Mostrando postagens com marcador stanleykubrick. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador stanleykubrick. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de junho de 2006

sexta-feira, 21 de abril de 2006

“O ILUMINADO” (“The Shining”, 1980), de Stanley Kubrick

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick e Diane Johnson, baseado no romance homônimo de Stephen King
Produção: Stanley Kubrick, Jan Harlan, Robert Fryer, Mary Lea Johnson, Martin Richards / Warner Bros.
Fotografia: John Alcott
Montagem: Ray Lovejoy
Música: Wendy Carlos, Rachel Elkind, György Ligeti, Krzysztof Penderecki, Béla Bartók
Direção de Arte: Leslie Tomkins, Roy Walker
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Joe Turkel, Philip Stone, Barry Nelson, Barry Dennen, Lisa Burns, Louise Burns, Lia Beldam, Billie Gibson, Norman Gay


* * * * * * * * * * *

Danny Torrance: “Mr. Hallorann, are you scared of this place?"
Dick Hallorann: “No, I'm not scared - there's nothin' here. It's just that, you know, some places are like people. Some ‘shine’ and some don't. I guess you could say the Overlook Hotel here has somethin' almost like ‘shining’.”

* * * * * * * * * * *

Jack Torrance [batido à máquina inúmeras vezes]: “All work and no play makes Jack a dull boy.”

* * * * * * * * * * *


Apesar de ter feito poucos filmes, Stanley Kubrick foi provavelmente o mais perfeccionista de todos os cineastas. Um esteta que quando não se contentava com um take o repetia até quase exaurir e enlouquecer seu elenco e equipe. Kubrick nos deu algumas das maiores obras-primas da sétima arte: “Glória Feita de Sangue”, “Dr. Fantástico” (já comentado aqui nA VALISE DE CRONÓPIO), “2001: Uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica” e este “O Iluminado”. Uma adaptação livre do romance de terror de Stephen King, o filme é a primeira incursão do diretor no universo do terror, porém não sua primeira experiência com a narrativa fantástica. Ficção científica e fábulas políticas já faziam parte do seu currículo. Porém aqui Kubrick foi meticuloso em criar o clima exato para a história claustrofóbica de King. A fotografia asséptica de John Alcott (com o uso do steadycam pela primeira vez na história), a montagem milimétrica de Ray Lovejoy e principalmente a edição de som absolutamente perfeita de uma equipe que soube fazer um uso bastante eficaz de temas lúgubres e soturnos como “Lontano” de Ligeti, “The Awakening of Jacob” de Penderecki e “Música Para Cordas, Percussão e Celesta” de Bartók.

Já no primeiro plano, com um sobrevôo de lagos e montanhas, ao som de uma variação do “Dies Irae” medieval por Wendy Carlos, “O Iluminado” mostra a que veio: despertar o sentimento de medo na platéia. Stephen King acusou Kubrick de ter feito “uma limusine luxuosa que não leva a lugar algum”, aparentemente por ciúmes das liberdades narrativas e plásticas que o cineasta tomou com seu livro (tanto que em 1997 o próprio King escreveu e produziu uma minissérie para TV extremamente fiel ao romance, dirigida por Mick Garris, ótima, mas muito longe do brilho e da genialidade da obra de Kubrick). Porém a visão perfeccionista e arquitetônica do cineasta nova-iorquino cria um clima que vai se desenvolvendo como uma sinfonia. De um “adágio” sinistro ao “scherzo” final no labirinto de neve o filme vai crescendo, a sensação de isolamento dos personagens vai aumentando e o lado negro do hotel Overlook e de seus fantasmas vai se manifestando. Cenas antológicas como Danny pedalando em seu velocípede pelos infindáveis corredores do hotel, a surpresa no quarto 237, a solidão de Jack Torrance tentando escrever seu livro no grande Salão Colorado, as irmãs gêmeas, a misteriosa bola de tênis que vem deslizando pelo corredor até Danny, o elevador que jorra sangue, as aparições do barman Lloyd e do garçom Grady, a recriação do Lobo Mau e os Três Porquinhos com Jack caçando a própria família com um machado na mão são as peças nesse mosaico áudio-visual regido com punho de gênio por Stanley Kubrick. E o ritmo vai num crescendo, acelerando o coração do público e transformando este num dos filmes mais assustadores e impactantes de todos os tempos.

Pouca gente se lembra, mas “O Iluminado” foi lançado no Brasil em duas versões, dublada e legendada, por decisão do próprio cineasta. E a versão dublada foi dirigida pelo hoje acadêmico Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores nomes do nosso cinema, escolhido a dedo por Kubrick. Eu tive a sorte de ver o filme nos dois formatos no cinema. Lembro de ter assistido a “O Iluminado” no cine Palácio, no Ópera (onde hoje é a Casa & Vídeo da praia de Botafogo) e no cine Gaumont Belas Artes, em Copacabana (onde hoje é uma boate). Ao todo fiz 15 visitas ao hotel Overlook na sala escura. E hoje, revendo na tela pequena da TV, tenho saudades do impacto que o filme me causou em cada uma das vezes em que me vi ao lado da família Torrance, ao som de Penderecki e Bartók, perdido pelos corredores assombrados daquele hotel isolado pela neve.



terça-feira, 4 de abril de 2006

quarta-feira, 29 de março de 2006

“LARANJA MECÂNICA” (“A Clockwork Orange”, 1971), de Stanley Kubrick

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Cult
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick, baseado no romance homônimo de Anthony Burgess
Produção: Stanley Kubrick, Max L. Raab, Si Litvinoff / Warner Bros.
Fotografia: John Alcott
Montagem: Bill Butler
Música: Walter Carlos, Beethoven, Rossini, Purcell, Elgar
Direção de Arte: Russell Hagg, Peter Sheilds
Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, James Marcus, Michael Tarn, Adrienne Corri, Miriam Karlin, Carl Duering, Madge Ryan, Aubrey Morris, Philip Stone, Sheila Raynor, Anthony Sharp, Godfrey Quigley, Paul Farrell, Margaret Tyzack, David Prowse


* * * * * * * * * * *

Alex: “There was me, that is Alex, and my three droogs, that is Pete, Georgie, and Dim, and we sat in the Korova Milkbar trying to make up our rassoodocks what to do with the evening. The Korova milkbar sold milk-plus, milk plus vellocet or synthemesc or drencrom, which is what we were drinking. This would sharpen you up and make you ready for a bit of the old ultra-violence.”

* * * * * * * * * * *

Capelão: “Choice! The boy has not a real choice, has he? Self-interest, the fear of physical pain drove him to that grotesque act of self-abasement. The insincerity was clear to be seen. He ceases to be a wrongdoer. He ceases also to be a creature capable of moral choice.”

Ministro: “Padre, there are subtleties! We are not concerned with motives, with the higher ethics. We are concerned only with cutting down crime and with relieving the ghastly congestion in our prisons. He will be your true Christian, ready to turn the other cheek, ready to be crucified rather than crucify, sick to the heart at the thought of killing a fly. Reclamation! Joy before the angels of God! The point is that it works.”

* * * * * * * * * * *


Além de atuar em vários filmes de terror, Patrick Magee também se destacou no teatro inglês e esteve presente em duas obras de Stanley Kubrick. Uma delas é um dos filmes mais polêmicos dos anos 70, “Laranja Mecânica”. Segundo Kubrick, o filme “é um mergulho no interior do ser humano, em busca de alguma coisa que ele mesmo não sabe o que é”.

Proibido no Brasil pela ditadura militar e em vários outros países por sua extrema violência e cenas de sexo, “Laranja Mecânica” supera e muito essa visão superficial a que ficou associado. Apesar de mostrar violência, sexo, crime e drogas, não é um filme sobre nada disso. O trailer, as imagens, a postura escandalizada de setores conservadores da sociedade formaram uma cortina de fumaça sobre a verdadeira temática do filme, que é muito mais profunda, séria e atual do que nunca. Baseado na distopia literária do brilhante Anthony Burgess – um dos autores britânicos mais importantes do século 20 – “Laranja Mecânica” conta a história em primeira pessoa de Alex, um delinqüente juvenil, líder de uma pequena gangue que se diverte roubando, estuprando, matando e se drogando com leite batizado. O filme se divide claramente em três atos: as “diversões noturnas” e o cotidiano de Alex e seus drugues (companheiros, na linguagem especial criada por Burgess no livro e sabiamente peneirada por Kubrick para o cinema); a prisão e a suposta redenção de Alex através do Tratamento Ludovico – uma espécie de lavagem cerebral oficializada pelo governo, que o leva a náuseas ao pensar em cometer qualquer ato de violência; e por fim a reversão dessa programação pavloviana depois da tentativa de suicídio de Alex e da queda de popularidade do governo.

Após o sucesso de “2001: Uma Odisséia no Espaço” Stanley Kubrick conseguiu transformar o ótimo romance de Anthony Burgess num filme extraordinário, sem precedentes na História do cinema. “Laranja Mecânica” (que na gíria nadsat quer dizer “porra-louca”, “delinqüente”) é violento, porém sua violência é plástica, coreográfica. O protagonista é um anti-herói que a princípio odiamos e do qual, ao longo da narrativa, passamos a sentir compaixão. Ao contrário do que se pensa, o monstro do filme não é Alex e sim o Estado, que domina o indivíduo sem ética nem misericórdia, apenas visando o poder a qualquer custo. Contado em tom de fábula futurista, o filme é cínico (como aliás a maioria das obras de Kubrick), mordaz e contundente. A singular direção de arte ficou datada, apesar de ser uma história futurista, porém a trilha sonora que mistura Beethoven, Rossini, Purcell, Elgar e canções baratas inglesas manteve uma aura universal e atemporal ao filme. Mesmo com a cenografia com cara de futuro do pretérito, Kubrick construiu um filme cujas idéias perduram até hoje e que não deixa o espectador ficar indiferente ao que está assistindo.

“Laranja Mecânica” foi o primeiro filme proibido para menores de 18 anos que assisti no Rio de Janeiro. Em 1979, quando o filme foi finalmente liberado pela censura, lá fui eu com minha carteirinha de estudante falsificada para o saudoso cinema Lido 2, na Praia do Flamengo. Para aquele moleque de 14 anos as reportagens sensacionalistas de TV e a matéria da Revista de Domingo do JB, com fotos insólitas de máscaras, chapéus coco, dentaduras, cílios postiços e mulheres de plástico ribombavam na mente, tentando formar algo que não fazia nenhum sentido. Depois de passar pela roleta e ser admitido no cinema, finalmente eu me sentia prestes a experimentar algo muito além de uma sessão de cinema. E mesmo com as patéticas bolinhas pretas tentando em vão tapar a genitália do elenco, minhas expectativas não foram vãs. O filme se mostrou uma experiência hipnótica, contundente e inesquecível. Duas horas depois, ao som de “Singin’in the Rain” com Gene Kelly (“I was cured allright!”, diz Alex), saí para a luz do dia atordoado e com Beethoven ecoando no estômago. O resultado dessa experiência única foi que na mesma semana comprei a trilha do filme, pouco tempo depois adquiri a caixa com as nove sinfonias de Beethoven, pela Orquestra Filarmônica de Berlim e regência de Herbert von Karajan e ao longo dos seis anos seguintes revi o filme mais 28 vezes no cinema. Durante alguns anos “Laranja Mecânica” foi o filme mais importante da minha vida. E ainda hoje ocupa um lugar privilegiado nas minhas memórias.


sábado, 30 de outubro de 2004

"DOUTOR FANTÁSTICO" ("Dr. Strangelove, or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb", 1964), de Stanley Kubrick

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Comedy


Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Terry Southern, Stanley Kubrick, baseado no livro de Peter George
Produção: Stanley Kubrick / Columbia Pictures
Fotografia: Gilbert Taylor
Montagem: Anthony Harvey
Música: Laurie Johnson
Direção de Arte: Peter Murton, Ken Adam
Elenco: Peter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden, Slim Pickens, Keenan Wynn, Peter Bull, James Earl Jones, Tracy Reed


* * * * * * * * * * *

"Fluorização da água é o plano comunista mais monstruoso e perigoso que já tivemos que encarar!"
(General Jack D. Ripper)

...

"Senhores, não podem brigar aqui! Isto é a Sala de Guerra!"
(Presidente Merkin Muffley)


* * * * * * * * * * *

E o brilhante Peter Sellers – assustadoramente convincente como um chinês em “Assassinato por Morte” – me leva a esse clássico do humor negro da era atômica, do mestre Stanley Kubrick. Se você quer saber como seria se o mundo não tivesse passado da Guerra Fria, “Dr. Fantástico” é O filme.

Por acreditar que os comunistas são responsáveis pela fluorização da água (que na cabeça dele é algo terrível!), o General Jack D. Ripper (Sterling Hayden) ordena um ataque nuclear em massa de B-52s sobre a União Soviética. Apavorado, seu assessor direto, o Capitão Mandrake, tenta conseguir os códigos para abortar a missão. Enquanto isso, na sala de guerra do Pentágono, o presidente americano Muffley está reunido com o embaixador russo (Peter Bull), o aloprado General `Buck` Turgidson (George C. Scott) e o brilhante – e bizarro – cientista alemão Dr. Fantástico, tentando achar uma saída para a guerra nuclear iminente. Por fim, todos os B-52 são abortados, menos um. A bordo, o Major T. J. `King` Kong (Slim Pickens) e o Tenente Lothar Zogg (James Earl Jones, a voz de Darth Vader em sua estréia no cinema) estão determinados a bombardear o inimigo...

O genial Peter Sellers vive três papéis – o presidente Merkin Muffley, o Capitão Mandrake e o Dr. Fantástico – e só não fez o Major `King` Kong por motivos de saúde. Isso deu a chance a Slim Pickens de protagonizar uma das cenas mais famosas e devastadoras da História do cinema: o Major `King` Kong "cavalgando" uma bomba-H e agitando o seu chapéu de cowboy. Canção da cena final, enquanto o mundo acaba: "We`ll meet again", de Clarke Ross Parker e Hugh Charles, seguindo o estilo de Kubrick, de terminar seus filmes de forma impactante sempre ao som de uma canção suave.

Uma curiosidade: o filme terminaria com uma gigantesca guerra de tortas na Sala de Guerra. Apesar da cena ter sido filmada (existem algumas fotos de Peter Sellers e George C. Scott cobertos de creme), Kubrick decidiu abortar esse final.