Plummer, Saeed Jaffrey, Shakira Caine, Albert Moses, Mohammed Shamsi

* * * * * * * * * * *

"You are going to become soldiers. A soldier does not think. He only obeys. Do you really think that if a soldier thought twice he’d give his life for queen and country? Not bloody likely. When we’re done with you, you’ll be able to stand up and slaughter your enemies like civilized men."
(Daniel Dravot, para os soldados do seu reino)

* * * * * * * * * * *

Herman Melville não foi o único escritor que John Huston levou às telas. Entre muitos outros ele também transformou um conto de Rudyard Kipling num grande filme de aventuras. “O Homem que Queria Ser Rei” conta a história de dois ingleses trapaceiros, Daniel Dravot (Sean Connery) e Peachy Carnehan (Michael Caine), ex-soldados de Sua Majestade na Índia e maçons (com um código de ética muito peculiar), que cansados de se sustentarem a custa de pequenos roubos e golpes, decidem partir para o Kafiristão e se tornar reis do lugar. Eles assinam um acordo no escritório do próprio Rudyard Kipling (Christopher Plummer), que conheceram por acaso em ocasiões diferentes nos trens indianos, e partem com a bênção – e temor – do escritor. Atravessam o Afeganistão, cruzam desertos, geleiras, montanhas, enfrentam bandidos e as intempéries naturais até que enfim chegam ao (fictício) Kafiristão, que no passado já teria sido conquistado por Alexandre o Grande. Lá encontram uma terra de bárbaros, que se reúnem em tribos isoladas, eternamente em luta umas contra as outras. Usando seus conhecimentos de estratégia militar, além de muita esperteza, Dravot e Carnehan vão ganhando a confiança do povo local até que conseguem seu intento. Daniel se torna o rei do Kafiristão. Só que se tornar rei é uma coisa, manter o trono e a unanimidade entre seus súditos é outra bem diferente. Muitas vezes ajudados pelo acaso, pela História e pela Maçonaria, os malandros vão conseguindo se safar de serem desmascarados. Até que, após ser flechado numa batalha e arrancar a flecha fora (que tinha atingido uma proteção), Dravot é aclamado pelo povo como um deus vivo, sucessor direto de Alexandre o Grande. E isso acaba selando o destino dos amigos.

A história é contada em ‘flashback’ por Carnehan, que retorna após três anos de aventuras no longínqüo Kafiristão e conta tudo a Rudyard Kipling. Filmado no Marrocos, em Chamonix (França), em Utah (EUA) e nos estúdios Pinewood, na Inglaterra. Com Shakira Caine, esposa de Michael Caine (como Roxanne) e Saeed Jaffrey (como Billy Fish).

John Huston realizou um típico filme de aventuras, com ecos de “Gunga Din”, mas com tintas de preconceito cultural (os indianos são mostrados como um povo porco e inculto, isso sem falar nos fictícios “kafiristãos”, que condensam toda a visão preconceituosa dos conquistadores ingleses) além de doses generosas de humor negro. Assim como “O Expresso da Meia-Noite”, já comentado aqui antes, “O Homem Que Queria Ser Rei” é sim um filme racista (e tanto por isso fiel à obra de Kipling), porém com um legítimo espírito de ousadia, cheio de descobertas, conquistas e aventuras poucas vezes vistos no cinema dos anos 70.

sábado, 18 de dezembro de 2004

"MOBY DICK" (Idem, 1956), de John Huston

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Action & Adventure


Direção: John Huston
Roteiro: Ray Bradbury e John Huston, baseado no romance homônimo de Herman Melville
Produção: John Huston, Vaughan N. Dean / Moulin Films, Warner Bros.
Fotografia: Oswaldo Morris, Freddie Francis
Montagem: Russell Lloyd
Música: Philip Stainton
Direção de Arte: Ralph W. Brinton, Stephen B. Grimes
Elenco: Gregory Peck, Richard Basehart, Leo Genn, Harry Andrews, Seamus Kelly, Orson Welles, Frederick Ledebur, Bernard Miles, Mervyn Johns, Tom Clegg, Edric Connor, Noel Purcell, Philip Stainton, Royal Dano, Joseph Tomelty

* * * * * * * * * * *

Starbuck, primeiro imediato: To be enraged with a dumb brute that acted out of blind instinct is blasphemous.

Capitão Ahab: Speak not to me of blasphemy, man; I’d strike the sun if it insulted me. Look ye, Starbuck, all visible objects are but as pasteboard masks. Some inscrutable yet reasoning thing puts forth the molding of their features. The white whale tasks me; he heaps me. Yet he is but a mask. `Tis the thing behind the mask I chiefly hate; the malignant thing that has plagued mankind since time began; the thing that maws and mutilates our race, not killing us outright but letting us live on, with half a heart and half a lung.

* * * * * * * * * * *

Gregory Peck já encarnou um de meus personagens favoritos, o Capitão Ahab. John Huston – o cineasta do pessimismo e da inevitabilidade – realizou a versão cinematográfica mais grandiosa (porém não a única) do romance homônimo de Herman Melville, sobre um homem obcecado em matar a baleia que arrancou sua perna e mutilou sua alma. Para isso ele próprio se imbuiu do espírito obsessivo de Ahab e levou anos alimentando o projeto de levar esta história para a tela grande. A ponto de Gregory Peck sugerir que o próprio Huston deveria interpretar o louco capitão, ao invés dele. Um de seus filmes mais pessoais, "Moby Dick" teve roteiro co-escrito por Huston e Ray Bradbury – mais conhecido por seus livros de ficção científica e terror – e conseguiu condensar em seus 116 minutos os principais aspectos da obra de Melville.

Ishmael (Richard Basehart) depois de muito caminhar, chega à cidade portuária de Nantucket, em Massachussetts, conhece o arpoador canibal Queequeg (o polonês Frederick Ledebur) e ambos se alistam no baleeiro ‘Pequod’, sob o comando do Capitão Ahab. Apesar de sua missão de dois anos em torno do mundo ser arpoar o máximo possível de baleias e abarrotar os porões do navio de óleo, Ahab só tem uma coisa em mente: encontrar e matar o cachalote branco batizado de Moby Dick, que o mutilou anos antes. Starbuck, o primeiro imediato (Leo Genn) tenta fazer o papel de Grilo Falante, de consciência racional de seu capitão, porém a gigantesca obsessão de Ahab é forte demais para ser dobrada. Aos poucos, durante a longa jornada, ela contagia cada um dos marinheiros do ‘Pequod’ e eles quase se tornam partes do próprio Ahab, todos determinados a confrontar o poderoso cachalote branco.

Um perfeito ensaio sobre a obsessão e o ódio humanos, "Moby Dick" foi filmado em grande parte nas cidades portuárias de Massachussetts, na costa da Irlanda e próximo às Ilhas Canárias, no Atlântico Norte, com seqüências reais de caça às baleias feitas por baleeiros profissionais dos Açores, e um grande cachalote mecânico feito de madeira, borracha e plástico. O bicho enguiçava ou quebrava constantemente, trazendo dores de cabeça à equipe e atrasos nas filmagens, além de inflacionar o orçamento (problemas idênticos teve Steven Spielberg quando filmou "Tubarão" em 1975). A fotografia de Oswald Morris – que teve um tratamento cromático especial, criado por Morris e por Huston – e a trilha sonora de Philip Sainton se juntaram para dar o tom certo de aventura e tensão ao filme, e fazem com que o público se sinta parte da tripulação do ‘Pequod’. Também estão no elenco Harry Andrews (Stubb, o segundo imediato), Bernard Miles (o marinheiro colega de Ishmael), Royal Dano (o louco que profetiza o terrível destino do ‘Pequod’) e Orson Welles, numa participação especial como o Padre Mapple. Gregory Peck pegou emprestado um pouco da aparência do presidente Abraham Lincoln na composição do seu Ahab, com uma barba marcada por um filete grisalho que emenda numa longa cicatriz através do rosto. Enfim, o retrato da obsessão feita de carne, sangue e osso de baleia.