quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

25 ANOS SEM JOHN


 


“Life is what happens to you while you're busy making other plans.” (John Lennon)


Hoje eu fui acordado por uma martelação sem fim no apartamento ao lado. Porém há exatamente 25 anos atrás fui acordado de uma forma muito mais brutal. Meu pai me acordou e disse, triste, "sabe quem morreu? John Lennon, dos Beatles". Lembro que estava dormindo numa rede, na sala de estar do meu antigo apartamento, ao lado do meu bom e velho "quatro em um" da Emerson, e fiquei atônito, como se estivesse tendo um pesadelo e ainda não tivesse acordado de verdade. Liguei o aparelho de som e em todas as rádios a notícia que meu pai me dera em primeira mão ecoava. Peguei duas fitas cassete (que tenho comigo até hoje) e comecei a gravar a programação especial da Rádio Cidade e em seguida da Antena 1, que na época eram rádios de pop-rock.


“When you’re drowning, you don’t say ‘I would be incredibly pleased if someone would have the foresight to notice me drowning and come and help me,’ you just scream.” (John Lennon)


Não lembro de ter chorado tanto a morte de alguém - fora a do meu pai - quanto chorei naquela manhã de dezembro de 1980. Eu nunca me considerei um beatlemaníaco "militante", mas sempre fui apaixonado pela banda desde criança. Meus pais adoravam os "Fab Four" e eu cresci ouvindo Beatles. A primeira lembrança musical que tenho na vida é de ouvir "Ob-La-Di, Ob-La-Da". O primeiro LP que comprei foi "Magical Mystery Tour" (além das músicas, a capa super colorida e o encarte cheio de fotos imensas do disco me fascinavam!). A primeira fita cassete gravada que comprei foi "Let It Be". Chorei muito por uma colega de colégio por quem eu era apaixonado ao som de "The Long and Winding Road". "I Am The Walrus" abriu uma porta para mim que eu jamais imaginei que pudesse existir: com a música e a imaginação eu podia "viajar", alucinar, ter experiências lisérgicas sem jamais ter que ingerir qualquer tipo de droga. Um ano antes tinha feito um grande painel em madeira, cartolina e recortes de revistas, ao estilo das pinturas de Hyeronimus Bosch, onde eu tentava "traduzir" os efeitos que a letra e o clima daquela música bizarra provocavam na minha cabeça. Enfim, eu era um beatlemaníaco sim, e apesar de não me dedicar tanto como deveria à música dos quatro rapazes de Liverpool, eu nunca deixei de amar os Beatles.


“You’re just left with yourself all the time, whatever you do anyway. You’ve got to get down to your own God in your own temple. It’s all down to you, mate.” (John Lennon)

Naquela manhã de dezembro de 1980 eu fui literalmente acordado para a realidade. Uma realidade cruel que eu não queria encarar. Um idiota qualquer tinha o poder e a facilidade de acabar com a vida de um gênio criador como John Lennon, assim, sem mais nem menos (é óbvio que Mark David Chapman foi apenas uma marionete controlada por outras pessoas que queriam a morte de Lennon, ao estilo de lavagem cerebral mostrada no filme "Sob o Domínio do Mal"/"The Manchurian Candidate" de John Frankenheimer, mas vamos deixar as teorias de conspiração para outra hora). Uma geração, várias gerações ficaram órfãs naquela manhã. Foi um natal triste, muito triste. Todos os que amavam a música, a poesia, a paz, o rock, o idealismo, as utopias, tinham perdido um parente, um ente querido, um irmão mais velho, que nos puxando pela mão e cantando em nossos ouvidos nos mostrara um pouco do bem e do mal do mundo.


“I believe in God, but not as one thing, not as an old man in the sky. I believe that what people call God is something in all of us. I believe that what Jesus and Mohammed and Buddha and all the rest said was right. It’s just that the translations have gone wrong.” (John Lennon)


Ontem fui dormir triste, lembrando daquele moleque de 15 anos que acordara chorando há 25 anos. E hoje acordei com a martelada aqui do lado, pulei da cama, coloquei um disco de John Lennon na vitrola (ou o equivalente dos dias de hoje), liguei o computador e resolvi escrever essa modesta crônica sobre um dia, uma manhã, um cara, um artista, que faz parte da minha vida e fez a minha cabeça de forma visceral, fundamental e poderosa. Apenas uma pequena homenagem a alguém que por tudo o que construiu e influenciou na vida pode ser chamado de gênio. O que dizer mais? Paz, cara. Muita luz pra você, onde estiver, e para todos os que sempre te amaram e que contigo aprenderam a imaginar.


(JUST LIKE) STARTING OVER


(Letra e música de John Lennon, do álbum "Double Fantasy", lançado em 1980)


Our life together is so precious together
We have grown, we have grown
Although our love is still special
Let's take a chance and fly away somewhere alone

It's been too long since we took the time
No-one's to blame, I know time flies so quickly
But when I see you darling
It's like we both are falling in love again
It'll be just like starting over, starting over

Everyday we used to make it love
Why can't we be making love nice and easy
It's time to spread our wings and fly
Don't let another day go by my love
It'll be just like starting over, starting over

Why don't we take off alone
Take a trip somewhere far, far away
We'll be together all alone again
Like we used to in the early days
Well, well, well darling

It's been too long since we took the time
No-one's to blame, I know time flies so quickly
But when I see you darling
It's like we both are falling in love again
It'll be just like starting over, starting over

Our life together is so precious together
We have grown, we have grown
Although our love is still special
Let's take a chance and fly away somewhere

Starting over


 


 

4 comentários:

  1. Apesar dos neurônios estarem mais pra lá do que pra cá e a memória cada vez pior, lembro perfeitamente desse dia. Mas diferente de você, já estava acordada, me preparando pra escola (tinha 15 anos) e ouvi na rádio. Fiquei parada, em choque profundo no meio do quarto procurando outras rádios pra alguém falar que era mentira ou algo assim. Todas falavam a mesma coisa.

    Senti um vazio tão grande, comecei a chorar pensando na brutalidade da coisa toda e a facilidade de se matar alguém assim. Passei o resto do dia e muitos outros depois meio que em transe, desiludida. Mataram paz! E toda hora tinha algo na tv, rádios tocando direto, imagens de gente sofrendo, um horror!

    A morte dele pra mim deixou uma marca na alma.

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  2. Pra mim também, Sílvia. Hoje o dia foi melancólico com as lembranças de 25 anos atrás. E ouvindo Lennon e Beatles sem parar.

    Beijos,
    Oz

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  3. Foi bom ter tido a tal insônia, ficou lindo, uma coisa muito bem escrita e sentida, de dentro. Espantei-me [a música que publicaste eu a peguei hoje num site com X músicas do Lennon, cifradas ou não]....poxa....
    Eu não tinha ido trabalhar [na Manchete] naquele dia, estava muito gripada. De repente meus filhos [que eram garotos], me chamaram mãããeeeeee - no quarto deles; cheguei na porta e me deram a notícia. Caí num pranto que jamais conhecera, fiquei em choque, depois quis saber se era verdade...fui pro quarto, caí, assim. Obrigada pela chance de 'trocar' isso.
    beijos.

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  4. Eliana, hoje, três anos depois, respondi teu post sobre a morte do John e fui reler minha crônica sobre o mesmo assunto.

    Beijos.

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