Uma brincadeira. Uma grande gozação. Era o que aquilo tudo lhe parecia agora.
Tempo. Foi apenas uma questão de tempo até descobrir a verdade, numa circunstância banal, na mesa do café. Não sentia nada. Aliás, sentia um vazio enorme por dentro, em vez dos órgãos. Sorriu de leve, pensando nas pessoas que conhecera e o quanto lhes era grato. Besteira. Sorriu mesmo foi pela sua condição.
De pé, na varanda, ele sentia o orvalho precipitado, quase uma garoa, tocando seu rosto, seus lábios, e agora sentia o que aquilo significava.
Foi descendo para a praia e depois parou; estacou no meio da escada que terminava na areia. Virou-se pois desejava contemplar a casa pela última vez. A casa em que vivera. Vivera. Estranho agora ter que se conformar com o pensamento de que foi um fato extraordinário ter vivido um dia. Um acontecimento anormal. Melhor dizer, sobrenatural. Não para ele, que de nada era culpado, mas para o mundo natural dos humanos e das leis da natureza.
Desceu até a praia. Sentiu a areia sob os pés e começou a andar. Enquanto pensava o orvalho aumentou, transformou-se de vez em garoa. Logo tornou-se chuva. Olhava o próprio corpo e caminhava pela areia, paralelamente à praia. Sentia-se melancólico. Deveria sentir-se em pânico ou coisa parecida, mas não.
Estava era inconformado. Como uma simples garoa ou mesmo uma chuva poderia acabar com tudo? Depois de ter vivido? Pois sabia que de alguma forma ele vivera. Não lembrava ter crescido nem tampouco nascido. Surgira, isso sim. Acordara, certo dia, nu, na areia da praia. Era a primeira lembrança de sua existência. Nu, como agora. Tornava as coisas mais fáceis.
Via seu corpo desfazendo-se com a chuva. Seu corpo de areia. Misturando-se com a areia da praia ele ainda caminhava. A última coisa que passou pela sua mente mineral foi um profundo inconformismo com aquilo tudo.
Tudo terminou com uma bela paisagem. Um crepúsculo forte no horizonte, uma garoa sobre a praia, pegadas na areia terminando abruptamente numa pequena duna, uma casa vazia, uma praia deserta.
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(Conto escrito há mais de 20 anos)
mandou bem.
ResponderExcluirAgora que li, ficou muito legal. Imaginei uma animação com esse texto...
ResponderExcluirBjkas
OOOOOOBAAAAAAAA!!!!!!!!! DOIS COMENTÁRIOS NO MEU TEXTO DEPOIS DE MAIS DE 24 HORAS!!!!!!!!!!
ResponderExcluirAcho que agora vou dar uma festa daquelas de varar a noite!!!! Naturalmente não vou chamar ninguém, porque não adianta nada. E uma festa do "eu sozinho" até que pode ser legal! Eu numa praia deserta, caminhando, até me desfazer numa duna de areia. Com um copo de Jack Daniels do lado, é claro!! ;-)
Beijos, Sílvia!
Abraços, Paulo!
E obrigado por me prestigiarem! :-)
Não vou nem comentar...
ResponderExcluirMas gostei da idéia do Jack Daniels...Estou há dias sem beber por causa dos exames, abstinência total!!!!
Você vira areia e eu freira...rimou...
Não comente, Sílvia. Você não sabe o que eu estou sentindo desde a semana do meu aniversário... e o que me fez dormir hoje por 15 horas seguidas... :-(
ResponderExcluirBeijos.
No dia em que postou esse conto, li e me encantei muito.
ResponderExcluirDe vez em quando, leio coisas com meu pequeno príncipe no colo. Impossível digitar.
Fui dormir pensando no homem que sumia na areia.
Impossível não fazer analogia com a morte.
Me impressionou. Sonhei com a praia e acordei com uma sensação de medo horrível.
Seu conto é denso. Fica na cabeça da gente.
Não importa quando foi escrito. É indiscutivelmente atemporal.
Você escreve bem demais.
Um beijo, Oz!
Rê
Puxa, Renata!!! Há tanto tempo não lia uma crítica tão bacana e sensível e elogiosa a um trabalho meu!!!! Você conseguiu trazer um sorriso aos meus lábios no meio dessa crise toda!!! Muito obrigado mesmo, de coração!!!
ResponderExcluirJá pensei em escrever um livro de contos e depois das tuas palavras vou pensar nisso mais seriamente.
E diante de tão doces palavras aproveito para anunciar uma minissérie em quatro partes que escrevi em 1994/95 e que publicarei aqui a partir do dia 3 de agosto.É uma 'noveleta' que mistura História e ficção, e marca um fato da nossa História recente, com um famoso personagem de aventuras como protagonista. Essa história é uma das minhas meninas dos olhos e foi devidamente registrada. Quero ver a reação dos amigos a ela. Mas só a partir do dia 3 de agosto.
Espere e verá. ;-)
Beijos e muitíssimo obrigado!!!!
Meu querido,
ResponderExcluirVocê é que é doce. Um conto como esse, só poderia ser de alguém sensível e terno.
Sossega seu coração.
Enche de coisas boas como esse conto.
Dê tantos sorrisos quantos forem possíveis.
Ter sido motivo de um sorriso seu, num momento que sei, é de angústia, muito me deixa orgulhosa, mas gostaria mesmo é de vê-lo sorrir sempre, e sempre cheio de motivos para isso!!!
Sou fã de contos.
Pode escrever, postar, e tenha certeza de que lerei com muita satisfação.
Só gostaria de explicar a você, assim como faço com todos os amigos daqui, que nem sempre posso comentar assim que leio. Muitas vezes, entro na internet com meu filho menor no colo. Ele ainda é muito bebê (apesar de seus 5 anos) e sempre que fica carente, pede colo. Eu sempre dou, e ficamos eu e ele vendo coisas na internet. O mouse, nesse caso, é minha única opção.
Sou muito faladeira! Adoro dar um pitaco em tudo!
Portanto, se me vir entrando e não comentando, pode ter certeza de que eu voltarei depois.
De verdade... fiquei feliz que tenha se sentido bem com o que eu escrevi.
Te desejo a paz e a tranquilidade que você almeja.
Ah...
E eu gosto de Indiana Jones, bonequinhos e cinema. Não sou tão fã quanto você, é claro, mas gosto muito e certamente me encantarei com seus posts.
Não deixe de fazê-los.
Nem todo mundo gosta das mesmas coisas... anyway... ainda bem!!!
:-))))
Beijos!
Rê
Não tenho o que falar, Oz. Sem palavras...
ResponderExcluirLeonardo Nunes Nunes
E eu fico sem palavras para agradecer, Leonardo. :-)
ResponderExcluirValeu!