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sábado, 25 de outubro de 2008

QUANDO A CRIANÇA ERA CRIANÇA

"LIED VOM KINDSEINE", de Peter Handke

 

"Als das Kind Kind war,
ging es mit hängenden Armen,
ollte der Bach sei ein Fluss,
der Fluss sei ein Strom,
und diese Pfütze das Meer.

Als das Kind Kind war,
wusste es nicht, dass es Kind war,
alles war ihm beseelt,
und alle Seelen waren eins.

Als das Kind Kind war,
hatte es von nichts eine Meinung,
hatte keine Gewohnheit,

sass oft im Schneidersitz,
lief aus dem Stand,
hatte einen Wirbel im Haar,
und machte kein Gesicht beim fotografieren."

 

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"Quando a criança era criança
caminhava agitando os braços,
Queria que o riacho fosse um rio,
o rio uma torrente,
e esta poça, o mar.

Quando a criança era criança,
não sabia que era uma criança,
tudo lhe parecia 'ter alma',
e todas as almas eram uma só.

Quando a criança era criança,
não tinha opinião para nada,
não tinha costumes,
sentava-se com as pernas cruzadas,
corria sobre o solo,
tinha um redemoinho no cabelo,
e não saía mal nas fotos."

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Trecho do poema de Peter Handke lido pelo anjo Damiel (Bruno Ganz) no início do filme "Asas do Desejo" ("Der Himmel Über Berlin", 1987), de Wim Wenders.

Foto de mim na Praça Paris feita por Oswaldo Lopes (pai) nos anos 60. Infelizmente editada.

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA


Poema de Manuel Bandeira


"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro bravo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito a beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água.
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóides à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada."