Toda minha vida sempre dei meus votos para a esquerda. Desde os anos 80 dou meu voto para o PT, PCB, PCdoB. Desprezava quem votava nulo, pois via nesse ato uma alienação sem sentido. Sempre votei de forma convicta, porém nesse referendo as coisas mudaram.
De cara eu votaria SIM, a favor da proibição das armas de fogo, pois sou pacifista e abomino armas de qualquer espécie. Cheguei a me irritar com alguns argumentos da campanha do NÃO. Até que pesei as duas posições e vi que estava sendo muito ingênuo e utópico em votar SIM. As armas não vão sumir da face da Terra como se o robô Gort de "O Dia em que a Terra Parou" estivesse patrulhando por aqui com seu raio desintegrador de armas (quem dera fosse assim!).
Me decidi pelo NÃO, pois pensava (e ainda penso) que a proibição pode levar a uma crueldade muito maior dos marginais contra a população, e isso me assusta bastante, bem mais do que a situação em que estamos vivendo. Com uma possível vitória do SIM, eu antevia um massacre sem precedentes das ditas pessoas de bem. Além de concordar com os partidários do NÃO de que não é proibindo o comércio de armas e tirando um direito do cidadão que se resolve a questão da violência.
Até que ontem, depois de um papo com amigos cheguei a uma conclusão muito mais radical - no sentido de ir na raiz do problema. Nem SIM nem NÃO, MUITO PELO CONTRÁRIO. Pela primeira vez anulei meu voto, pois não concordo com esse referendo, não concordo com a forma manipuladora e capciosa que a pergunta foi formulada, percebo que o jogo de interesses que existe por trás dessa questão dos armamentos é muito mais podre e odiosa do que eu imaginava, e que os poderosos só querem usar o povo como massa de manobra.
Não votaria SIM por ser paranóico e temer um massacre após esse voto de ingenuidade. Agora não votaria NÃO pois acho armas de fogo abomináveis e não quero a continuidade da situação que já existe (como disse uma amiga minha, Gandhi e Martin Luther King não existiram à toa). Voto NULO pois discordo totalmente de haver um referendo sobre esse assunto, vejo tudo isso como desvio de atenção - e para o lado errado - e me recuso a ser usado como massa de manobra de uma direita reacionária e feroz ou de uma esquerda corrompida e incompetente. No dia que fizerem referendos e plebiscitos no Brasil sobre questões como EDUCAÇÃO, SAÚDE, SEGURANÇA, REDISTRIBUIÇÃO DE RENDAS E/OU DE TERRAS podem contar com minha participação.
Referendo sobre armas? Desculpem, mas não quero ser bucha de canhão.
