quarta-feira, 26 de abril de 2006

BAD TO THE BONE


O clipe não é lá essas coisas, mas a música de George Thorogood é um blues pesado e fantástico que eu curto há décadas, e que já foi tema de abertura de um filme que eu adoro ("Christine", de John Carpenter, baseado no livro de Stephen King) e tema do protagonista de uma série de TV que eu gosto demais (Al Bundy, o vendedor de sapatos de "Um Amor de Família"/ "Married With Children")!


Senhoras e senhores, com vocês... "BAD TO THE BONE"!


http://www.youtube.com/watch?v=JurQd5Wcsos&search=Bad%20to%20the%20Bone%20George%20Thorogood


 

sexta-feira, 21 de abril de 2006

“O ILUMINADO” (“The Shining”, 1980), de Stanley Kubrick

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: Stanley Kubrick
Roteiro: Stanley Kubrick e Diane Johnson, baseado no romance homônimo de Stephen King
Produção: Stanley Kubrick, Jan Harlan, Robert Fryer, Mary Lea Johnson, Martin Richards / Warner Bros.
Fotografia: John Alcott
Montagem: Ray Lovejoy
Música: Wendy Carlos, Rachel Elkind, György Ligeti, Krzysztof Penderecki, Béla Bartók
Direção de Arte: Leslie Tomkins, Roy Walker
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Joe Turkel, Philip Stone, Barry Nelson, Barry Dennen, Lisa Burns, Louise Burns, Lia Beldam, Billie Gibson, Norman Gay


* * * * * * * * * * *

Danny Torrance: “Mr. Hallorann, are you scared of this place?"
Dick Hallorann: “No, I'm not scared - there's nothin' here. It's just that, you know, some places are like people. Some ‘shine’ and some don't. I guess you could say the Overlook Hotel here has somethin' almost like ‘shining’.”

* * * * * * * * * * *

Jack Torrance [batido à máquina inúmeras vezes]: “All work and no play makes Jack a dull boy.”

* * * * * * * * * * *


Apesar de ter feito poucos filmes, Stanley Kubrick foi provavelmente o mais perfeccionista de todos os cineastas. Um esteta que quando não se contentava com um take o repetia até quase exaurir e enlouquecer seu elenco e equipe. Kubrick nos deu algumas das maiores obras-primas da sétima arte: “Glória Feita de Sangue”, “Dr. Fantástico” (já comentado aqui nA VALISE DE CRONÓPIO), “2001: Uma Odisséia no Espaço”, “Laranja Mecânica” e este “O Iluminado”. Uma adaptação livre do romance de terror de Stephen King, o filme é a primeira incursão do diretor no universo do terror, porém não sua primeira experiência com a narrativa fantástica. Ficção científica e fábulas políticas já faziam parte do seu currículo. Porém aqui Kubrick foi meticuloso em criar o clima exato para a história claustrofóbica de King. A fotografia asséptica de John Alcott (com o uso do steadycam pela primeira vez na história), a montagem milimétrica de Ray Lovejoy e principalmente a edição de som absolutamente perfeita de uma equipe que soube fazer um uso bastante eficaz de temas lúgubres e soturnos como “Lontano” de Ligeti, “The Awakening of Jacob” de Penderecki e “Música Para Cordas, Percussão e Celesta” de Bartók.

Já no primeiro plano, com um sobrevôo de lagos e montanhas, ao som de uma variação do “Dies Irae” medieval por Wendy Carlos, “O Iluminado” mostra a que veio: despertar o sentimento de medo na platéia. Stephen King acusou Kubrick de ter feito “uma limusine luxuosa que não leva a lugar algum”, aparentemente por ciúmes das liberdades narrativas e plásticas que o cineasta tomou com seu livro (tanto que em 1997 o próprio King escreveu e produziu uma minissérie para TV extremamente fiel ao romance, dirigida por Mick Garris, ótima, mas muito longe do brilho e da genialidade da obra de Kubrick). Porém a visão perfeccionista e arquitetônica do cineasta nova-iorquino cria um clima que vai se desenvolvendo como uma sinfonia. De um “adágio” sinistro ao “scherzo” final no labirinto de neve o filme vai crescendo, a sensação de isolamento dos personagens vai aumentando e o lado negro do hotel Overlook e de seus fantasmas vai se manifestando. Cenas antológicas como Danny pedalando em seu velocípede pelos infindáveis corredores do hotel, a surpresa no quarto 237, a solidão de Jack Torrance tentando escrever seu livro no grande Salão Colorado, as irmãs gêmeas, a misteriosa bola de tênis que vem deslizando pelo corredor até Danny, o elevador que jorra sangue, as aparições do barman Lloyd e do garçom Grady, a recriação do Lobo Mau e os Três Porquinhos com Jack caçando a própria família com um machado na mão são as peças nesse mosaico áudio-visual regido com punho de gênio por Stanley Kubrick. E o ritmo vai num crescendo, acelerando o coração do público e transformando este num dos filmes mais assustadores e impactantes de todos os tempos.

Pouca gente se lembra, mas “O Iluminado” foi lançado no Brasil em duas versões, dublada e legendada, por decisão do próprio cineasta. E a versão dublada foi dirigida pelo hoje acadêmico Nelson Pereira dos Santos, um dos maiores nomes do nosso cinema, escolhido a dedo por Kubrick. Eu tive a sorte de ver o filme nos dois formatos no cinema. Lembro de ter assistido a “O Iluminado” no cine Palácio, no Ópera (onde hoje é a Casa & Vídeo da praia de Botafogo) e no cine Gaumont Belas Artes, em Copacabana (onde hoje é uma boate). Ao todo fiz 15 visitas ao hotel Overlook na sala escura. E hoje, revendo na tela pequena da TV, tenho saudades do impacto que o filme me causou em cada uma das vezes em que me vi ao lado da família Torrance, ao som de Penderecki e Bartók, perdido pelos corredores assombrados daquele hotel isolado pela neve.



quarta-feira, 19 de abril de 2006

Conto (11): "FLOR, TELEFONE, MOÇA", de Carlos Drummond de Andrade



Este é um dos melhores contos que já li na vida, e bastante inusitado vindo de quem é. "Flor, Telefone, Moça" é uma das raríssimas incursões de Drummond na literatura fantástica, no universo do sobrenatural. Este conto é tão perturbador quando "A Pata do Macaco" de W. W. Jacobs (já postado aqui: http://ozlopesjr.multiply.com/journal/item/21), e se Rod Serling o tivesse lido, bem que poderia tê-lo adaptado para o seu clássico seriado "Além da Imaginação".


Agora, para quem não conhece este lado soturno de um dos nossos maiores poetas, confira a leitura...


 


FLOR, TELEFONE, MOÇA


De Carlos Drummond de Andrade


Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava, e é doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos.


Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga – bom, agora me recordo que a conversa era sobre flores – ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho.


– Sei de um caso de flor que é tão triste!


E sorrindo:


– Mas você não vai acreditar, juro.


Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que a história era verdadeira.


– Era uma moça que morava na Rua Gerenal Polidoro, começou ela. Perto do Cemitério São João Batista. Você sabe, quem mora por ali, queira ou não queira, tem de tomar conhecimento da morte. Toda hora está passando enterro, e a gente acaba por se interessar. Não é tão empolgante como navios ou casamentos, ou carruagem de rei, mas sempre merece ser olhado. A moça, naturalmente, gostava mais de ver passar enterro do que não ver nada. E se fosse ficar triste diante de tanto corpo desfilando, havia de estar bem arranjada.


Se o enterro era mesmo muito importante, desses de bispo ou de general, a moça costumava ficar no portão do cemitério, para dar uma espiada. Você já notou como coroa impressiona a gente? Demais. E há a curiosidade de ler o que está escrito nelas. Morto que dá pena é aquele que chega desacompanhado de flores – por disposição de família ou falta de recursos, tanto faz. As coroas não prestigiam apenas o defundo, mas até o embalam. Às vezes ela chegava a entrar no cemitério e a acompanhar o préstimo até o lugar do sepultamento. Deve Ter sido assim que adquiriu o costume de passear lá por dentro. Meu Deus, com tanto lugar pra passear no Rio! E no caso da moça, quando estivesse mais amolada, bastava tomar um bonde em direção à praia, descer no Mourisco, debruçar-se na amurada. Tinha o mar à sua disposição, a cinco minutos de casa. O mar, as viagens, as ilhas de coral, tudo grátis. Mas por preguiça pela curiosidade dos enterros, sei lá por quê, deu para andar em São João Batista, comtemplando túmulo. Coitada!


– No interior isso não é raro...


– Mas a moça era de Botafogo.


– Ela trabalhava?


– Em casa. Não me interrompa. Você não vai me pedir certidão de idade da moça, nem sua descrição física. Para o caso que estou contando, isso não interessa. O certo é que de tarde costumava passear – ou melhor, "deslizar" pelas ruinhas brancas do cemitério, mergulhada em cisma.. Olhava uma inscrição, ou não olhava, descobria uma figura de anjinho, uma coluna partida, uma águia, comparava as covas ricas às covas pobres, fazia cálculos de idade dos defuntos, considerava retratos em medalhões – sim, há de ser isso que ela fazia por lá, pois que mais poderia fazer? Talvez mesmo subisse ao morro, onde está a parte nova do cemitério, e as covas mais modestas. E deve Ter sido lá que, uma tarde, ela apanhou a flor.


– Que flor?


– Uma flor qualquer. Margarida, por exemplo. Ou cravo. Para mim foi margarida, mas é puro palpite, nunca apurei. Apanhou com esse gesto vago e maquinal que a gente tem diante de um pé de flor. Apanha, leva ao nariz – não tem cheiro, como inconscientemente já esperava –, depois amassa a flor, joga para um canto. Nào se pensa mais nisso.


Se a moça jogou a margarida no chão do cemitério ou no chão da rua, quando voltou para casa, também ignoro. Ela mesma se esforçou mais tarde por esclarecer esse ponto, mas foi incapaz. O certo é que já tinha voltado, estava em casa bem quietinha havia poucos minutos, quando o telefone tocou, ela atendeu.


– Aloooô...


– Quede a flor que você tirou de minha sepultura?


A voz era longínqua, pausada, surda. Mas a moça riu. E, meio sem compreender:


– O quê?


Desligou. Voltou para o quarto, para as suas obrigações. Cnco minutos depois, o telefone chamava de novo.


– Alô.


– Quede a flor que você tirou de minha sepultura?


Cinco minutos dão para a pessoa mais sem imaginação sustentar um trote. A moça riu de novo, mas preparada.


– Está aqui comigo, vem buscar.


No mesmo tom lento, severo, triste, a voz respondeu:


– Quero a flor que você me furtou. Me dá minha florzinha.


Era homem, era mulher? Tão distante, a voz fazia-se entender, mas não se identificava. A moça topou a conversa:


– Vem buscar, estou te dizendo.


– Você bem sabe que eu não posso buscar coisa nenhuma, minha filha. Quero minha flor, você tem obrigação de devolver.


– Mas quem está falando aí?


– Me dá minha flor, eu estou te suplicando.


– Diga o nome, senão eu não dou.


– Me dá minha flor, você não precisa dela e eu preciso. Quero minha flor, que nasceu na minha sepultura.


O trote era estúpido, não variava, e moça, enjoando logo, desligou. Naquele dia não houve mais nada.


Mas no outro dia houve. À mesma hora o telefone tocou. A moça, inocente, foi atender.


– Alô!


– Quede a flor...


Não ouviu mais. Jogou o fone no gancho, irritada. Mas que brincadeira é essa! Irritada voltou à costura. Não demorou muito, a campainha tinia outra vez. E antes que a voz lamentosa recomeçasse:


– Olhe, vire a chapa, já está pau.


– Você tem que dar conta de minha flor, retrucou a voz de queixa. Pra que foi mexer logo na minha cova? Você tem tudo no mundo, eu, pobre de mim, já acabei. Me faz muita falta aquela flor.


– Essa é fraquinha. Não sabe de outra?


E desligou. Mas, voltando ao quarto, já não ia só. Levava consigo a idéia daquela flor, ou antes, a idéia daquela pessoa idiota que a vira arrancar uma flor no cemitério, e agora a aborrecia pelo telefone. Quem poderia ser? Não se lembrava de Ter visto nenhum conhecido, era distraída por natureza. Pela voz não seria fácil acertar. Certamente se tratava de voz disfarçada, mas tão bem que não se podia saber ao certo se de homem ou de mulher. Esquisito, uma voz fria. E vinha de longe, como de interurbano. Parecia vir de mais longe ainda... Você está vendo que a moça começou a Ter medo.


– E eu também.


– Não seja bobo. O fato é que aquela noite ela custou a dormir. E daí por diante é que não dormiu mesmo nada. A perseguição telefônica não parava. Sempre à mesma hora, no mesmo tom. A voz não ameaçava, não crescia de volume: implorava. Parecia que o diabo da flor constituía para ela a coisa mais preciosa do mundo, e que seu sossego eterno – admitindo que se tratasse de pessoa morta – ficara dependendo da restituição de uma simples flor. Mas seria absurdo admitir tal coisa, e a moça, além do mais, não queria se amofinar. No quinto ou sexto dia, ouviu firme a cantilena da voz e depois passou-lhe uma bruta descompostura. Fosse amolar o boi. Deixasse de ser imbecil (palavra boa, porque convinha a ambos os sexos). E se a voz não se calasse, ela tomaria providências.


A providência consistiu em avisar o irmão e depois o pai. (A intervenção da mãe não abalara a voz.) Pelo telefone, pai e irmão disseram as últimas à voz suplicante. Estavam convencidos de que se tratava de algum engraçado absolutamente sem graça, mas o curioso é que, quando se referiam a ele, diziam "a voz".


– A voz chamou hoje? Indagava o pai, chegando da cidade.


– Ora. É infalível, suspirava a mãe, desalentada.


Descomposturas não adiantavam, pois, ao caso. Era preciso usar o cérebro. Indagar, apurar na vizinhança, vigiar os telefones públicos. Pai e filho dividiram entre si as tarefas. Passaram a freqüentar as casas de comércio, os cafés mais próximos, as lojas de flores, os marmoristas. Se alguém entrava e pedia licença para usar o telefone, o ouvido do espião se afiava. Mas qual. Ninguém reclamava flor de jazigo. E restava a rede dos telefones particulares. Um em cada apartamento, dez, doze no mesmo edifício. Como descobrir?


O rapaz começou a tocar para todos os telefones da Rua General Polidoro, depois para todos os telefones das ruas transversais, depois para todos os telefones da linha dois-meia... Discava, ouvia o alô, conferia a voz – não era –, desligava. Trabalho inútil, pois a pessoa da voz devia estar ali por perto – o tempo de sair do cemitério e tocar para a moça – e bem escondida estava ela, que só se fazia ouvir quando queria, isto é, a uma certa hora da tarde. Essa questão de hora também inspirou à família algumas diligências. Mas infrutíferas.


Claro que a moça deixou de atender telefone. Não falava mais nem com as amigas. Então a "voz", que não deixava de pedir, se outra pessoa estava no aparelho, não dizia mais "você me dá minha flor", mas "quero minha flor", "quem furtou minha flor tem que restituir", etc. Diálogo com essas pessoas a "voz" não mantinha. Sua conversa era com a moça. E a "voz" não dava explicações.


Isso durante quinze dias, um mês, acaba por desesperar um santo. A família não queria escândalos, mas teve de queixar-se à polícia. Ou a polícia estava muito ocupada em prender comunista, ou investigações telefônicas não eram sua especialidade – o fato é que não se apurou nada. Então o pai correu à Companhia Telefônica. Foi recebido por um cavalheiro amabilíssimo, que coçou o queixo, aludiu a fatores de ordem técnica...


– Mas é a tranqüilidade de um lar que eu venho pedir ao senhor! É o sossego de minha filha, de minha casa. Serei obrigado a me privar de telefone?


– Não faça isso, meu caro senhor. Seria uma loucura. Aí é que não se apurava mesmo nada. Hoje em dia é impossível viver sem telefone, rádio e refrigerador. Dou-lhe um conselho de amigo. Volte para sua casa, tranqüilize a família e aguarde os acontecimentos. Vamos fazer o possível.


Bem, você já está percebendo que não adiantou. A voz sempre mendigando a flor. A moça perdendo o apetite e a coragem. Andava pálida, sem ânimo para sair à rua ou para trabalhar. Quem disse que ela queria mais ver enterro passando? Sentia-se miserável, escravizada a uma voz, a uma flor, a um vago defunto que nem sequer conhecia. Porque – já disse que era distraída – nem mesmo se lembrava da cova de onde arrancara aquela maldita flor. Se ao menos soubesse...


O irmão voltou do São João Batista dizendo que, do lado por onde a moça passeara aquela tarde, havia cinco sepulturas plantadas. A mãe não disse coisa alguma, desceu, entrou numa casa de flores da vizinhança, comprou cinco ramalhetes colossais, atravessou a rua como um jardim vivo e foi derramá-los votivamente sobre os cinco carneiros. Voltou para casa e ficou à espera da hora insuportável. Seu coração lhe dizia que aquele gesto propiciatório havia de aplacar a mágoa do enterrado – se é que os mortos sofrem, e aos vivos é dado consolá-los, depois de os haver afligido.


Mas a "voz" não se deixou consolar ou subornar. Nenhuma outra flor lhe convinha senão aquela, miúda, amarrotada, esquecida, que ficara rolando no pó e já não existia mais. As outras vinham de outra terra, não brotavam de seu estrume – isso não dizia a voz, era como se dissesse. E a mãe desistiu de novas oferendas, que já estavam no seu propósito. Flores, missas, que adiantava?


O pai jogou a última cartada: espiritismo. Descobriu um médium fortíssimo, a quem expôs longamente o caso, e pediu-lhe que estabelecesse contato com a alma despojada de sua flor. Compareceu a inúmeras sessões, e grande era sua fé de emergência, mas os poderes sobrenaturais se recusaram a cooperar, ou eles mesmos são impotentes, quando alguém quer alguma coisa até sua última fibra, e a voz continuou, surda, infeliz, metódica. Se era mesmo de vivo (como às vezes a família ainda conjeturava, embora se apegasse cada dia mais a uma explicação desanimadora, que era a falta de qualquer explicação lógica para aquilo), seria de alguém que houvesse perdido toda noção de misericórdia; e se era de morto, como julgar, como vencer os mortos? De qualquer modo, havia no apelo uma tristeza úmida, uma infelicidade tamanha que fazia esquecer o seu sentido cruel, e refletir: até a maldade pode ser triste. Não era possível compreender mais do que isso. Alguém pede continuamente uma certa flor, e esta flor não existe mais para lhe ser dada. Você não acha inteiramente sem esperança?


– Mas, e a moça?


– Carlos, eu preveni que meu caso de flor era muito triste. A moça morreu no fim de alguns meses, exausta. Mas sossegue, para tudo há esperança: a voz nunca mais pediu.


 


* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *


(Extraído do livro "CONTOS DE APRENDIZ", de Carlos Drummond de Andrade, 1951. Editora Record, 22ª edição, Rio de Janeiro.)


 

ONE OF THESE DAYS


... I'M GOIN' TO CUT YOU INTO LITTLE PIECES!


 


 


 


 


 


(do álbum "Meddle". Composição de Roger Waters, Richard Wright, Nick Mason, David Gilmour)

terça-feira, 18 de abril de 2006

OUTRO ÁLBUM ATUALIZADO!!!

Alô, amigos!

Acabei de reeditar OUTRO álbum com fotos de action figures, dioramas e miniaturas de clássicos do cinema, "DE 1975 A 1982", com mais figuras do Monty Python, O Jovem Frankenstein e outros filmes da época. Dêem uma olhada lá e depois me digam o que acharam. ;-)

http://ozlopesjr.multiply.com/photos/album/39

Grande abraço,
Oz
VALISE DE CRONÓPIO
http://ozlopesjr.multiply.com


Álbum atualizado!!!

Alô, amigos!

Acabei de reeditar meu álbum com fotos de action figures, dioramas e miniaturas de clássicos do cinema, de "Viagem à Lua" de Georges Méliès (1903) até "O Pequeno Príncipe" de Stanley Donen (1974). Tem pra todos os gostos: terror, ficção científica, policial, aventura, drama, fábula, western e infantil. Dêem uma olhada lá e depois me digam o que acharam. ;-)

http://ozlopesjr.multiply.com/photos/album/36

Grande abraço,
Oz
VALISE DE CRONÓPIO
http://ozlopesjr.multiply.com

segunda-feira, 17 de abril de 2006

MUDANÇAS


Hoje é dia de divulgar os trabalhos dos amigos. Desta vez é um curta-metragem de ficção, do colega crítico e cineasta João Solimeo (http://www.cameraescura.com.br) que vi e recomendo! Poucos cenários, dois personagens, um belo trabalho de câmera e muita emoção com um final inesperado.


"MUDANÇAS"


Roteiro e direção de João Solimeo. Com Guilherme Scharamittaro e Ana Friedlander.
Brasil-SP, 7min, ficção, cor, 2005


Rapaz passa por momento difícil e introspectivo pouco antes de uma grande mudança ocorrer em sua vida.


http://youtube.com/watch?v=um9KVbqDd9o


Parabéns, João!


 

CORRENTE PRA FRENTE


Como estamos em ano de Copa do Mundo e este é "o evento mais importante que existe" (...), vamos torcer muito para a "nossa seleção" trazer para o Brasil o "tão sonhado" título de hexa campeões mundiais de futebol!!!


E aproveitando a deixa, assista ao vencedor do 1º Festival Livre de Animação na América Latina (com som). O filme é brasileiro, com roteiro, direção e animação de Andrés Lieban, feito em 2002 e tem apenas 80 segundos, e mostra bem a inversão de valores em que estamos vivendo...

http://www.laboratoriodedesenhos.com.br/corrente_page.htm


 

quarta-feira, 12 de abril de 2006

O QUE É PÁSCOA?


 


- Papai, o que é Páscoa?

- Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!

- Igual ao Natal?

- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressureição.

- Ressurreição?

- É, ressurreição. Marta, vem cá!

- Sim?

- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.

- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?

- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

- O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?

- É, filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

- O Espírito Santo também é Deus?

- É sim.

- E Minas Gerais?

- Sacrilégio!!!

- É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?

- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!

- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?

- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

- Coelho bota ovo?

- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?

- Era... era melhor sim... ou então urubu.

- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia ele morreu?

- Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.

- Que dia e que mês?

- (???)  Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.

- Um dia depois!

- Não três dias depois.

- Então ele morreu na quarta-feira.

- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!


- Como?


- Pergunte à sua professora de catecismo!

- Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?

- É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

- O Judas traiu Jesus no sábado?

- Claro que não! Se Jesus morreu na sexta!!!

- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

- Ui...

- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

- Cristo. Jesus Cristo.

- Só?

- Que eu saiba sim, por quê?

- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

- Ai, coitada!

- Coitada de quem?

- Da sua professora de catecismo!

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *


(Texto de Luís Fernando Veríssimo, publicado no jornal "O Estado de São Paulo" em março de 2002)

MINIATURAS HANNA-BARBERA

Category:   Collectibles

A Warner Bros. Consumer Products e a McFarlane Toys fecharam contrato para a produção de uma nova linha de bonecos baseados no numeroso catálogo da Hanna-Barbera.

Pois as primeiras imagens dessas figuras colecionáveis foram reveladas. Confira abaixo as sensacionais fotos de Tom & Jerry, Hong Kong Fu e Pepe Legal.

Os brinquedos chegarão às lojas na metade do ano. Cada figura custará 12 dólares e a caixa com um grupo de bonecos, aproximadamente 22 dólares.

(por Érico Borgo, do site Omelete.com.br)


sábado, 8 de abril de 2006

SEMANA R.M.S. TITANIC - 94 ANOS


Esta semana que começa marca os 94 anos de um fato que muitos historiadores consideram o verdadeiro início do século 20: a primeira e última viagem do transatlântico inglês R.M.S. Titanic, da White Star Line. Até então o maior objeto móvel já construído pelo Homem partiu do porto de Southampton no dia 10 de abril de 1912 ao meio-dia e às 23h40min do dia 14 se chocou com um iceberg no Atlântico Norte, tendo naufragado às 2h20min da madrugada do dia 15 de abril. Entre tripulantes e passageiros, mais de 2200 pessoas estavam à bordo. Pouco mais de 700 sobreviveram. A rígida divisão de classes sociais - mesmo na hora do naufrágio - e a escassez de barcos salva-vidas (apenas 16) foram alguns dos fatores críticos para que o desastre tivesse mais de 1500 mortos - até hoje a maior tragédia em tempos de paz em toda a História.


Por ser obcecado pela história do R.M.S. Titanic desde criança e por ter plena certeza de que tenho algum laço em alguma vida passada com este navio, farei a SEMANA R.M.S. TITANIC - 94 ANOS, revendo seis dos dez filmes que misturam ficção e realidade produzidos até hoje sobre a tragédia.


Segunda, dia 10: "TITANIC" ("Titanic", produção alemã de 1943), direção de Herbert Selpin e Werner Klinger, com Sybille Schmitz, Hans Nielsen, Karl Schonback, Charlotte Thiele e Otto Wernicke. O raro épico feito sob a doutrina nazista.


Terça, dia 11: "NÁUFRAGOS DO TITANIC" ("Titanic", produção norte-americana de 1953), direção de Jean Negulesco, com Clifton Webb, Barbara Stanwick, Robert Wagner, Thelma Ritter, Audrey Dalton, Richard Basehart e Brian Aherne. A primeira super-produção hollywoodiana sobre o naufrágio.


Quarta, dia 12: "S.O.S. TITANIC" ("S.O.S. Titanic", co-produção EUA / Inglaterra feita para a TV de 1979), de William Hale, com David Janssen, Cloris Leachman, Susan Saint James, David Warner, Ian Holm, Helen Mirren, Harry Andrews, Beverly Ross e Warren Clarke. A versão para TV filmada à bordo do R.M.S. Queen Mary.


Quinta, dia 13: "TITANIC" ("Titanic", co-produção EUA / Canadá feita para a TV de 1996), direção de Robert Lieberman, com George C. Scott, Peter Gallagher, Catherina Zeta-Jones, Tim Curry, Eva Marie Saint, Marilu Henner e Roger Rees. A última versão do naufrágio feita para a TV, quase simultaneamente ao filme de James Cameron.


Sexta, dia 14: "SOMENTE DEUS POR TESTEMUNHA" ("A Night to Remember", produção inglesa de 1958), de Roy Ward Baker, com Kenneth More, Honor Blackman, Michael Goodliffe, David McCallum, Ronald Allen, Tucker McGuire, John Merivale, George Rose e Laurence Naismith. Um docudrama baseado no livro de Walter Lord, considerado o filme mais fiel aos fatos históricos.


Sábado, dia 15: "TITANIC" ("Titanic", produção norte-americana de 1997), de James Cameron, com Leonardo DiCaprio, Kate Winslet, Billy Zane, Kathy Bates, Frances Fisher, Bernard Hill, David Warner, Jonathan Hyde, Danny Nucci, Victor Garber, Gloria Stuart e Bill Paxton. A super-produção que juntou a 20th Century Fox e a Paramount, custou 250 milhões de dólares, ganhou 11 Oscars e bateu vários recordes de bilheteria.


Além dos filmes, talvez passe também alguns dos vários documentários da BBC, Discovery Channel, National Geographic, People + Arts sobre a tragédia.


"Are you ready to go back to Titanic?"


Se está, junte-se a essa viagem no tempo. Todos os amigos são bem vindos à bordo!!!


Para saber mais sobre a história do R.M.S. Titanic e ver meu álbum de fotos sobre o navio, clique aqui.


 

terça-feira, 4 de abril de 2006

WEAPON OF CHOICE


Videoclipe: "Weapon of choice" (2001)


Música: Fatboy Slim


Direção: Spike Jonze


Estrelando: Christopher Walken


http://www.youtube.com/watch?v=HPbicuTjBjo&search=Christopher%20Walken


P.S.: Sei que esse clipe já é antigo, mas entendam, eu passei 5 anos procurando e nunca consegui achá-lo! Só agora!

SHINING - A ROMANTIC COMEDY


Você pensa que "O Iluminado" é um filme de terror?


Que nada! Se você não viu o filme, não perca este trailer!


http://www.youtube.com/watch?v=l9VENpikujs&search=The%20Shining


 

BROKEBACK TO THE FUTURE


Dois cowboys...


Uma experiência no tempo...


A variável do amor...


Uma verdade que eles não podiam negar...


http://www.youtube.com/watch?v=zfODSPIYwpQ


I LOVE SHARKS!


MUST LOVE JAWS


http://www.youtube.com/watch?v=92yHyxeju1U&search=must%20love%20jaws


Uma história de amor!

KEVIN SMITH STRIKES BACK!


 


VEM AÍ


"O BALCONISTA 2"!


http://youtube.com/watch?v=99jwiOXtM-E