Mostrando postagens com marcador patrickmagee. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador patrickmagee. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de março de 2006

“LARANJA MECÂNICA” (“A Clockwork Orange”, 1971), de Stanley Kubrick

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Cult
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, baseado no romance homônimo de Anthony Burgess
Produção: Stanley Kubrick, Max L. Raab, Si Litvinoff / Warner Bros.
Fotografia: John Alcott
Montagem: Bill Butler
Música: Walter Carlos, Beethoven, Rossini, Purcell, Elgar
Direção de Arte: Russell Hagg, Peter Sheilds
Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, James Marcus, Michael Tarn, Adrienne Corri, Miriam Karlin, Carl Duering, Madge Ryan, Aubrey Morris, Philip Stone, Sheila Raynor, Anthony Sharp, Godfrey Quigley, Paul Farrell, Margaret Tyzack, David Prowse


* * * * * * * * * * *

Alex: “There was me, that is Alex, and my three droogs, that is Pete, Georgie, and Dim, and we sat in the Korova Milkbar trying to make up our rassoodocks what to do with the evening. The Korova milkbar sold milk-plus, milk plus vellocet or synthemesc or drencrom, which is what we were drinking. This would sharpen you up and make you ready for a bit of the old ultra-violence.”

* * * * * * * * * * *

Capelão: “Choice! The boy has not a real choice, has he? Self-interest, the fear of physical pain drove him to that grotesque act of self-abasement. The insincerity was clear to be seen. He ceases to be a wrongdoer. He ceases also to be a creature capable of moral choice.”

Ministro: “Padre, there are subtleties! We are not concerned with motives, with the higher ethics. We are concerned only with cutting down crime and with relieving the ghastly congestion in our prisons. He will be your true Christian, ready to turn the other cheek, ready to be crucified rather than crucify, sick to the heart at the thought of killing a fly. Reclamation! Joy before the angels of God! The point is that it works.”

* * * * * * * * * * *


Além de atuar em vários filmes de terror, Patrick Magee também se destacou no teatro inglês e esteve presente em duas obras de Stanley Kubrick. Uma delas é um dos filmes mais polêmicos dos anos 70, “Laranja Mecânica”. Segundo Kubrick, o filme “é um mergulho no interior do ser humano, em busca de alguma coisa que ele mesmo não sabe o que é”.

Proibido no Brasil pela ditadura militar e em vários outros países por sua extrema violência e cenas de sexo, “Laranja Mecânica” supera e muito essa visão superficial a que ficou associado. Apesar de mostrar violência, sexo, crime e drogas, não é um filme sobre nada disso. O trailer, as imagens, a postura escandalizada de setores conservadores da sociedade formaram uma cortina de fumaça sobre a verdadeira temática do filme, que é muito mais profunda, séria e atual do que nunca. Baseado na distopia literária do brilhante Anthony Burgess – um dos autores britânicos mais importantes do século 20 – “Laranja Mecânica” conta a história em primeira pessoa de Alex, um delinqüente juvenil, líder de uma pequena gangue que se diverte roubando, estuprando, matando e se drogando com leite batizado. O filme se divide claramente em três atos: as “diversões noturnas” e o cotidiano de Alex e seus drugues (companheiros, na linguagem especial criada por Burgess no livro e sabiamente peneirada por Kubrick para o cinema); a prisão e a suposta redenção de Alex através do Tratamento Ludovico – uma espécie de lavagem cerebral oficializada pelo governo, que o leva a náuseas ao pensar em cometer qualquer ato de violência; e por fim a reversão dessa programação pavloviana depois da tentativa de suicídio de Alex e da queda de popularidade do governo.

Após o sucesso de “2001: Uma Odisséia no Espaço” Stanley Kubrick conseguiu transformar o ótimo romance de Anthony Burgess num filme extraordinário, sem precedentes na História do cinema. “Laranja Mecânica” (que na gíria nadsat quer dizer “porra-louca”, “delinqüente”) é violento, porém sua violência é plástica, coreográfica. O protagonista é um anti-herói que a princípio odiamos e do qual, ao longo da narrativa, passamos a sentir compaixão. Ao contrário do que se pensa, o monstro do filme não é Alex e sim o Estado, que domina o indivíduo sem ética nem misericórdia, apenas visando o poder a qualquer custo. Contado em tom de fábula futurista, o filme é cínico (como aliás a maioria das obras de Kubrick), mordaz e contundente. A singular direção de arte ficou datada, apesar de ser uma história futurista, porém a trilha sonora que mistura Beethoven, Rossini, Purcell, Elgar e canções baratas inglesas manteve uma aura universal e atemporal ao filme. Mesmo com a cenografia com cara de futuro do pretérito, Kubrick construiu um filme cujas idéias perduram até hoje e que não deixa o espectador ficar indiferente ao que está assistindo.

“Laranja Mecânica” foi o primeiro filme proibido para menores de 18 anos que assisti no Rio de Janeiro. Em 1979, quando o filme foi finalmente liberado pela censura, lá fui eu com minha carteirinha de estudante falsificada para o saudoso cinema Lido 2, na Praia do Flamengo. Para aquele moleque de 14 anos as reportagens sensacionalistas de TV e a matéria da Revista de Domingo do JB, com fotos insólitas de máscaras, chapéus coco, dentaduras, cílios postiços e mulheres de plástico ribombavam na mente, tentando formar algo que não fazia nenhum sentido. Depois de passar pela roleta e ser admitido no cinema, finalmente eu me sentia prestes a experimentar algo muito além de uma sessão de cinema. E mesmo com as patéticas bolinhas pretas tentando em vão tapar a genitália do elenco, minhas expectativas não foram vãs. O filme se mostrou uma experiência hipnótica, contundente e inesquecível. Duas horas depois, ao som de “Singin’in the Rain” com Gene Kelly (“I was cured allright!”, diz Alex), saí para a luz do dia atordoado e com Beethoven ecoando no estômago. O resultado dessa experiência única foi que na mesma semana comprei a trilha do filme, pouco tempo depois adquiri a caixa com as nove sinfonias de Beethoven, pela Orquestra Filarmônica de Berlim e regência de Herbert von Karajan e ao longo dos seis anos seguintes revi o filme mais 28 vezes no cinema. Durante alguns anos “Laranja Mecânica” foi o filme mais importante da minha vida. E ainda hoje ocupa um lugar privilegiado nas minhas memórias.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

“CONTOS DO ALÉM” (“Tales From the Crypt”, 1972), de Freddie Francis

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: Freddie Francis
Roteiro: Milton Subotsky, baseado nas histórias em quadrinhos das revistas “Tales From The Crypt” e “The Vault of Horror”, de Bill Gaines, Al Feldstein e Johnny Craig
Produção: Milton Subotsky, Max Rosenberg, Charles W. Fries / Amicus Productions
Fotografia: Norman Warwick
Montagem: Teddy Darvas
Música: Douglas Gamley
Direção de Arte: Tony Curtis
Elenco: (história de moldura) Sir Ralph Richardson, Geoffrey Bayldon (episódio "ALL THROUGH THE HOUSE") Joan Collins, Chloe Franks, Martin Boddey, Oliver MacGreevy (episódio “REFLECTION OF DEATH”) Ian Hendry, Angela Grant, Susan Denny, Paul Clere, Sharon Clere, Frank Forsyth (episódio “POETIC JUSTICE”) Peter Cushing, Robin Phillips, David Markham, Edward Evans, Robert Hutton (episódio “WISH YOU WERE HERE”) Richard Greene, Barbara Murray, Roy Dotrice, Hedger Wallace, Peter Thomas (episódio “BLIND ALLEYS”) Nigel Patrick, Patrick Magee, Tony Wall, Harry Locke, George Herbert, Carl Bernard, Ernest C. Jennings, John Barrard


* * * * * * * * * * *

Guardião da cripta: “E agora... quem é o próximo?” (se vira para a câmera) “talvez... VOCÊ?”

* * * * * * * * * * *


Sem trocadilhos, Peter Cushing é um dos maiores monstros sagrados do cinema de horror. Ao lado de Christopher Lee, Vincent Price, Boris Karloff, Lon Chaney Jr., Bela Lugosi e Peter Lorre, ele é um daqueles nomes que quando alguém ouve, imediatamente associa ao gênero. Começou sua carreira fazendo Shakespeare no teatro inglês e no cinema, mas foi no laboratório do Dr. Frankenstein e carregando sua valise preta, crucifixo e estaca de madeira de Dr. Van Helsing que Cushing se tornou mais conhecido do público. Além da Hammer Films, ele também trabalhou em vários filmes da Amicus Productions, tanto em papéis de vítima como de monstro. Aqui em “Contos do Além” ele é os dois.

Buscando novas fontes para seus filmes de terror em episódios, os produtores Milton Subotsky e Max Rosenberg, acabaram encontrando os macabros gibis de terror da Editora EC Comics, de William Gaines, banidos pelo macarthismo puritano e cultuados por várias gerações de adolescentes. A fórmula das histórias de Gaines era simples: criaturas monstruosas e situações grotescas serviam como pano de fundo da velha moral do crime e castigo. Uma sutil variação do batido “o bem sempre triunfa sobre o mal”, os gibis criados por Bill Gaines, Al Feldstein, Jack Davis, Johnny Craig e tantos outros artistas brilhantes ensinavam que “quem comete um crime, um erro, um adultério, uma traição ou algo que o valha deve ser exemplarmente punido. De preferência da forma mais cruel e assustadora possível”. E as histórias das revistas “Tales From the Crypt”, “The Vault of Horror” e “Haunt of Fear” fizeram os olhos dos produtores da Amicus brilhar.

Durante uma visita guiada por um mosteiro em ruínas, cinco pessoas se vêem encurraladas numa câmara mortuária. Surge então misteriosamente um monge, guardião da cripta (Sir Ralph Richardson), e mostra a eles o que poderá ser o futuro próximo de cada um ali presente. Em "All Through the House" uma mulher (Joan Collins) mata o marido na véspera de Natal, enquanto um assassino louco vestido de Papai Noel está à solta nas redondezas e a filhinha do casal espera ansiosamente pela chegada do bom velhinho. Em “Reflection of Death” um homem (Ian Hendry) abandona a família para ficar com a amante, mas os dois sofrem um grave acidente na estrada e as conseqüências podem ser mais macabras do que um pesadelo ao volante. Em “Poetic Justice” um perverso jovem (Robin Phillips) faz todos os vizinhos se voltarem contra um pobre e bondoso velhinho (Peter Cushing) apenas para conseguir a propriedade dele. Angustiado, este se mata, porém o destino reserva algo muito pior para o jovem conspirador. Em “Wish You Were Here” um milionário falido (Richard Greene) e sua esposa invocam os três desejos dados por uma estatueta oriental, mas assim como no conto “A Pata do Macaco” (citado na história), os desejos podem tanto trazer a vida eterna como a danação eterna. E em “Blind Alleys” o administrador de um lar para cegos (Nigel Patrick) recebe o troco pelos tratamentos cruéis que dá a seus asilados (liderados por Patrick Magee) de uma forma totalmente inusitada, calculada e sanguinolenta.

Desta vez o compositor Douglas Gamley escolheu a célebre Tocata e Fuga em Ré Menor de Johan Sebastian Bach para abrir o filme e dar o clima dos contos. Como na grande maioria dos filmes da Amicus, no final o narrador – neste caso o guardião da cripta – se volta para o público e o convida a entrar no pesadelo dos personagens.

E assim eu também termino este pequeno passeio de três filmes pelos labirintos de episódios de horror da “prima pobre” da Hammer Films, a competente e talentosa Amicus Productions. Como diz o livro que conta a história da produtora, “Amicus, the Studio That Dripped Blood”.


terça-feira, 31 de janeiro de 2006

“ASILO DO TERROR” (“Asylum”, 1972), de Roy Ward Baker

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: Roy Ward Baker
Roteiro: Robert Bloch
Produção: Milton Subotsky, Max Rosenberg, Gustave M. Berne / Amicus Productions
Fotografia: Denys N. Coop
Montagem: Peter Tanner
Música: Douglas Gamley, inspirado em Modest Mussorgsky
Direção de Arte: Tony Curtis
Elenco: (história de moldura) Robert Powell, Patrick Magee, Geoffrey Bayldon, Sylvia Marriott, Tony Wall (episódio “FROZEN FEAR”) Barbara Parkins, Sylvia Syms, Richard Todd (episódio “THE WEIRD TAYLOR”) Barry Morse, Peter Cushing, Anne Firbank, Daniel Jones, John Franklyn-Robbins (episódio “LUCY COMES TO STAY”) Charlotte Rampling, Britt Ekland, James Villiers, Megs Jenkins (episódio “MANNIKINS OF HORROR”) Herbert Lom


* * * * * * * * * * *

Dr. Rutheford: “Nunca dê as costas a um paciente.”

* * * * * * * * * * *

Dr. Martin: “Trabalhar com pessoas mentalmente perturbadas pode levar a um colapso nervoso.”

* * * * * * * * * * *


Robert Bloch é famoso por ter escrito o romance “Psicose”, base do maior sucesso cinematográfico de Hitchcock, porém desde os anos 40 ele escreveu contos e romances importantes no gênero fantástico, como “A Echarpe”, “O Psicopata” (romances, publicados no Brasil pela Editora Record), “Yours Truly, Jack the Ripper” e “The Skull of Marquis de Sade” (contos). Correspondente do mestre H. P. Lovecraft na juventude, Bloch sempre se notabilizou na literatura de horror, e chegou a escrever roteiros para a TV e o cinema. Por isso a Amicus o contratou para escrever alguns de seus filmes de episódios. “As Torturas do Dr. Diábolo”, “A Casa Que Pingava Sangue” e este “Asilo do Terror” estão entre os mais notáveis.

Chegando ao lúgubre sanatório Dunsmoor para uma entrevista, o Dr. Martin é informado de que o diretor, Dr. Starr, enlouqueceu. O Dr. Rutheford submete Martin a um teste para o emprego: deve visitar vários internos no andar superior do asilo e descobrir qual deles é o Dr. Starr. Martin então, guiado pelo enfermeiro-chefe Max, entrevista a jovem Bonnie, que lhe conta ter sido atacada pela esposa esquartejada do seu amante (“Frozen Fear”), o alfaiate Bruno, que afirma ter sido contratado para fazer um estranho terno para ressuscitar os mortos (“The Weird Taylor”), a viciada Barbara, que jura que sua amiga imaginária Lucy matou seu irmão (“Lucy Comes to Stay”), e o médico Dr. Byron, que faz pequenos robôs com entranhas humanas dotados de consciência (“Mannikins of Horror”).

A trilha sonora de Douglas Gamley usa trechos clássicos de “Uma Noite no Monte Calvo” e “Quadros de uma Exposição”, do músico russo Modest Mussorgsky.

Lembro que assisti ao “Asilo do Terror” por volta de 1979 num sábado à noite na Globo, e fiquei várias noites sem dormir direito por causa da primeira história, da mulher esquartejada que volta a vida. E estranhamente associei este filme à canção “Here Comes the Sun” dos Beatles, aparentemente sem nenhum motivo lógico. Só sei que até hoje quando escuto a música lembro do asilo e sinto arrepios. Anos mais tarde achei a adaptação literária em pocket book da Bantam Books num sebo no Centro da Cidade, com algumas fotos do filme. Talvez o “Asilo do Terror” seja o filme da Amicus que mais me impressionou na vida, e por causa dele passei a perseguir outros filmes da não tão famosa concorrente da Hammer.