quarta-feira, 22 de abril de 2009

CINEMA DE PAPEL (Parte 6) - O "ESPÍRITO DA COISA"

CINEMA DE PAPEL (Parte 6) – O “ESPÍRITO DA COISA”

Oswaldo Lopes Jr.

 

(Matéria escrita para a revista VEREDAS # 28 do Centro Cultural Banco do Brasil em abril de 1998, e republicada aqui na VALISE DE CRONÓPIO em oito partes)

 

 

A televisão começou a revirar o baú de revistas em quadrinhos nos anos 60 e produziu o engraçadíssimo Batman, com Adam West e Burt Ward – considerado por muitos como a mais pura tradução de um gibi para uma mídia audiovisual já feita –, mas só em meados da década de 70 optou-se por investir fundo no filão. Porém, parece ter se interessado apenas pelo perfil mais superficial dos personagens. O Incrível Hulk, Mulher Maravilha, Homem-Aranha e Capitão Marvel invadiram a telinha, apesar de não terem herdado quase nada de suas origens de papel e tinta. As séries dessa época pareciam mais os típicos seriados policiais que dominavam a programação, com a mesma estrutura característica de “Mod Squad”, “Starsky & Hutch” ou “Baretta”. Tinham, é certo, um super-herói fantasiado no lugar do detetive, mas isso não é o bastante para se fazer um “vídeo-gibi” ou um “cine-gibi”.

 

Às vezes um programa não precisa ter origem numa revista em quadrinhos para ser fiel à sua linguagem. É o caso de Parker Lewis, série americana voltada para o público adolescente, que se embriagou na fonte dos desenhos animados e HQs. Mas, sem dúvida, a mais completa tradução das histórias em quadrinhos para a televisão se deu no Brasil: Armação Ilimitada. Balões, recorte de quadrinhos, edição clipada, alteração de cores, citações descaradas da cultura pop, muito som e muita fúria, significando o seriado mais rico da história da TV brasileira. As aventuras de Juba, Lula, Bacana e Zelda Maria Scott tinham mais pedigree de revista em quadrinhos do que muito gibi. O feito seria repetido em alguns quadros da TV Pirata, cuja equipe de roteiristas era integrada por alguns dos mais importantes autores de quadrinhos brasileiros – Laerte, Angeli e Glauco –, dando o tom preciso na transposição do papel para a telinha.

 

No cinema também existem filmes que pegam “o espírito da coisa” sem precisar dar vida a um herói de papel. Bons exemplos disso são Robocop, de Paul Verhoeven, Darkman, de Sam Raimi, e O Exterminador do Futuro 2, de James Cameron, cujos protagonistas passariam muito bem por personagens de revistas em quadrinhos. São filmes marcados por um ritmo frenético, uma lógica interna fantasiosa (que nos faz aceitar sem piscar os maiores absurdos, durante o tempo de projeção do filme), uma moral maniqueísta, movimentos de câmera e grandes angulações que nos remetem a quadros de página inteira e um clima de ação e aventura essenciais para o gênero.

 

Robocop, por exemplo, é tudo o que Batman de Tim Burton tentou e não conseguiu: uma livre adaptação do clima apocalíptico da graphic novel de Frank Miller que retrata um Batman com cinquenta anos de idade numa Gotham City devastada por guerras de gangues e terrorismo desenfreado.

 

 

A SEGUIR... E O HOMEM VOOU.

 

 

3 comentários:

  1. volto para ler todas as partes...
    Bom domingo!

    abs

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  2. Obrigado Luiz Carlos! :-)

    O texto é um só, eu dividi em oito partes, nos capítulos originais, para não ficar imenso e enfadonho para os leitores do Multiply. Mas na revista tá lá tudinho, em quatro páginas, completo.

    Agora só faltam duas partes. ;-)

    Abração!

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