quinta-feira, 31 de agosto de 2006

O ESPÍRITO BRASILEIRO


Hoje recebi por e-mail uma mensagem que me fez pensar mais a fundo a respeito de um assunto sobre o qual já tenho conversado com alguns amigos. Todo mundo, sem exceção, reclama dos políticos e de suas falcatruas. Nós na internet, porteiros, taxistas, donas de casa, dentistas, jornaleiros, médicos, enfim, toda a sociedade não aguenta mais tanta corrupção e mazelas! E todos nós sabemos muito bem que somos nós - e as outras dezenas de milhões de eleitores - que colocamos esses calhordas em posições de poder, aonde podem fazer e desfazer da vida do povo e encher seus bolsos, malas e cuecas de dinheiro.


Só que as pessoas que reclamam da corrupção, da denonestidade e da ineficácia dos políticos brasileiros - NÓS - são AS MESMAS PESSOAS que "dão uma cervejinha" pro guarda não multá-los, que jogam papel na rua, que fumam em lugares proibidos ou inadequados, que têm TV por assinatura ou internet "à gato", que copiam filmes e músicas sem pagar nada por isso ("apenas para uso pessoal ou para dar de presente a um amigo", justificam), que compram CDs, DVDs, roupas, brinquedos e utensílios piratas e falsificados nos camelôs, que sonegam impostos, que furtam uma barra de cereal de vez em quando num super-mercado, que estacionam em local proibido, que não usam cinto de segurança e que falam ao celular enquanto dirigem, que passam por baixo da roleta nos ônibus, que fazem fotocópias de livros inteiros, que tentam sempre levar alguma vantagem em qualquer negócio em que se metem... e acham que estão certíssimos e que não estão fazendo mal a ninguém!!! Enfim, esse é o povo brasileiro. ESTES SOMOS NÓS!!!


E atire a primeira pedra quem nunca fez pelo menos duas dessas coisas!!! E leiam o texto pois vale a pena a reflexão.


 


Entendendo o Brasil

Numa tarde de sexta-feira, recebi um telefonema de um amigo me convidando para ir a um churrasco na sua casa. Acontece que na naquela noite eu tinha que dar aula na faculdade. O problema é que eu queria ir ao churrasco, mas como?

Bem, eu agi como, geralmente, todos nós agimos: fiz de conta que estava cumprindo com a minha obrigação quando, na verdade, satisfiz o meu prazer. O churrasco começava às oito da noite e a aula às sete e meia. Fui à faculdade, registrei a aula, fiz a chamada e inventei uma aula de leitura na biblioteca, abandonando a turma. Saí para o churrasco querendo acreditar que cumprira meu dever de professor.

No churrasco, fiquei numa mesa com o dono da casa, que é médico, o amigo que estava sendo homenageado, que é policial, um amigo do homenageado que é advogado e político e a sua esposa que é universitária e estuda no período da noite.

O assunto era um só: a roubalheira dos nossos políticos e a passividade da sociedade (todos nós) mediante a podridão do episódio do mensalão. Todos estávamos revoltados e propondo soluções para o melhor funcionamento da máquina pública e para o resgate da ética entre a classe política.

Num dado momento, o telefone do dono da casa tocou e ele se afastou para atender. Retornando, disse com raiva: "Não dá pra trabalhar com certas pessoas". Naquela noite, ele estava de plantão no hospital, mas chegou lá cedo, visitou alguns pacientes e leu "por cima", os prontuários. Depois foi para casa e deixou como recomendação: "só me liguem em caso de extrema emergência ou se aparecerem pacientes particulares".

Estava aborrecido porque a enfermeira lhe telefonara só porque chegou um sexagenário com suspeita de infarto. Ele "receitou" medicamentos pelo telefone e disse que a enfermeira só devia ligar de novo se acontecesse algo grave.

Para aliviar o clima, perguntei ao amigo que estava sendo homenageado se já havia feito a sua mudança de casa. Ele respondeu que sim e, que isso não tinha lhe custado nada, pois o dono da transportadora lhe havia retribuído "um favor": meses antes, ele tinha "resolvido" uns probleminhas de multas nos seus carros que poderiam lhe custar a habilitação e, até mesmo, a sua empresa!

Aí, a esposa do político liga para uma colega que também fazia mestrado para saber se ela tinha respondido à chamada por ela enquanto ela estava no churrasco, pois ela já estava "pendurada nas faltas" nessa disciplina e não poderia ser reprovada. E, feliz, sorriu com a resposta da colega: dera tudo certo.

Em um outro momento, o anfitrião pergunta ao político como iria ficar o caso de uma certa pessoa. E ele respondeu que tudo estava indo bem, o problema era que na secretaria almejada já havia alguém concursado ocupando o cargo que tal pessoa pleiteava. Mas que ele não se preocupasse, pois estavam estudando uma medida legal (?) para transferir o "dito cujo" de função ou de setor para a vaga "do fulano" ser ocupada por ele. "Ele é um que não pode ficar de fora, pois foi comprometido com a gente até o fim", finalizou.

Em meio a tudo isso, não deixávamos de falar das CPI's, da corrupção dos políticos e da cumplicidade da sociedade que, apática, não movia uma palha para mudar nada.

Chegando em casa fui pensar naquela noite e em tudo o que havia presenciado.


De repente, me lembrei do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, que diz: "nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade e que esse negócio de dizer que as elites são corruptas mas que o povo é honesto é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável".

O melhor era que eu não precisava fazer qualquer pesquisa para concordar com o escritor. A sua afirmação estava magistralmente retratada no meu comportamento e no comportamento dos meus amigos naquela noite e naquele churrasco que eu havia freqüentado.

Para começar, eu, como professor, roubei o povo ao fingir que estava dando aula. E estou surrupiando (roubando) a sociedade quando marco os tão conhecidos seminários só para não dar aulas, com a mentira disfarçada de que os alunos precisam treinar a arte de expressar bem as suas idéias. Isso pelo fato dessa afirmação não ser verdade, mas parte de uma verdade maior.

É lógico que os alunos precisam treinar a arte de bem expressar as suas idéias, mas só depois de serem conduzidos pelo professor que, por sinal, é pago para fazer isso. A verdade inteira é que, quase sempre por motivos pessoais, o professor acaba transformando o que seria uma, de várias técnicas de ensino, em sua prática regular de ensino e o resultado é uma enorme massa de estudantes "transfigurados", da noite para o dia, em professores dos professores que deviam ensinar, mas não ensinam.

E o que dizer do dono da festa, o médico que estava "tirando plantão" e que, ganhando o seu salário, reclamou de ser incomodado, apenas porque um senhor de idade estava com suspeita de infarto?

Somos tão convictos de que somos bons, que o médico chegou a dizer que, se ao menos o ancião tivesse sido diagnosticado por um profissional, então ele se sentiria na obrigação de ir atendê-lo.

Ele só esqueceu de um detalhe: se o plantonista do hospital que, por sinal era ele, estivesse cumprindo o seu plantão, o senhor de 64 anos de idade, casado, pai de seis filhos, aposentado e que trabalhava desde os doze anos de idade e contribuía com a previdência há trinta, talvez tivesse sido atendido por um profissional e não tivesse sofrido um derrame cerebral.

É interessante vermos, também, o caso da universitária, a defensora dos valores morais. E, aqui eu pergunto: que valores seriam esses? O famoso jeitinho brasileiro que, não custa lembrar, só virou instituição nacional porque nós lhe damos vida com as nossas atitudes!

Acredito que mais uma vez o Brasil passa por uma oportunidade de ouro para rever-se como país e sair crescido e melhorado de toda essa crise.

O grande problema está nas pessoas. Em mim, em você, nas nossas famílias, colegas, amigos e inimigos, parentes e aderentes. Se quisermos realmente uma nação melhor temos que assumir que nós também somos recebedores do mensalão e que, portanto, cada um de nós também é merecedor de sentar nas cadeiras da CPI.

Recebemos o mensalão quando fazemos coisas como as descritas acima, e também quando copiamos ou compramos CD's piratas, quando pagamos propinas ao guarda de trânsito para ele não nos aplicar multa, enfim, todos nós, cada um a seu modo e com o seu preço, também é culpado, pessoalmente, por tudo isso que está acontecendo no nosso país.

É bom não esquecer que nossos políticos não vieram de Marte, mas do nosso meio, corrompidos por nós, corruptos e corruptores. O real motivo para a sociedade assistir apática a toda essa decadência não é apatia, mas cumplicidade.

[Pedro Paulo Rodrigues Cardoso de Melo, Psicólogo Clínico, Psicopedagogo e Professor Universitário de Psicologia e Sociologia]


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Imagem: "Reprodução proibida" (1937), de René Magritte


 

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

THE HOWLING




O MELHOR DA LICANTROPIA NO CINEMA - 1

Para ler meu texto sobre o filme clique em "Grito de Horror" (1981), de Joe Dante.

E cuidado com a lua cheia!

“GRITO DE HORROR” (“The Howling”, 1981), de Joe Dante

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: Joe Dante
Roteiro: John Sayles e Terence H. Winkless, baseado no romance de Gary Brandner
Produção: Michael Finell, Jack Conrad, Daniel H. Blatt, Steven A. Lane / AVCO Embassy Pictures / International Film Investors
Fotografia: John Hora
Montagem: Mark Goldblatt e Joe Dante
Música: Pinno Donaggio
Direção de arte: Robert A. Burns
Efeitos especiais: Roger George
Efeitos especiais de maquiagem: Rob Bottin, Rick Baker
Elenco: Dee Wallace, Patrick Macnee, Dennis Dugan, Belinda Balaski, Christopher Stone, Robert Picardo, Kevin McCarthy, John Carradine, Slim Pickens, Elisabeth Brooks, Don McLeod, Dick Miller, Margie Impert, Kenneth Tobey, John Sayles, Roger Corman, Forrest J. Ackerman


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T.C. Quist: “Se você mata alguma coisa e não come, isso é pecado!”

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Erle Kenton: “Nós devíamos era voltar aos velhos tempos. Criar gado para nos alimentar... isso lá é vida?”
Charlie Barton: “Humanos são o nosso gado!”
Erle Kenton: “Humanos são nossas presas naturais. Nós devíamos nos alimentar deles, como sempre fizemos. Ao diabo com essa besteira de ‘canalizar nossas energias’!”

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Quando se fala em Joe Dante geralmente não ocorre nenhuma lembrança imediata na maioria das pessoas. Porém, com algum esforço, vão se formando imagens na mente: uma enorme piranha saltando do rio para morder o nariz de um pescador; uma repórter se transformando em lobisomem, diante das câmeras de TV; um homem apavorado tirando um coelho monstruoso de uma cartola; um cinema abarrotado de pequenos duendes verdes deliciando-se com “Branca de Neve e os Sete Anões”. Após um saudoso sorriso, vem a dúvida: pelo menos estes dois últimos não são filmes de Steven Spielberg? Não. O ex-menino-prodígio de Hollywood apenas os produziu. Todo o mérito de criação e direção pertence a um dos mais brilhantes cineastas de sua turma: o norte-americano Joe Dante

Cinéfilo de carteirinha, Dante cresceu fascinado por clássicos de terror e ficção científica dos anos 50 como “It Came From Outer Space”, revistas em quadrinhos, desenhos e seriados de TV (entre eles o “Além da Imaginação” de Rod Serling). Na juventude, enquanto cursava a Philadelphia College of Art e sonhava em ser cartunista, ele colaborava com textos para as revistas “Castle of Frankenstein” e “Film Bulletin”. Logo em seguida foi chamado para ser editor da New World Pictures, do mestre do cinema B Roger Corman. Foi um dos protegidos de Corman, tendo se notabilizado na edição dos trailers de grandes filmes europeus como “Amarcord” de Fellini e “Morangos Silvestres” de Bergman, entre outros.

Após um filme em co-direção e sua estréia solo em “Piranha” (o único subproduto de “Tubarão” elogiado com entusiasmo por Spielberg), Joe Dante saiu da New World e recorreu a uma pequena produtora, a AVCO Embassy Pictures, para fazer seu filme seguinte, “Grito de Horror”, uma história de lobisomem nada convencional, com um inventivo roteiro de John Sayles (o mesmo de “Piranha” e de “Alligator” de Lewis Teague), baseado no romance homônimo de Gary Brandner.

A repórter televisiva Karen White (Dee Wallace, a mãe de Elliot em “E.T.”) investiga o paradeiro de um brutal assassino sexual, Eddie Quist (Robert Picardo, figurinha fácil em todos os filmes de Dante e mais conhecido hoje por séries como “Anos Incríveis”, “Star Trek: Voyager” e “Stargate”), que só ataca mulheres em noites de lua cheia. Karen o encontra num peep-show e descobre que Eddie na verdade é um lobisomem. Ela é salva na última hora pela polícia porém o choque a deixa com amnésia parcial. A repórter tira licença da emissora e seu médico, o Dr. George Waggner (Patrick Macnee), a manda para a sua colônia de repouso, enquanto ela tenta se lembrar o que lhe causou tanto pavor. Acontece que em seu livro “O Dom” o Dr. Waggner defende a tese de que todos temos um animal selvagem dentro de nós e que devemos aprender a controlá-lo. Tese que ele tenta transpor na prática em sua colônia afastada da civilização, e que está cheia de... bem, vocês sabem o que.

Trabalhando dentro do universo dos filmes de lobisomem, Joe Dante manipula de todas as formas os mais díspares ícones e elementos deste subgênero do cinema de horror. A começar de uma singularidade: nove dos personagens secundários de “Grito de Horror” levam os nomes de cineastas que realizaram os mais clássicos filmes de lobisomem da história (George Waggner, Erle Kenton, Sam Newfield, Freddie Francis, etc.). O próprio “O Lobisomen” (“The Wolfman”, 1941) da Universal com Lon Chaney Jr. surge numa TV para lembrar que “a pessoa que é mordida por um lobisomem e vive também se torna um lobisomem”, quando o marido da repórter é atacado.

De olho nas origens de sua arte, Joe Dante pendura no consultório do médico de Karen uma reprodução da famosa gravura de Edward Munch, “O Grito”, um dos emblemas do movimento expressionista alemão, um dos principais “pais” do cinema de horror. Ele também coloca figuras simbólicas do gênero em “Grito de Horror” como Forrest J. Ackerman – o editor da mais importante revista americana sobre cinema fantástico dos anos 60 e 70, “Famous Monsters of the Filmland” – folheando um baralho de tarô numa livraria, e o seu mentor-mor, o diretor e produtor Roger Corman, na fila de uma cabine telefônica. Além disso, Dante tem sempre alguns atores na manga que aparecem em quase todos os seus filmes, quer seja em papéis importantes ou como coadjuvantes de luxo, como Dick Miller, Kevin McCarthy, Kenneth Tobey, John Carradine, Slim Pickens, William Schallert, Keenan Wynn, Harry Carey Jr., Keye Luke (a maioria veteranos de clássicos do horror e da ficção científica de décadas anteriores e ídolos do diretor) e Robert Picardo (que já foi lobisomem, alienígena, executivo, lixeiro e contrabandista em seus filmes).

Além de tudo isso, Joe Dante é um dos cineastas modernos que mais faz citações a outros filmes, desenhos e seriados em sua obra, direta ou indiretamente. Aqui ele satiriza o próprio gênero numa das seqüências mais marcantes do filme: enquanto a repórter Terry (Belinda Balaski) é atacada pelo gigantesco lobisomem Eddie Quist, seu marido Chris assiste na TV ao desenho animado “Quem Tem Medo do Lobo Mau”, de Walt Disney. E tudo é mostrado em montagem paralela. Ironia e humor negro pra ninguém botar defeito.

O que há para se lamentar é que “Grito de Horror” foi feito e lançado no mesmo ano que o já célebre “Um Lobisomem Americano em Londres” de John Landis. O filme de Landis abocanhou o Oscar de efeitos especiais pela cena da metamorfose licantrópica (criada por Rick Baker, que também foi consultor de efeitos de maquiagem no filme de Dante) e definitivamente ofuscou “Grito de Horror”, que hoje em dia parece ser apenas conhecido pelos aficcionados do gênero. Uma pena porque ambos são excelentes filmes, cada um à sua maneira (enquanto o filme de Landis mistura comédia e terror na medida certa, o filme de Dante se assume totalmente como um filme de horror, apesar das altas doses de humor negro). E num subgênero tão carente de obras brilhantes, como é o de filmes de lobisomens (ao contrário dos filmes de vampiros, por exemplo), o biscoito fino de Joe Dante merecia muito mais destaque entre o grande público, da mesma forma que o filme de John Landis mereceu. E cá entre nós: o “cachorrão-quase-urso” de “Um Lobisomem Americano em Londres” não chega às patas dos monstruosos lobisomens antropomórficos bípedes, com mais de dois metros de altura – inspirados nas imagens da idade média – de “Grito de Horror”!

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Para ver meu álbum com mais de 180 fotos do filme clique aqui.


segunda-feira, 28 de agosto de 2006

“NO LIMITE DA REALIDADE” (“Twilight Zone – The Movie”, 1983), de John Landis, Steven Spielberg, Joe Dante e George Miller

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: John Landis, Steven Spielberg, Joe Dante e George Miller
Roteiro: (prólogo e 1º episódio) John Landis, (2º episódio) George Clayton Johnson, Richard Matheson e Josh Rogan, baseado na história “Kick the Can” de George Clayton Johnson, (3º episódio) Richard Matheson, baseado no conto “It's a Good Life” de Jerome Bixby, (4º episódio) Richard Matheson, baseado em seu conto “Nightmare at 20,000 Feet”
Produção: Steven Spielberg, John Landis, Frank Marshall / Warner Bros.
Fotografia: (prólogo e 1º episódio) Stevan Larner, (2º e 4º episódios) Allen Daviau, (3º episódio) John Hora
Montagem: (prólogo e 1º episódio) Malcolm Campbell, (2º episódio) Michael Kahn, (3º episódio) Tina Hirsch, (4º episódio) Howard Smith
Música: Jerry Goldsmith, Creedence Clearwater Revival (“The Midnight Special”)
Direção de Arte: James D. Bissell, Richard Tom Sawyer, James H. Spencer
Elenco: (prólogo) Dan Aykroyd, Albert Brooks, (1º episódio) Vic Morrow, Charles Hallahan, Doug McGrath, Steven Williams, John Larroquette, (2º episódio) Scatman Crothers, Bill Quinn, Martin Garner, Selma Diamond, Helen Shaw, Murray Matheson, Priscilla Pointer, Evan Richards, (3º episódio) Kathleen Quinlan, Jeremy Licht, Kevin McCarthy, William Schallert, Nancy Cartwright, Patricia Barry, Dick Miller, Bill Mumy, (4o episódio) John Lithgow, Abbe Lane, Donna Dixon, John Dennis Johnston, Larry Cedar, Charles Knapp, Christina Nigra.


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narrador (Burgess Meredith): “You're travelling through another dimension. A dimension, not only of sight and sound, but of mind. A journey into a wondrous land whose boundaries are that of imagination. Next stop, the Twilight Zone!”

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carona (no prólogo): “Hey... do you wanna see something really scary?”

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Continuando no terreno do fantástico, temos um anfitrião inusitado nessa jornada. O ator, comediante, compositor, cantor, guitarrista e até mesmo jurado de show de calouros Benjamin ‘Scatman’ Crothers se despe do seu cozinheiro Dick Hallorann em “O Iluminado” para encarnar um bom velhinho cheio de surpresas nessa versão cinematográfica de uma das séries de TV mais aclamadas de todos os tempos: “Além da Imaginação”, criada, escrita, produzida e apresentada por Rod Serling de 1959 a 1964. A série conquistou vários prêmios Emmy de roteiro, virou referência na cultura americana, verbete de dicionário, teve três versões modernas (duas nos anos 80 e uma há poucos anos) e até hoje é uma verdadeira aula para todos aqueles que se propõem a escrever boas histórias em pouco tempo com baixo orçamento.

Levar para a tela grande uma versão de alguns de seus episódios favoritos era um dos maiores sonhos do brilhante Rod Serling – provavelmente o melhor escritor e roteirista que a televisão americana já conheceu. Porém o vício da nicotina o levou em 1975 e o inspirador de toda uma geração de cineastas não pode ver seu sonho realizado. Coube a quatro de seus pupilos realizar o longa-metragem.

O filme abre com um rápido prólogo-homenagem, onde um motorista (Albert Brooks) e um carona (Dan Aykroyd), viajando numa estrada deserta em plena hora do crepúsculo (twilight em inglês), relembram velhas séries de TV, até que algo de inesperado acontece.

O primeiro episódio – o único inédito –, escrito e dirigido por John Landis e estrelado por Vic Morrow conta uma história de crime e castigo sobre um sujeito extremamente preconceituoso que se vê na pele de todos aqueles a quem ele despreza. O roteiro final teve que ser alterado por um terrível acidente ocorrido nas filmagens: durante uma cena um helicóptero caiu sobre Morrow matando o ator e duas crianças vietnamitas que estavam com ele na cena. O processo judicial rolou paralelo ao lançamento do filme e o afetou de forma lúgubre, aumentando as bilheterias pela mórbida curiosidade do público. No final John Landis e os produtores foram absolvidos, porém o fato marcou o filme como uma cicatriz até hoje.

Todos os episódios seguintes foram adaptações de episódios originais da série clássica de Rod Serling. O segundo ficou a cargo de Steven Spielberg, que já tinha trabalhado com Serling em dois episódios de outra série sua, “Galeria do Terror”. Aqui em “Kick the Can” Spielberg deixa aflorar seu lado piegas – mas sempre competente e convincente – numa história sobre um velho (‘Scatman’ Crothers) que através de uma brincadeira de criança devolve a infância e a pureza aos internos de uma casa de repouso para idosos.

No terceiro episódio o diretor Joe Dante fica à vontade para render sua homenagem ao mundo da televisão, que formou grande parte de sua bagagem cultural. Na adaptação do conto de terror “It's a Good Life” de Jerome Bixby, a professora Helen Foley (nome de uma personagem de outro episódio da série clássica, interpretada por Kathleen Quinlan) conhece o pequeno Anthony, que vive com sua família (entre eles Kevin McCarthy e William Schallert, outros veteranos de “Além da Imaginação”) numa casa de desenho animado. Tudo no lugar e no comportamento deles é bizarro, mas aos poucos o espectador descobre o terrível segredo que envolve a história. Destaque para os efeitos especiais, a cenografia e a fotografia (que fazem com que a gente se sinta MESMO dentro de um desenho animado!), para a participação de Nancy Cartwright (a voz de Bart Simpson, raramente atuando) e Bill Mumy na cena do bar (que foi o Anthony do “It’s a Good Life” original e o Will Robinson da série “Perdidos no Espaço”).

O filme encerra com chave de ouro, com a adaptação de “Nightmare at 20,000 Feet”, dirigida pelo australiano George Miller (autor da cinessérie "Mad Max"). John Lithgow, numa soberba interpretação de um sujeito com fobia de aviões, se vê em plena tempestade num vôo noturno, e para piorar as coisas ele – e apenas ele – vê uma criatura na asa do avião tentando destruir uma das turbinas. Tudo neste episódio é ouro: é um dos melhores textos de Richard Matheson, uma das melhores trilhas de Jerry Goldsmith e um show de interpretação de John Lithgow. O episódio original foi estrelado pelo eterno Capitão Kirk William Shatner, dirigido pelo talentoso Richard Donner (“A Profecia”, “Superman – O Filme”, “Os Goonies”, a série “Máquina Mortífera”) num de seus primeiros trabalhos como diretor, e eleito o episódio mais assustador de toda a série clássica.

A voz que ouvimos na abertura é de Burgess Meredith (mais conhecido como o vilão Pingüim do seriado “Batman” e como o treinador de Rocky Balboa nos filmes de Stallone), que atuou em diversos episódios do “Além da Imaginação” original. E a voz que lê o texto de encerramento é a do próprio Rod Serling, pai e mentor da série e do filme, mesmo in memorian.

As únicas coisas que posso dizer sobre “No Limite da Realidade” no âmbito pessoal é que foi a primeira fita VHS selada original que ganhei na vida, assisti ao filme várias vezes no cinema em 1983, até hoje ele me entusiasma muito (até porque “Além da Imaginação” sempre foi a melhor série de TV de todos os tempos na minha opinião) e sempre me intrigou o fato de um tradutor idiota batizar a versão cinematográfica brasileira de uma série clássica, famosa e consagrada como “Além da Imaginação” com um título grotesco como “No Limite da Realidade”. Oito anos após sua morte, Rod Serling deve ter se revirado na tumba – ou dado boas gargalhadas com essa piada de mau-gosto de algum brasileiro energúmeno.


quinta-feira, 17 de agosto de 2006

AFINIDADES


"Existirá algo mais agradável do que ter alguém com quem falar de tudo, como se estivéssemos falando com nós mesmos?"


(Cícero)


(Ilustrações: Bill Watterson)

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

QUEM NÃO FAZ LEVA


"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam."


(Arnold Toynbee)

domingo, 13 de agosto de 2006

I AM YOUR FATHER


No Dia dos Pais, a maior revelação de paternidade da História do cinema. Há muito, muito tempo atrás, numa galáxia muito distante não era preciso teste de DNA para isso. Usar a Força era mais do que suficiente.


Darth Vader: Obi-Wan never told you what happened to your father?
Luke Skywalker: He told me enough. He told me you killed him!
Darth Vader: No. *I* am your father.
Luke Skywalker: No. No! That's not true! That's impossible!
Darth Vader: Search your feelings! You know it to be true!


Feliz Dia dos Pais a todos!


 

domingo, 6 de agosto de 2006

ETIQUETA - CELULAR


Sim, eu sei, quase a totalidade da população adora, tem ou deseja ter um telefone celular. Eu, por outro lado, tenho tanta vontade de ter um aparelho celular quanto quero perder um dos meus rins ou um pedaço do meu cérebro.


Se algum desavisado quiser me dar um celular de presente eu serei obrigado a recusar educadamente. Quando toca um aparelho desses ao meu lado, o dono não está perto e me pedem para atender, eu me sinto como um cego epilético tentando desarmar uma bomba nuclear. Quando um amigo atende um celular em público e começa a estender a conversa com detalhes pessoais, no meio da multidão em alto e bom som, eu me afasto e faço cara de "não conheço e nunca vi mais gordo". Quando vejo um motorista dirigindo e falando ao celular ao mesmo tempo, desejo secretamente que um poste desgovernado venha em sua direção, não para matá-lo, mas apenas como aviso, para o boçal perceber que não se faz isso. Quando vejo um sujeito atendendo um celular e falando alto, cheio de trejeitos, descaradamente para se mostrar, eu percebo o quanto a Humanidade é patética e merece o mesmo fim dos dinossauros.


Metade dos anúncios na TV são de aparelhos e operadoras de celular - as mesmas das quais todo mundo reclama e processa na justiça. Aliás esses anúncios fazem parecer com que aparelhos celulares sejam tão fundamentais para a vida na Terra quanto a água, a comida ou o oxigênio.


Sim, eu também sei que os celulares são fundamentais para quem tem filhos, para quem trabalha na rua e/ou fica quicando de um lugar pro outro o dia todo ou para quem precisa se comunicar com urgência com amigos, parentes, clientes ou outras pessoas. Reconheço que é uma invenção funcional e bastante prática. Mesmo assim me sinto feliz em não ter um celular e em sempre carregar comigo um cartão telefônico de orelhão. Porém o meu desprezo por esses pequenos sonhos de consumo de mais de 90% da população não vem exatamente ao caso.


A questão é: se você está num cinema ou num teatro, bem acomodado na sua poltrona, na sala escura, curtindo um bom filme ou um espetáculo teatral e o telefone celular de um energúmeno tocar no recinto - ou mesmo o pateta ligar para alguém e falar baixinho, incomodando os que estão à sua volta e faltando com respeito à atração que você pagou pra ver -, será que temos o direito de arrancar o pequeno aparelho irritante das mãos da anta e atirá-lo com força na parede ou em qualquer outra direção??? Ou se fizermos isso o imbecil vai mandar nos prender ou obrigar a pagar por uma maquininha de irritar nova???


P.S.: Por favor, eu sei que você (mais de 90% dos seres humanos, que visitam ou não o meu Multiply) tem um celular, por isso eu te peço encarecidamente para que não leve as minhas questões para o lado pessoal e não me apedreje por isso, ok?