Mostrando postagens com marcador philippenoiret. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador philippenoiret. Mostrar todas as postagens

domingo, 23 de janeiro de 2005

"A COMILANÇA" ("Le Grande Bouffe", 1973), de Marco Ferreri

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Cult


Direção: Marco Ferreri
Roteiro: Marco Ferreri, Rafael Azcone, Francis Blanche
Produção: Capitolina Productions / Franco London Films / Mara Films / NPF
Fotografia: Pasquale Rachini, Mario Vulpiani
Montagem: Claudine Merlin
Música: Philippe Sarde
Direção de Arte: Michel de Broin
Elenco: Ugo Tognazzi, Marcello Mastroianni, Philippe Noiret, Michel Piccoli, Andréa Ferréol, Monique Chaumette, Florence Giorgetti

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

Philippe Noiret - um dos maiores atores franceses em atividade, mais conhecido do público atual como o projecionista de "Cinema Paradiso" - me remete a este estranho e fascinante filme de Marco Ferreri. Ferreri é um diretor italiano, dono de um senso de humor peculiar e autor de filmes singulares e difíceis para a maioria das platéias. "Ciao Maschio" (1978), com Gérard Depardieu e Marcello Mastroianni, "Crônica de um Amor Louco" (1981), com Ben Gazzara e Ornella Muti e "A História de Piera" (1983), com Isabelle Huppert e Hanna Schygulla, de destacam em sua filmografia.

Durante muito tempo "A Comilança" foi um filme difícil de se ver no Brasil, mas recentemente foi relançado nos cinemas pelo Grupo Estação com cópias novas. Ficou um pouco datado nos figurinos e maneirismos dos personagens. Porém sua força dramática, o inusitado da situação e o humor nigérrimo e escatológico brilham acima dos calendários.

A situação é simples. Quatro amigos - o piloto Marcello (Marcello Mastroianni), o chefe de cozinha Ugo (Ugo Tognazzi), o diretor de TV Michel (Michel Piccoli) e o juiz de direito Philippe (Philippe Noiret) - decidem se reunir numa velha mansão no interior e acabar com suas próprias vidas numa grande orgia sexual e gastronômica. Para isso contratam três prostitutas e enchem a despensa e o frigorífico com um suprimento gigantesco de comida. Na última hora, meio que por acaso, convidam uma professora primária, Andréa (Andréa Ferreol) para o festim. A intenção deles é morrer no auge do prazer e com "estilo", sempre mantendo sua condição de burgueses convictos.

"A Comilança" pode ser visto de várias formas. É um ensaio sobre a decadência da burguesia, o vazio da sociedade de consumo, a supervalorização do sexo e da comida no mundo moderno... é uma comédia de humor negro, onde os personagens mantém os mesmos nomes de seus intérpretes e buscam a morte através do que a maioria das pessoas considera os grandes prazeres da vida... é um festival de escatologia gratuita, com algumas cenas grotescas, asquerosas e patéticas... é uma comédia deliciosa, com cenas de sexo implícito, comilança (em todos os sentidos) e uma inesquecível e hilária cena onde Ugo brinca de ser Marlon Brando em "O Poderoso Chefão" - com inusitada perfeição.

Enfim, de qualquer ângulo que você veja "A Comilança", este será sempre um filme brilhante e perturbador. Mesmo que você saia enjoado da sala de projeção (ou do fim da sessão de vídeo ou DVD), tenha uma certeza: jamais se esquecerá dele. Porém eu recomendo assisti-lo de estômago vazio...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2005

"ESTRESSADÍSSIMO" ("Grosse Fatigue", 1994), de Michel Blanc

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Comedy


Direção: Michel Blanc
Roteiro: Bertrand Blier, Michel Blanc
Produção: Gaumont, TF1 Films
Fotografia: Eduardo Serra
Montagem: Maryline Monthieux
Música: René-Marc Bini
Direção de Arte: Carlos Conti
Elenco: Michel Blanc, Carole Bouquet, Philippe Noiret, Josiane Balasko, Charlotte Gainsbourg, Mathilda May, Roman Polanski, Christian Clavier, David Hallyday, Regine

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

O diretor Bertrand Blier - um dos poucos cineastas franceses das décadas de 70-90 que considero genial - deu de presente ao ator/diretor Michel Blanc o argumento dessa comédia absurda. "Estressadíssimo" é um dos filmes mais inusitados dos últimos anos. Pra começar quase todos no elenco interpretam a si mesmos. Carole Bouquet, Philippe Noiret, Josiane Balasko, Christian Clavier, Charlotte Gainsbourg, Mathilda May, entre outros, são atores e atrizes franceses que trabalham no cinema, teatro e televisão. O cenário é a França atual. Porém o simulacro de realidade termina aí. E a mais absurda história sobre perda de identidade começa.

Michel Blanc, ator e diretor francês contemporâneo (e autor deste filme), está sendo acusado de ter roubado alguns colegas no último Festival de Cannes e de ter estuprado outra colega, a famosa atriz Josiane Balasko. Ele sabe que as acusações são falsas e que não tem nada a ver com os crimes, porém todos à sua volta juram que ele é o culpado. E o pior é que todos os indícios levam realmente a ele. Será que Michel Blanc estaria perdendo a memória, tendo crises de esquizofrenia ou o quê? Nada disso. Blanc acaba descobrindo que um sósia perfeito seu está agindo de forma torpe e ousada, se fazendo passar por ele, cometendo crimes e delitos na frente de todos e o incriminando cada vez mais. Fugindo da polícia, o diretor/ator pede ajuda à sua amiga Carole Bouquet, também atriz, uma das poucas pessoas a acreditar em sua inocência. Os dois vão atrás do sósia, até o interior da França, e aos poucos uma rede de conspiração vai se revelando, até que tudo culmina num final absolutamente surpreendente. Outro famoso diretor/ator, o polonês Roman Polanski faz uma participação na cena final como ele próprio, rodando um novo filme na capital francesa.

Um dos mais criativos, originais, absurdos e acachapantes filmes feitos no velho continente em décadas, "Estressadíssimo" merece ser visto e revisto. É um ensaio sobre a fama, sobre como os anônimos vêem os famosos, a perda de identidade, os limites entre vida particular e vida pública, e principalmente sobre as paranóias que nos envolvem no dia-a-dia.

Para quem não gosta, torce o nariz ou não tem familiaridade alguma com o cinema francês, este é o filme certo para se começar a mudar de idéia. A brilhante história de Bertrand Blier e o roteiro (ganhador do Festival de Cannes de 94) e a direção segura de Michel Blanc transformam esta pérola do humor negro - recheado de suspense e com nítida inspiração em "O Processo" de Franz Kafka - num dos grandes clássicos pouco conhecidos do cinema contemporâneo.