Assim que deu baixa da Marinha, após o fim da Segunda Guerra Mundial, meu pai veio para o Rio de Janeiro. O primeiro ofício que aprendeu aqui foi o de auxiliar de alfaiate. Logo estava com sua própria clientela, especializou-se em fazer calças para mulheres. E uma de suas clientes mais ilustres foi Dna. Sara Kubitschek. Ele sempre dizia que ela era uma mulher elegante, educada, simpática e gentil. Enfim, uma verdadeira dama.
Alguns anos mais tarde meu pai conseguiu um emprego numa subsidiária do Ministério das Minas e Energia como escriturário. Continuou fazendo calças para mulheres em casa. No Ministério ele conheceu minha mãe e os dois se casaram, em 1960. Por algum motivo alheio à sua vontade, meu pai teve uma promoção legítima negada pelos seus superiores imediatos. Ele não pensou duas vezes: escreveu uma carta ao então presidente Juscelino Kubitschek explicando a sua situação e pedindo que o presidente interviesse a seu favor. Não tardou para que Juscelino lhe respondesse de próprio punho garantindo-lhe a promoção. Meu pai sempre foi grato a JK por isso e o considerava – não apenas por essa ajuda pessoal, mas por todo o seu governo – o melhor chefe de Estado que o Brasil já teve.
Hoje meus pais já não estão mais entre nós, mas assistindo ao último capítulo da minissérie JK senti vontade de contar aqui essa pequena história "da minha aldeia" para que ela não se perdesse na poeira do tempo.
"Minha alma chorou tanto que de pranto está vazia
Desde que aqui fiquei sem a tua companhia"
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Na foto, eu e meus pais em dezembro de 1967 no Aterro do Flamengo.
Bela história e bonita reverencia a seu pai e a um grande estadista. Meu pai trabalhou com JK e sempre se refere a ele com a maior admiração e respeito. Abraço.
ResponderExcluirMarcos
É, essas pequenas histórias precisam ser contadas, Marcos. Fiquei tremendamente melancólico agora vendo o final da minissérie. Só lembrava do meu pai. E tô sentindo uma tremenda saudade dele e da minha mãe. C'est la vie...
ResponderExcluirAbraços
foi uma das coisas mais lindas e poéticas que já li.Deve ser a fórmula de Deus para fazer poesia, ele tortura pessoas inocentes com desgraças até arrancar poesia delas...
ResponderExcluirNem tanto, Clinton... nem foi minha intenção. Só fiquei emocionado de lembrar dos meus pais. E acho que as pessoas não morrem enquanto existir alguém que lembre delas. E esse é um compromisso de coração e sangue que tenho com meus pais.
ResponderExcluirNão sei o que é melhor, se essa história ou esse seu último comentário...
ResponderExcluirAbraços.
Vou falar uma parte da minha vida que entrelaça na sua:
ResponderExcluirmeu avô era alfaiate, com calças femininas antes de 1930, ja em Porto Alegre.
Ai foi para São Paulo onde teve uma garde oficina - ele moprreu em 1962 e estou ficou entre 2 tios. Hoje não existia mais.
Só quem usava calças femininas sómente as artistas e as do jet - porque viajavam e sabiam o que estava acontecendo.
Que legal Oz....
ResponderExcluirRealmente... memória é o que eterniza!
Um abraço.
muito bonito lembrar - sempre, Oz. Bjos.
ResponderExcluirMeu amigo,
ResponderExcluirNão assisti ao seriado JK mas tive curiosidade sobre os 2 últimos capítulos, principalmente o que tratou do acidente e morte de Juscelino. Mesmo curioso, não assisti. Quando do acidente, meu pai foi avisado pelo deputado Mario Tamborindegy, seu amigo e de quem era médico, sobre o acidente com JK . Pedia que ele tomasse as providências quando o corpo chegasse ao necrotério de Resende. Assim fez meu pai. Avisou as autoridades, colocou uns poucos guardinhas civis em seu carro, rumou para o cemitério para isolar a área já que, a essa hora, a notícia havia se espalhado, providenciou o caixão para o transporte do corpo e muitos outros detalhes que prefiro naõ dizer. A chegada do corpo, completamente mutilado, fez com que ele tomasse outra providência. Para não deixá-lo exposto e protegê-lo (mesmo correndo todos os riscos) o levou para a Santa Casa e começou a reconstituição do que era possível. Um pedido expresso de D. Sara, interrompeu os serviços. Depositou JK na urna que o levou até os familiares. Eu já morava no Rio há 4 anos e recebi um telefonema dele, chocado, me contando os detalhes. Nunca alguém da família, autoridade, ou investigador, indagou meu pai sobre esses detalhes, e eram tantos. Por isso não quis assistir ao capítulo. Guardo o que meu pai me disse naquela noite. E ele já não está mais aqui para contar. Abraços.
É, Sérgio, pelo visto todos nós brasileiros temos nossas histórias pessoais associadas às figuras públicas que fizeram a História do Brasil e que viraram verbetes de enciclopédias. Mas se a História fosse contada de verdade, todos nós deveríamos ser ouvidos. Isso é mais uma das provas da força do povo, da força que todos nós temos e da importância da vida e das memórias de cada um de nós.
ResponderExcluirÉ incrível também perceber que uma história pessoal (neste caso a minha e de meu pai) suscita lembranças de histórias de vários outros amigos como você e de como todos nós estamos ligados com a História do Brasil.
Grande abraço, Sérgio!
Oz
O que eu acabei de falar pro Sérgio também cabe ao teu caso, Luci. É engraçado como todos nós temos histórias pessoais que se cruzam, se espelham, se lembram de alguma forma. Bacana saber que seu avô também era alfaiate, uma nobre profissão que manteve o meu pai por muito tempo. E que me deu muitas roupas quando eu era criança, hehe!
ResponderExcluirBeijão!
Valeu, Marcelo! Mas é exatamente assim que eu penso. É obrigação da gente manter a lembrança daqueles que amamos sempre viva depois da morte deles. E eu amava demais os meus pais. E eles se amavam muito. Minha mãe morreu de amor, dois anos e meio depois do meu pai, que foi o homem da vida dela. Nunca vi os dois brigarem por nada. Eles me ensinaram muitas coisas boas. Forjaram o meu caráter. E eu devo demais a eles. :-)
ResponderExcluirGrande abraço!
essas histórias podem ser contadas aqui:
ResponderExcluirhttp://www.museudapessoa.com.br/
e é bom que sejam para não se perderem.
abs,
cesar
Boa lembrança, césar! Esse site é muito legal.
ResponderExcluirAconselho a todas as pessoas que possam, que deixem lá seus testemunhos.
história de vida é outra história...
[]s
Que legal dividir isto conosco, mas eu queria registrar aqui que vc era um garotinho muito lindinho viu? :))
ResponderExcluirbjks!
Déa
Obrigado, Andrea! :-))
ResponderExcluirBeijos,
Oz