Durante a convenção em que fazia um "freela", o cara não tinha hora para almoçar. Mas seu estômago parecia um buraco negro em formação. Se ele deixasse para comer algo mais tarde correria o risco de acontecer uma autofagia espontânea. Ele largou tudo e saiu correndo do hotel em busca de algum lugar para comer, algo que fosse rápido e ao mesmo tempo consistente.
Após se informar com jornaleiros e porteiros, descobriu um diminuto restaurante árabe escondido ali perto. Satisfeito, pediu uma porção de hamus, outra de tabule, um quibe e um guaraná. As porções estavam meio insossas, por isso pediu o sal à atendente, que sorridente estendeu-lhe a caixinha cheia de pacotinhos de papel. O cara não conseguia se acostumar com aqueles pacotinhos mínimos de uma grama de sal, ao invés dos velhos saleiros de sempre. Questão de higiene, diziam alguns, fazem você comer menos sal, que faz mal à saúde, blá, blá, blá. O cara detestava quando o politicamente correto dos outros se infiltrava nos seus hábitos alimentares, mesmo ele tendo pressão alta. E mesmo com dois pacotinhos, a comida continuava com gosto estranho, cada vez mais insossa. Ah, diabos, às favas com a pressão!, e ele abriu e espalhou mais três gramas por cima do tabule e do hamus. Deu uma garfada e sentiu um bizarro sabor intensamente adocicado entre os vegetais. Quando percebeu o que fizera já era tarde: ao invés de sal, ele tinha espalhado adoçante em pó por todo o seu precioso almoço.
A cara de nojo e revolta do cara chamou a atenção de todos em volta e a solícita atendente veio correndo se desculpar, dizendo que não foi sua culpa, que ele não prestou atenção que os saquinhos de adoçante e de sal estavam misturados. Ele agia como se tivesse sido envenenado num filme, bem melodramático, apertando a garganta e esbugalhando os olhos. Devorou o quibe e entornou todo o guaraná goela adentro, como se aquilo fosse apagar os vestígios daquele sabor horroroso de sua boca, tudo em vão. Só queria pagar e sair dali. Pediu um desconto mas a atendente disse que o gerente não estava e ela não poderia fazer isso. "Mas adoçar o meu almoço você pode, né, sua inútil?", pensou ele com cara de "tudo bem, deixa pra lá".
Comprou um Hall’s preto extra-forte e mesmo assim aquela inhaca não desgrudava de seu aparelho digestivo. Sentia-se como John Hurt em "Alien", tentando arrancar aquele bicho feio da cara inutilmente. Entrou na sala de trabalho e uma colega perguntou como foi o almoço. Ele correu para o banheiro, caiu de joelhos diante do vaso e deu sua nojenta resposta a ela.
De noite, em casa, o cara não tomou o remédio para pressão, só de pirraça. Afinal ele nem tinha comido sal...
Brilhante!
ResponderExcluirAcho que deve ter ficado mais pra "enjoativo"... /:-P
ResponderExcluirHehehe!
Beijos!
me fez rir gostoso = brilhante.
ResponderExcluirEu entendi, bonitinha! :-)
ResponderExcluirBeijos!
Bah! Este tal hamus só pelo nome me parece enjoativo e com adoçante então??? blergh
ResponderExcluir:))
É pasta de grão de bico, menina! Nunca comeu? É booom, especialmente com muita salsa e cebola picadas por cima. ;-)
ResponderExcluirMas sem adoçante! 8-P
Besos