segunda-feira, 28 de agosto de 2006

“NO LIMITE DA REALIDADE” (“Twilight Zone – The Movie”, 1983), de John Landis, Steven Spielberg, Joe Dante e George Miller

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Horror
Direção: John Landis, Steven Spielberg, Joe Dante e George Miller
Roteiro: (prólogo e 1º episódio) John Landis, (2º episódio) George Clayton Johnson, Richard Matheson e Josh Rogan, baseado na história “Kick the Can” de George Clayton Johnson, (3º episódio) Richard Matheson, baseado no conto “It's a Good Life” de Jerome Bixby, (4º episódio) Richard Matheson, baseado em seu conto “Nightmare at 20,000 Feet”
Produção: Steven Spielberg, John Landis, Frank Marshall / Warner Bros.
Fotografia: (prólogo e 1º episódio) Stevan Larner, (2º e 4º episódios) Allen Daviau, (3º episódio) John Hora
Montagem: (prólogo e 1º episódio) Malcolm Campbell, (2º episódio) Michael Kahn, (3º episódio) Tina Hirsch, (4º episódio) Howard Smith
Música: Jerry Goldsmith, Creedence Clearwater Revival (“The Midnight Special”)
Direção de Arte: James D. Bissell, Richard Tom Sawyer, James H. Spencer
Elenco: (prólogo) Dan Aykroyd, Albert Brooks, (1º episódio) Vic Morrow, Charles Hallahan, Doug McGrath, Steven Williams, John Larroquette, (2º episódio) Scatman Crothers, Bill Quinn, Martin Garner, Selma Diamond, Helen Shaw, Murray Matheson, Priscilla Pointer, Evan Richards, (3º episódio) Kathleen Quinlan, Jeremy Licht, Kevin McCarthy, William Schallert, Nancy Cartwright, Patricia Barry, Dick Miller, Bill Mumy, (4o episódio) John Lithgow, Abbe Lane, Donna Dixon, John Dennis Johnston, Larry Cedar, Charles Knapp, Christina Nigra.


* * * * * * * * * * *

narrador (Burgess Meredith): “You're travelling through another dimension. A dimension, not only of sight and sound, but of mind. A journey into a wondrous land whose boundaries are that of imagination. Next stop, the Twilight Zone!”

* * * * * * * * * * *

carona (no prólogo): “Hey... do you wanna see something really scary?”

* * * * * * * * * * *


Continuando no terreno do fantástico, temos um anfitrião inusitado nessa jornada. O ator, comediante, compositor, cantor, guitarrista e até mesmo jurado de show de calouros Benjamin ‘Scatman’ Crothers se despe do seu cozinheiro Dick Hallorann em “O Iluminado” para encarnar um bom velhinho cheio de surpresas nessa versão cinematográfica de uma das séries de TV mais aclamadas de todos os tempos: “Além da Imaginação”, criada, escrita, produzida e apresentada por Rod Serling de 1959 a 1964. A série conquistou vários prêmios Emmy de roteiro, virou referência na cultura americana, verbete de dicionário, teve três versões modernas (duas nos anos 80 e uma há poucos anos) e até hoje é uma verdadeira aula para todos aqueles que se propõem a escrever boas histórias em pouco tempo com baixo orçamento.

Levar para a tela grande uma versão de alguns de seus episódios favoritos era um dos maiores sonhos do brilhante Rod Serling – provavelmente o melhor escritor e roteirista que a televisão americana já conheceu. Porém o vício da nicotina o levou em 1975 e o inspirador de toda uma geração de cineastas não pode ver seu sonho realizado. Coube a quatro de seus pupilos realizar o longa-metragem.

O filme abre com um rápido prólogo-homenagem, onde um motorista (Albert Brooks) e um carona (Dan Aykroyd), viajando numa estrada deserta em plena hora do crepúsculo (twilight em inglês), relembram velhas séries de TV, até que algo de inesperado acontece.

O primeiro episódio – o único inédito –, escrito e dirigido por John Landis e estrelado por Vic Morrow conta uma história de crime e castigo sobre um sujeito extremamente preconceituoso que se vê na pele de todos aqueles a quem ele despreza. O roteiro final teve que ser alterado por um terrível acidente ocorrido nas filmagens: durante uma cena um helicóptero caiu sobre Morrow matando o ator e duas crianças vietnamitas que estavam com ele na cena. O processo judicial rolou paralelo ao lançamento do filme e o afetou de forma lúgubre, aumentando as bilheterias pela mórbida curiosidade do público. No final John Landis e os produtores foram absolvidos, porém o fato marcou o filme como uma cicatriz até hoje.

Todos os episódios seguintes foram adaptações de episódios originais da série clássica de Rod Serling. O segundo ficou a cargo de Steven Spielberg, que já tinha trabalhado com Serling em dois episódios de outra série sua, “Galeria do Terror”. Aqui em “Kick the Can” Spielberg deixa aflorar seu lado piegas – mas sempre competente e convincente – numa história sobre um velho (‘Scatman’ Crothers) que através de uma brincadeira de criança devolve a infância e a pureza aos internos de uma casa de repouso para idosos.

No terceiro episódio o diretor Joe Dante fica à vontade para render sua homenagem ao mundo da televisão, que formou grande parte de sua bagagem cultural. Na adaptação do conto de terror “It's a Good Life” de Jerome Bixby, a professora Helen Foley (nome de uma personagem de outro episódio da série clássica, interpretada por Kathleen Quinlan) conhece o pequeno Anthony, que vive com sua família (entre eles Kevin McCarthy e William Schallert, outros veteranos de “Além da Imaginação”) numa casa de desenho animado. Tudo no lugar e no comportamento deles é bizarro, mas aos poucos o espectador descobre o terrível segredo que envolve a história. Destaque para os efeitos especiais, a cenografia e a fotografia (que fazem com que a gente se sinta MESMO dentro de um desenho animado!), para a participação de Nancy Cartwright (a voz de Bart Simpson, raramente atuando) e Bill Mumy na cena do bar (que foi o Anthony do “It’s a Good Life” original e o Will Robinson da série “Perdidos no Espaço”).

O filme encerra com chave de ouro, com a adaptação de “Nightmare at 20,000 Feet”, dirigida pelo australiano George Miller (autor da cinessérie "Mad Max"). John Lithgow, numa soberba interpretação de um sujeito com fobia de aviões, se vê em plena tempestade num vôo noturno, e para piorar as coisas ele – e apenas ele – vê uma criatura na asa do avião tentando destruir uma das turbinas. Tudo neste episódio é ouro: é um dos melhores textos de Richard Matheson, uma das melhores trilhas de Jerry Goldsmith e um show de interpretação de John Lithgow. O episódio original foi estrelado pelo eterno Capitão Kirk William Shatner, dirigido pelo talentoso Richard Donner (“A Profecia”, “Superman – O Filme”, “Os Goonies”, a série “Máquina Mortífera”) num de seus primeiros trabalhos como diretor, e eleito o episódio mais assustador de toda a série clássica.

A voz que ouvimos na abertura é de Burgess Meredith (mais conhecido como o vilão Pingüim do seriado “Batman” e como o treinador de Rocky Balboa nos filmes de Stallone), que atuou em diversos episódios do “Além da Imaginação” original. E a voz que lê o texto de encerramento é a do próprio Rod Serling, pai e mentor da série e do filme, mesmo in memorian.

As únicas coisas que posso dizer sobre “No Limite da Realidade” no âmbito pessoal é que foi a primeira fita VHS selada original que ganhei na vida, assisti ao filme várias vezes no cinema em 1983, até hoje ele me entusiasma muito (até porque “Além da Imaginação” sempre foi a melhor série de TV de todos os tempos na minha opinião) e sempre me intrigou o fato de um tradutor idiota batizar a versão cinematográfica brasileira de uma série clássica, famosa e consagrada como “Além da Imaginação” com um título grotesco como “No Limite da Realidade”. Oito anos após sua morte, Rod Serling deve ter se revirado na tumba – ou dado boas gargalhadas com essa piada de mau-gosto de algum brasileiro energúmeno.


4 comentários:

  1. Eu gostei bastante do filme quando vi na época... e sempre adorei a série também. Não sabia de vários desses detalhes, nem mesmo o do Vic Morrow. Ficou excelente o seu texto, coisa de fã muito bem informado.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Marcello.

    Poucos anos depois do filme eu escrevi uma matéria de quatro páginas sobre o cinema de Joe Dante na CINEMIN, bastante completa para a época. Qualquer dia desses eu reviso e publico aqui no Multiply minhas principais matérias da CINEMIN. ;-)

    Grande abraço,
    Oz

    ResponderExcluir
  3. Ter escrito na Cinemin deve ter sido uma honra. Eu adorava aquela revista, tinha excelentes matérias. Se não fosse muito trabalho, seria ótimo mesmo que você postasse suas matérias por aqui.

    Lançaram agora aquela "Paisá", que parece muito interessante também.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  4. Acabei de achar um clipe interessante no youtube que mistura as duas versões de "Nightmare at 20,000 Feet": http://www.youtube.com/watch?v=_8Y2KLKsjZ4

    Em preto e branco o episódio original com William Shatner e em cores a versão cinematográfica com John Lithgow!!!

    E o episódio original COMPLETO da série está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=3Dz8dMwCk7c&NR

    Divirtam-se!...

    ResponderExcluir