domingo, 17 de julho de 2005

DE VOLTA AOS DEZ ANOS DE IDADE



 

Belém do Pará, dezembro de 1975. Um pirralho de dez anos vai ao cine Palácio, perto da praça da República, com duas primas mais velhas assistir ao grande lançamento cinematográfico daquele verão, o filme "Tubarão", do jovem diretor Steven Spielberg. A censura indicava que era "impróprio para menores de 14 anos", mas como meu primo de 14 anos era mais baixo do que eu com dez, entrei sem problemas. No saguão, sem tirar os olhos dos posters e dos lobbycards do filme, bebi Fanta Limão e comi uma barra de Chokito pela primeira vez. A sessão foi um verdadeiro ritual de iniciação para mim. Lembro bem que na cena em que Quint é devorado por Bruce, o tubarão branco, eu tentei enfiar minha cabeça dentro da gola da camisa. E saí do cinema com os olhos brilhando, louco para comprar o livro de Peter Benchley, a Seleções de Reader's Digest que trazia uma matéria sobre os bastidores da produção ("Tubarão, o filme que quase não foi feito") e tudo o mais relativo ao filme e a tubarões brancos em geral. Eu estava irremediavelmente apaixonado por uma criatura que existe em nosso planeta muito antes dos humanos caminharem pela Terra. Estava determinado a ser biólogo marinho. Na verdade um ictiólogo, para me especilizar no comportamento dos Carcharodon carcharias.

Rio de Janeiro, julho de 2005. Quase 30 anos depois um recém quarentão se reúne com alguns amigos na sala 3 do Espaço Unibanco de Cinema em Botafogo para uma sessão única, exclusiva e inesquecível. No programa, um festival de trailers de 24 filmes vistos na minha infância, adolescência e começo da idade adulta, que fizeram minha cabeça e meu coração ao longo desses anos. Mas como atração principal, o filme, O FILME. O primeiro a ultrapassar 100 milhões de dólares nas bilheterias, o que inaugurou a era dos blockbusters e mudou a cara do cinema norte-americano, o que deixou praias vazias em todo o mundo por dois verões seguidos. Mas acima de tudo aquele que me fez sonhar com a vida marinha, que me fez estudar tubarões por conta própria, que me fez aprender a mergulhar com aqualung, que me aproximou cada vez mais dos oceanos e desses magníficos animais que causam medo e admiração nas pessoas. Nessa noite além da imaginação "Tubarão" estava novamente no cinema, na tela grande, na sala escura, com toda a pompa e circunstância que o espetáculo merece. Com direito ao poster original e a todos os lobbycards com cenas do filme na porta da sala de projeção (hábito infelizmente extinto pelas distribuidoras), uma improvisada caracterização como o meu maior role model do cinema - o oceanógrafo Matt Hooper - e até uma réplica da placa de "proibido nadar - praia fechada" (cortesia do meu amigo Augusto, um precoce fã do filme). Na falta da saudosa Fanta Limão, pelo menos uma barra de Chokito para saciar a saudade do meu paladar.


Sem dúvida, uma noite inesquecível para todos os que amam cinema, para todos os que estavam lá e que curtiram, como eu, cada segundo dessa legítima sessão de volta ao passado. Trinta anos essa noite. Trinta anos atrás, revividos em outro contexto. Mas vivos, muito vivos novamente, na minha memória afetiva e em todo o meu entusiasmo infantil. Muitíssimo obrigado a todos os amigos que compartilharam esse acontecimento comigo.


Ontem eu voltei a ter dez anos de idade.


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NO PROGRAMA, TRAILERS ORIGINAIS DOS FILMES:


1. "Horror de Drácula" (57), de Terence Fisher, com Christopher Lee, Peter Cushing e Michael Gough;

2. "O Corvo" (63), de Roger Corman, com Vincent Price, Boris Karloff e Peter Lorre;

3. "O Abominável Dr. Phibes" (71), de Robert Fuest, com Vincent Price, Joseph Cotten e Terry-Thomas;

4. "As Sete Máscaras da Morte" (73), de Douglas Hickox, com Vincent Price, Diana Rigg e Ian Hendry;

5. "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (71), de Mel Stuart, com Gene Wilder, Peter Ostrum e Jack Albertson;

6. "O Destino do Poseidon" (72), de Ronald Neame, com Gene Hackman, Ernest Borgnine e Shelley Winters;

7. "O Exorcista" (73), de William Friedkin, com Ellen Burstyn, Jason Miller e Max Von Sydow;

8. "Jovem Frankenstein" (74), de Mel Brooks, com Gene Wilder, Peter Boyle e Marty Feldman;

9. "A Profecia" (76), de Richard Donner, com Gregory Peck, Lee Remick e David Warner;

10. "Rocky Horror Picture Show" (75), de Jim Sharman, com Tim Curry, Susan Sarandon e Richard O'Brien;

11. "Monty Python e o Cálice Sagrado" (75), de Terry Jones, com Graham Chapman, John Cleese e Michael Palin;

12. "Guerra nas Estrelas" (77), de George Lucas, com Mark Hammill, Carrie Fisher e Harrison Ford;

13. "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (77), de Steven Spielberg, com Richard Dreyfuss, François Truffaut e Melinda Dillon;

14. "A Vida de Brian" (79), de Terry Jones, com Graham Chapman, Eric Idle e Terry Gilliam;

15. "Laranja Mecânica" (71), de Stanley Kubrick, com Malcolm McDowell, Patrick Magee e Warren Clarke;

16. "Alien, o Oitavo Passageiro" (79), de Ridley Scott, com Sigourney Weaver, Tom Skerrit e John Hurt;

17. "O Iluminado" (80), de Stanley Kubrick, com Jack Nicholson, Shelley Duvall e Scatman Crothers;

18. "O Império Contra-Ataca" (80), de Irvin Kershner, com Mark Hammill, Carrie Fisher e Frank Oz;

19. "Os Caçadores da Arca Perdida" (81), de Steven Spielberg, com Harrison Ford, Karen Allen e Paul Freeman;

20. "Pink Floyd - The Wall" (82), de Alan Parker, com Bob Geldof, Bob Hoskins e Eleanor David;

21. "O Retorno de Jedi" (83), de Richard Marquand, com Mark Hammill, Carrie Fisher e Ian McDiarmid;

22. "Indiana Jones e o Templo da Perdição" (84), de Steven Spielberg, com Harrison Ford, Kate Capshaw e Ke Huy Quan;

23. "Brazil - O Filme" (85), de Terry Gilliam, com Jonathan Price, Kim Greist e Michael Palin;

24. "Indiana Jones e a Última Cruzada" (89), de Steven Spielberg, com Harrison Ford, Sean Connery e Alison Doody.

 

E COMO ATRAÇÃO PRINCIPAL:

 

"TUBARÃO" ("JAWS", 1975), de Steven Spielberg. Com Roy Scheider, Robert Shaw, Richard Dreyfuss, Lorraine Gary e Murray Hamilton. Roteiro de Peter Benchley e Carl Gottlieb baseado no romance de Benchley. Música de John Williams. Fotografia de Bill Butler. Montagem de Verna Fields. Desenho de Produção de Joe Alves. Efeitos especiais de Robert Mattey. Produção executiva de William Gilmore Jr.. Filmagem de tubarões vivos de Ron e Valerie Taylor. Produção de Richard Zanuck e David Brown para a Universal Pictures.

 

Oscars de Melhor Trilha Sonora (John Williams), Melhor Montagem (Verna Fields) e Melhor Som (John Carter e Robert Hoyt) de 1975.

 

9 comentários:

  1. a projeção foi em película? os trailers também? onde você arrumou esse material todo?

    beijão

    Ana

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  2. Viva a era do DVD! Agradeço aos disquinhos digitais, Ana. Na minha opinião, a maior vantagem deles nem é a tão cantada qualidade de imagem e som, e sim a quantidade de extras: trailers, making ofs, bastidores, erros de filmagem, cenas cortadas. Fiz um levantamento dos filmes os quais gostaria de passar os trailers e consegui esses.

    Infelizmente não existem muitos DVDs com trailers de filmes europeus. Muitos também marcaram minha vida e gostaria imensamente de poder exibir os trailers de "O Amigo Americano" e "Paris, Texas" de Wim Wenders, "O Enigma de Kaspar Hauser" e "Fitzcarraldo" de Herzog, "Salve-se Quem Puder - A Vida" e "Prénom Carmen" de Godard, entre tantos outros. Mas também tive um tempo restrito antes da "main atraction" Spielberguiana.

    No final das contas a projeção foi fantástica, com grande qualidade de imagem e som, e deu pra enganar a percepção, fazendo com que tivéssemos a sensação de ter voltado no tempo. O que era minha intenção. ;-)

    Pena você não estar presente, menina. Aliás, feliz aniversário adiantado!!! :-))

    Grande beijo,
    Oz

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  3. UÁU!!
    E FEZ-SE A LUZ!!
    : )


    este é o texto!!
    que bom que eu o li depois dos outros!!
    que pena que vc o escreveu antes...

    beijos e MUITO carinho
    Kau

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  4. e esta sua placa está simplesmente SEN SA CIO NAL !!!
    (risos)
    viva o amigo Augusto!
    : )))

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  5. Mensagem escrita pela minha ex-colega de UFF e amiga muy querida Consuelo Sanchez hoje, num e-mail pós-sessão de cinema:

    "Quem não foi ao Oz Lopes Cine Show, no sábado, perdeu um ótimo programa. Como sempre, a criatividade é a marca do nosso amigo. e eu acho que é preciso valorizar muito pessoas com tanta poesia existencial, pois é ela que faz a vida valer a pena.
    Parabéns, querido Oz
    E vamos tirar a poeira do casaco e marcar um encontro antes de o inverno terminar.
    bjs e saudades a todos."


    Obrigado de coração, Consu! Fiquei realmente emocionado com as suas palavras! No meio de tanta frustração por esperar demais dos outros, é bom demais ler palavras de tanto carinho, sensibilidade e entendimento como as suas, menina querida! Amei te ver lá e te dar um abração daqueles!!! Vamos nos ver mais sim, com toda certeza!!! :-)))))))))

    Beijo e muuuuiiito carinho procê!!!!

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  6. A placa é dele, Karla. Mas já encomendei uma pra mim, hehehe! Agora toda vez que eu for à praia - um dia por década - não posso deixar de levar essa placa pra me sentir em Amity!!! ;-)P

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  7. É, foi BOM DEMAIS MESMO!!!!!! Quem foi se divertiu, se deslumbrou, matou saudades adormecidas de outros tempos, outras decadas. Trailers que vimos quando ainda éramos crianças e nos assombrávamos na sala escura de um cinema. Foi verdadeiramente uma viagem no tempo, de verdade!!! Quem foi e viu e curtiu tudo isso junto comigo, têm minha eterna gratidão.

    Já tô planejando a sessão do ano que vem, dos 41 anos, e já até escolhi o filme. Mas vou fazer numa sala bem menor pra não sofrer imprevistos de novo. E vender os ingressos com antecedência, como errei em não fazer antes.

    Quem viver verá. E vai se fascinar mais uma vez com minha máquina do tempo! ;-)))

    Beijo grande e muito carinho procê, menina querida!!!

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  8. Oz, estive acompanhando a sua preparação para essa grande noite. E fiquei feliz com o sucesso alcançado.

    E que sorte, a sua, de ter encontrado uma maneira de reviver aquele entusiasmo infantil, junto de pessoas queridas. Parabéns por isso, e pelos quarenta anos.

    Um beijo,
    Dulce.

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  9. Obrigado, Dulce. É nessas horas que a gente descobre os amigos verdadeiros. Nessas e nos momentos ruins.

    A sessão foi inesquecível!!! O que se passou na tela nunca foi visto com aquela edição!!! Só lamento profundamente aqueles que confirmaram presença e não deram as caras, me deixando literalmente na mão. Mas quem foi não vai esquecer a alegria e diversão daquela sessão única de cinema, tenho certeza!!! ;-)))

    Beijos, menina!

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