domingo, 31 de agosto de 2008

Conto (14): "O JORNAL E SUAS METAMORFOSES", de Julio Cortázar

O Jornal e Suas Metamorfoses

Um senhor pega um bonde depois de comprar o jornal e pô-lo debaixo do braço. Meia hora depois, desce com o mesmo jornal debaixo do mesmo braço.

Mas já não é o mesmo jornal, agora é um monte de folhas impressas que o senhor abandona num banco de praça.

Mal fica sozinho na praça, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, até que um rapaz o descobre, o lê, e o deixa transformado num monte de folhas impressas.

Mal fica sozinho no banco, o monte de folhas impressas se transforma outra vez em jornal, até que uma velha o encontra, o lê e o deixa transformado num monte de folhas impressas. Depois, leva-o para casa e no caminho aproveita-o para embrulhar um molho de acelga, que é para o que servem os jornais depois dessas excitantes metamorfoses.

 

(Julio Cortázar, no sortimento Matéria Plástica do livro "Histórias de Cronópios e de Famas". Tradução de Glória Rodríguez)

 

5 comentários:

  1. ahahahaha
    Bem certo mesmo.
    Isso qdo ao inves de acelgas outras coisas menos nobres.
    :((

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  2. A primeira coisa que penso é peixe na feira.:-)

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  3. Mas é verdade...
    Uma hora tão importante, cheio de novidades... um dia depois... ultrapassado...
    Mas ao menos serve para alguma coisa... mesmo que seja para embrulhar as coisas menos nobres...

    Beijos!

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  4. Falando nisso eu devo ter embrulhado algumas verduras e peixes nas feiras cariocas nos últimos dias... apareci na estreante revista de economia dO Globo, que saiu na quinta-feira, e eu ainda nem tive a chance de ver, ter ou comprar. :-P

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  5. o que o homem provavelmente faz com o jornal dentro do bonde?

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