Quando estava no ginásio, o cara colecionava LPs e tinha o maior ciúmes de emprestar seus vinis. Não por egoísmo, de forma alguma, mas por medo de que voltassem arranhados. Afinal acidentes acontecem. Ronaldo, que estudava no mesmo colégio do cara, passou meses insistindo para que ele lhe emprestasse o disco Queen Greatest Hits (na época só existia o primeiro volume). Foi como um aríete tentando derrubar o portão de um castelo. Quase em vão. Depois de tanta insistência, o cara desistiu e emprestou o LP, mas com um aviso: "se vier com um arranhão sequer você vai comprar outro disco pra mim." Isso era sério, seríssimo. Ronaldo prometeu, jurou e levou o bolachão de Freddie Mercury e companhia todo pimpão para casa.
Mais ou menos um mês depois Ronaldo foi na casa do cara com o disco do Queen debaixo do braço. Meio sem jeito, fez mil rodeios até dizer, com um tímido sorriso amarelo, que o disco tinha caído no chão e que arranhou um pouco uma faixa, mas que não tinha danificado nada. Arrumou uma desculpa qualquer e já estava descendo no elevador antes que o cara tirasse o LP da capa e examinasse o estrago. Já com o estado natural de temperatura e pressão alterados – para cima, naturalmente – o cara viu o tamanho do lanho na superfície delicada do vinil. Rapidamente colocou o disco da vitrola (para quem não sabe o que é isso, procure na internet ou pergunte aos seus pais) e logo constatou que quase no final da canção "Good Old Fashioned Lover Boy" o quarteto insistia em repetir sem parar "...that will be fine... that will be fine... that will be fine... that will be fine..." Não, Freddie, não estava NADA BEM.
Com o mesmo empenho obsessivo – adicionado de um mediana dose de fúria – o cara passou a cobrar o juramento do Ronaldo. Após meses de pressão – e pior: se achando com toda razão! – Ronaldo, sentiu-se acossado, foi na Mesbla e comprou o mesmo disco para o cara. Mesmo assim achando que o cara não tinha nenhum direito de o obrigar a lhe devolver um LP novo. Em troca o cara lhe deu o vinil danificado e Ronaldo, só de pirraça, quebrou o bolachão de propósito.
Décadas se passaram, milhões de pessoas morreram (inclusive o líder do Queen), o número de habitantes no planeta chegou a mais de seis bilhões, incontáveis guerras foram travadas, ditaduras caíram, Odete Roitman, milhares de africanos e o fotógrafo japonês que tinha uma loja no meu prédio foram brutalmente assassinados, as "diretas já!" venceram, a internet se popularizou, o cara entrou muito à contragosto no Orkut e um belo dia foi encontrado por Ronaldo, agora gordo, executivo de uma grande empresa e pai de família. E após os devidos cumprimentos e usuais perguntas do que anda fazendo da vida e coisa e tal, o Ronaldo deixou escapar um "lembra do disco do Queen que você me obrigou a comprar pra você? Pois é, agora eu tenho a coleção completa deles em CD! E não empresto pra ninguém! Haha!"
Imediatamente o cara pensou que Ronaldo deveria morrer de medo de encontrar um outro Ronaldo em seu caminho que pudesse estragar seus discos e ainda se achar cheio de razão...
Cara, disco do Queen é sagrado, não se empresta meeeeeesmo!!
ResponderExcluirAdorei a história, eu também obrigaria o infeliz a me dar outro disco.
Beijos
discos de vinil são mágicos.. me encantam
ResponderExcluir=)
Delícia de texto!!
ResponderExcluirObrigadíssimo, Angela!!!! Um elogio desses vindo de uma profissional como você equivale a uma medalha de ouro!!!!
ResponderExcluirMe sinto um vencedor do PAN... demônio!!!! :-)P
Beijão!!!
Eu comecei minha coleção de bolachões em 1976. Nem tenho tantos, mas mais da metade são trilhas sinfônicas de cinema. John Williams, Jerry Goldsmith, Bernard Herrmann, Nino Rota, Pino Donaggio, Morricone, Danny Elfman... ADORO LPs!!!! :-))
ResponderExcluirBeijo na ponta do nariz!
Burro foi o cara, que cedeu e emprestou.
ResponderExcluirE quem devolve qualquer coisa com defeito ou conserta, ou compra um novo pra repor ou vá arder nas chamas do inferno! :-)P
Beijão, Sílvia! Obrigado pela força e pela freqüência com que você tem aparecido aqui! ;-)
mais mágico ainda =)
ResponderExcluireu tenho esse disco do queen aí da foto.
ResponderExcluirEu também tenho. O LP. O cara me deu quando achou em CD pra ele. :-)P
ResponderExcluirBeijos!
Ahahha! O cara não deixa barato.
ResponderExcluirEi eu tenho um monte de discos tb.
Mas o som antigo não toca porque nao tem mais agulha.
Andei por tudo e nao encontro. Me disseram que é coisa rara e se eu encontrar vou pagar uma nota.
:((
Ooo luaso... E como é que os DJs fazem com as pick ups deles? Botam agulha de costura? Claro que existe. Só que em lojas especializadas. Se não achar na Santa Efigênia ou Galeria do Rock mudo de nome.
ResponderExcluirSó para registro : aqui ainda não vi, mas no Japão e EUA estão ressuscitando o Vinil em material mais refinado e sem chiado. O problema é o preço salgado. Além disso uma boa pickup e acessórios custa uma nota preta. Mas não existe aparelho de som de audiófilo que não tenha uma decente!
Podem me chamar de saudosista mas quando eu tinha vinis e CDs , tinha alguns em ambos os formatos. Sempre fiz questão de mostrar aos amigos céticos : tocava os dois em seguida e provava que o som do vinil era muito mais rico e cheio que o CD, que é meio metálico.
ResponderExcluirInfelizmente, por questão de espaço e comodidade, só tenho o música no computador (umas 50.000 músicas) e só ouço no IPod ou Home Theater. Reconheço que não tem a qualidade do vinil mas dá pro gasto...