CINEMA DE PAPEL (parte 1)
de Oswaldo Lopes Jr.
(Matéria escrita para a revista VEREDAS # 28 do Centro Cultural Banco do Brasil em abril de 1998, e republicada aqui na VALISE DE CRONÓPIO em oito partes, a partir de hoje)
Formas de arte irmãs, filmes e histórias em quadrinhos evoluíram junto e vêm trocando entre si influências, histórias e personagens desde que nasceram.
Que os produtores de Hollywood têm lido muitos gibis ultimamente não é novidade para ninguém. Mas, de repente, o consumidor atento começa a reparar que as prateleiras da sua videolocadora e as da banca de jornais da esquina têm oferecido uma quantidade inimaginável de títulos em comum. Só que, ao contrário do que pensam alguns, não se trata de um modismo recente. O cinema e as histórias em quadrinhos são artes irmãs. Mais até: são gêmeas, e desde que nasceram se dão muito bem, obrigado.
Gêmeas?! Sem dúvida – inclusive no sentido estrito de terem a mesma idade. Muito antes das superproduções George Lucas e James Cameron ou das graphic novels de Frank Miller, mais precisamente em 1895, enquanto na França um grupo de convidados atônitos assistia às primeiras imagens em movimento feitas pelos irmãos Lumière, na América um menino de camisolão amarelo começava as suas estripulias no suplemento dominical do jornal New York World. Desde então, com o filme A Saída dos Operários da Fábrica Lumière e a tira Yellow Kid, de Richard Outcault, o mundo começou a mudar sua imagem.
Muito mais do que simples coincidência, o surgimento sincrônico dessas duas formas de expressão é uma conseqüência natural daquele momento histórico. O mundo ocidental estava em pleno auge da segunda Revolução Industrial, quando se buscavam meios de produção mais ágeis e sofisticados, capazes de gerar maior lucro e facilitar a dominação econômica sobre países menos desenvolvidos. A vida cultural e artística da época caminhava fatalmente para a elaboração de uma imagem em movimento.
As pesquisas fotográficas de Pierre Janssen, Etienne-Jules Marey e Eadweard Muybridge somaram-se à Tese da Persistência Retiniana, descoberta pelo Dr. Peter Mark Roget em 1824. Segundo ela, para o olho humano uma seqüência de 24 imagens estáticas mostradas em um segundo é capaz de simular movimento. Tudo isso, somado às diversas invenções de Thomas Alva Edison no campo do som e da imagem, convergiu para a criação do cinema.
Já a gestação das histórias em quadrinhos começou bem antes. Desde a Era Paleolítica que o homem já se preocupava em registrar o seu cotidiano em forma de desenhos rudimentares nas paredes das cavernas. Esse hábito se estendeu pelo tempo e veio se aprimorando através da História. Os hieróglifos e os baixos-relevos egípcios, a secular representação da Via Sacra pela Igreja Católica, os trípticos de Bosch e Brüghel, as gravuras seriadas de Francisco Goya e Gustave Doré, os cartazes de shows itinerantes contando histórias em grandes quadros, os pôsteres de crimes famosos vendidos nas feiras, as caricaturas e as charges políticas foram os pré-requisitos históricos que propiciaram a efervescência criativa mundial em torno de uma linguagem de imagens seqüenciais mais sofisticada na segunda metade do século 19.
O americano Yellow Kid é celebrado como o pioneiro das histórias em quadrinhos – mas a história não é bem assim. Richard Outcault foi o primeiro a usar o conceito de balão, escrevendo seus diálogos no camisolão amarelo do personagem-título. Mas as histórias contadas em desenhos seqüenciais já existiam há pelo menos três décadas antes. Em 1865, o alemão Wilhelm Busch criou Max & Moritz, uma historieta seriada contando as aventuras de dois garotos endiabrados (inspiração primeira de todos os pestinhas de papel e tinta, dos Sobrinhos do Capitão de Rudolph Dirks a Calvin e Haroldo de Bill Watterson). Cinco anos depois, o Brasil entrava no ranking, com a publicação semanal de As Aventuras de Nhô Quim, do italiano naturalizado brasileiro Angelo Agostini, na revista Vida Fluminense.
A SEGUIR... NA TERRA DOS SONHOS.
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Muito interessante esse começo dos quadrinhos, não sabia disso... e o Cinema e os quadrinhos têm muito em comum mesmo, você tem razão...
ResponderExcluirAbraços.
Não é de hoje, não é de hoje! ;-)
ResponderExcluirAbração, Marcelo!
Gostei muito, encontraste um belo tema aqui.
ResponderExcluirParabéns!
Não, Naza, ele é que me encontrou. Quando eu nasci. :-)P
ResponderExcluirÉ minha praia desde pirralho: cinema + quadrinhos + televisão + literatura + música. Com isso eu tô em casa. O resto pra mim é resto. :-)))