terça-feira, 23 de novembro de 2004
20 GRANDES DISCOS DO POP-ROCK DOS ANOS 80
MUNDOS PARALELOS DE MEMÓRIAS / POP-ROCK DOS ANOS 80 - 20 GRANDES DISCOS
Algo ao mesmo tempo fantástico e estranhíssimo que só fui descobrir na internet é que existem mundos paralelos de memórias. É claro que cada geração tem suas próprias referências, suas lembranças particulares. Mas antes da internet eu conversava com meus amigos - pessoas de todas as idades, mais velhos, mais novos e da mesma faixa etária que eu - e costumávamos misturar referências, memórias, ícones num grande mosaico histórico.
Hoje é diferente. Parece que a internet possibilitou a criação de guetos de gerações. Como tudo na vida, há o lado bom e o lado ruim disso. O lado bom é que todo mundo, não importa a idade que tenha, encontra aqueles que compartilham dos seus gostos, das suas vivências pessoais. Ninguém mais precisa se sentir sozinho, isolado, rejeitado. Sempre existirão pessoas que se identificam com as mesmas coisas que você. E assim se formam as tribos, os fã-clubes, as turminhas. O lado ruim é que isso acentua bastante o abismo de gerações.
Vejam os anos 80 por exemplo. Parece que de uns anos pra cá a década de Ronald Reagan e Margareth Tatcher virou uma fervilhante moda, especialmente na internet e nas noitadas das grandes cidades. Multiplicam-se sites, grupos de discussão e fóruns do tipo "infância 80" no mundo virtual, enquanto as boates, festas e barzinhos do mundo real ecoam o som de duas décadas atrás. Até aí tudo bem, nada contra. Só uma coisa: qual "o som" dos anos 80? A turma que nasceu entre fins dos 70 e início dos 80 - e que parece ser mais de 70% dos internautas - impõe sua memória musical e hoje o "som dos anos 80" parece ser apenas os Balões Mágicos, os Trens da Alegria e os temas dançantes que tocavam nas novelas da época. Existe um outro público, um pouco mais velho, que tem um forte referencial musical nas bandas darks e pós-punk inglesas. Tenho amigos que depois de um papo sobre o assunto, quase te convencem que Echo and the Bunnyman, Siouxsie and the Banshees, The Smiths, New Order, The Cure e Joy Division dominavam o cenário musical dos 80. E é claro, sempre haverá um gueto que venera fervorosamente o rock nacional, e que nos dá a impressão de que não se ouvia outra coisa nas rádios e festas daqueles tempos.
Antes que me chamem de preconceituoso e rabugento, quero deixar bem claro que gosto muito de várias dessas bandas, de The Cure a Paralamas do Sucesso. Adoro várias coisas dentre as que me referi, de Blitz a New Order. O que me incomoda nessa história toda é que parece que as bandas e músicos que formam o meu referencial musical dos anos 80 foram apagados da memória das pessoas pela dominação das novas gerações de internautas como as notícias no universo orwelliano do livro "1984"! Em meio a tanta veneração dos 80s é estranhíssimo citar Laurie Anderson, Supertramp ou Talking Heads e ouvir de uns e outros "hã?", "quem?", "nunca ouvi falar". Eu me sinto o próprio Winston Smith, diante do exercício do duplipensar (vide "1984"). Particularmente eu acho isso muito irritante. Tudo bem, eu sei que todo mundo tem o direito de conhecer, ignorar e gostar do que quiser, mas a questão não é essa. O que me assusta é que músicos e bandas extraordinárias estão se perdendo em meio a esse "resgate" torto mediado pela internet e pelos meios de comunicação.
Eu vivi a década de 80 intensamente. Entrei na faculdade, comecei a trabalhar, tomei porres, viajei sozinho, tudo isso pela primeira vez entre 1982 e 1986. E todas as festas que freqüentei tocavam coisas que as novas gerações simplesmente ignoram!!! Pode até ser exagero meu, mas considero isso praticamente uma aniquilação de memória coletiva. Lembro que entre 84 e 87, Wim Wenders era um dos cineastas mais cultuados, e hoje em dia quase ninguém com menos de 30 anos conhece - a não ser que seja cinéfilo de carteirinha. Esse exemplo é definitivo.
Bem, todo esse preâmbulo em tom de desabafo é apenas porque ganhei recentemente dois CDs que eu só tinha em vinil, um da Laurie Anderson e outro dos Talking Heads, e passei os últimos dias ouvindo-os sem parar. E por isso resolvi fazer uma lista (é, adoro listas) dos 20 discos dos anos 80 que fizeram a minha cabeça.
Basicamente a década de 80 foi meu grande período roqueiro. Gosto de quase todos os gêneros musicais, mas entre 78 e 88 curti rock'n'roll mais que tudo. Foi quando conheci Pink Floyd (minha banda favorita), Supertramp, Led Zeppelin, Black Sabbath, The Who e mais um monte de músicos e bandas sensacionais. Fiz grandes e queridos amigos, alguns que mantenho até hoje. E até comprei um baixo elétrico, e quase aprendi a tocar. Talvez o disco que mais tenha marcado esse período tenha sido Brothers in Arms, do Dire Straits - especialmente pelas festas da faculdade. The Police é outro grupo dessa época que adoro, mas nunca tive um disco preferido deles, e por isso não estão nessa lista. E se for pra definir os músicos que, pra mim, têm mais a cara da década de 80, certamente serão Talking Heads, Laurie Anderson, Tom Waits e Peter Gabriel. Uma escolha muito pessoal e emocional.
Se você tem menos de 30 anos, não se espante se não conhecer metade do que eu ouvia. Procure ouvir também, experimente! Você corre o risco de adorar! Se você é da minha geração, certamente vai se identificar com alguns desses músicos e discos. E se você for mais velho, espero que não seja tão chato quanto eu e que também curta essas coisas, hehe!...
20 DISCOS DE POP-ROCK DOS ANOS 80 QUE FIZERAM MINHA CABEÇA*:
1. Concerts for the People of Kampuchea (1980), álbum duplo ao vivo produzido pelo UNICEF em prol dos famintos do Camboja, com The Who, The Clash, Queen, Pretenders, Elvis Costello, Paul McCartney & Wings, Robert Plant e John Paul Jones
2. 1984 (1981), de Rick Wakeman
3. Tatoo You (1981), dos Rolling Stones
4. Mob Rules (1981), do Black Sabbath
5. The Final Cut (1983), do Pink Floyd
6. Paris (1980), do Supertramp
7. Famous Last Words (1982), do Supertramp
8. Free as a Bird (1987), do Supertramp
9. Brothers in Arms (1985), do Dire Straits
10. Standing on the Beach (1987), do The Cure
11. Stop Making Sense (1984), do Talking Heads
12. Little Creatures (1985), do Talking Heads
13. True Stories (1986), do Talking Heads
14. Naked (1988), do Talking Heads
15. So (1986), de Peter Gabriel
16. Big Science (1982), de Laurie Anderson
17. Mr. Heartbreak (1984), de Laurie Anderson
18. Home of the Brave (1986), de Laurie Anderson
19. Rain Dogs (1985), de Tom Waits
20. One From the Heart (1982), de Tom Waits
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* (deixei de fora o rock nacional, pois esse merece uma lista própria, exclusiva!)
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Levei séculos à procura de One From the Heart, desde que vi o filme do Coppola. Encontrei há um ano - e me lembrava de quase todas as melodias.
ResponderExcluirAmei sua lista.
Siiim!!! Tem vários aí que eu tb amo e ouvia mto, são eles:
ResponderExcluirMob Rules (1981), do Black Sabbath
The Final Cut (1983), do Pink Floyd
Paris (1980), do Supertramp
Famous Last Words (1982), do Supertramp
Free as a Bird (1987), do Supertramp
Standing on the Beach (1987), do The Cure
Black Sabbath com o "Gnomo" Ronnie James Dio no vocal... E o Supertramp em sua melhor forma, adoro!!
Bjs!!
Fala Oz! Confesso que sou um desse que você citou. Nasci em 77... grande parte da década de 80 foi a minha infância, e somente em seu finalzinho que eu já era um adolescente. Vivi mesmo minha adolescência e fase adulta nos anos 90. E, sinceramente, tenho como recordação musical dos anos 80 exatamente o que você "vê" na Internet: Muito Rock nacional e alguns dances, como New Order. E só. É estranho mas é realmente a minha idéia de música dos anos 80. Isso me leva ao seguinte fato: Será que a percepção de uma década não está diretamente ligada ao o que se consome/aproveita/vive dessa década? Acredito que sim. Como era criança, não ia para shows, boites, festas "de adulto" nos anos 80, e talvez por isso mesmo não tenha tido acesso (ou somente percepção mesmo), dessas outras bandas que você citou. Em compensação, tenho certeza que tenho bem mais nítido do que você em minha mente todos os programas de TV para crianças, todos os brinquedos e manias da molecada daquela época. Porque foi isso o que eu vivi, e é isso o que guardei como retrato dessa época.
ResponderExcluirO mesmo vai acontecer comigo num futuro próximo. Quando a geração que nasceu no finalzinho dos 80 e começo dos 90 forem a "maioria ativa" da Internet, tenho certeza que ficarei com os mesmos sentimentos que você está agora. Eles terão sido crianças nos 90, logo só vão lembrar de coisas referentes a essa época. Já estou me preparando para ver várias bandas de garagem de Seattle sendo esquecidas, do movimento grunge sendo deturpado, o plano real, o primeiro "movimento funk" carioca, os caras pintadas de Collor, o início da Internet, e de vários outros costumes e acontecimentos dos anos 90 sendo esquecidos ou "revistos". Mas como disse, essa será a percepção deles (de criança) que certamente será diferente da minha (que vivi ativamente a década como adolescente/adulto). Me parece uma bola de neve sem fim. O que me deixa aliviado é saber que essas gerações mais novas passarão pelo mesmo aperto que nós, quando gerações (ainda) mais novas fizerem a mesma coisa com eles.
Ah, e essa seu gosto por listas me lembra personagem de John Cusack em Alta Fidelidade!
Abraços,
Rod
Adorei sua listinha!!!!
ResponderExcluirquase parecida com a minha...
beijuxx
Ri
Os anos 80 foram prá mim anos de sons góticos e dark's sem dúvida.
ResponderExcluirPraticamente todas as bandas e personagens que v/c colocou aí vieram dos 70, se adaptando ou evoluindo (ou desevoluindo) para moldar o seu som nos anos 80, e principalmente a batida pós discoteca.
Ps. na fase Dio do Sabbath eu prefiro o Heaven and Hell, que tem na minha opinião um dos baixos, no disco todo, mais explosivos do hard rock
Grande Oz, nós já tangenciamos em outros posts esse tema, não é? E suas observações são precisas, justamente porque não "fecham" a sua (ou a nossa) experiência como "A" realidade dos anos 80. Pelo contrário, só amplia! O post do Rod (bem bacana, por sinal) só confirma isso. E pra não me alongar, além das referências ao Wenders e ao Supertramp -- algumas tribos da nossa época torciam o nariz pra esse grupo, né? Que bobos eles! --, adorei vc colocar a Laurie Anderson no grupo, junto com o Peter Gabriel -- "So" é o máximo! -- e o Dire Straits -- tb gosto muito do "Brothers in Arms" (tive em vinil), só que fui ver na minha memória se gostava de outro deles e não encontrei... -- que foram referências pra quem foi da nossa geração.
ResponderExcluirAbraço emocionado,
Ricardo
Perfeita sua lista OZ...so tinha que colocar o U2 :-)
ResponderExcluiro The Police eu fico te devendo, nao esqueci nao.....
pra variar rexto maravilhoso, gostaria de assinar em baixo rsrsrs
beijin mil
UHU!!!!!!!!! Só tenho certeza de uma coisa: 20 discos são pouco. Cada um de nós que viveu intensamente a transição militar-civil deve ter uns 50 discos de cabeceira só daquela época.
ResponderExcluirConcordâncias eternas. tornariam o mundo chato.
Como lhe disse, vi a Laurie Anderson ao vivo e ao mesmo tempo achava, rsrss, que Os Replicantes eram tão importantes quanto os Sex Pistols. Adolescente doida num tempo doido de Crepúsculo de Cubatão.
Nem preciso dizer que adorei o texto, né?
BJUUUUUUU