quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

“JANELA INDISCRETA” (“Rear Window”, 1954), de Alfred Hitchcock

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Mystery & Suspense
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: John Michael Hayes, baseado no conto de Cornell Woolrich
Produção: Alfred Hitchcock / Paramount
Fotografia: Robert Burks, John P. Fulton
Montagem: George Tomasini
Música: Franz Waxman
Direção de Arte: Joseph MacMillan Johnson, Hal Pereira
Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr, Judith Evelyn, Ross Bagdasarian, Georgine Darcy, Irene Winston, Sara Berner, Frank Cady

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Jeff: “Por que um homem deixa seu apartamento três vezes carregando uma mala durante uma noite chuvosa e volta pra casa três vezes?”
Lisa: “Talvez goste do jeito que a esposa o recebe.”

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Tenente Doyle: "As pessoas fazem muitas coisas em particular que não poderiam explicar em público."

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Lisa: "Por que Thorwald mataria um cachorrinho? Por que ele sabia demais?"

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Se alguém ainda tem alguma dúvida de que Alfred Hitchcock foi – além de um extraordinário cineasta – um dos maiores contadores de histórias do século 20, este é um dos filmes que aniquila essa dúvida de uma vez por todas. “Janela Indiscreta” mostra um fotógrafo (James Stewart) confinado em seu pequeno apartamento de fundos por conta de uma perna quebrada – ossos do ofício... – bisbilhotando a vida dos vizinhos, até que começa a suspeitar que um deles cometeu um assassinato. Com a ajuda de sua sofisticada noiva (a belíssima Grace Kelly), de sua irônica enfermeira (a impagável Thelma Ritter) e de um velho amigo policial (Wendell Corey), ele tenta provar que não está imaginando coisas.

Toda a narrativa é centrada num único ambiente, o apartamento do fotógrafo, o que torna a platéia cúmplice dele. Naturalmente todo fotógrafo tem uma boa dose de voyeurismo e passar os dias xeretando a intimidade dos vizinhos não só acentua isso, como também nos torna voyeurs. Ora, o fato de ir ao cinema para ver a história de outras pessoas não nega o nosso desejo de devassar a vida alheia, e Hitchcock só nos identifica mais ainda com seu protagonista.

Mais do que uma boa história ou mesmo um exercício de suspense, “Janela Indiscreta” é um filme SOBRE CINEMA. É a história de todos nós, sentados imóveis numa sala, observando avidamente o que a tela/janela tem a nos oferecer. E sem pretensões intelectuais, efeitos pirotécnicos ou ousadias narrativas, Hitchcock constrói uma das mais perfeitas obras metalingüísticas da História da sétima arte.

Indicado aos Oscars de direção, roteiro e fotografia, o filme envolve o espectador com todos os seus recursos. Todo rodado num imenso set nos estúdios da Paramount, “Janela Indiscreta” funciona como um relógio suíço. Todo o elenco está impecável (de Jimmy Stewart e Grace Kelly ao soturno Raymond Burr e Thelma Ritter, com suas tiradas sensacionais), a cenografia, a fotografia e o som nos convencem que estamos mesmo no Greenwich Village nova-iorquino, a trilha de Franz Waxman cria o clima ideal entre o suspense e o romance (junto com um pout-pourri de canções da época, incluindo a suave “Mona Lisa”, na voz de Nat King Cole). E toda essa teia nos enreda como uma mosca à mercê da aranha. Até que o bote fatal vem com uma pequena revolução narrativa imperceptível ao intelecto, mas gritante aos instintos: quando Grace Kelly mostra a aliança da suposta vítima para o binóculo de James Stewart, o suspeitíssimo Raymond Burr percebe que está sendo observado e nos encara de frente, feroz. Esse olhar sinistro direto para a câmera quebra a “quarta parede” e aí percebemos que caímos na armadilha preparada por Hitchcock: o assassino SABE que nós o vigiamos, e fará de tudo para nos calar. O mestre inglês sabia como ninguém manipular a platéia, dirigir a audiência, mais até do que os atores. E o olhar de Raymond Burr sobre nós em “Janela Indiscreta” consegue ser mais perturbador que todos os efeitos especiais do cinema contemporâneo.

Lembro que quando assisti ao filme no cine Veneza, na Praia de Botafogo, em 1984, toda a platéia pulou junto nas poltronas nessa cena, de susto por ter sido descoberta. Esse é o tipo de emoção que poucos cineastas nos fazem passar e que não dá para esquecer.


13 comentários:

  1. Maravilhoso, filmaço! Aliás, Hitchcock é imperdível. Eu vivo reassistindo...bjs

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  2. Também revi semana passada, Naza. Não tem coisa melhor pra se assistir do que um bom Hitchcock!!! ;-D

    Bjs.

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  3. Amo esse filme!!!!!!! Malditas locadoras desse sertão que vim morar, nadica de nada de Hitchcock... buááááá

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  4. Eu tenho gravado em VHS, copiado de locadora. Aliás, quase tudo que tenho do Hitch é assim. Mas pelo menos a maioria eu tive o privilégio de assistir no cinema!!! Mais ou menos uns 33 filmes dele eu vi na telona! :-D

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  5. E bom de ver no cinema!!! Você viu a cópia remasterizada quando passou em 99, Ana? Eu perdi. Só vi em 84 com as cópias novas dos cinco filmes "perdidos" do Hitch.

    Mas é bom de qualquer maneira, até na TV numa cópia velha em VHS. :-))

    Beijos.

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  6. Não sei dizer quantos mas alguns vi nos cineclubes de sampa... cineclube do bixiga início do anos 80, tudebom, minhas melhores memórias de cinema.

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  7. Olá, meu amigo OZ (waldo!)
    Adoro os flimes do véio mestre Hitch!
    Já assisti a vários não sei quantos... deve ter muitos outros que eu ainda não vi, certamente!
    Essa sua dissertação sobre o filme do mestre está excelente! PARABÉNS!!!
    Tem um filme que eu gostei muito também, que não lembro do nome, que tinha um morto misterioso numa cidadezinha do interior, protagonizado pela então jovem e belíssima (ops! isso lembra uma novela...) Shirley McLayne! O ator principal era a sola de um sapato, lembra?

    Abração!

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  8. Grande Nei!!!

    Você está falando de "O Terceiro Tiro" ("The Trouble With Harry", 1955), filme de estréia de Shirley MacLaine, com John Forsythe e Edmund Gwenn, sobre um cadáver que "aparece" num bosque de uma cidadezinha do interior e várias pessoas relacionadas a ele se sentem culpadas pela sua morte e por isso tentam se livrar do corpo. É uma das raras comédias assumidas do Hitch, e é claro, tinha que ser de humor negro. :-)

    Grande abraço!

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  9. Gosto muito dele, é claro que é um filmão, mas não o coloco entre os melhores do Hitchcock não... mas reconheço que sou um dos poucos fãs dele que pensa assim. Mesmo assim é um filme cinco estrelas e muito original, com um grande elenco.

    O DVD do filme é ótimo, todo remasterizado e com um bom documentário sobre o filme de uns 30 minutos. Vale muito a pena.

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  10. já assisti N vezes e assisto quantas vzs pintar!
    beijos!

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  11. Oz, assisti também no Veneza (os outros filmes que lembro ter assisto naquela Mostra - foi uma Mostra? - foram Vertigo, Festim Diabólico). Primeiro período da faculdade, não?
    Vi só 2 vezes - o que deve ser um pecado pra você, e gostei da dica aqui do DVD com extras...

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