quarta-feira, 17 de novembro de 2004

WERNER HERZOG




Há exatamente 18 anos, o cineasta alemão Werner Herzog veio ao Brasil e deu uma palestra no Cineclube Estação Botafogo, no RJ. Nessa época eu já era fã de carteirinha de sua obra e alguns dos seus estranhos e oníricos filmes já tinham se instalado no meu subconsciente. Depois de Wim Wenders, ele era - e é - meu diretor alemão favorito.

Eu já tinha saboreado alguns de seus filmes mais marcantes no saudoso Cineclube Macunaíma, no auditório da ABI, na rua México, na Cinemateca do MAM, no Cine Arte UFF, em Niterói e no próprio Estação Botafogo. Apesar de alemão, Werner Herzog sempre foi um cineasta do mundo, literalmente. Filmou na Amazônia latino-americana, na Austrália, na África, numa ilha do Pacífico, nos Estados Unidos, e sabe deus lá mais onde. Seus filmes nos dão uma sensação estranha, de estar dentro de num sonho, onde a essência do ser humano é quase sempre questionada, e o que conhecemos do mundo é posto à prova por seus personagens e situações. O vigoroso "Aguirre, a Cólera dos Deuses" (1972), com Klaus Kinski e Ruy Guerra, sobre a invasão espanhola na América pré-Colombiana... o surpreendente "O Enigma de Kaspar Hauser" (1974), com Bruno S., sobre um homem que foi criado como animal por anos e teve que aprender a ver o mundo com os olhos da sociedade (cujo título original é uma frase de "Macunaíma", de Mário de Andrade: "Cada um por si e Deus contra todos"), mas que ao contrário de um Tarzã, mostra que a sua lógica é especial... o lírico "Coração de Cristal" (1976), filmado com não-atores, num pequena vilarejo alemão onde a maioria da população fabrica vidro para viver, e onde todo o elenco foi hipnotizado para as filmagens (lembro bem de uma frase solta: "o vidro tem uma alma muito frágil")... o melancólico "Stroszeck" (1977), com Bruno S., sobre um homem solitário e sem lugar no mundo tentando a vida na América... o lúgubre "Nosferatu, o Vampiro da Noite" (1979), com Klaus Kinski, Isabelle Adjani e Bruno Ganz, bela refilmagem do clássico de 1922 de F. W. Murnau, com a visão singular de Herzog sobre o mito do vampiro... o violento "Woyzeck" (1979), com Klaus Kinski vivendo o soldado alemão embrutecido... o impactante "Fitzcarraldo" (1982), com Klaus Kinski, José Lewgoy, Claudia Cardinalle e Grande Otelo, onde um insano barão da borracha e amante da ópera faz atravessar um navio sobre uma montanha em plena Amazônia, para poder construir uma ópera na selva...

Werner Herzog e sua parceria de amor e ódio com o ator Klaus Kinski, pai de Nastassja Kinski... Herzog e seu cinema nômade, sua paixão pelos rejeitados da sociedade, pela loucura, pelo impossível. Tudo isso mostrado sempre com carinho e admiração, e sempre através de uma beleza plástica impecável, extraordinária. Nunca esqueci o maior conselho dele, ao ser perguntado por um jovem estudante sobre o que deveria fazer para começar a fazer filmes. "Se não tiver dinheiro, roube uma câmera. E filme. Sempre e muito", soltou ele.

Neste mesmo dia conheci minha quarta namorada (com quem namorei um ano e meio), no meio do saguão lotado do Cineclube Estação Botafogo. E foi com essas fotos de Werner Herzog que também inaugurei minha câmera fotográfica profissional, minha boa e velha Nikon FM-2, que nunca me faltou em todos estes anos. É, o cinema sempre pontuando a minha vida.

12 comentários:

  1. Meu amigo OZ (waldo!)
    Valeu a sua visita!
    Realmente eu tinha esquecido de incluir o Gandhi, porque ele estava em outro arquivo. Valeu a lembrança! eh,eh,eh...
    eu também tenho umas clicadas do Herzog, quando de uma entrevista do Estação Botafogo!
    Legal!
    Abração!

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  2. Bom Dia, Oz!

    Infelizmenrte não vou ter tempo de ler o texto agora.
    Estou voando prá cidade daqui há pouco... :(
    Mas volto mais tarde prá ler direitinho, tá?!
    Beijo grande!!!

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  3. Pow, adorei o texto.
    Muito bom mesmo. Pena q eu ainda não conheça o cinema de Herzog.
    Parabéns

    ps: eu tb tenho foto sob a sombra do Grande Otelo, tirada há alguns meses! uAHuaAHuahuAHua =)

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  4. Tão bom quanto as fotos é ler suas lembranças sobre elas! O novo (já nem tanto) cinema alemão tb fez minha cabeça...

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  5. é o máximo lembrar desses filmes...realmente essa dobradinha era danada:-) adorei as fotos.....eu tb tive uma FM.Aquela que vc viu era EM viu?a FM eu vindo:-(((
    beijins e te cuida

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  6. grande oswaldo,

    bons tempos aqueles de cineclube estação botafogo...

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  7. Agora eu vi, que show de fotos!! Adorei todas as outras também, tá nota mil estes albuns :-) Preciso de um tempinho extra pra conferir tudinho!!
    Bjos
    Carol

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  8. Sabe, Oz, dia desses eu estava comentando que precisava rever Fitzcarraldo. É um filme muito forte, e ao mesmo tempo meio louco. Klaus Kinski parece ter sido feito para aquele papel. Qual era mesmo a música clássica que ele gostava do ouvir, a bordo daquele navio? Não é que eu esqueci?

    Um beijo,
    Dulce.

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  9. Como é bom saber que pessoas como Herzog sabem e gostam de fazer o verdadeiro cinema. Qualquer um que inicie com Herzog, pode adquirir qualquer filme dele que inicia bem. No meu caso, foi o "O Enigma de Kaspar Hauser". O comprei e neste final de semana, último, assisti. Já sou um fã deste sujeito, mesmo tendo visto apenas um filme dele, até agora. Estou sem palavras.
    Quero agradecer, Oz, pois foi através de você que agora, possuo o bom gosto cinematográfico. Minhas próximas obssessões são os ambientados no Brasil, "Fitzcarraldo" e outro que não lembro (que heresia de minha parte! - inadmissível não lembrar).
    Muitos hão de contestar que isto é bom cinema, mas quando poderíamos ver esta temática sendo desenvolvida normal e utlimamente?

    Aquele abraço
    Leonardo Nunes Nunes

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  10. Herzog figura como um dos grandes do cinema, nunca deixou de ser ele mesmo. Juntamente com Wenders, Kluge, Fassbinder, Farock e Schroeter, são os meus iconoclastas favoritos.
    Como disse o Leonardo, Herzog pode se começar por qualquer filme, pois mesmo nos não tão bons(considero apenas dois razoáveis, todos os outros são obras-primas) há puro Herzog.
    Amo todos os seus mas Sinais de Vida e Coração de Cristal, sempre que assisto, me deixam em estado de shock.

    Foi um prazer conhecer o seu álbum,
    Socorro

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