CINEMA DE PAPEL (Parte 4) – HERÓIS DE SÁBADO À TARDE
Oswaldo Lopes Jr.
(Matéria escrita para a revista VEREDAS # 28 do Centro Cultural Banco do Brasil em abril de 1998, e republicada aqui na VALISE DE CRONÓPIO em oito partes)
O tempo foi passando e o cinema e as HQs continuaram inseparáveis. A década de 30 viu surgir um batalhão de heróis de aventuras nas páginas dos jornais. Os produtores de Hollywood logo enxergaram o seu potencial e trataram de adaptá-los para as telas. Flash Gordon, de Alex Raymond, Dick Tracy, de Chester Gould, Mandrake e Fantasma, de Lee Falk, entre outros, viraram seriados de cinema, um formato que já vinha fazendo sucesso na época, com episódios curtos exibidos nas matinês de fins de semana.
Em 1938, Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o primeiro herói mais rápido que uma bala e mais poderoso que uma locomotiva, revolucionando a hierarquia dos defensores da lei e o mercado dos quadrinhos. Um ano depois Bob Kane foi buscar inspiração numa invenção de Leonardo da Vinci, no filme “The Bat” e em personagens como o Zorro e o Sombra para moldar o seu sinistro herói vestido de morcego. Sem demora, Superman e Batman também voaram para as matinês de cinema, consolidando o formato. As roupas dos heróis eram ridículas e espalhafatosas, os vilões eram caricatos, as cenas de perigo eram nitidamente artificiais, mas nada disso importava. Na verdade, muitos desses detalhes eram uma perfeita transposição para as telas da linguagem das HQS, o que ajudava a lotar as salas de exibição de crianças e adultos ávidos por ação e aventura. Na verdade, foi um momento glorioso para ambas as formas de arte. O cinema começava a formar um público cativo, fanático por um tipo de filme que ia buscar nas comic books sua matéria-prima. Os seriados fizeram tanto sucesso que duraram até meados dos anos 50.
Em 1940, as linguagens do cinema e das HQs evoluíram sensivelmente com o lançamento de duas obras: Cidadão Kane, o filme de Orson Welles, e The Spirit, personagem de quadrinhos de Will Eisner. Esses jovens revolucionários mudaram vários conceitos de forma e narrativa, como a profundidade de campo e movimentos de câmera considerados impossíveis (Welles) ou a ousadia no uso de títulos, onomatopéias, bordas e enquadramentos (Eisner), lançando um novo olhar e uma nova perspectiva às duas linguagens. Além de obras-primas, Kane e Spirit foram verdadeiros divisores de águas, influenciando todos os seus sucessores.
A SEGUIR... DO FUNDO DA CRIPTA.
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