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domingo, 23 de janeiro de 2005

"A DOCE VIDA" ("La Dolce Vita", 1960), de Federico Fellini

Rating:★★★★
Category:Movies
Genre: Classics


Direção: Federico Fellini
Roteiro: Federico Fellini, Ennio Flaiano, Tullio Pinelli, Brunello Rondi
Produção: Giuseppe Amato, Angelo Rizolli / Riama Film, Pathé Films
Fotografia: Otello Martelli
Montagem: Leo Cattozzo
Música: Nino Rota
Direção de Arte: Piero Gherardi
Elenco: Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Anita Ekberg, Alain Cuny, Yvonne Furneaux, Lex Barker, Magali Nöel, Walter Santesso, Valeria Ciangottini, Annibale Ninchi

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"Você é a primeira mulher no primeiro dia da criação. Você é mãe, irmã, amante, amiga, anjo, demônio, terra, lar."
(Marcello Rubini para Sylvia)

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Marcello Mastroianni, um dos maiores atores do cinema europeu, nos leva obrigatoriamente a seu grande amigo e cúmplice cinematográfico, o gigante poeta Federico Fellini. "A Doce Vida", a primeira vez em que trabalharam juntos, é um dos melhores trabalhos de ambos: um passeio pela Roma rica e excêntrica do final dos anos 50, pelas mãos do jornalista Marcello Rubini (Mastroianni). Histórias esparsas, aparentemente sem conexão, mostrando figuras típicas da sociedade da época, onde se destacam a milionária Maddalena (Anouk Aimée), a atriz sueca Sylvia (Anita Ekberg), o intelectual Steiner (Alain Cuny), a amiga Fanny (Magali Noel).

O filme é cheio de imagens e cenas inesquecíveis: a grande estátua de Jesus Cristo sendo levada de helicóptero, pendurada numa corda, como se abençoasse Roma... Sylvia entrando na Fontana di Trevi atrás de um gato fujão... as duas crianças que juram ter falado com a Virgem Maria... a cena da orgia... Marcello na praia testemunhando a captura de um "monstro marinho"... "A Doce Vida" se mostra não tão doce assim para a sociedade italiana da época, com o amargor de tempos incertos, pós Segunda Guerra, pré-revolução cultural, e no meio da Guerra Fria, quando se acreditava na aniquilação nuclear.

Um filme que, mesmo grande, anunciava que Fellini estava em crescimento, tanto artístico como pessoal, e cada vez mais encontrava um jeito "felliniano" de fazer cinema. A música de Nino Rota embala tudo, como sempre. Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1960.

"A COMILANÇA" ("Le Grande Bouffe", 1973), de Marco Ferreri

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Cult


Direção: Marco Ferreri
Roteiro: Marco Ferreri, Rafael Azcone, Francis Blanche
Produção: Capitolina Productions / Franco London Films / Mara Films / NPF
Fotografia: Pasquale Rachini, Mario Vulpiani
Montagem: Claudine Merlin
Música: Philippe Sarde
Direção de Arte: Michel de Broin
Elenco: Ugo Tognazzi, Marcello Mastroianni, Philippe Noiret, Michel Piccoli, Andréa Ferréol, Monique Chaumette, Florence Giorgetti

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Philippe Noiret - um dos maiores atores franceses em atividade, mais conhecido do público atual como o projecionista de "Cinema Paradiso" - me remete a este estranho e fascinante filme de Marco Ferreri. Ferreri é um diretor italiano, dono de um senso de humor peculiar e autor de filmes singulares e difíceis para a maioria das platéias. "Ciao Maschio" (1978), com Gérard Depardieu e Marcello Mastroianni, "Crônica de um Amor Louco" (1981), com Ben Gazzara e Ornella Muti e "A História de Piera" (1983), com Isabelle Huppert e Hanna Schygulla, de destacam em sua filmografia.

Durante muito tempo "A Comilança" foi um filme difícil de se ver no Brasil, mas recentemente foi relançado nos cinemas pelo Grupo Estação com cópias novas. Ficou um pouco datado nos figurinos e maneirismos dos personagens. Porém sua força dramática, o inusitado da situação e o humor nigérrimo e escatológico brilham acima dos calendários.

A situação é simples. Quatro amigos - o piloto Marcello (Marcello Mastroianni), o chefe de cozinha Ugo (Ugo Tognazzi), o diretor de TV Michel (Michel Piccoli) e o juiz de direito Philippe (Philippe Noiret) - decidem se reunir numa velha mansão no interior e acabar com suas próprias vidas numa grande orgia sexual e gastronômica. Para isso contratam três prostitutas e enchem a despensa e o frigorífico com um suprimento gigantesco de comida. Na última hora, meio que por acaso, convidam uma professora primária, Andréa (Andréa Ferreol) para o festim. A intenção deles é morrer no auge do prazer e com "estilo", sempre mantendo sua condição de burgueses convictos.

"A Comilança" pode ser visto de várias formas. É um ensaio sobre a decadência da burguesia, o vazio da sociedade de consumo, a supervalorização do sexo e da comida no mundo moderno... é uma comédia de humor negro, onde os personagens mantém os mesmos nomes de seus intérpretes e buscam a morte através do que a maioria das pessoas considera os grandes prazeres da vida... é um festival de escatologia gratuita, com algumas cenas grotescas, asquerosas e patéticas... é uma comédia deliciosa, com cenas de sexo implícito, comilança (em todos os sentidos) e uma inesquecível e hilária cena onde Ugo brinca de ser Marlon Brando em "O Poderoso Chefão" - com inusitada perfeição.

Enfim, de qualquer ângulo que você veja "A Comilança", este será sempre um filme brilhante e perturbador. Mesmo que você saia enjoado da sala de projeção (ou do fim da sessão de vídeo ou DVD), tenha uma certeza: jamais se esquecerá dele. Porém eu recomendo assisti-lo de estômago vazio...