sábado, 27 de novembro de 2004

"BRAZIL, O FILME" ("Brazil", 1985), de Terry Gilliam

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Cult


Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam, Charles McKeown, Tom Stoppard, Laura Kerr, Frank Gill Jr.
Produção: Arnon Milchan, Robert North, Patrick Cassavetti / 20th Century Fox, Universal
Fotografia: Roger Pratt
Montagem: Julian Doyle
Música: Michael Kamen, Walter Scharf
Direção de Arte: John Beard, Keith Pain, Norman Garwood
Elenco: Jonathan Pryce, Kim Greist, Michael Palin, Robert De Niro, Katherine Helmond, Ian Holm, Ian Richardson, Peter Vaughan, Bob Hoskins, Charles McKeown, Jim Broadbent, Jack Purvis

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Sam Lowry: My name`s Lowry. Sam Lowry. I`ve been told to report to Mr. Warrenn.
Porteiro do Centro de Retenção de Informações: Thirtieth floor, sir. You`re expected.
Sam Lowry: Um... don`t you want to search me?
Porteiro: No sir.
Sam Lowry: Do you want to see my ID?
Porteiro: No need, sir.
Sam Lowry: But I could be anybody.
Porteiro: No you couldn`t sir. This is Information Retrieval.

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Bob Hoskins também aparece aqui, nesta distopia extraordinária de Terry Gilliam. Sam Lowry (Jonathan Pryce) vive num Estado totalitário controlado pelos computadores e pela burocracia. Ele é um funcionário público, que mora num cubículo onde tudo é automático e embutido, e que é promovido para trabalhar no departamento de Retenção de Informações do governo. Nesse Estado, às voltas com a repressão ao terrorismo, todos são governados pelas fichas de arquivos pessoais e pelos cartões de crédito, e todos devem pagar por tudo, até pela permanência na prisão. Quando seqüestrados pelos agentes especiais do governo, a família da vítima assina o recibo por ele. E também o recibo do recibo. Existem canos imensos por toda parte, responsáveis pela transmissão de informações, interligando os apartamentos, os prédios, toda a cidade, e que são anunciados alegremente na televisão. Nesse mundo opressivo e absurdo, Sam se apaixona pela terrorista Jill Layton (a bela Kim Greist) e se refugia em sonhos fantásticos, que incluem um par de asas, samurais frankenstenianos e mutantes cibernéticos.

Uma salada de influências que incluem George Orwell, Franz Kafka, os irmãos Marx, Anthony Burgess e "Blade Runner", "Brazil, o Filme" pode muito bem ser definido como o "1984" de Terry Gilliam. Único norte-americano do grupo inglês Monty Python, Gilliam era o responsável pelas animações malucas dos filmes e do programa de TV do grupo, além de escrever e atuar. Mais tarde ele despontou também como cineasta, nos trazendo filmes fantásticos e cheios de imaginação. Porém, "Brazil" continua sendo sua grande obra-prima. O mundo sombrio, bizarro e claustrofóbico (as estradas são totalmente ladeadas de outdoors de publicidade para esconder a devastação das florestas e bosques em volta e o despejo de lixo químico e radioativo) foi temperado com o humor corrosivo, o ‘nonsense’ e os delírios criativos típicos do Monty Python. A música de Ary Barroso, "Aquarela do Brasil", foi a inspiração primeira de Gilliam, que ao ouví-la certa vez imaginou "um paraíso tropical poluído por esgoto, vazamentos de óleo, lixo tóxico e papelada burocrática", segundo a sua ótica singular. "Um cruzamento de Frank Capra com Franz Kafka" segundo ele, "Brazil" é um filme que não se encaixa perfeitamente em nenhuma camisa-de-força de gênero. É comédia, épico, aventura, terror, ficção científica, policial, filme de ação, romance, tudo isso numa embalagem só.

Um elenco de primeira completa o delírio de Gilliam: o Pythoniano Michael Palin (Jack Lint, colega de trabalho de Sam), Ian Holm (Sr. Kurtzmann, o chefe de Sam), Bob Hoskins (o sarcástico técnico em consertos Spoor), Katherine Helmond (a extravagante mãe de Sam), Jim Broadbent (o cirurgião plástico dela), Ian Richardson (Sr. Warren), Peter Vaughan (Sr. Helpmann) e até Robert De Niro (numa participação especialíssima como o técnico autônomo e terrorista Harry Tuttle).

"Brazil" foi o meu filme de 1985, o melhor filme que assisti no cinema naquele ano. Vi várias vezes, sendo que uma delas foi no cine Palácio, no Centro do Rio. Na saída, ainda atordoado com o mundo enlouquecido de Terry Gilliam e com o destino de Sam Lowry (tá achando que eu vou contar final de filme aqui? De jeito nenhum!), eu cruzei com um sujeito mais velho, da minha altura, um pouco mais gordo que eu na época, com uma barba mal-feita, casacão e cabelos despenteados. Sabia que conhecia ele de algum lugar! Claro, das telas dos cinemas, especialmente do que eu tinha acabado de sair! Mais tarde no jornal veio a confirmação: o extraordinário Robert De Niro estava no Rio e tinha passado a tarde no cine Palácio sozinho, revendo seu último filme, "Brazil". Só lamento não ter pego nem um autógrafo, nem ao menos ter cumprimentado ele. Se bem que eu corria o risco de ouvir "are you talking to me?"... :-)

8 comentários:

  1. esse filme é sensacional! já assisti várias vezes no Corujão.
    :o)

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  2. Oz, o interessante é que não vejo muitos considerando-o tão bom assim. Acredito sinceramente que ele não tem o destaque e o crédito que merece. Tenho que revê-lo (mais um Oz, mais um!) para avaliar se envelheceu bem, mas imagino que sim.
    Quanto ao autógrafo, convenhamos que levar um "are you talking to me?" não seria lá tão grave. Afinal de contas, teria sido do De Niro!
    Abração

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  3. "Brazil" é considerado um filme raro e difícil lá fora, pois foi muito mal lançado, principalmente nos EUA. Curioso isso, pois aqui passou tranqüilamente, em circuito normal. Vi algumas vezes no cinema, e posso te garantir que é não menos do que uma legítima obra-prima. E não envelheceu sequer um dia - não é figura de linguagem, o filme é atualíssimo, inclusive plasticamente. Sem dúvida "Brazil" é um daqueles filmes que vão ser redescobertos daqui a alguns anos e vistos com outros olhos pela maioria. Não tenho mais palavras além dessas pra expressar o que é o filme de Terry Gilliam. Perfeito.

    Abraços,
    Oz

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  4. Meu amigo OZ (waldo!)
    Adorei ler essa sua resenha! Esse filme é realmente muito marcante. Pena que na época em que o asisti no cinema, eu era um analfabeto político e não entendi lhufas!
    Já tive o prazer de revê-lo numa dessas reprises na madrugada da Globo e vi com outros olhos e outra compreensão!
    Puxa, cê passou pelo De Niro. CARAMBA!!! ou como dizem os pirralhos CARACA!!!
    Abração, meu caro!
    AH! dê um pulinho no: http://www.fotolog.net/alfrednewman.
    Já escaneei todas as capas da minha coleção de revistas MAD e vou começar a postá-lasem breve. Estou ainda colocando coisas memoriais da revista e informações para quem curte essa publicação. Descobri que só me falta o número 100...

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  5. Preciso assistir Brazil.
    Nunca tive a oportunidade.
    Quanto ao De Niro... putz... eu teria pedido! Sou fã daquelas retardadas, sabe?
    Sou muito, muito, muito fã do De Niro!
    Que pena, Oz!
    Mas deve ter sido legal vê-lo de pertinho.

    Beijos!

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  6. É um absurdo, surrealista como Gilliam sempre seria.

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  7. Ahaaaaammmmmmmmmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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