segunda-feira, 29 de novembro de 2004

2º ENCONTRO DO MULTIPLY!!!

Start:     Dec 3, '04 7:00p
Location:     Creperia La Marguerita - 2º piso - Cobal do Humaitá
Devido ao estrondoso sucesso do finado 1º encontro (ver fotos em Cobal e Cobal 2 - mais blah blah blah e ti ti tis), realizado no último domingo nesta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e à ausência de alguns ilustríssimos representantes do febeapá etílico-cultural que assola o reino encantado multipláico, resolveu-se pela imediata (quase) realização do 2º MULTI-ENCONTRO BLÁBLÁBLÁ. A presença de participantes de outras cidades e, até mesmo, de outros Estados da federação, está confirmada!

Desta vez, poderemos contar com a degustação (?) de exclusivérrimos ovos azuis de galinhas pretas (!) e porções de um tal doce de gila (!) cuja tonalidade é variável segundo o tempo de exposição ao sol.

Para os tímidos e nem um pouco excêntricos, recomenda-se a consumação dos crepes simplesinhos da casa...

(texto da dona do boteco virtual da semana, nossa querida e sorridente Carmen)

"TUDO SOBRE MINHA MÃE", de Pedro Almodóvar, no Odeon

Start:     Dec 1, '04 8:30p
Location:     Cinema Odeon BR - Pça. Floriano, 7 - Cinelândia - tel. 2240-1093
AÍ, PESSOAL!!! Nesta quarta-feira, dia 1º de dezembro, às 20:30hs no cine Odeon, na Cinelândia, será exibido TUDO SOBRE MINHA MÃE, de Pedro Almodóvar. É dentro da programação da Sessão Cineclube. É sessão única, não tem outro dia ou horário.

O preço do ingresso é R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia).
E AÍ, VAMOS??? ;-))

CONVÊNIO ESTACIONAMENTO CINELÂNDIA
R$ 3,00 por 4 horas
R$ 4,00 - sábados, domingos e feriados (por dia).
Pegue seu selo-desconto na bilheteria do cinema.

............
Sinopse

No dia de seu aniversário, Esteban ganha de presente da mãe, Manuela, uma ida para ver a nova montagem da peça "Um bonde chamado desejo", estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após a peça, ao tentar pegar um autográfo de Huma, Esteban é atropelado e termina por falecer. Manuela resolve então ir até o pai de Esteban, que vive em Barcelona, para dar-lhe a notícia, quando encontra no caminho o travesti Agrado, a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.

sábado, 27 de novembro de 2004

HOJE! Encontro do Multiply na Cobal do Humaitá!!!

Start:     Nov 28, '04 7:00p
Location:     Pizza Park, na Cobal do Humaitá, Rio de Janeiro.
Hoje, domingo, 28 de novembro, às 19hs, no Pizza Park da Cobal do Humaitá, o primeiro encontro do Multiply!!!

APAREÇAM!!!! :-))

"BRAZIL, O FILME" ("Brazil", 1985), de Terry Gilliam

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Cult


Direção: Terry Gilliam
Roteiro: Terry Gilliam, Charles McKeown, Tom Stoppard, Laura Kerr, Frank Gill Jr.
Produção: Arnon Milchan, Robert North, Patrick Cassavetti / 20th Century Fox, Universal
Fotografia: Roger Pratt
Montagem: Julian Doyle
Música: Michael Kamen, Walter Scharf
Direção de Arte: John Beard, Keith Pain, Norman Garwood
Elenco: Jonathan Pryce, Kim Greist, Michael Palin, Robert De Niro, Katherine Helmond, Ian Holm, Ian Richardson, Peter Vaughan, Bob Hoskins, Charles McKeown, Jim Broadbent, Jack Purvis

* * * * * * * * * * *

Sam Lowry: My name`s Lowry. Sam Lowry. I`ve been told to report to Mr. Warrenn.
Porteiro do Centro de Retenção de Informações: Thirtieth floor, sir. You`re expected.
Sam Lowry: Um... don`t you want to search me?
Porteiro: No sir.
Sam Lowry: Do you want to see my ID?
Porteiro: No need, sir.
Sam Lowry: But I could be anybody.
Porteiro: No you couldn`t sir. This is Information Retrieval.

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Bob Hoskins também aparece aqui, nesta distopia extraordinária de Terry Gilliam. Sam Lowry (Jonathan Pryce) vive num Estado totalitário controlado pelos computadores e pela burocracia. Ele é um funcionário público, que mora num cubículo onde tudo é automático e embutido, e que é promovido para trabalhar no departamento de Retenção de Informações do governo. Nesse Estado, às voltas com a repressão ao terrorismo, todos são governados pelas fichas de arquivos pessoais e pelos cartões de crédito, e todos devem pagar por tudo, até pela permanência na prisão. Quando seqüestrados pelos agentes especiais do governo, a família da vítima assina o recibo por ele. E também o recibo do recibo. Existem canos imensos por toda parte, responsáveis pela transmissão de informações, interligando os apartamentos, os prédios, toda a cidade, e que são anunciados alegremente na televisão. Nesse mundo opressivo e absurdo, Sam se apaixona pela terrorista Jill Layton (a bela Kim Greist) e se refugia em sonhos fantásticos, que incluem um par de asas, samurais frankenstenianos e mutantes cibernéticos.

Uma salada de influências que incluem George Orwell, Franz Kafka, os irmãos Marx, Anthony Burgess e "Blade Runner", "Brazil, o Filme" pode muito bem ser definido como o "1984" de Terry Gilliam. Único norte-americano do grupo inglês Monty Python, Gilliam era o responsável pelas animações malucas dos filmes e do programa de TV do grupo, além de escrever e atuar. Mais tarde ele despontou também como cineasta, nos trazendo filmes fantásticos e cheios de imaginação. Porém, "Brazil" continua sendo sua grande obra-prima. O mundo sombrio, bizarro e claustrofóbico (as estradas são totalmente ladeadas de outdoors de publicidade para esconder a devastação das florestas e bosques em volta e o despejo de lixo químico e radioativo) foi temperado com o humor corrosivo, o ‘nonsense’ e os delírios criativos típicos do Monty Python. A música de Ary Barroso, "Aquarela do Brasil", foi a inspiração primeira de Gilliam, que ao ouví-la certa vez imaginou "um paraíso tropical poluído por esgoto, vazamentos de óleo, lixo tóxico e papelada burocrática", segundo a sua ótica singular. "Um cruzamento de Frank Capra com Franz Kafka" segundo ele, "Brazil" é um filme que não se encaixa perfeitamente em nenhuma camisa-de-força de gênero. É comédia, épico, aventura, terror, ficção científica, policial, filme de ação, romance, tudo isso numa embalagem só.

Um elenco de primeira completa o delírio de Gilliam: o Pythoniano Michael Palin (Jack Lint, colega de trabalho de Sam), Ian Holm (Sr. Kurtzmann, o chefe de Sam), Bob Hoskins (o sarcástico técnico em consertos Spoor), Katherine Helmond (a extravagante mãe de Sam), Jim Broadbent (o cirurgião plástico dela), Ian Richardson (Sr. Warren), Peter Vaughan (Sr. Helpmann) e até Robert De Niro (numa participação especialíssima como o técnico autônomo e terrorista Harry Tuttle).

"Brazil" foi o meu filme de 1985, o melhor filme que assisti no cinema naquele ano. Vi várias vezes, sendo que uma delas foi no cine Palácio, no Centro do Rio. Na saída, ainda atordoado com o mundo enlouquecido de Terry Gilliam e com o destino de Sam Lowry (tá achando que eu vou contar final de filme aqui? De jeito nenhum!), eu cruzei com um sujeito mais velho, da minha altura, um pouco mais gordo que eu na época, com uma barba mal-feita, casacão e cabelos despenteados. Sabia que conhecia ele de algum lugar! Claro, das telas dos cinemas, especialmente do que eu tinha acabado de sair! Mais tarde no jornal veio a confirmação: o extraordinário Robert De Niro estava no Rio e tinha passado a tarde no cine Palácio sozinho, revendo seu último filme, "Brazil". Só lamento não ter pego nem um autógrafo, nem ao menos ter cumprimentado ele. Se bem que eu corria o risco de ouvir "are you talking to me?"... :-)

A VINGANÇA DO BASTARDO, de Eleonora V. Vorsky


Description:
Ação, espionagem, romance, sexo, ficção científica, catástrofe, histeria, pânico, correria, pisoteamento, massacre! Tudo isso e muito mais na obra máxima de Eleonora V. Vorsky, aquela velhota sem-vergonha.
(tirado da contracapa do livro)

Finalmente, depois de quase duas décadas consigo ler a versão integral do clássico folhetim de Eleonora V. Vorsky, "A Vingança do Bastardo", publicado originalmente no jornal O Planeta Diário em 1987! E o melhor é que o livro traz grátis o capítulo final, inédito no jornal de Perry White! Uma leitura desopilante, perfeita para ser consumida entre um clássico romance russo no original e uma tese sobre teoria do caos.

O primeiro grande trabalho de Alexandre Machado ("Os Normais", "Os Aspones") na imprensa cultural brasileira, se escondendo sob o pseudônimo de Eleonora V. Vorsky.

Um livro OBRIGATÓRIO para quem não tem mais o que fazer!!! :-))

Ingredients:
Os personagens da aventura:
- Levi: Herói ou covarde? Homem ou mulherzinha? Casado, solteiro ou tico-tico no fubá?
- Prima Roshana: Sua sede de sexo só era comparável à sua vontade de dar.
- Bel, a sereia: A beleza de seu corpo deixava os seres do fundo do mar todos molhadinhos.
- A jeba de Kowalsky: Para alguns, um monstruoso erro da natureza; para outros, uma dádiva dos céus.
(tirado da contracapa do livro)

Participação especial de:
Simon Wisenthal, Henry Kissinger, Muamar Kadhafi, Thomas Green Morton, Kurt Waldheim, Nacional Kid, Tutty Vasques e Kate Mahoney.

Disse a crítica: "terrível, escatológico, nojento, nauseabundo, emocionante, divertidíssimo, acachapante, lírico, poético, medonho, esporrante de rir, abominável, cáustico, polêmico, essencial, virulento, dramático, meio mais ou menos, magnífico, detestável, erótico, perturbador, ingênuo, niilista, grandiloqüente, bacaninha, porreta, desavergonhado, pai d'égua, supercalifragilisticespialidoso!"

Directions:
"A Vingança do Bastardo", de Eleonora V. Vorsky (Alexandre Machado), O Planeta Diário, Rio de Janeiro, 1987.

O Planeta Diário Produções Ltda.
Av. 13 de Maio, 33/ s.3112 - Centro - Rio de Janeiro
CEP 20031 - Telefone: 533-3994
(será que ainda tem alguém lá nesse endereço? Quem sabe o Jimmy Olsen?...)

sexta-feira, 26 de novembro de 2004

ÁLBUNS DE FIGURINHAS




Mais uma vez preocupado com a arqueologia cultural e a memória deste país, escaneei alguns álbuns de figurinhas que colecionei na infância. Não posso precisar a data de todos eles, mas sei que foram publicados entre 1965 e 1978, sendo que a maioria é da primeira metade da década de 70.

1. Mundo Animal (Editora Abril), com 246 imagens tiradas da enciclopédia “Os Bichos”, também da Editora Abril.

2. Ciências (Editora Vecchi), da série “Os Livros de Ouro da Juventude”, abrangendo assuntos como o universo, flores e plantas, animais e o corpo humano. Com 287 desenhos e gráficos explicativos.

3. Festival Hanna Barbera (Editora Vecchi, imagens copiadas do site http://www.hannabarbera.com.br/hb.php ), com os principais personagens criados pela dupla William Hanna e Joseph Barbera para os desenhos animados.

4. Galeria Disney (Editora Abril, imagem copiada da internet), com os principais personagens de Walt Disney.

5. Festival Disney (Editora Abril, 1975), com 210 imagens de desenhos animados de Walt Disney, como Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio, Dumbo, Uma Aventura de Donald, A Espada Era a Lei, Cinderela, Peter Pan, Mogli e Mickey Alpinista.

6. Disneylândia (EBAL - Editora Brasil América, provavelmente do final dos anos 60), com 50 fotografias e texto sobre o parque de diversão de Walt Disney na Flórida. Já vinha com todas as figurinhas, para recortar e colar no álbum.

7. Moby Dick (EBAL - Editora Brasil América, provavelmente do final dos anos 60), com 48 desenhos e texto adaptado do romance de Herman Melville. Já vinha com todas as figurinhas, para recortar e colar no álbum.

8. Guerra nas Estrelas (Editora Abril, 1978), com 234 fotos do filme de George Lucas. O primeiro de vários álbuns de figurinhas baseados na saga da família Skywalker.

9. Restos mortais de um álbum de variedades – Vila Sésamo, atrações da TV, raças de cães e gatos, o circo, etc. – que se perdeu em alguma mudança de apartamento, há algumas décadas atrás. Sobrou apenas esta página e outra, ambas recortadas. Se alguém conseguir identificar que álbum é esse, por favor, me ajude!

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

TV PIRATA






De 5 de junho de 1988 a 31 de julho de 1990, sempre às terças-feiras, às 21:30. Mais tarde, em 1992, de 21 de abril até o fim do ano, mensalmente.

Direção: Guel Arraes
Roteiro: Cláudio Paiva, Mauro Rasi, Luís Fernando Veríssimo, Patrícia Travassos, Vicente Pereira, Pedro Cardoso, Felipe Pinheiro, Humbert, Bussunda, Cláudio Manoel, Reinaldo, Hélio de La Peña, Beto Silva, Marcelo Madureira, (e após o 2º ano) Laerte, Angeli, Glauco
Elenco: Regina Case, Luiz Fernando Guimarães, Deborah Bloch, Diogo Vilela, Cláudia Raia, Guilherme Karan, Louise Cardoso, Ney Latorraca, Cristina Pereira, Marco Nanini, (após o 2º ano) Pedro Paulo Rangel, (no último ano) Denise Fraga, Antônio Calloni, Marisa Orth, Otávio Augusto, Maria Zilda


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O que é, o que é? É um programa de humor, mas: não apela para o riso fácil em cima de minorias marginalizadas, não se restringe à verborragia do humor radiofônico, nem se sustenta no carisma de um único comediante. Um programa bastante singular e fora dos padrões... não é à toa que ele se chama TV Pirata.

Anunciado a princípio como o legítimo humor de vanguarda por uns, combatido furiosamente por gente como Sandra Cavalcanti e Ferreira Neto (que o chama de “lixo”, “leviano” e “monte de sujeira”), o programa chega ao ano 2 muito bem obrigado. Embora tenha perdido um pouco do pique do primeiro ano, ele continua sendo o único humorístico da TV a acrescentar algo ao gênero.

“O TV Pirata é o resumo do humor irreverente feito nos últimos dez anos no Rio e em São Paulo, desde o ‘Asdrúbal Trouxe o Trombone’ até o pessoal da ‘Casseta Popular’ e ‘Planeta Diário’, sintetiza o diretor Guel Arraes. Depois de duas novelas de Janete Clair, três de Sílvio de Abreu (em co-autoria com Jorge Fernando) e do cult-seriado ‘Armação Ilimitada’, Guel tem uma bagagem perfeita para capitanear esta nau dos insensatos. Aliás, segundo ele “o programa é uma mistura do ‘Armação’ com as novelas-chanchadas que fiz com o Jorginho, tanto em forma como em conteúdo”. Justamente os programas que questionavam de forma criativa os vícios da linguagem televisiva. E o primeiro passo na valorização do ‘visual’.

É fácil perceber essa preocupação com a parte visual do programa, desde os cenários e figurinos até a edição e os efeitos eletrônicos. Tudo isso a serviço de uma linguagem-síntese dos vários formatos televisivos produz momentos originais como “Oscarzinho, o Funcionário Fantasma Camarada”, um “desenho animado” interpretado por Pedro Paulo Rangel e Guilherme Karan.

A equipe de redatores por sua vez ajuda a realçar a originalidade do TV Pirata em relação aos seus concorrentes. É aquela síntese das tendências do humor nos últimos anos, incluindo o besteirol, as publicações independentes, as HQs paulistas e até o veterano Luís Fernando Veríssimo. “Contudo, apesar de uma forma mais sofisticada, eles mantêm um gosto pelo escracho popular, pela piada de colégio, de botequim, o que é essencial para haver identificação com o público, ainda mais se a linguagem, for retrabalhada, tornando a piada sempre nova”, explica Guel.

Enfim, o maior mérito do TV Pirata é o fato dele desenvolver uma visão crítica sobre o meio que o veicula: a televisão. Enquanto os autores da velha guarda ficavam entre o pastelão, a ridicularização do grotesco ou a sátira política e social, os piratas globais atacam a forma através do nonsense e da paródia de novelas, seriados, filmes, telejornais, anúncios, pronunciamentos e debates populares. Ao fazer isso, eles denunciam a necessidade de repensar os vícios e cacoetes dos gêneros mais acomodados, abundantes nas programações. Sem esquecer que, acima de tudo, o TV Pirata é uma grande brincadeira. “Uma brincadeira de, com e sobre a televisão”, diria Guel Arraes.

“Televisããão”, diria o velho e bom Barbosa.

Oswaldo Lopes Jr.
(Jornal VERVE nº 25, julho de 1989)


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Escrevi este texto em 1989 para o jornal VERVE e hoje me bate forte a saudade do TV Pirata, na minha opinião o melhor humorístico já produzido na televisão brasileira. Sem esquecer programas fantásticos e inovadores como “Satiricon” ou “Faça Humor Não Faça a Guerra”, o TV Pirata chacoalhou e revolucionou a programação dos anos 80 de forma só comparável a seu “quase irmão” (já que também era filho do mesmo “pai”, Guel Arraes) “Armação Ilimitada”, ouso dizer a melhor série brasileira já feita.

Entrevistei Guel Arraes para fazer a matéria e ele me convidou a assistir dois dias de gravação do TV Pirata, nos estúdios de Renato Aragão, na Barra da Tijuca. Conheci o elenco, tirei fotos dos esquetes e tive o privilégio de assistir ao vivo à criação das piadas que faziam a minha alegria no final dos anos 80.

Alguns quadros estão na nossa memória até hoje: Combate, As Presidiárias, Perdidos no Espaço, A Coisa, Piada em Debate, Super-Safo, TV Macho, Casal Telejornal, Hospital Geral, Campo Rural, Esporte Esportivo, Detetive Pestana, Shirley e Euclides, Os Super-Heróis. Mas o maior sucesso do TV Pirata, foram as suas novelas, em especial a hilariante Fogo no Rabo, uma insana paródia da novela “Roda de Fogo” (86), onde se destacavam Luiz Fernando Guimarães como o empresário canalha Reginaldo (sempre acompanhado da canção de Rosana, “como uma deuuuuusaaaaaaaaaa!!!!...”), Deborah Bloch como sua noiva Natália, Guilherme Karan como o deformado capanga Agronopoulos e Ney Latorraca num de seus melhores momentos, na pele do velho babão Barbosa. A programação novelística do programa seguiu com a trama rural Rala-Rala, com Luiz Fernando fazendo o Índio Cleverson, A Perseguida e Diana, os Diamantes Não São Para Comer.

Ganhador do Prêmio APCA de melhor humorístico de 1988, o TV Pirata sofreu um hiato de dois anos e nos deixou a ver navios definitivamente em 1992. Não sem antes fazer um grande estardalhaço com a morte do querido Barbosa, de Fogo no Rabo e dedicar um programa inteiro para desvendar o hediondo crime.

Há mais de três anos a Globo vem prometendo um DVD com os melhores momentos do TV Pirata aos seus saudosos fãs, e nada disso sair. Parece mesmo que a vênus platinada não sabe mesmo lançar suas séries no mercado. Ao invés de lançar boxes de temporadas completas de “Os Normais”, “A Grande Família” e outras séries de sucesso, pingaram esparsos DVDs avulsos com “melhores momentos”, enquanto o público espera avidamente e clama na internet e em cartas e e-mails por TODOS os episódios de seus seriados favoritos. Infelizmente parece que os piratas do humor global serão condenados aos calabouços do Centro de Documentação da Rede Globo ainda por muito tempo.

Enquanto a “anistia” não chega, vamos matando as saudades com esta galeria de fotos...

terça-feira, 23 de novembro de 2004

20 GRANDES DISCOS DO POP-ROCK DOS ANOS 80


MUNDOS PARALELOS DE MEMÓRIAS / POP-ROCK DOS ANOS 80 - 20 GRANDES DISCOS

Algo ao mesmo tempo fantástico e estranhíssimo que só fui descobrir na internet é que existem mundos paralelos de memórias. É claro que cada geração tem suas próprias referências, suas lembranças particulares. Mas antes da internet eu conversava com meus amigos - pessoas de todas as idades, mais velhos, mais novos e da mesma faixa etária que eu - e costumávamos misturar referências, memórias, ícones num grande mosaico histórico.

Hoje é diferente. Parece que a internet possibilitou a criação de guetos de gerações. Como tudo na vida, há o lado bom e o lado ruim disso. O lado bom é que todo mundo, não importa a idade que tenha, encontra aqueles que compartilham dos seus gostos, das suas vivências pessoais. Ninguém mais precisa se sentir sozinho, isolado, rejeitado. Sempre existirão pessoas que se identificam com as mesmas coisas que você. E assim se formam as tribos, os fã-clubes, as turminhas. O lado ruim é que isso acentua bastante o abismo de gerações.

Vejam os anos 80 por exemplo. Parece que de uns anos pra cá a década de Ronald Reagan e Margareth Tatcher virou uma fervilhante moda, especialmente na internet e nas noitadas das grandes cidades. Multiplicam-se sites, grupos de discussão e fóruns do tipo "infância 80" no mundo virtual, enquanto as boates, festas e barzinhos do mundo real ecoam o som de duas décadas atrás. Até aí tudo bem, nada contra. Só uma coisa: qual "o som" dos anos 80? A turma que nasceu entre fins dos 70 e início dos 80 - e que parece ser mais de 70% dos internautas - impõe sua memória musical e hoje o "som dos anos 80" parece ser apenas os Balões Mágicos, os Trens da Alegria e os temas dançantes que tocavam nas novelas da época. Existe um outro público, um pouco mais velho, que tem um forte referencial musical nas bandas darks e pós-punk inglesas. Tenho amigos que depois de um papo sobre o assunto, quase te convencem que Echo and the Bunnyman, Siouxsie and the Banshees, The Smiths, New Order, The Cure e Joy Division dominavam o cenário musical dos 80. E é claro, sempre haverá um gueto que venera fervorosamente o rock nacional, e que nos dá a impressão de que não se ouvia outra coisa nas rádios e festas daqueles tempos.

Antes que me chamem de preconceituoso e rabugento, quero deixar bem claro que gosto muito de várias dessas bandas, de The Cure a Paralamas do Sucesso. Adoro várias coisas dentre as que me referi, de Blitz a New Order. O que me incomoda nessa história toda é que parece que as bandas e músicos que formam o meu referencial musical dos anos 80 foram apagados da memória das pessoas pela dominação das novas gerações de internautas como as notícias no universo orwelliano do livro "1984"! Em meio a tanta veneração dos 80s é estranhíssimo citar Laurie Anderson, Supertramp ou Talking Heads e ouvir de uns e outros "hã?", "quem?", "nunca ouvi falar". Eu me sinto o próprio Winston Smith, diante do exercício do duplipensar (vide "1984"). Particularmente eu acho isso muito irritante. Tudo bem, eu sei que todo mundo tem o direito de conhecer, ignorar e gostar do que quiser, mas a questão não é essa. O que me assusta é que músicos e bandas extraordinárias estão se perdendo em meio a esse "resgate" torto mediado pela internet e pelos meios de comunicação.

Eu vivi a década de 80 intensamente. Entrei na faculdade, comecei a trabalhar, tomei porres, viajei sozinho, tudo isso pela primeira vez entre 1982 e 1986. E todas as festas que freqüentei tocavam coisas que as novas gerações simplesmente ignoram!!! Pode até ser exagero meu, mas considero isso praticamente uma aniquilação de memória coletiva. Lembro que entre 84 e 87, Wim Wenders era um dos cineastas mais cultuados, e hoje em dia quase ninguém com menos de 30 anos conhece - a não ser que seja cinéfilo de carteirinha. Esse exemplo é definitivo.

Bem, todo esse preâmbulo em tom de desabafo é apenas porque ganhei recentemente dois CDs que eu só tinha em vinil, um da Laurie Anderson e outro dos Talking Heads, e passei os últimos dias ouvindo-os sem parar. E por isso resolvi fazer uma lista (é, adoro listas) dos 20 discos dos anos 80 que fizeram a minha cabeça.

Basicamente a década de 80 foi meu grande período roqueiro. Gosto de quase todos os gêneros musicais, mas entre 78 e 88 curti rock'n'roll mais que tudo. Foi quando conheci Pink Floyd (minha banda favorita), Supertramp, Led Zeppelin, Black Sabbath, The Who e mais um monte de músicos e bandas sensacionais. Fiz grandes e queridos amigos, alguns que mantenho até hoje. E até comprei um baixo elétrico, e quase aprendi a tocar. Talvez o disco que mais tenha marcado esse período tenha sido Brothers in Arms, do Dire Straits - especialmente pelas festas da faculdade. The Police é outro grupo dessa época que adoro, mas nunca tive um disco preferido deles, e por isso não estão nessa lista. E se for pra definir os músicos que, pra mim, têm mais a cara da década de 80, certamente serão Talking Heads, Laurie Anderson, Tom Waits e Peter Gabriel. Uma escolha muito pessoal e emocional.

Se você tem menos de 30 anos, não se espante se não conhecer metade do que eu ouvia. Procure ouvir também, experimente! Você corre o risco de adorar! Se você é da minha geração, certamente vai se identificar com alguns desses músicos e discos. E se você for mais velho, espero que não seja tão chato quanto eu e que também curta essas coisas, hehe!...


20 DISCOS DE POP-ROCK DOS ANOS 80 QUE FIZERAM MINHA CABEÇA*:

1. Concerts for the People of Kampuchea (1980), álbum duplo ao vivo produzido pelo UNICEF em prol dos famintos do Camboja, com The Who, The Clash, Queen, Pretenders, Elvis Costello, Paul McCartney & Wings, Robert Plant e John Paul Jones
2. 1984 (1981), de Rick Wakeman
3. Tatoo You (1981), dos Rolling Stones
4. Mob Rules (1981), do Black Sabbath
5. The Final Cut (1983), do Pink Floyd
6. Paris (1980), do Supertramp
7. Famous Last Words (1982), do Supertramp
8. Free as a Bird (1987), do Supertramp
9. Brothers in Arms (1985), do Dire Straits
10. Standing on the Beach (1987), do The Cure
11. Stop Making Sense (1984), do Talking Heads
12. Little Creatures (1985), do Talking Heads
13. True Stories (1986), do Talking Heads
14. Naked (1988), do Talking Heads
15. So (1986), de Peter Gabriel
16. Big Science (1982), de Laurie Anderson
17. Mr. Heartbreak (1984), de Laurie Anderson
18. Home of the Brave (1986), de Laurie Anderson
19. Rain Dogs (1985), de Tom Waits
20. One From the Heart (1982), de Tom Waits

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* (deixei de fora o rock nacional, pois esse merece uma lista própria, exclusiva!)

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

POETA DA VILA - Um show com músicas de Noel Rosa

Start:     Nov 23, '04 8:00p
Location:     SALA BADEN POWELL, Av. N.Sra. de Copacabana, 360 (antigo Cine Ricamar), próximo ao metrô Cardeal Arcoverde.
É HOJE O GRANDE SHOW!!!!!!!!

COMPANHIA DA VOZ KARLA BOECHAT apresenta

POETA DA VILA - Um show com músicas de Noel Rosa

IMPERDÍVEL!!!!!!

Quem ainda quiser comprar ingressos, por favor ligue para o telefone da Sala Baden Powell: 2548-0421.
Na produção já não tem mais ingressos desde anteontem!
A bilheteria da Sala Baden Powell ainda (e só) havia 42 lugares à venda no balcão! É quase certo que não hajam ingressos para vender na hora do espetáculo, portanto LIGUE PARA A BADEN POWELLL E GARANTA JÁ O SEU!!!!!!

Para ver um pouco da história deste espetáculo através das fotos dos ensaios, veja no fotolog da minha queridíssima amiga KARLA BOECHAT, a partir de http://ubbibr.fotolog.net/love_kau/?pid=9369645 !

VALE A PENA CONFERIR!!!!!

Ficha técnica completa em:
http://www.fotolog.net/love_kau/?pid=9421942

ATÉ LÁ, PESSOAL!

"PINK FLOYD - THE WALL" (Idem, 1982), de Alan Parker

Rating:★★★★
Category:Movies
Genre: Cult


Direção: Alan Parker
Roteiro: Roger Waters e Alan Parker, baseado no álbum "The Wall", do Pink Floyd
Produção: Alan Marshall, Garth Thomas / MGM
Fotografia: Peter Biziou
Montagem: Gerry Hambling
Música: Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason, Richard Wright e Michael Kamen
Direção de Arte: Chris Burke, Clinton Cavers, Brian Morris
Elenco: Bob Geldof, Christine Hargreaves, James Laurenson, Eleanor David, Bob Hoskins, Kevin McKeon, Alex McAvoy, Michael Ensign

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"Is there anybody out there?"
(Pink)

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Quatro anos depois de "O Expresso da Meia-Noite", Alan Parker dirigiu este delí­rio psicótico-musical ao som de Pink Floyd. Disse a crí­tica: “É terrível, hipnótico, alucinatório e repulsivo. Numa palavra, brilhante”. “Os sentimentos do filme estão anos-luz além da celebração pop da puberdade que os Beatles trouxeram e da explosão satânica da adolescência no início dos Rolling Stones. E vai além do niilismo punk da década de 70. Entra na dimensão que só pode ser descrita como zona morta. A reflexão do filme é fetal”. Escrito por Roger Waters, um dos fundadores do Pink Floyd, em 1965, e do qual foi letrista principal desde 1968, “Pink Floyd – The Wall” tem um pouco mais que uma dúzia de linhas de diálogo. A narrativa se desenvolve através das músicas do álbum “The Wall” (1979), combinando-as com um espetáculo de imagens fragmentadas, misturando fantasia melodramática, flash-backs em estilo documentário, trechos de programas de TV e de filmes antigos em preto e branco, visões surreais, seqüências de cartuns simbólicos (tão impressionantes quanto as imagens criadas por Alan Parker são os desenhos animados de Gerald Scarfe, cartunista inglês que já trabalhou na animação de concertos do Pink Floyd. Todas as fantasias que Waters e Parker não puderam capturar em música e ação fílmica, Scarfe trouxe para a vida sob a forma de desenhos metafóricos). O resultado é um amálgama extraordinário, de uma espécie raramente conseguida na tela, quase impossível de ser imitada, como acontece com os sons inconfundíveis produzidos pelo Pink Floyd. Com Bob Geldof como o astro Pink, Eleanor David como sua esposa, Christine Hargreaves como a mãe, Alex McAvoy como o professor e Bob Hoskins fazendo seu empresário.

Pink Floyd sempre foi minha banda de rock favorita e este foi um dos dois filmes que mais assisti na vida, no cinema: 29 vezes. Quase todas na mesma semana no cine Veneza, na praia de Botafogo, aqui no Rio. Num tempo bom em que se podia pagar um ingresso e assistir o filme quantas vezes se quisesse, sem ser enxotado pra fora como nesses cineminhas de shopping de hoje em dia. Fiquei rouco de tanto cantar da minha cadeira cativa na segunda fileira do Veneza, enquanto o resto do público se deprimia. Este foi outro pôster que freqüentou a parede do meu quarto por longos anos, sendo que escaneei o folheto autografado pelo próprio Alan Parker (no canto superior esquerdo). Assistir “Pink Floyd – The Wall” no cinema é uma das experiências que tive que me faz perguntar por que alguém precisa usar drogas para 'viajar', delirar, alucinar e ter experiências extraordinárias. Sinceramente, com um filme desses, PRA QUÊ?

Mais um poster brasileiro. Sempre que possí­vel postarei as versões nacionais dos cartazes de filmes estrangeiros comentados aqui, como já fiz em "Um Passe de Mágica" e "O Expresso da Meia-Noite". Este foi autografado pelo próprio Alan Parker quando esteve aqui no Rio para um festival de cinema.

domingo, 21 de novembro de 2004

COMPACTOS


Primeiro disco do Capitão Aza & Martinha - astros máximos de TV de quem foi criança na primeira metade dos anos 70 -, com as canções "ABC" e "Sideral".

Em nome da arqueologia cultural dos anos 60, 70 e início dos 80, escaneei as capas e contracapas de alguns dos principais compactos simples e duplos que fizeram a trilha sonora da minha infância e adolescência. Acredito que quem nasceu depois de 1980 não saiba o que é isso. Compactos eram pequenos discos de vinil de 18 centímetros de diâmetro, com músicas e outros sons gravados, que a gente colocava na vitrola ou na eletrola para ouvir. Agora, se quiser saber o que é vitrola ou eletrola, por favor, pergunte aos seus pais ou consulte uma enciclopédia. :-P

Já os meus contemporâneos, tenho certeza de que também curtiram alguns desses discos no passado. Clicando nas imagens, verão as capas mais detalhadamente além de informações sobre as gravações e listas de músicas.

Quero ver se alguém com mais de 35 anos passa impunemente por esses discos. ;-))

sábado, 20 de novembro de 2004

CINEMA NA UFF




Fiz curso de cinema na UFF de 1984 a 1992. Sim, o dobro do tempo normal. Simplesmente porque eu me inscrevia em várias matérias e logo depois era chamado a participar de uma penca de filmes. Até aí tudo bem. O problema é que eu me esquecia de cancelar o excesso de matérias que eu não poderia cumprir. E assim, num curso que te dava a chance de fazer dois filmes, eu acabei participando de 14. Uns ficaram inacabados, outros demoraram anos para ser terminados. Uns ganharam prêmios, outros caíram no esquecimento. Uns lançaram atores hoje consagrados, outros nós, alunos, invadíamos as cenas diante das câmeras. Alguns deles...

“A CARTOMANTE” (1985/1989), baseado no conto homônimo de Machado de Assis. Direção de Alexander Vancellote. Com Ricardo Sabença, Roberta Guariento, Juliano Serra, Yeda de Alvim Hamelim e Daniel Argolo Estill. Fiz fotos de still.

“IMPRESSO À BALA” (1985), a saga do temível bandido Escovinha contada pelo sensacionalista jornalista Antônio Bandeira, que entre fatos e invenções acaba virando notícia de suas próprias reportagens. Direção de Ricardo Favilla. Com Gilberto Miranda, Glória Melgaço, Teotônio de Paiva e Luiz F. da Conceição. Fiz continuidade.

“VIOLURB” (1985), documentário com cenas ficcionais sobre a violência urbana. Direção de Cleumo Segond. Com Vitor Lopes, Sebastião Martins, Josino Haubrich, Marcos Torres, Luiz Cláudio Rosa. Fiz assistência de fotografia não creditada e dei nome ao filme.

“VIGILANTE RODOVIÁRIO” (1986), um suposto episódio “perdido” do clássico seriado televisivo de Ari Fernandes e Alfredo Palácios. Bióloga pesquisadora descobre que micos-leões estão sendo capturados de sua reserva florestal e sendo exportados por homens inescrupulosos. Para resolver toda a trama, entra em cena o vigilante Carlos e seu fiel amigo, o cão Lobo, para juntos salvarem a mocinha e prenderem os vilões. Direção e roteiro de Felipe Borges, Flávio Cândido e Paulo Halm. Com Carlos Alberto Canano, Liz Monteiro, Roberto Bontempo, Jorge Cherques, Érico Widal, Emmanoel Cavalcanti, Rosa Helena Arras, José Joffily Filho e o cão Echos (como Lobo). Fiz assistência de produção. Foi o primeiro filme de que participei no curso de cinema, um mês depois de entrar na UFF, ainda no primeiro período.

“NICHTEROY EM FOCO” (1986/1988), paródia dos antigos cine-jornais brasileiros, mostrando o lançamento do último livro de poesias da escritora Moema Peçanha numa pastelaria que também comemora 50 anos de fundação; a volta da atriz niteroiense ganhadora do Oscar à sua terra natal; a prisão do estuprador de vendedoras de boutique de Icaraí; a tradicional pelada de praia e sua relação com os banhistas da cidade; e o seqüestro da barca Rio-Niterói, por um grupo de terroristas, e onde o cameraman filma sua própria morte. Direção coletiva de Gustavo Cascon, Luiz Guimarães de Castro, Paulo André Lima, Marcos Santos Lima, Gelson Santana, Renato Schvartz. Narração de Darci Pedrosa. Com Odete Boudet, Nobile Lima, Afonso Henriques, Elaine da Silveira, Wilson Teixeira Filho, Renato Schvartz, Márcia Watzl, Gustavo Hernandez, Hélio Muniz, Zé Biondo, Zeca Nobre Porto, Antônio Serra, Jo Name, Oswaldo Lopes Jr., Denise Fraga, Gustavo Cascon, Leonardo G. Mello, Gui Michel. Fiz fotos de still e fui o terrorista que mata o cameraman.

“COLORBAR” (1988), história com narrativa de histórias em quadrinhos, sobre um casal muito desigual. Ele, desempregado, passa os dias em casa vendo TV. Ela, secretária executiva de uma multinacional, sai cedo para trabalhar e passa o dia fora. Ele sente ódio dela pela superioridade financeira, mas algo estranho na programação da TV lhe mostra que algo trágico pode acontecer. Direção de Marcelo Mendes. Roteiro de Oswaldo Lopes Jr., David França Mendes e Marcelo Mendes. Com Eduardo Birman e Cristiana Treiger. Foi meu segundo roteiro filmado na UFF (o primeiro filme ficou inacabado) e também fiz fotos de still, e uma pequena participação como um garçom. Na primeira noite de filmagens caiu um refletor de 1000 watts na minha cabeça e eu fui levado às pressas ao Hospital Antônio Pedro. Depois de costurarem minha cabeça com 9 pontos, voltei para o set e fiz fotos até as 6 da manhã.

“O COMBUSTÍVEL DO FUTURO” (1989), uma comédia de ação. A alta cúpula do governo Norte-Americano decide invadir o Brasil com o pretexto de acabar com o tráfico de drogas. Enquanto isso, um velho e decadente astro de rock nacional e um executivo falido apelam para sua traficante "oficial", uma jovem da classe média carioca, que prontamente marca um encontro com os clientes. Direção e roteiro de Gustavo Cascon. Locução de Fausto Fawcett. Com Wilson Grey, Ana Elisa Poppe, Zeca Nobre Porto, José Joffily, Sérgio "Kodak" Vilela e Jorge Duran. Fiz fotos de still.

“ARCHIVOS IMPOSSIBLES” (1997), uma ficção científica noir - o “Blade Runner” de Niterói. Direção coletiva, com coordenação geral de Ricardo Favilla. Roteiro de Patati e Ricardo Favilla. Com Patati, Oswaldo Lopes Jr., Plínio Bariviera, Vitor Lopes, Liliana e Rogério S. Atuei como o robô Kronski, assistente do detetive Alex Sartori (Patati).

“UM C... CHAMADO PAIXÃO”, paródia de trailler de filme erótico. Direção de Renato Lemos. Com Denise Fraga e Moacir Chaves. Fiz fotos de still.

“ASSASSINATO NA ESCOLA DE CINEMA”, farsa que mistura comédia, drama, suspense e musical, sobre três alunos suspeitos de ter assassinado o professor de montagem na sala da moviola a facadas. Direção de Luiz Augusto de Castilho. Com Paulão, Gustavo Cascon, Humberto Martins e outros. Fiz assistência de direção, e também dirigi a cena de ação no fim do filme.


Entre os filmes inacabados estão...

“SONATA”, baseado no conto homônimo de Érico Veríssimo, com Denise Fraga e Daniel Dantas. Fiz fotos de still e foi onde conheci a Denise.

“A GAROTA DA PRAIA”, sobre um sujeito que se apaixona por uma bela menina que conhece na praia, mas que esconde um segredo além da imaginação. Primeiro argumento e roteiro meu filmado, onde também fiz fotos de still, com direção de Marcelo Mendes, deve ser lançado até o ano que vem.

“O JATO DE SANGUE”, baseado na obra de Antonin Artaud, com direção de Cláudia Dottori, Ana Lúcia Milhomens e Rita Ivanissevich. Fiz fotos de still.


Além desses fiz outros filmes fora da faculdade, mas aí é outra história...

sexta-feira, 19 de novembro de 2004

ALEXANDRE MACHADO BACK IN ACTION!


Definitivamente o texto de Alexandre Machado faz muita diferença no humor televisivo. Apesar da sua polêmica esposa Fernanda Young ter caído na boca do povo e levar a fama pela parceria profissional, quem conheceu o trabalho de Alexandre Machado nos anos 80 não se deixa enganar pela alarde da mídia. O folhetim A Vingança do Bastardo (publicado no jornal de humor "O Planeta Diário"), o inesquecível TV Pirata, Os Normais e o recém-nascido Os Aspones formam um precioso currículo desse ex-publicitário dono de um humor cínico, inteligente, por vezes surreal, e ao mesmo tempo grosso e sutil.

Desde que Rui e Vani nos abandonaram, deixando alguns órfãos (eu, veementemente incluído! e ainda emocionalmente abalado com a perda), o espectador da TV aberta foi deixado à mercê da pobreza e banalidade de "A Diarista" e "Sob Nova Direção". Quem gosta de saborear humor de qualidade teve que se contentar por um ano com a dieta semanal de "A Grande Família", único programa de humor global que continua digno e divertido.

Porém com a volta de Alexandre Machado (e Fernanda Young, vá lá... o nome dela está nos créditos também) às noites de sexta-feira, os famintos de bom-humor podem respirar aliviados, sorrir de novo e gargalhar de vez em quando. O ótimo Os Aspones pode não ser tão extraordinário quanto Os Normais, mas é a prova de que ainda existe vida inteligente – e portadora de um senso de humor ímpar – nos bastidores da vênus platinada. Que viva Alexandre Machado!!!

"O EXPRESSO DA MEIA-NOITE" ("Midnight Express", 1978), de Alan Parker

Rating:★★★★
Category:Movies
Genre: Drama


Direção: Alan Parker
Roteiro: Oliver Stone, baseado no livro de Billy Hayes
Produção: Peter Guber, David Puttnam, Alan Marshall / Casablanca Films, Columbia Pictures
Fotografia: Michael Seresin
Montagem: Gerry Hambling
Música: Giorgio Moroder
Direção de Arte: Evan Hercules, Geoffrey Kirkland
Elenco: Brad Davis, John Hurt, Randy Quaid, Irene Miracle, Paul Smith, Bo Hopkins, Mike Kellin, Paolo Bonacelli

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Max: "The best thing to do is to get your ass out of here. Best way that you can."
Billy Hayes: "Yeah, but how?"
Max: "Catch the midnight express."
Billy Hayes: "But what`s that?"
Max [rindo]: "Well it`s not a train. It`s a prison word for... escape. But it doesn`t stop around here."

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Dois anos antes de viver "O Homem Elefante", John Hurt já tinha encarnado um personagem bastante sofrido, neste filme. Escrito por Oliver Stone (que levou o Oscar de roteiro), baseado no livro autobiográfico de Billy Hayes, e dirigido por Alan Parker, "O Expresso da Meia-Noite" é um filme poderoso. Racista e etnocêntrico mas mesmo assim poderoso. Conta a história de Billy Hayes, um estudante americano que após fazer turismo na Turquia, tenta sair de lá com alguns quilos de haxixe atados ao corpo. Preso no aeroporto, ele é jogado e quase esquecido na prisão de Sagmalcilar, que é mostrada como o verdadeiro inferno. Lá ele sofre torturas físicas e psicológicas pelas mãos ou ordens do terrível chefe dos guardas Hamidou (Paul Smith, o Brutus do "Popeye" de Altman) além das intrigas, calúnias e exploração do 'X-9' Rifki (Paolo Bonacelli). Mas também se torna amigo de outros presos, como o abusado Jimmy Booth (Randy Quaid) e o gentil e drogado Max (John Hurt, indicado para o Oscar de melhor ator coadjuvante, muito merecidamente). Quando sua pena vai aumentando gradativamente até prisão perpétua, Billy começa a perder as esperanças e a própria sanidade.

A cena em que Billy enlouquece, após Rifki caluniar Max para Hamidou, é devastadora. Quem viu sabe. A bela Irene Miracle e o emocionado Mike Kellin completam o elenco como a bela namorada e o pai de Billy. Oscar de melhor trilha sonora para Giorgio Moroder, que compôs um tema triste, forte e inesquecível. O disco vendeu como água no deserto, na época do lançamento.

Como dizia uma ex-namorada minha, "Alan Parker é um tremendo filho da puta, mas é um grande cineasta. Isso é o que dá mais raiva nele. O canalha sabe fazer cinema!"... Não concordo com ela quanto a ele ser canalha, mas que esse filme é racista, isso é! E que Alan Parker sabe fazer cinema, isso também! "Midnight Express" foi meu primeiro filme proibido para menores de 18 anos, visto no cinema com 14, em Belém do Pará, em julho de 1979. No dia seguinte assisti a "O Franco Atirador", de Michael Cimino, também proibido para menores de 18 anos. E também li o livro de Billy Hayes. Sem dúvida foi um filme que me marcou muito, especialmente a trilha sonora, que eu ouvia sem parar por meses seguidos, e que ecoava nas rádios e nas lojas de discos de todas as cidades.

Atenção para o poster brasileiro do filme. Sempre que possível postarei as versões nacionais dos cartazes de filmes estrangeiros comentados aqui, como já fiz em "Um Passe de Mágica".

FÊNIX, de Henning Boëtius


Description:
Jornalista sueco, dado como morto no incêndio do dirigível alemão Hindenburg - ocorrido em New Jersey (EUA) em maio de 1937 - decide, dez anos depois, investigar as causas do acidente. Para tanto, vai atrás do homem que estava no leme de elevação no momento da tragédia.

Ingredients:
Acabei de ler o livro há alguns minutos. Sempre volto ao Hindenburg, da mesma forma que volto ao R.M.S. Titanic. Sou como o capitão Ahab, de "Moby Dick", obcecado, em busca de um passado que só vivi em vidas anteriores. Sinto-me como o protagonista do livro agora, em paz com a explicação da catástrofe do Hindenburg, mesmo que ela seja fictícia. Num caso desses, quem poderá dizer o que realidade e o que é ficção?

Libero-me da função de escrever uma crítica ou mesmo uma resenha, e deixo aos meus leitores estas duas análises pescadas na internet, que definem de forma competente a qualidade do texto de Henning Boëtius.

Só digo uma coisa: para quem ama narrativas que misturam ficção e História, "Fênix" é um banquete. E para quem já flutuou a bordo do LZ-129 como eu, é uma viagem emocional a outras vidas, outros tempos.

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Ficção e realidade
por Rinaldo Gama

Só há dois motivos para se ler uma história sobre a qual já se falou à exaustão: a apresentação de fatos novos ou o talento do autor. "Fênix", do alemão Henning Boëtius (1939), traz de volta, sem maiores novidades, um assunto para lá de explorado: a tragédia do dirigível Hindenburg, um dos orgulhos nazistas, que no dia 6 de maio de 1937 incendiou-se em New Jersey, perto de Nova York, horas depois de se exibir para a população de Manhattan. O interesse pelo livro fica assim por conta das habilidades de Boëtius; não se trata de um prodígio estilístico, mas é inegável a capacidade do autor em combinar ficção e realidade. Filho de um sobrevivente do desastre - seu pai, Eduard Boëtius estava no leme de elevação do zepelim na hora do acidente - Henning teve uma privilegiada ajuda para reconstituir o que se passou naquela inesquecível viagem. Com base nas preciosas informações do pai, o escritor põe em cena um jornalista sueco que, dez anos depois da tragédia, vai até Roma procurar uma mulher que conhecera no Hindenburg e por quem se apaixonara; após o reencontro, ele se lança decisivamente no encalço das causas do desastre - sempre duvidou das versões oficiais e aposta que o incêndio do dirigível foi provocado. A fim de passar a história a limpo, o jornalista viaja até uma ilha do Mar do Norte para se encontrar com o homem que estava no leme de elevação quando tudo aconteceu. Não se aflija em esclarecer o que é certeza e o que se resume a meras suposições - lembre-se que o livro foi escrito para ficar na estante de ficção.

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Rising from the ashes of the Hindenburg
review by James Neal Webb

These times of uncertainty make the story of a legendary disaster simultaneously important and irrelevant. Irrelevant because the immediacy and pain of the current situation render any comparison to previous tragedies superfluous; important because the impact such events have on individual lives can touch us today. "The Phoenix", a novel about the 1937 crash of the Hindenburg, is such a story.

German writer Henning Boëtius actually tells two stories in "The Phoenix". The first is that of Edmund Boysen, a sailor turned dirigible pilot, a man whose quest for the clouds mirrors his quest to better himself in society. He is a golden boy, and his golden life is shattered one fateful evening in Lakehurst, New Jersey. The second story, wrapped around the first, is that of Birger Lund, a reporter and passenger on the ill-fated flight. Horribly disfigured and presumed dead, Lund gets a new face and a new identity, and he is determined to discover what actually happened on the Hindenburg.

Boëtius has impeccable credentials when it comes to this subject. His father was the last surviving member of the crew and was at the controls the night of the crash. Boëtius grew up hearing the stories and theories of those events.

It's been widely said that the Titanic's demise marked the beginning of the modern age, but in portraying the Hindenburg tragedy, Boëtius has captured another important turning point. Boysen is a man who wears his past like a scar, while Lund, who is scarred, sheds his skin both physically and metaphorically to face the new age. "The Phoenix" is a moody, enthralling voyage into a past that isn't so far away and a future that is continually being remade.

Directions:
"Fênix" ("Phöenix aus Asche"), de Henning Boëtius. Tradução de Lya Luft. Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001.

quinta-feira, 18 de novembro de 2004

"O HOMEM ELEFANTE" ("The Elephant Man", 1980), de David Lynch

Rating:★★★★★
Category:Movies
Genre: Drama


Direção: David Lynch
Roteiro: David Lynch, Eric Bergren, Christopher de Vore, baseado no livro de Ashley Montagu e Frederick Treves
Produção: Stuart Cornfield, Jonathan Sanger, Mel Brooks / BrooksFilms, Paramount
Fotografia: Freddie Francis
Montagem: Anne V. Coates
Música: John Morris, Samuel Barber
Direção de Arte: Robert Cartwright, Stuart Craig
Elenco: John Hurt, Anthony Hopkins, Anne Bancroft. John Gielgud, Wendy Hiller, Freddie Jones, Kenny Baker

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"I`m not an animal! I`m a human being! I... AM... A MAN!"
(John Merrick)

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Sir Anthony Hopkins também trabalhou neste que foi o segundo longa-metragem de David Lynch. Num apropriado preto e branco, “O Homem Elefante” conta a história verídica de John Merrick (John Hurt, numa interpretação extraordinária debaixo de quilos de maquiagem pesada por todo o corpo!), um infeliz cidadão inglês cuja doença – neurofibroplasmose generalizada (médicos e estudantes de medicina, por favor corrijam-me se eu estiver errado! Lembro desse nome apenas de memória) – o transformou numa aberração humana na segunda metade do século 19. Explorado num circo de horrores por um comerciante inescrupuloso (Freddie Jones) e depois resgatado por um médico misericordioso, Dr. Frederick Treves (Sir Anthony Hopkins), que o tratou e tentou dar a ele uma vida digna no London Hospital. Auxiliado também pelas visitas da Srta. Kendal (Anne Bancroft), que demonstra por ele extrema compaixão, Merrick aos poucos vai se sentindo como realmente era, um ser humano e não um animal de circo.

Inusitadamente produzido pelo mestre da comédia satírica americana Mel Brooks (e marido de Anne Bancroft), “O Homem Elefante” é um filme muito triste e tocante. Com ele David Lynch alavancou sua brilhante carreira e, mesmo trabalhando em cima do roteiro de outra pessoa, já mostrou aqui a que veio.

Assisti esse belo filme no saudoso cine Veneza, na avenida Pasteur, na Praia de Botafogo, aqui no Rio, com 15 anos de idade. E foi o primeiro filme que me fez chorar depois que abandonei a infância. Gostaria muito de revê-lo. Com suas atuações em "O Homem Elefante", "Alien" e "O Expresso da Meia-Noite", John Hurt se tornou um dos meus cult-atores desde então.

quarta-feira, 17 de novembro de 2004

WERNER HERZOG




Há exatamente 18 anos, o cineasta alemão Werner Herzog veio ao Brasil e deu uma palestra no Cineclube Estação Botafogo, no RJ. Nessa época eu já era fã de carteirinha de sua obra e alguns dos seus estranhos e oníricos filmes já tinham se instalado no meu subconsciente. Depois de Wim Wenders, ele era - e é - meu diretor alemão favorito.

Eu já tinha saboreado alguns de seus filmes mais marcantes no saudoso Cineclube Macunaíma, no auditório da ABI, na rua México, na Cinemateca do MAM, no Cine Arte UFF, em Niterói e no próprio Estação Botafogo. Apesar de alemão, Werner Herzog sempre foi um cineasta do mundo, literalmente. Filmou na Amazônia latino-americana, na Austrália, na África, numa ilha do Pacífico, nos Estados Unidos, e sabe deus lá mais onde. Seus filmes nos dão uma sensação estranha, de estar dentro de num sonho, onde a essência do ser humano é quase sempre questionada, e o que conhecemos do mundo é posto à prova por seus personagens e situações. O vigoroso "Aguirre, a Cólera dos Deuses" (1972), com Klaus Kinski e Ruy Guerra, sobre a invasão espanhola na América pré-Colombiana... o surpreendente "O Enigma de Kaspar Hauser" (1974), com Bruno S., sobre um homem que foi criado como animal por anos e teve que aprender a ver o mundo com os olhos da sociedade (cujo título original é uma frase de "Macunaíma", de Mário de Andrade: "Cada um por si e Deus contra todos"), mas que ao contrário de um Tarzã, mostra que a sua lógica é especial... o lírico "Coração de Cristal" (1976), filmado com não-atores, num pequena vilarejo alemão onde a maioria da população fabrica vidro para viver, e onde todo o elenco foi hipnotizado para as filmagens (lembro bem de uma frase solta: "o vidro tem uma alma muito frágil")... o melancólico "Stroszeck" (1977), com Bruno S., sobre um homem solitário e sem lugar no mundo tentando a vida na América... o lúgubre "Nosferatu, o Vampiro da Noite" (1979), com Klaus Kinski, Isabelle Adjani e Bruno Ganz, bela refilmagem do clássico de 1922 de F. W. Murnau, com a visão singular de Herzog sobre o mito do vampiro... o violento "Woyzeck" (1979), com Klaus Kinski vivendo o soldado alemão embrutecido... o impactante "Fitzcarraldo" (1982), com Klaus Kinski, José Lewgoy, Claudia Cardinalle e Grande Otelo, onde um insano barão da borracha e amante da ópera faz atravessar um navio sobre uma montanha em plena Amazônia, para poder construir uma ópera na selva...

Werner Herzog e sua parceria de amor e ódio com o ator Klaus Kinski, pai de Nastassja Kinski... Herzog e seu cinema nômade, sua paixão pelos rejeitados da sociedade, pela loucura, pelo impossível. Tudo isso mostrado sempre com carinho e admiração, e sempre através de uma beleza plástica impecável, extraordinária. Nunca esqueci o maior conselho dele, ao ser perguntado por um jovem estudante sobre o que deveria fazer para começar a fazer filmes. "Se não tiver dinheiro, roube uma câmera. E filme. Sempre e muito", soltou ele.

Neste mesmo dia conheci minha quarta namorada (com quem namorei um ano e meio), no meio do saguão lotado do Cineclube Estação Botafogo. E foi com essas fotos de Werner Herzog que também inaugurei minha câmera fotográfica profissional, minha boa e velha Nikon FM-2, que nunca me faltou em todos estes anos. É, o cinema sempre pontuando a minha vida.

quinta-feira, 11 de novembro de 2004

3º FESTRIO - 1986




3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA, TV E VÍDEO DO RIO DE JANEIRO - De 20 a 29 de novembro de 1986.

Dois dos três cartazes oficiais do festival (foto 1 e 2).

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Em 1986 acabou-se para mim o trabalho de “leão-de-chácara” do mercado de filmes do FestRio. Nesta terceira edição do festival eu trabalhei como repórter da Revista Cinemin, onde comecei a trabalhar como crítico nesse mesmo ano (até 1990, onde assinei a seção mensal de cinema fantástico). Mais uma vez o Hotel Nacional sediou o festival (foto 3), que se espalhou por vários cinemas da cidade, entre eles o saudoso Ricamar (foto 4), hoje Sala Baden Powell.

Fiz a cobertura das palestras dos convidados. E olha que nesse ano veio convidado que não acabava mais! O japonês Nagisa Oshima, diretor do polêmico “O Império dos Sentidos” (fotos 5 e 6)... o iugoslavo Dusan Makavejev, diretor de “Montenegro – Pérolas e Porcos” e “The Coca-Cola Kid” (foto 7)... o ator Klaus Maria Brandauer, de “Mephisto”, “Coronel Redl” e “007 – Nunca Mais Outra Vez” (fotos 8 e 9)... o francês Roger Vadim, diretor de “Barbarella” e “E Deus Criou a Mulher” (e ex-marido de Catherine Deneuve, Jane Fonda e Brigitte Bardot) (fotos 10 e 11)... o americano Jim McBride (foto 12), diretor de “A Força do Amor”, com Richard Gere e Valerie Kaprisky (cujo postal foi devidamente autografado por ele, foto 13) e que veio apresentar “Ajuste de Contas”, com Dennis Quaid...

O 3º FestRio abriu com o filme “Uma Janela Para o Amor”, de James Ivory (foto 14) e o curta-metragem “It’s All True”, de Orson Welles e Richard Wilson (foto 15, com a equipe), com o material inédito do que sobrou do filme de Welles no Brasil sobre os jangadeiros. Para encerrar o festival foram escolhidos o curta “A Espera”, de Maurício Farias e Luís Fernando Carvalho, com Diogo Vilela, Marieta Severo e Malu Mader, e o longa de estréia do músico David Byrne, “Histórias Reais” (foto 16), com John Goodman.

David Byrne (foto 17) – ex-líder da banda Talking Heads – também veio ao 3º FestRio, acompanhado do diretor Jonathan Demme (nas fotos 18, 19, 20 e 21) e da figurinista e atriz Adelle Lutz (nas fotos 19, 20, 21 e 22). Demme, mais famoso por ter ganho o Oscar em 1990 com o seu “O Silêncio dos Inocentes”, veio mostrar o documentário musical “Stop Making Sense” (foto 23), sobre uma turnê dos Talking Heads de David Byrne. Eu peguei um autógrafo dele na capa do LP (foto 24), mas esqueci de pegar um de Byrne. Adelle Lutz também faz parte da trupe. Trabalhou com Demme atuando em “Totalmente Selvagem” e “O Silêncio dos Inocentes” e com Byrne em “Histórias Reais” e nos shows do Talking Heads como figurinista. E em 1987, os dois se casaram.

Outro que esteve por aqui foi o controverso diretor americano Spike Lee (fotos 25 e 26), trazendo seu primeiro filme, “She’s Gotta Have It”, debaixo do braço. Lee parecia entediado o tempo todo e não esboçou um sorriso sequer durante todo o festival. Foi o Dennis Hopper – “troféu antipatia” – de 1986.

Para contrabalançar, a convidada especial da Mostra Olhar Feminino foi a presença mais luminosa de todo o 3º FestRio: a extraordinária Laurie Anderson (fotos de 27 a 34). Compositora, cantora, violinista, cineasta, artista plástica, e mais algumas outras coisas, Laurie Anderson deu uma palestra concorridíssima e apresentou seu filme-show “Home of the Brave” (foto 35). Eu tive a sorte de assisti-lo na mesma sessão que ela, num dos cinemas do Shopping Fashion Mall, bem atrás da minha musa. E durante a palestra eu fiquei sentado no chão diante de miss Anderson, fotografando sem parar, com uma camiseta do "Rumble Fish" (foto 33). Logo atrás de mim, sentadas na primeira fileira, minha ex-namorada Roni Filgueiras e minha grande amiga Cláudia Dottori, prestavam atenção na palestra. É claro que não deixei de pegar um autógrafo de Laurie Anderson na capa do LP “Big Science” (foto 36). “Hello Oswaldo! From Laurie Anderson”. :-D

Entre os filmes mais marcantes do 3º FestRio estavam “After Hours”, de Martin Scorcese (bizarramente traduzido aqui como “Depois de Horas”, foto 37), com Griffin Dunne e Rossana Arquette; “Down By Law”, de Jim Jarmusch (outra “tradução” dantesca: “Daunbailó”, foto 38), com Roberto Benigni, Tom Waits e John Lurie; “Sid e Nancy – O Amor Mata”, de Alex Cox (foto 39), com Gary Oldman; “Sugar Baby” (que virou “Estação Doçura” por aqui), do alemão Percy Adlon (foto 40), com a gordinha Marianne Sägebrecht, que ficou mais famosa por “Bagdá Café”, do mesmo Adlon; “O Declínio do Império Americano”, do canadense Denys Arcand (foto 41), o mesmo do recentemente aclamado “As Invasões Bárbaras”; e “Betty Blue”, do francês Jean-Jacques Beineix (foto 42), com Béatrice Dalle e Jean-Hughes Anglade, que virou um retumbante cult movie da Geração Estação Botafogo logo depois.

Entre os brasileiros, o grande destaque foi para o lançamento de “Ópera do Malandro”, de Ruy Guerra, com Cláudia Ohana (os dois na foto 43), Edson Celulari e Ney Latorraca, com roteiro de Orlando Sena (hoje Secretário de Cultura do governo Lula). A equipe também deu uma entrevista coletiva que lotou o auditório (foto 44). Também foi em 86 que o curta-metragem brasileiro “Frankstein Punk”, de Eliana Fonseca e Cao Hamburger (foto 45) estreou com imenso sucesso de crítica e de público. E deu aos diretores o prêmio de melhor curta do festival (foto 46). Aliás, muito merecido, pois sem dúvida é um dos melhores e mais divertidos curtas dos anos 80.

Além de “Frankstein Punk” e da atriz francesa Sabine Azema, que ganhou o Tucano de Melhor Atriz pelo filme “Meló”, de Alain Resnais (foto 47), não me lembro das premiações do 3º FestRio – até porque não fotografei. Mas lembro bem que, como quase tudo no Brasil, o festival acabou em samba, com uma apresentação de uma Escola de Samba carioca no palco do cine-teatro do Hotel Nacional (foto 48).

Por enquanto é só, pessoal! :-)

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P.S.: TODAS as fotos postadas aqui, com exceção dos posters de filmes, dos cartazes do festival e das fotos onde apareço, são de minha autoria e não devem ser reproduzidas sem a minha expressa autorização. Obrigado.

quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Conto (5): "A PATA DO MACACO", de William W. Jacobs


Uma coisa que já notei aqui no Multiply é que muita gente costuma postar poesias de seus autores favoritos. Tem muita poesia pelas páginas do Multiply, e isso é muito bom! Também adoro poesia. Drummond, Pessoa, Quintana e (por que não?) Edgar Allan Poe são meus poetas do coração. Além é claro dos brilhantes letristas de músicas que temos no Brasil e pelo mundo afora, velhos e novos. E os poetas que escrevem em prosa, como Clarice Lispector ou o meu "guru", o escritor Julio "imenso cronópio" Cortázar.

Porém existe um outro formato literário que me fascina e me apaixona bem mais que a poesia: o conto. Como dizia Cortázar, comparando a literatura ao boxe: "enquanto no romance você conquista o leitor por rounds, no conto você deve abatê-lo por nocaute", ou algo assim. Na minha modesta opinião de ávido leitor desde criança o conto é o formato literário perfeito, o mais rápido, eficaz, chocante, gratificante, beatífico. Na minha experiência pessoal contos marcam mais que romances, apesar destes também serem fundamentais em nossas vidas, e em nosso amadurecimento e bagagem cultural.

Além disso meu gênero preferido sempre foi o terror psicológico. E nesse meio as penas de talento são muitas: Poe, H. P. Lovecraft, Guy de Maupassant, Lord Dunsany, Paul Verlaine, Ray Bradbury, Robert Bloch, John Russell, Fredric Brown, Richard Matheson, Stephen King... todos eles com algumas pérolas que não deixam o leitor dormir à noite só de lembrar uma frase, um diálogo, um parágrafo.

Cresci lendo os contos de Edgar Allan Poe, mas na adolescência descobri todos esses outros e elegi meu mestre supremo na arte de apavorar através do conto o norte-americano Howard Phillips Lovecraft, com sua vasta mitologia de criaturas ancestrais, de coisas indescritíveis, de situações indizíveis. E junto com ele um séquito de grandes autores aguarda para ser redescoberto...

Pretendo usar este espaço aqui - entre outras coisas - para dividir com vocês alguns dos contos mais brilhantes, fascinantes e horripilantes que já li. Já soltei uma boa dose de poesia em prosa postando contos curtos de Cortázar, do livro "Histórias de Cronópios e de Famas". Agora é hora de partir para algo totalmente diferente.

Agora é hora de se ver numa sala antiga, de uma cidade do interior, com uma enorme mesa de madeira crua, cadeiras de balanço, tábuas que rangem, o cômodo iluminado pela luz fraca e insegura de lampião. Você acabou de jantar uma refeição deliciosa, cercado de parentes e pessoas queridas, mas o sono já vem chegando. O relógio-cuco na parede avisa que já é tarde e mesmo que você adore varar a noite nas festas e boates da cidade grande, aqui o sono se insinua antes da hora. Pelas janelas de madeira com a tinta descascando você percebe que a escuridão é quase total lá fora, a não ser pela luz amarelada de um poste velho. E é nesse momento que seu avô ou aquele tio bacana que você certamente tem - resolve contar um "causo" que lhe aconteceu. Ou uma história estranha ouvida não sei de quem, não sei aonde. Uma história perfeita para um momento como esse...

O primeiro conto de horror que compartilho com vocês é o clássico "A Pata do Macaco", do escritor e dramaturgo inglês William W. Jacobs. Durante muitos anos esse conto me deixava com tanto medo que não conseguia dormir. Hoje o saboreio como uma iguaria primorosa, porém ainda sutilmente medonho e que atiça imaginação de forma devastadora.

Damas e cavalheiros, basta clicar no título do conto acima e deixar a mente aberta...

E nunca se esqueça de duas regras básicas em relação a seus desejos: muito cuidado com o que você deseja, pois você pode consegui-lo. E tudo na vida tem um preço a ser pago. Algumas vezes esse preço pode ser caro demais...

Depois faça o obséquio de deixar suas impressões aqui...

Boa noite. E bons sonhos. Se conseguirem.



(À esquerda, pintura sobre o conto; à direita, cena do curta-metragem "The Monkey's Paw", 2003, da Tribalfilm Entertainment, baseado no conto de W. W. Jacobs e ganhador de vários prêmios internacionais)

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

MUNDOS CIBERNÉTICOS


Quando vejo o mundo virtual se dividindo em sistemas estanques - listas de discussão, fóruns, Orkut, Multiply, etc. -, começo a me lembrar de como comecei na internet e de como muita coisa na vida real da gente funciona de forma parecida.

Meu pai morreu em 1994 insistindo para que eu comprasse um computador, e eu teimava em dizer que minha Olivetti Lettera e minhas enciclopédias davam conta do recado muito bem obrigado. No ano seguinte, minha mãe insistiu e eu acabei comprando um computador, este aqui ainda, primeiro e único, um 486 IBM Aptiva hoje recauchutado para pentium 150. Em 1996 entrei na internet.

Logo fui apresentado às listas de discussão do Yahoo e do MSN, mas não gostei do segundo. Apostei minhas fichas no Yahoo, entrei em várias listas e criei algumas. Conheci muita gente, fiz amigos virtuais que não tardaram a se tornar reais. Amizades verdadeiras, algumas que passaram, outras que se desenvolveram. Acabei me acostumando às listas e gostando cada vez mais delas.

Um dos meus objetivos na internet era montar um site pessoal, para colocar meu portfolio fotográfico, alguns dos meus textos publicados, outros não, enfim, minha cara profissional e pessoal para ser mais conhecido e principalmente para ver se isso me rendia algum emprego. Como não entendo patavinas de html ou de qualquer outra linguagem cibernética, e vi que precisava de alguém para montar um site, fui protelando esse projeto a perder de vista.

Ano passado fui apresentado aos fóruns de discussão. O formato é mais interessante do que o das listas, pois permite-se criar tópicos estanques e manter as discussões separadamente em assuntos diversos. Interessante, pensei eu. Soube que já existiam há anos, mas entrei em um pela primeira vez no início de 2003. Em um não, em uns três pelo menos. Muitas discussões acaloradas, muita gente vazia, muitos "achismos", muita baboseira. É claro que nas listas isso tinha também, só que em menor escala. E na vida a gente acha muito de tudo isso também. Bem, foi tamanha a encheção de saco que em menos de um ano me cansei dos fóruns e das discussões que não levavam a lugar nenhum.

Aí vieram os tais weblogs. "Diários na rede" ou "blogs" como se chamam hoje em dia. Ao contrário da maioria das pessoas, eu fujo de novidades. Detesto modismos e unanimidades (e viva Nelson Rodrigues!). Abomino blogs pelo caráter retardado de "meu querido diário" que a maioria das pessoas dá a eles. O problema não é o formato, que nada mais é do que um espaço para postar notícias, textos, novidades em geral. O problema é a cabeça da maioria das pessoas que possuem blogs, alardeando aos quatro ventos como ama Bon Jovi, que brigou com a melhor amiga e como curtiu o último show da banda favorita. Revelando segredos que ninguém quer saber, expondo a própria vida e a vida alheia de forma inconseqüente, xingando os desafetos "pelas costas" como se qualquer um não pudesse acessar as informações. Parece que as pessoas ficam burras e medíocres com certas modernidades... Dos blogs que conheço só respeito, admiro e recomento três: "Uma Dama Não Comenta" (de humor de primeira, da minha amiga Gaby), "Terceira Base" (de críticas e comentários culturais, do Hiro) e o do Ricky Goodwyn, com comentários culturais e políticos (que não sei o nome, Ricky).

No fim do ano passado me mostraram os fotologs. "Olha que legal, dá para por foto sem entender nada de html!", mas aquilo não me cheirava bem. Resisti aos fotologs por achá-los nada mais do que "blogs com fotos". Preconceito idiota meu (e pleonasmo também). Até que me toquei que sou fotógrafo e, apesar de não ter uma câmera digital (principal motivo para a disseminação em massa dos fotologs), eu tenho um imenso acervo de fotos e um scanner. Bingo! Fiz quatro fotologs de uma só vez, um pessoal e os outros temáticos. Sendo que meu fotolog pessoal tenta ser um referencial para as pessoas que viveram as mesmas coisas que eu, em outros tempos. Enfim, um alfarrábio de memórias boas e nostálgicas.

Porém, apesar de ter baixado a guarda ao fotolog, quando vieram o Orkut e o Multiply resisti mais ferrenhamente, como um basco radical à invasão estrangeira. Ou como um último combatente de guerra que duvida que a guerra acabou. O Orkut, com suas "comunidades" (que pra mim continuam sendo coisa de Lecy Brandão...) pareciam os velhos fóruns e listas de discussão com cara nova, lerdeza e travação ímpar e se auto-proclamando a última novidade da moda. O Multiply, com sua cara de "decifra-me ou te devoro" parecia inescrutável. Apesar da minha resistência indignada, acabei entrando nos dois pelo mesmo motivo que muita gente: não aguentava mais receber convites, que entupiam minha caixa postal. Hoje dou minha cara à tapa.

No Orkut reencontrei velhos amigos e colegas de faculdade, perdidos há mais de 15 anos, ganhei um CD especialíssimo que eu queria muito e que nunca foi lançado no mercado e conheci gente muito bacana, virtual e pessoalmente. E no Multiply encontrei minha casa virtual, pois aqui realizei - ou estou realizando - meu projeto de ter um site pessoal. Hoje posto minhas fotos, meus textos, estou montando meu portfolio e colocando um pouco das minhas opiniões e trabalhos para quem quiser ver.

No fim das contas, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. E valeu a pena.

Mas PELAMORDEDEUS, não me venham falar em Link ou em qualquer outra novidade cibernética que eu passo chumbo que nem o velho caipira Urtigão da Disney!!! >:-P

"UM PASSE DE MÁGICA" ("Magic", 1978), de Richard Attenborough

Rating:★★★
Category:Movies
Genre: Mystery & Suspense


Direção: Richard Attenborough
Roteiro: William Goldman, baseado no seu próprio livro
Produção: Joseph E. Levine, Richard Levine, C. O. Erickson / 20th Century Fox
Fotografia: Victor J. Kemper
Montagem: John Blom
Música: Jerry Goldsmith
Direção de Arte: Richard J. Lawrence, Terence Marsh
Elenco: Anthony Hopkins, Ann-Margret, Burgess Meredith, Ed Lauter, E. J. Andre

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"Nós só fomos você. Fomos você tempo todo!"
(Fats, o boneco)

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Burgess Meredith (que já foi o Pingüim do seriado "Batman") sobreviveu à explosão d"O Dirigível Hindenburg" e veio parar neste ótimo suspense com toques de terror psicológico. Para quem acha que Hannibal Lecter foi o primeiro psicopata que Anthony Hopkins já encarnou no cinema, veja este filme!!!

Em “Um Passe de Mágica” Hopkins é Corky Withers, um brilhante mas perturbado ventríloquo, que se esconde por trás da forte personalidade de seu boneco Fats. Corky é tímido e Fats terrivelmente abusado. E quando o sucesso bate à porta, Corky foge assustado para sua cidade natal, onde uma velha paixão reprimida de adolescência o espera, a voluptuosa Peggy Ann Snow (Ann-Margret). Só que agora ela está casada e leva uma vida medíocre ao lado do marido (Ed Lauter), o ex-valentão e esportista da escola. Ela toma conta de uma série de cabanas à beira de um lago gelado e Corky se hospeda numa delas. Enquanto Corky e Peggy vão refazendo seus laços, Ben Greene, o empresário dele (Burgess Meredith) o localiza e vai em seu encalço para fazê-lo cumprir um contrato milionário. Só que Corky começa a perder o controle de si próprio e Fats - o seu Mister Hyde pessoal - vai se insinuando para controlar a situação.

"Um Passe de Mágica" ganhou o Edgar Allan Poe Award de melhor filme em 1978. Anthony Hopkins tem uma atuação excepcional, especialmente pelos mesmos méritos que fizeram seu Hannibal Lector tão assustador mais de uma década depois: seu trabalho vocal. Além de viver o ventríloquo Corky, Hopkins também faz a voz do boneco Fats com maestria rara e com timbres que dão calafrios.

A trilha sonora é do mestre Jerry Goldsmith, um dos meus compositores favoritos. Roteiro do ótimo William Goldman, baseado em seu romance. E direção de Sir Richard Attenborough, o mesmo autor de "Gandhi", "A Chorus Line", "Uma Ponte Longe Demais" e "Chaplin", e ator de "Jurassic Park" (o velho John Hammond, dono do Parque dos Dinossauros) e outros filmes.

"Um Passe de Mágica" foi o último filme que assisti no cinema São Luiz, no Largo do Machado, quando ainda era um cinema só, com um grande salão e um lustre gigantesco pendendo do teto, antes de ser fechado e subdividido em duas salas (isso bem antes de ser transformado em 4 salas). Lembro bem que nessa época a entrada era pela galeria comercial da rua Machado de Assis, por causa das obras do metrô. Também lembro que provei Hall`s Cherry Liptus (o Hall`s de cereja) pela primeira vez assistindo ao filme, e ela se tornou minha bala favorita para ir ao cinema depois disso. Tive esse poster pendurado ao lado da minha cama por algum tempo. Confesso que sentia medo desse boneco me olhando. Mas também adoraria ter um "Fats" igual e aprender ventriloquismo, pra botar medo nos outros, hehehe!

Aos interessados em filmes de terror psicológico (ou mesmo sobrenatural) sobre ventríloquos e seus sinistros bonecos, recomendo o último episódio do assustador "Na Solidão da Noite" ("Dead of Night", 1945), de Alberto Cavalcanti, com Michael Redgrave; "Gabbo, o Grande" ("The Great Gabbo", 1929), de James Cruze, com Erich von Stroheim; e dois episódios da série de TV clássica "Além da Imaginação" ("The Twilight Zone", 1959-64), "The Dummy" (62) e "Caesar and Me" (64). E depois tentem dormir.

terça-feira, 2 de novembro de 2004

2º FESTRIO - 1985




2º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA, TV E VÍDEO DO RIO DE JANEIRO - De 21 a 30 de novembro de 1985.

Capa do catálogo de Fernando Pimenta (foto 1)

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O 2º FestRio aconteceu no mesmo lugar e da mesma forma que o primeiro. E eu estava lá, trabalhando novamente como controlador de acesso do Mercado de filmes (fotos 2 e 3). Só que para mim, não tinha o mesmo sabor do ano anterior. Eu estava sozinho, não tinha mais a Cristina, e se não me engano, nem tinha mais a "Folha do Festival/Festival News" onde ela tinha trabalhado em 84. Foi um festival um tanto melancólico para mim.

Trabalhei com uma equipe bacana, com várias meninas lindas, charmosas, inteligentes e interessantes (fotos 4 e 5), porém não "rolou" nada. A única coisa que ganhei foi a amizade da Soraia (a da frente na foto 6), que mais tarde foi minha professora de fotografia.

Entretanto a oferta de filmes desse segundo ano foi excelente. Talvez não em quantidade como são os festivais de hoje em dia, mas em qualidade. O filme de abertura foi "Ran", de Akira Kurosawa, a versão do "Rei Lear" de Shakespeare transposta para o Japão feudal (foto 7). A sessão de gala foi à noite, novamente no Cine Veneza, na avenida Pasteur (que continua fechado até hoje). Porém eu consegui assisti-lo no cine-teatro do Centro de Convenções do Hotel Nacional, pela manhã do dia 21 de novembro. Além do filme - extraordinário -, a cópia e a projeção me impressionaram e me marcaram muito. Até hoje lembro nitidamente do ruído do trote dos cavalos sobre a grama na cena de abertura, a caça ao javali (foto 8). Não parecia que eu estava num cinema, mas sim participando da caçada, de tão nítidos que eram os sons.

Os convidados do 2º FestRio foram muitos e de várias partes do mundo. Para compor o júri de longas-metragens vieram o ator italiano Gian Maria Volonté (foto 9), o diretor chileno Miguel Littin, a atriz francesa Bernadette Lafont, o escritor angolano Luandino Vieira, a atriz e diretora brasileira Norma Bengell e o produtor Luís Carlos Barreto presidindo o júri. Além destes, também fazendo parte do time, a atriz Ellen Burstyn (foto 10) - mais conhecida como a mãe da endemoniada Regan de "O Exorcista" - distribuía autógrafos (e eu peguei, como pode ser visto na foto 11). E o simpático diretor húngaro István Szabó, de "Mephisto", bateu um papo com sua "tiete", nossa querida jornalista Susana Schild (foto 12). Szabó trouxe seu último trabalho para o 2º FestRio, o contundente "Coronel Redl", com o ótimo Klaus Maria Brandauer (foto 13).

Convidada para a Mostra Olhar Feminino, a bela diretora norte-americana Susan Seidelman deu o ar de sua graça (foto 14) e participou de um debate com o públicoo após a exibição de seu "Smithreens" ("Estilhaços"). Susan é mais conhecida por ter dirigido o filme "Procura-se Susan Desesperadamente", com Madonna, Rosanna Arquette e Aidan Quinn.

Entre os filmes mais interessantes do 2º FestRio estavam os brasileiros "Brás Cubas", de Júlio Bressane, com Luís Fernando Guimarães, Bia Nunes, Regina Casé, Ankito e Karen Accioly (na foto 15), baseado no livro de Machado de Assis, e "Nem Tudo É Verdade", de Rogério Sganzerla, com o músico Arrigo Barnabé encarnando o cineasta Orson Welles no episódio que este viveu no Brasil dos anos 40 (foto 16). Outro destaque foi para o filme "Frida", do mexicano Paul Leduc, bem diferente da recente versão hollywoodiana com Salma Hayek e bem mais fiel às raízes culturais da pintora latina (foto 17). Além disso teve "A História Oficial", de Luiz Puenzo, com Norma Aleandro; mostras em homenagem a Daniel Schmid, Manoel de Oliveira e Nikita Mikhalkov, com exibição de suas obras-primas "Cinco Tardes" e "Peça Inacabada Para Piano Mecânico". E nas pré-estréias do cinema americano vimos "Mishima", de Paul Schrader, "Rumble Fish", de Coppola, "Silverado", de Lawrence Kasdan, e "Picnic na Montanha Misteriosa" de Peter Weir.

O 2º FestRio terminou com um belo e envolvente filme do argentino Fernando Solanas, "Tangos, o Exílio de Gardel", com Marie Laforet, Miguel Angel Sola e o francês Philippe Leotard (fotos 18 e 19).

Porém eu terminei o festival com um pequeno grande filme gravado para sempre na memória. "O Estado das Coisas", de Wim Wenders, foi exibido na Mostra Geração Bruni Ipanema / Midnight Movies (no cinema de mesmo nome, em frente Praça Nossa Senhora da Paz, hoje fechado) 5 vezes e eu vi todas as cinco. Sendo que só estava programado para passar quatro vezes. A quinta foi para cobrir um filme que não veio. E eu estava lá. Em transe, hipnotizado pelo filme. E tanto enchi o saco do gerente do Bruni Ipanema que consegui o poster original em francês no final do festival, "L'Etát des Choses" (foto 20), que ficou muitos anos pendurado aqui no meu quarto, entre "O Amigo Americano" e "Paris, Texas". Simplesmente me apaixonei pelo filme de Wenders, por suas imagens em preto e branco (fotos de 21 a 26), pela sua trilha sonora. Foi filmado na costa de Portugal, sobre uma equipe de cinema que tenta terminar um filme de ficção científica barato com um mínimo de liberdade criativa, sem a ditadura dos produtores. Um filme extremamente melancóico, que discute o cinema, a ficção, as narrativas e a condição humana diante do sistema. Minha frase pode até parecer lugar-comum, mas é sobre isso mesmo. E é um filme que eu jamais esqueci.

E assim termina meu relato sobre o 2º Festival Internacional de Cinema, TV e Vídeo do Rio de Janeiro, ocorrido entre 21 e 30 de novembro de 1985. Em breve, o 3º FestRio!!! ATÉ 1986!!! :-)

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P.S.: TODAS as fotos postadas aqui, com exceção dos posters de filmes, do catálogo do festival e das fotos onde apareço são de minha autoria e não devem ser reproduzidas sem a minha expressa autorização. Obrigado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2004

1º FESTRIO - 1984




1º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA, TV E VÍDEO DO RIO DE JANEIRO - De 18 a 27 de novembro de 1984.

Poster oficial de Fernando Pimenta (foto 1)

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Há quase 20 anos atrás acontecia o 1º FestRio. Criado e presidido pelo recém-falecido produtor Ney Sroulevich, sediado no hoje fechado Hotel Nacional, em São Conrado (foto 2), o FestRio foi o primeiro grande evento internacional de cinema a acontecer em terras cariocas, com exibição de filmes de todo o mundo em dezenas de salas pela cidade. Aliás numa época em que ainda havia cinemas de verdade pela cidade, cinemas de rua, e não cinemas de shopping. O público carioca lotou grandes salas para ver pela primeira vez na vida filmes que não teriam acesso comercial por aqui. Alguns deles foram lançados no 1º FestRio em avant-premiere mundial, como:

- Paris, Texas, de Wim Wenders (com a presença do diretor) (foto 3);
- 1984, de Michael Radford (com a presença do diretor) (foto 4);
- Prénom, Carmen, de Jean-Luc Godard, com Maruschka Detmers (fotos 5 e 6);
- Vivement Dimanche!, de François Truffaut, com Fanny Ardant e Jean-Louis Trintignant (foto 7);
- La Pirate, de Jacques Doillon, com Jane Birkin e Maruschka Detmers (foto 8);
- Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho (com a presença do diretor, ganhador do Tucano de Ouro do festival) (foto 9);
- Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio, com trilha de Philip Glass (foto 10);
- Mixed Blood, de Paul Morrisey, com Marília Pera (foto 11);
- Tausend Augen, de Hans-Christoph Blumenberg, com Barbara Rudnik;

entre dezenas de outros. O Hotel Nacional, de frente para a praia de São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro, foi a sede do FestRio, da primeira à última edição do festival, em 1988. Criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o hotel é um prédio cujo design se destaca na paisagem carioca. Nos anos 80, seu centro de convenções tinha uma grande área para exposições, onde ficava o Mercado, com estandes dos produtores e distribuidores nacionais e estrangeiros, cheios de folhetos, press-releases e cartazes de propagandas de filmes do mundo inteiro, que os visitantes podiam pegar à vontade. Foi exatamente ali onde eu trabalhei, como controlador de acesso (ou leão-de-chácara, como a gente dizia, apesar de não ter porte físico nenhum pra isso. Na época eu era bem magro até!).

Embaixo do Mercado ficava o cinema/teatro, um dos maiores e mais confortáveis auditórios de toda a cidade do RJ, com uma acústica perfeita, que lotava nas sessões de imprensa pela manhã e nas sessões para o público à noite. As premiações também aconteciam no auditório do centro de convenções, em noites de muita pompa e circunstância. Infelizmente o Hotel Nacional está fechado desde 1994, há exatamente 10 anos, e permanece com um destino ignorado. Será que algum grupo empresarial com simpatia pelo cinema não se interessaria em arrematar esta obra de Niemeyer?

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A noite de abertura foi no cinema Veneza, na avenida Pasteur (que hoje está fechado e promete reabrir como centro cultural em breve), com a exibição de Paris, Texas lotando a imensa sala de gente louca pra assistir ao filme do cineasta alemão Wim Wenders que tinha acabado de ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O próprio Wenders apresentou seu filme no palco do Veneza. E no final da sessão, duas horas e meia depois, ele e o filme foram aplaudidos de pé por vários minutos. Paris, Texas é um dos filmes mais emocionantes que já assisti e um dos filmes da minha vida.

Em novembro de 1984 eu já era um devoto do cinema de Wim Wenders. Meses antes eu tinha descoberto seus filmes em mostras no Cineclube Macunaíma e na Cinemateca do MAM, e era particularmente fascinado por "O Amigo Americano" (1977), que vi pelo menos oito vezes no cinema e que foi meu filme favorito por um bom tempo. Também adorava dele "Alice nas Cidades" (1973) e "Ao Passar do Tempo" (1976), e mais tarde virei um grande fã de "Hammett" (1982), "O Estado das Coisas" (1982) e "Asas do Desejo" (1987), que hoje considero um dos melhores filmes da História do cinema. Wenders veio ao Rio como convidado de honra do 1º FestRio e era um dos visitantes mais difíceis de se encontrar nos halls do Hotel Nacional, pois sempre passava por lá muito rápido, correndo de uma entrevista para outra, de um passeio para um compromisso. E para mim, fã de seus filmes, era uma das figuras que eu mais queria fotografar.

Como funcionário do festival, eu cumpria fielmente meus horários. Como estudante e amante do cinema, eu sempre andava com minha câmera presa à cintura, num coldre improvisado, pronto para disparar ao menor sinal de um cineasta, uma atriz, uma criatura do mundo de celulóide.

E foi num desses momentos fugazes que tive meu “duelo ao sol” com Wim Wenders, na escada de entrada que dá acesso ao saguão do hotel. Nos cruzamos ali, percebi de quem se tratava e saquei minha câmera. Ele descia rápido para entrar num carro, percebeu meu movimento em falso, se virou e por um segundo o mundo parou. Nos encaramos impassíveis, como num velho faroeste de John Ford. Uma fração de segundo que ao passar do tempo durou uma eternidade. Meu dedo coçou no gatilho. Ele percebeu o estado das coisas, que não tinha escapatória, que o tiro era inevitável. Porém, fez o imprevisível. Sorriu gentilmente, deu um pequeno aceno e se virou para fugir na diligência. Sem piscar eu disparei e capturei Wim Wenders com minha câmera.

Assim que revelei o filme fiquei frustrado com a foto, pois a luz era precária e ele só aparecia em silhueta. Mas depois passei a valorizar a foto justamente por isso, por ter um dos meus cineastas favoritos num perfil silhuetado, feito por mim. E até hoje gosto muito desta foto (foto 12).

Vale citar que três anos depois Wim Wenders virou a figura favorita dos “mudernos” e pseudo-intelectuais de plantão. Os freqüentadores do Cineclube Estação Botafogo transformaram o alemão no ícone da última moda. Eu que já era fã de sua obra, já tinha visto seus filmes várias vezes nos cineclubes da vida, e que sempre fui avesso a modismos, torcia o nariz para essas bobagens. Porém, como tudo passa, hoje me surpreendo com o fato de que as novas gerações de cinéfilos simplesmente ignoram a importância do cinema de Wim Wenders, tão cultuado, tão pouco visto e tão idolatrado há uns 15 anos atrás. Ao passar do tempo o estado das coisas muda muito. Sem trocadilhos.

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Falando nisso, uma das principais características do FestRio era trazer dezenas de convidados nacionais e internacionais, entre cineastas, atores, atrizes, produtores, que desfilavam pelas ruas do Rio promovendo seus filmes ao mesmo tempo em que eram seduzidos pelas belezas da Cidade Maravilhosa. Wim Wenders, Valerie Kapriskie (foto 13), Michael Radford, Sônia Braga, Dennis Hopper, Barbara Rudnik (foto 14, de costas), Harry Dean Stanton, Norma Bengell (foto 15, com minha amiga Marisa), Elia Kazan, Fanny Ardant, Ugo Tognazzi (foto 16), Eduardo Coutinho (fotos 17 e 18, ganhando o Tucano de Ouro por “Cabra Marcado Para Morrer”) eram apenas alguns dos convidados do evento.

Dois dos atores mais concorridos do 1º FestRio foram os norte-americanos Harry Dean Stanton e Dennis Hopper (fotos 19 e 20). Enquanto o primeiro era sempre simpático, o segundo ostentou uma carranca de antipatia durante todo o evento. Isso até me rendeu uma boa foto dele, com o dedo médio levantado (foto 21). Já de Harry Dean Stanton consegui um autógrafo duplo especial. Além do próprio nome, ele fez questão de assinar como Travis Clay Henderson, seu personagem de Paris, Texas, primeiro filme que protagonizou em toda sua longa carreira. Não é todo mundo que tem o autógrafo de um PERSONAGEM de um dos filmes favoritos! (foto 22)

Para quem não se lembra muito bem deles, Harry Dean Stanton mostra a cara na telona nas quatro últimas décadas, sempre em papéis secundários, geralmente de policial, bandido, capanga e coisas do tipo. Ele é uma espécie de Wilson Grey de Hollywood. Esteve em "O Poderoso Chefão II" como um agente do FBI, em "Alien" como o mecânico Brett, em "Fuga de Nova Iorque" como o meliante Brain, em "A Última Tentação de Cristo" como o apóstolo Paulo, em "A Espera de um Milagre" como o ‘testador de cadeira elétrica’ Toot-Toot.

Dennis Hopper dirigiu "Easy Rider" (onde também dirigiu uma Harley-Davison) e "Colors - As Cores da Violência", entre outros. Como ator esteve em "Juventude Transviada" com James Dean, "Assim Caminha a Humanidade" com Elizabeth Taylor, "O Amigo Americano" de Wim Wenders, "Apocalipse Now" de Francis Ford Coppola, "Veludo Azul" de David Lynch.

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Meu namoro com a Soninha foi uma loucura!... (foto 23) Brincadeirinha! Hehehe! Mas quem poderia resistir a um dos maiores ícones da cultura pop brasileira? “Gabriela”, Júlia Matos em “Dancin Days”, “O Beijo da Mulher Aranha”... e tudo começou numa ponta em “O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, e na professorinha Ana Maria de “Vila Sésamo”, quem diria!

Eu tinha 19 anos quando conheci Sônia Braga no 1º FestRio. O melhor ano da minha vida, o primeiro festival de cinema – internacional pra melhorar. 1984 foi o primeiro ano de muitas coisas boas na minha vida. Mas voltando à “Soninha”, além de super-charmosa e carismática, ela é uma simpatia. Foi logo me abraçando para a foto, se despediu com dois beijinhos e tudo isso sempre sorrindo.

Fico orgulhoso de ver uma atriz brasileira de talento como Sônia Braga alcançar o sucesso no exterior, e se destacar num mercado tão disputado como o do cinema e da televisão norte-americanos. Só lamento que ela nunca mais me escreveu, nunca mais mandou notícias, parece que para ela eu não passei de um caso de uma noite de verão... hehehe!

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Um dos meus livros favoritos na adolescência era o devastador 1984 de George Orwell, e fiquei muito entusiasmado quando soube que estavam fazendo uma adaptação cinematográfica dele para ser lançada no mesmo ano. O filme, dirigido pelo britânico Michael Radford, participou da mostra competitiva do 1º FestRio e eu tive a chance de vê-lo em primeiríssima mão na sessão de imprensa, por trabalhar no festival. Lembro que eu tinha acabado de descrever todo o meu entusiasmo pela obra de Orwell à minha amiga Marisa quando o filme começou. John Hurt, um dos meus atores favoritos, era o Winston Smith mais-que-perfeito, e Richard Burton, em seu último trabalho, deu uma dignidade assustadora ao monstruoso e gentil O`Brien. Duas horas depois, quando os créditos subiam ao som da melancólica e belíssima música de Dominic Muldowney, eu e Marisa chorávamos convulsivamente no auditório do centro de convenções, eu pela emoção de ver meu "cult-book" transformado na mais fiel e brilhante adaptação cinematográfica já vista até então, e ela por me ver chorando.

Fiz questão de parabenizar o diretor pelo filme e acabei levando um longo papo - praticamente uma entrevista exclusiva - com Michael Radford à beira da piscina do Hotel Nacional (foto 24). Mais conhecido pelo seu elogiado filme "O Carteiro e o Poeta" (1994), ele me falou dos bastidores das filmagens e do processo de adaptar um livro tão celebrado para o cinema. Nesse momento o estudante de cinema e o cineasta internacional se igualavam, trocando impressões sob a sombra do Grande Irmão de Orwell. Essa era uma das melhores coisas que os FestRio tinham, equalizar todos aqueles que amam o cinema e dedicam sua vida a ele, democraticamente.

Três anos depois Michael Radford voltou ao FestRio para apresentar "White Mischief", um drama romântico passado na África de 1940, e eu tive a chance de pedir-lhe para autografar esta foto.

(E pensar que a maioria esmagadora das pessoas envolvidas num certo reality show - dos dois lados da tela da TV - não fazem a mínima idéia de quem foi George Orwell e o que realmente significa o Grande Irmão... lamentável! Como diria o lema do IngSoc, IGNORÂNCIA É FORÇA. Plim-plim!)

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O cineasta turco-americano Elia Kazan também foi um dos célebres convidados do 1º FestRio. Grande cineasta! Excelente diretor de atores! Tremendo FDP! (foto 25)

Explico. Elia Kazan dirigiu alguns dos melhores filmes norte-americanos dos anos 50 e 60. "Pânico nas Ruas", "Uma Rua Chamada Pecado" (a tradução literal seria "Um Bonde Chamado Desejo"! Nunca entendi essa versão brasileira estapafúrdia!), "Viva Zapata!", "Sindicato de Ladrões", "Vidas Amargas", "Clamor do Sexo" (outro título nacional cretino)... fez parte do Actor`s Studio, foi um dos seguidores do método de Stanislavsky, que tinha como linha mestra desenvolver interpretações mais naturalistas dos atores... dirigiu gente de talento como James Dean, Marlon Brando, Nathalie Wood, Robert De Niro, Eva Mary Saint, Dennis Hopper... e dedurou uma porção de colegas profissionais de cinema e teatro na época da "caça às bruxas", da perseguição aos comunistas pelo Macarthismo nos EUA. Delator confesso, Kazan foi estigmatizado por isso, e quando ganhou um Oscar pelo conjunto da obra, muita gente que estava no evento cruzou os braços e fez questão de não aplaudi-lo. Dou razão a quem fez isso.

Elia Kazan é um ótimo exemplo de que não se deve misturar o lado pessoal com o profissional. Admiro-o muito como cineasta, mas acho sua postura pessoal abominável. Porém não se pode deixar de admirar sua obra.

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Domingo é dia de feijoada e o FestRio sempre montava sua tradicional feijoada à beira da piscina do Hotel Nacional, no segundo domingo do evento, quando os convivas se refestelaram numa nababesca comilança regada à capirinha e cerveja (foto 26). Porque artista gringo também é filho de deus e também precisa encher o bucho!

Na época eu só dispunha de uma câmera automática Olympus Trip 35 e não tinha como fazer uma grande angular de todo a área da piscina, portanto subi no terraço do hotel e fiz essa montagem tosca (foto 27). Mas nossas memórias também não são feitas de pedaços, de quebra-cabeças, de fragmentos de fatos, cacos de tristezas, retalhos de alegrias? Então esta imagem é bem coerente com as lembranças que carrego nessa valise de cronópio. ;-)

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Meus retalhos de memórias do 1º FestRio, que carrego até hoje na minha valise de cronópio (foto 28):

- Dois buttons do festival;

- Meu crachá de STAFF / controlador de acesso do Mercado de cinema (vulgo leão de chácara), com foto 3x4 do alistamento militar (vestindo um terno no estilo "o defunto era maior") (foto 29 também);

- Talão de tickets refeição exclusivo dos funcionários do festival (aceito apenas no restaurante do Hotel Nacional, onde a cozinha caprichava no bicarbonato de sódio e fazia todo mundo se sentir estufado depois do almoço);

- Logotipo da "Folha do Festival/Festival News", jornal que divulgava os filmes, cinemas, convidados e todas as atrações e acontecimentos do evento (e onde trabalhava minha futura musa pessoal na época e segunda namorada, Cristina);

- Embalagem do chocolate Mentinha, da Prawer, lançado durante o festival e distribuído gratuitamente na entrada do auditório do centro de convenções, onde a mostra competitiva acontecia (e que eu apanhava aos montes para dividir com a Cristina e com o Leonardo, meu amigo de infância que também trabalhava como "leão de chácara" do mercado de filmes).

Alguém uma vez já disse que recordar é viver duas vezes. E não é que tinha razão?

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Cristina, o que de melhor me aconteceu em 1984. (foto 30)

Cristina, que trabalhou comigo no 1º FestRio, eu no tal "controle de acesso" do mercado de filmes e ela como redatora da "Folha do Festival/ Festival News" (foto 31).

Cristina, que era mais velha que eu uns quatro anos e que eu achava simplesmente linda e deslumbrante, mas que eu jamais imaginaria que fosse dar bola pra mim.

Cristina, que fingindo ter dor de cabeça, roubou um beijo do paspalho aqui (homem é tudo tapado, não percebe nada) no meio de um chatérrimo filme chinês da mostra competitiva.

Cristina que foi namorar comigo no terraço fechado do Hotel Nacional, com uma vista maravilhosa! (foto 32)

Cristina, que foi minha segunda namorada e por quem fui alucinadamente apaixonado.

Cristina, que aos meus olhos era muito parecida com a Patrícia Pillar (que estava começando carreira na TV naquela época) e por causa disso me fez me apaixonar pela atriz também, por associação.

Cristina, com quem namorei por dois meses e por quem fiquei dois anos na mais profunda fossa. E por quem tomei meu primeiro porre na vida (uma garrafa de gim).

Cristina, que reencontrei 11 anos mais tarde, e que ainda me fez tremer na base (foto 33).

Cristina, que hoje é uma das mais doces memórias da minha vida, e que sempre me traz um sorriso saudoso no canto da boca quando lembro dela e daqueles dias de Woody Allen e Diane Keaton, de "houve uma vez um verão".

Nossa música: "Rhapsody in Blue" de George Gershwin, e toda a trilha sonora do filme "Manhattan" de Woody Allen, que ouço enquanto escrevo esse texto.

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E este foi o baú de memórias do 1º Festival Internacional de Cinema, TV e Vídeo do Rio de Janeiro, um mega-evento que trouxe cineastas, atrizes, atores, produtores e filmes de todos os cantos do mundo, e que abalou as estruturas culturais da nossa cidade entre 18 e 27 de novembro de 1984. E que acabou em uísque, como mostra bem a foto 34, do fim do filme.

E lá se vão quase 20 anos... pra mim parece que foi ontem!... :-)

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P.S.: TODAS as fotos postadas aqui, com exceção dos posters de filmes, do catálogo do festival e das fotos onde apareço são de minha autoria e não devem ser reproduzidas sem a minha expressa autorização. Obrigado.