segunda-feira, 15 de setembro de 2008

CIENTISTA DO LHC CONFUNDE STAR WARS E STAR TREK

O UNIVERSO ESTÁ CONDENADO!

O mundo científico ficou chocado semana passada quando Michael Zeller – um professor de física de Yale que tem trabalhado no Grande Colisor de Hádrons – claramente errou ao citar a chamada de Star Trek "Onde nenhum homem jamais esteve", despedaçando ainda mais o espaço-tempo ao atribuí-la a Star Wars.

"Como diziam mesmo em 'Star Wars'? Estamos indo aonde nenhum homem jamais esteve? Bom, é pra lá que estamos indo", disse Zeller em declarações ao Yale Daily News sobre o primeiro teste de feixes do LHC na quarta-feira passada. O Professor Zeller ajudou a criou o calorímetro de zero graus usado no Atlas, um dos principais experimentos do multibilionário Grande Colisor de Hádrons do CERN.

"Não, seu velho, não é pra lá que você está indo!", respondeu em uma entrevista por telefone William Shatner, visivelmente irritado, ao jornal Wichita Early Star. "Você está indo pro hospício, isso sim! Onde nenhum homem jamais esteve? Você ficou louco? Tomou muito conhaque alvaniano ontem? Esqueceu-se da pílula vermelha? Eu não acredito que você é um dos caras encarregados daquele maldito anel do dia do Juízo Final!".

Carl Zweissweger – um engenheiro da Lockheed Martin que trabalhou na fracassada sonda do Orbitador Climático de Marte – disse que agora ele estava com sérias dúvidas sobre o experimento do LHC. "Olha", disse ele, "a galera daqui pode confundir o lance de unidades imperiais e unidades métricas, mas pelo menos sabemos fácil que um Destróier Estelar Imperial arregaça qualquer espaçonave da Federação".

De fato, muitos outros peritos estão se perguntando como um dos colaboradores do experimento que afirma poder encontrar a partícula de Deus possa cometer tal gafe, introduzindo dúvidas sobre a sua validade e também novas inquietações sobre a segurança.

Fonte: Gizmodo Brasil

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Pra quem não é familiarizado com ficção científica e fantasia e achou as reações exageradas, confundir Star Wars com Star Trek e vice-versa É TÃO GRAVE quanto confundir um padre com um rabino, estrogonofe com vatapá, hóquei no gelo com holiday on ice, vôlei com basquete, carro com ônibus, charuto com cigarro, mulher com travesti, ou flamengo com vasco - pra quem gosta disso.

 

sábado, 6 de setembro de 2008

HAI-KAI MUPPET

O que eu acho

É que sapo coaxa

Você não acha?

(Rowlf)

Conto (15): "O ESMAGAMENTO DAS GOTAS", de Julio Cortázar

O Esmagamento das Gotas

Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechado e cinza, aqui contra a sacada com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um atrás do outro, que tédio. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu que a esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair e não cai, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.

Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus.

(Julio Cortázar, no sortimento Matéria Plástica do livro "Histórias de Cronópios e de Famas". Tradução de Glória Rodríguez)

 

domingo, 31 de agosto de 2008

Conto (14): "O JORNAL E SUAS METAMORFOSES", de Julio Cortázar

O Jornal e Suas Metamorfoses

Um senhor pega um bonde depois de comprar o jornal e pô-lo debaixo do braço. Meia hora depois, desce com o mesmo jornal debaixo do mesmo braço.

Mas já não é o mesmo jornal, agora é um monte de folhas impressas que o senhor abandona num banco de praça.

Mal fica sozinho na praça, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, até que um rapaz o descobre, o lê, e o deixa transformado num monte de folhas impressas.

Mal fica sozinho no banco, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, até que uma velha o encontra, o lê e o deixa transformado num monte de folhas impressas. Depois, leva-o para casa e no caminho aproveita-o para embrulhar um molho de acelga, que é para o que servem os jornais depois dessas excitantes metamorfoses.

 

(Julio Cortázar, no sortimento Matéria Plástica do livro "Histórias de Cronópios e de Famas". Tradução de Glória Rodríguez)

 

Conto (13): "HISTÓRIA VERÍDICA", de Julio Cortázar

História Verídica

Um senhor deixa cair no chão os óculos, que fazem um barulho terrível ao bater nos ladrilhos. O senhor se abaixa aflitíssimo porque as lentes dos óculos custam muito caro, mas descobre assombrado que por milagre elas não se quebraram.

Então, esse senhor sente-se profundamente grato, e compreende que o acontecimento vale por uma advertência amigável, de maneira que se dirige a uma ótica e compra logo um estojo de couro acolchoado, comproteção dupla, como precaução. Uma hora depois deixa cair o estojo e ao abaixar-se sem maior precaução verifica que os óculos viraram farelo. Esse senhor leva tempo para compreender que os desígnios da Providência são insondáveis e que na realidade o milagre aconteceu agora.

 

(Julio Cortázar, no sortimento Matéria Plástica do livro "Histórias de Cronópios e de Famas". Tradução de Glória Rodríguez)

 

domingo, 17 de agosto de 2008

Conto (12): "O ANIVERSÁRIO DA VOVÓ", de Fredric Brown

Fredric Brown (1906-1972) nasceu em Cincinnati e escreveu cerca de trezentos contos e vinte e nove romances, a maioria nos gêneros de mistério e ficção científica. Seu conto "Arena" serviu de base para o episódio da série televisiva clássica "Jornada nas Estrelas" de mesmo nome. O conto típico de Fredric Brown tem duas características principais: é curto, e aplica no leitor uma surra brutal."O Aniversário da Vovó" ("Granny’s Birthday", 1960) talvez seja um de seus contos mais breves; mas é indubitavelmente um dos mais devastadores.

Já publiquei aqui na VALISE DE CRONÓPIO o conto mais famoso desse fantástico escritor, "Resposta". Clique para ler essa pequena obra-prima. http://ozlopesjr.multiply.com/journal/item/43

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Os Halperins eram uma família muito unida. Wade Smith, um dos únicos presentes que não pertencia à família, invejava-os por isso, de vez que ele próprio não tinha família – mas a inveja temperava-se com uma doçura cálida, por obra do copo na mão dele.

Era a festa de aniversário da Vovó Halperin, a festa dos oitenta anos dela; todos os presentes, exceto Smith e outro convidado, eram Halperins ou levavam o nome Halperin. Vovó tinha três irmãos e uma irmã. Todos estavam lá; os três homens eram casados e tinham levado as esposas. Com isto, havia oito Halperins, incluindo Vovó. Havia ainda quatro membros da segunda geração, netos, um deles com a respectiva esposa, elevando para treze o número de Halperins. Smith contou: treze Halperins. Com ele próprio e o outro não-Halperin, um homem chamado Cross, eram quinze adultos presentes. E estiveram também presentes, mais cedo, outros três Halperins, bisnetos, mas foram levados para dormir logo no começo da noite, em horas correspondentes à idade de cada um.

E ele gostava deles todos, pensou Smith, com candura, embora, depois que as crianças foram retiradas, o álcool estivesse fluindo com abundância e a festa se tornasse um tanto barulhenta demais, para seu gosto. Todos bebiam; mesmo Vovó, sentada em uma cadeira que mais parecia um trono, tinha à mão um cálice de xerez, o terceiro da noite.

Era uma velhinha maravilhosamente doce e viva, pensou Smith. Realmente uma matriarca; como era doce! admirou Smith. Dirigia a família com uma vara de ferro em luva de veludo – ele já estava suficientemente embriagado para confundir as metáforas.

Smith estava lá a convite de Bill Halperin, um dos filçhos de Vovó; era procurador e amigo de Bill. O outro forasteiro, um certo Gene ou Jean Cross, parecia ser amigo de vários netos de Vovó.

No outro lado da sala, ele via Cross em conversa com Hank Halperin e percebeu que alguma coisa dita entre eles levara subitamente a uma discussão irada e gritada. Smith esperou que o assunto não trouxesse complicações; a festa estava agradável demais para ser interrompida por uma briga, ou mesmo altercação.

De repente,porém, Hank Halperin deu um soco no queixo de Cross e este caiu de costas. A cabeça dele bateu na quina da lareira; ouviu-se um baque surdo e ele ficou prostrado no chão. Hank correu até ele, ajoelhou-se e apalpou-o. Quando olhou em volta estava pálido, e logo levantava-se.

– Está morto – disse, desalentado. – Por Deus, eu não quis matá-lo! Mas ele disse...

Vovó já não sorria mais. A voz dela saiu resoluta, conquanto lastimosa:

– Ele tentou bater em você primeiro, Henry. Eu vi. Todos vimos isto, não foi?

Com a última frase, ela voltara-se para Smith, o forasteiro sobrevivente. Smith mexeu-se, contrafeito.

– Eu... eu não vi como a coisa começou, Sra. Halperin.

– Viu sim – interrompeu ela. – O senhor estava olhando bem na direção deles, Sr. Smith.

Antes que Wade Smith pudesse responder, Hank Halperin estava dizendo:

– Vovó, eu sinto muito, mas mesmo isto não resolve o assunto. Estamos numa dificuldade realmente grande. Lembre-se de que eu lutei durante sete anos como boxeador profissional. E os punhos de um boxeador, ou ex-boxeador, são considerados armas letais, do ponto de vista legal. Isto transforma a coisa em assassinato em segundo grau, mesmo se ele tivesse dado o primeiro soco. O senhor sabe disso, já que é advogado. E com os outros problemas que já tive, a polícia vai pegar minha ficha e jogar em cima de mim.

– Infelizmente acho que o senhor está certo – disse Smith, hesitante. – Mas não seria melhor que alguém chamasse um médico, ou a polícia, ou ambos?

– Num instante, Smith – disse Bill Halperin, o amigo de Smith. – Mas primeiro temos que acertar a coisa entre nós. Foi legítima defesa, não foi?

– Eu... Eu acho... Eu não sei o que...

– Esperem, ouçam todos – disse Vovó, com a voz dura e afiada. – Mesmo se foi legítima defesa, Henry estará em dificuldade. E vocês acham que podemos confiar nesse Smith quando ele estiver fora daqui, num tribunal?

Bill Halperin disse:

– Mas Vovó, temos que...

– Deixe de bobagem, William. Eu vi o que aconteceu. Todos vimos. Eles brigaram, Cross e Smith, e um matou o outro. Cross matou Smith e depois, tonto com os golpes que ele próprio recebera, caiu e bateu com a cabeça na pedra. Não vamos deixar que Henry vá para a cadeia, não é mesmo, meus filhos? Não um Halperin, não um de nós. Henry, machuque um pouco esse cadáver, para que ele pareça ter saído de uma briga, e não de um simples soco. E vocês outros...

Os Halperins machos, com exceção de Henry, fecharam um círculo em torno de Smith; as mulheres, com exceção de Vovó, vinham logo atrás. E o círculo estreitou-se.

A última coisa que Smith viu claramente foi Vovó em sua cadeira mais parecida com um trono, os olhos brilhantes de excitação e determinação. E a última coisa que Smith ouviu, no silêncio subitamente formado na sala, foi o som leve do risinho de Vovó. Depois veio o primeiro soco.