sábado, 29 de dezembro de 2007

INDIANA JONES POSTERS




Posters (ou seria pôsteres?) oficiais com o personagem Indiana Jones, criado por George Lucas e Phillip Kaufman e interpretado por Harrison Ford (nos quatro filmes dirigidos por Steven Spielberg) e Sean Patrick Flanery, Corey Carrier e George Hall (na série de TV produzida por George Lucas para a ABC).

Artistas gráficos como Richard Amsel, Drew Struzan, Dave Dorman, Brian Bysouth e Michel Jouin imortalizaram o famoso arqueólogo aventureiro em suas incursões no cinema, na TV, nos quadrinhos, na Disneyland e em sua quarta grande aventura na tela grande, Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, a estrear no dia 22 de maio de 2008 em lançamento mundial.

Quem quiser conhecer um pouco mais do universo do Professor Henry Jones Jr., recomendo uma visita aqui.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Feliz Natal com os gremlins!




Desejo a todos os amigos, contatos e visitantes da VALISE DE CRONÓPIO um feliz Natal e tudo de bom neste fim de ano. Naturalmente com o meu filme natalino de estimação, "Gremlins" (1984), do brilhante Joe Dante.

Espero que gostem do clipe.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

AS GRANDES AVENTURAS ESTÃO DE VOLTA!

Se essa era a chamada do cartaz original de "Os Caçadores da Arca Perdida", também serve perfeitamente para anunciar a nova aventura de "INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL". Se você discorda, dê uma olhada no novo poster do filme, divulgado no site www.indianajones.com , publicado aí ao lado.

Entre as outras novidades, estão mais declarações do produtor Frank Marshall sobre os novos personagens do filme. Veja as declarações de Marshall à MTV News:

Cate Blanchett:

"Ela é espetacular e uma das melhores atrizes do momento. Ela saiu do filme 'The Curious Case of Benjamin Button', para interpretar uma vilã em 'INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL', então ela está apta a tudo. Ela fez uma grande vilã e se divertiu muito."

Marshall também revelou que o nome da agente soviética interpretada por Blanchett no filme será "Spalko".

Ray Winstone:

"Saiu direto de 'Beowulf', para o 'INDY 4'", continua Marshall, descrevendo o personagem de Winstone, chamado de "Mac", como um cruzamento entre o vilão Belloq e o amigo Sallah. Ele interpreta um arqueólogo competidor. Amigo e competidor.

Jim Broadbent:

"Ele interpreta um colega do Dr. Jones em Yale, alguém que irá substituir Marcus Brody" - completa Marshall.

No elenco ainda estão Karen Allen, voltando a viver a heroína de "Caçadores" Marion Ravenwood, o grande ator inglês John Hurt, como Abner Ravenwood, o supostamente falecido pai de Marion e mentor de Indiana, e o jovem ator Shia LaBeouf. As lamentáveis ausências são de Sean Connery como o pai de Indy, John Rhys-Davies como Sallah, e de Vic Armstrong, o diretor de dublês dos três filmes anteriores de Indiana Jones e dublê pessoal de Harrison Ford.


Sobre a história, Frank Marshall fez alguns comentários para o USA Today.

"A história será passada em 1957 e Indiana Jones terá envelhicido 19 anos, como Harrison Ford, atualmente com 65 anos. Ele está dando aulas e tem uma vida calma", disse o produtor. "Mas assim que Indiana voltar a correr perigos, será levado ao Novo México, Connecticut, à Cidade do México e às selvas do Peru."

Ele continua, explicando que o herói não é infalível: "Ele comete erros e se machuca. Ele tem mais dores pelo corpo agora. Isso é outra coisa que as pessoas gostam: ele é um personagem realista, não alguém com superpoderes."

Quanto aos artefatos que Indiana Jones procurará no filme, as famosas caveiras (ou crânios) de cristal - que realmente existem e, dizem alguns, são donas de estranhas habilidades e poderes -, Marshall comenta:

"A teoria é de que foram criadas por um poder superior ou um poder alienígena e que vieram de outro mundo ou tiveram origem com uma antiga civilização Maia que dominava seus poderes."

Dirigido por Steven Spielberg, com estória e produção executiva de George Lucas, roteiro de David Koepp, trilha sonora de John Williams, fotografia de Janusz Kaminski e montagem de Michael Kahn, "INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL" chega aos cinemas em 22 de maio de 2008.

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(texto dos meus amigos Maurício Muniz e Ricardo Melo, publicado hoje no site http://antigravidade.wordpress.com/ com alguns adendos meus)

PALÁCIO DO JABBA - A MAQUETE




Finalmente estão aqui as fotos da maquete definitiva do Palácio do Jabba, o Hutt, construída por mim ao longo do ano de 2007 para a III EXPO-COLEÇÕES.

A exposição aconteceu no salão principal do Forte de Copacabana, no Posto 6, em Copacabana, Rio de Janeiro, entre 6 de outubro e 4 de novembro deste ano, com a visitação de cerca de 3000 pessoas, que prestigiaram o evento. Foram 18 maquetes/dioramas da saga "Guerra nas Estrelas", feitas por seis artistas plásticos, "povoadas" e representadas por action figures oficiais produzidos pela Hasbro/Kenner norte-americana. Além disso a III EXPO-COLEÇÕES contou com 300 revistas nacionais e estrangeiras, 80 reproduções de desenhos conceituais dos seis filmes, um painel de fotos dos principais personagens e cenas marcantes da saga, a história dos action figures de Star Wars contada através das cartelas de todas as coleções, a retrospectiva dos 10 anos do CJRJ - Conselho Jedi Rio de Janeiro - através de material de arquivo, e palestras todos os finais de semana.

Longe de me considerar artista plástico, apenas um maquetista curioso que faz brinquedos e cenários desde criança, eu usei como base nesta maquete a planta baixa original utilizada nas filmagens de "O Retorno de Jedi" (1983), de Richard Marquand, com produção de George Lucas, fazendo algumas modificações a fim de otimizar o espaço interno para as figuras. Como material, usei basicamente madeira e papel-couro, além de metal, papel reciclado, papel couché, cola plástica e de madeira, Super Bonder, tinta plástica e acrílica, dois grandes baldes plásticos e peças variadas catadas na Feira da Praça XV.

Sei que acabamento não é meu forte nessas maquetes (até por falta de um aprendizado técnico, faço tudo por pura intuição), porém uma boa desculpa para isso é que o Palácio do Jabba é uma construção rústica no meio do deserto do planeta Tatooine, atiçado por tempestades de areia e outras intempéries. Além disso minha preocupação e dedicação sempre foram na estrutura da maquete, para que ficasse o mais fiel possível aos cenários do filme (visual externo, entrada principal, sala do trono, masmorra e sala de reciclagem dos droids) e com isso poder fazer com que o público da exposição pudesse voltar a 1983, às memórias de "O Retorno de Jedi", "a long time ago", há mais de duas décadas.

Agradeço aos meus amigos Felipe Trotta - criador da EXPO-COLEÇÕES e patrocinador das maquetes -, Sílvia Naylor - incentivadora e autora da maioria das fotos mostradas neste álbum (http://sizanay.multiply.com) -, Marcelo Martins - talentoso maquetista da exposição e autor de outras fotos deste álbum -, e Vigor Jr. - meu amigos e vizinho que ajudou no transporte das maquetes para o Forte. A todos vocês, meu muito obrigado!

Além do Palácio do Jabba, minha maquete/diorama da Cantina de Mos Eisley (com um álbum de fotos dedicado exclusivamente a ela aqui nA VALISE DE CRONÓPIO), construída em 2003 para uma exposição anterior, também figurou entre as atrações da III EXPO-COLEÇÕES.

E como diriam os pilotos rebeldes após destruírem a segunda Estrela da Morte sobre os céus do planeta Endor, missão cumprida!!!

sábado, 8 de dezembro de 2007

domingo, 2 de dezembro de 2007

FIGURAS DIFERENTES




A partir do post do Guilherme (http://guilkato.multiply.com/links/item/126), descobri o Archie McPhee® Toys, Gifts & Novelties, este curioso site que vende vários objetos estranhos e divertidos. Dentre eles o que mais me chamou a atenção, naturalmente (afinal sou um apaixonado colecionador de figuras de cinema!) foram estes estranhos action figures. Tem escritores, músicos, pintores, figuras religiosas, históricas e até fictícias, além de grupos sui-generis como paparazzis e zumbis.

O endereço do site para quem quiser levar um desses caras pra casa é http://www.mcphee.com/index.html

Por fim, uma versão mais sofisticada de Moisés, do site Captain Toy (http://mwctoys.com/REVIEW_110907a.htm) com 5" de altura, o cajado, as tábuas dos dez mandamentos, a Arca da Aliança, o arbusto flamejante, um mini-quadro dele abrindo o Mar Vermelho e uma cobra.

A penúltima foto, de Moisés ao lado do Batman e de um stormtrooper de Star Wars é apenas para comparar tamanhos.

DIVIRTAM-SE!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Robot Chicken Star Wars Special 2/3




Continuação da paródia a Star Wars, feita com action figures.

Luke aprendendo a lutar sem usar os olhos... o space slug que não come ninguém... mais um dia duro na vida de um faxineiro do Império... George W. Bush apela para o lado negro da Força... a turma do Robot Chicken se apresenta... o derradeiro duelo entre Luke Skywalker e o Imperador Palpatine... Han Solo e a saia justa no intercomunicador da Estrela da Morte... Jar-Jar Binks reencontra seu amigo Anakin, agora Darth Vader... E MUITO MAIS!

Robot Chicken Star Wars Special 1/3




Um dos melhores programas de paródia da TV, atacando a saga de George Lucas e da família Skywalker com action figures e altas doses de ironia corrosiva!

Darth Vader pede ajuda do imperador Palpatine após a destruição da Estrela da Morte... a vida dura vida de um faxineiro do Império... o lançamento do Admiral Ackbar Cereal... a verdadeira estória de Ponda Baba, o cara-de-bunda da Cantina de Mos Eisley... C-3PO no detetor de metais... Qui-Gonn deixa cair o lightsaber... oficiais do Império treinando para iludir Darth Vader... George Lucas enfrenta os nerd-fãs... E MUITO MAIS!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

SW - ACTION FIGURES DO DESEJO




A lista das figuras 3 3/4" de STAR WARS que me faltam para compor meus dioramas da Cantina de Mos Eisley e do Palácio do Jabba. Cada uma delas na cartela e avulsa. E mais ou menos na ordem de preferência e ansiedade.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

MORTE, IRMÃ MAIS VELHA DO SONHO




Criada por Neil Gaiman e Mike Dringenberg para a revista em quadrinhos "Sandman" em 1989, a Morte foi vista pelos olhos da dupla como uma jovem bastante feminina, sensual, doce, bem-humorada, otimista e muito carismática e apaixonante. Redesenhada por muitos artistas, principalmente Chris Bachallo e Dave McKean (capista de "Sandman"), a irmã mais nova do Destino e irmã mais velha do Sonho incorpora em seu discurso e em sua filosofia a visão otimista e positiva das religiões orientais sobre essa passagem que nos espera a todos no fim da vida.

Como desta vida ninguém escapa vivo, há de se encarar a Morte com outros olhos.

sábado, 13 de outubro de 2007

Tim Burton, hoje - A NOIVA CADÁVER




"Vai Chegar Sua Vez", canção de Danny Elfman para o filme "A Noiva Cadáver" (2005), de Tim Burton. O vocal original é do próprio Elfman, porém essa canção é uma das poucas que prefiro assistir na versão dublada em português. Danny Elfman buscou inspiração nas agitadas canções de jazz de Cab Calloway dos anos 30, mantendo a idéia de que o mundo dos mortos é bem mais divertido e bem-humorado que o mundo dos vivos no contexto do filme.

Tim Burton ataca com outra magnífica animação de bonecos em stop-motion, desta vez em longa-metragem. Volta a trabalhar com seu velho colaborador musical Danny Elfman ("Beetlejuice", "Batman", "Batman Returns") após mais de 10 anos, numa sombria história para crianças, baseada numa velha lenda européia. Imperdível!

Tim Burton, ontem - VINCENT




Um dos primeiros filmes de animação de Tim Burton, VINCENT é um delicioso curta-metragem de 1982. Conta a história do garoto Vincent Malloy, de 7 anos de idade, que sonha em ser Vincent Price, o grande ator de filmes de horror. Com 6 minutos de duração, feito com a técnica de stop-motion de animação de bonecos e filmado em preto e branco, VINCENT foi baseado num poema do próprio Tim Burton (na época animador dos estúdios Disney) e lido pelo próprio Vincent Price. Legendas em português.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

EXPO-COLEÇÕES 2007

EXPO-COLEÇÕES 2007: 30 ANOS-LUZ DE UMA GALÁXIA

Após três anos de espera, a Expo-Coleções está de volta!

Comemorando os 30 anos de STAR WARS através de 18 cenas reconstituídas em maquetes com action figures, 300 revistas nacionais e estrangeiras, além de 80 reproduções de desenhos conceituais dos seis episódios, painel de fotos dos principais personagens e cenas marcantes de saga, retrospectiva dos 10 anos do Conselho Jedi Rio de Janeiro através de material de arquivo, história dos action figures pelas cartelas de todas as coleções, cronologia dos jogos de STAR WARS e muitas outros materiais raros.

Durante o período da exposição acontecerão palestras todos os sábados às 15h. A primeira palestra acontecerá dia 06 de Outubro, data de abertura da exposição, e será apresentada pelo Milton Soares Jr., diretor e produtor do fan-film "Shadows Of The Empire", que estará trazendo em primeira mão seu mais novo projeto: "Galactic Heroes".

Neste mesmo dia o Conselho Jedi Rio de Janeiro estará presente no local para o seu 83° Encontro a partir das 13h. Um encontro com tudo que tem direito.

Então é isso:

Expo-Coleções 2007: 30 Anos-Luz de Uma Galáxia

Período: 06 de Outubro de 2007 a 04 de Novembro de 2007
Horário: 10hs as 17hs
Entrada: R$ 4,00
Local: Museu Histórico do Exército do Forte de Copacabana
Endereço: Avenida Atlântica, Posto 6 - Copacabana - Rio de Janeiro

83° Encontro do CJRJ - Conselho Jedi na Expo-Coleções

Data: 06 de Outubro de 2007
Horário: 13:00h as 17:00h
Local: Museu Histórico do Exército do Forte de Copacabana
Endereço: Avenida Atlântica, Posto 6 - Copacabana - Rio de Janeiro

Fiquem de olho no site para maiores informações sobre paletras e a programação do CJRJ no mês de Outubro. Deveremos estar presente no evento em outras datas.

Nos vemos por lá!

http://www.jedirio.com.br

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Eu estarei apresentando novamente o diorama da Cantina de Mos Eisley e o diorama INÉDITO do Palácio de Jabba, o Hutt !!!

 

domingo, 23 de setembro de 2007

ALIEN - KONAMI




Em 2003 a Konami do Japão lançou a primeira série de miniaturas da quadrilogia cinematográfica ALIEN da 20th Century Fox, vendidas em pequenas caixas. A primeira série (ou volume 1, como aparece nas caixas) trazia oito figuras diminutas de alienígenas criados por Dan O'Bannon e Ronald Shusett, variando entre 8cm e 11cm de altura, em bases de 7cm por 10cm, que reproduziam o chão das naves da série. O volume 1 trazia as seguintes figuras:

1. Alien warrior*
2. Face hugger*
3. Chest burster*
4. Dog Alien (do filme "Alien3", de David Fincher)
5. New Alien (do filme "Alien3", de David Fincher)
6. Espaçonave Nostromo*
7. Módulo de fuga Narcissus*
8. Space Jockey*

(* Todas as figuras do filme "Alien, o 8o. Passageiro", de Ridley Scott)

Em 2005 a Konami repetiu a dose lançando o volume 2 da quadrilogia, no mesmo padrão do primeiro volume. Desta vez focando nos dois filmes que faltavam, "Aliens" de James Cameron e "Alien Resurrection" de Jean-Pierre Jeunet. As figuras do segundo volume da Konami são:

1. Warrior*
2. Alien Queen*
3. New Warrior (de "Alien Resurrection")
4. New Born (de "Alien Resurrection")
5. Power Loader*
6. Drop Ship*
7. APC Tank*
8. Espaçonave Sulaco*

(* Todas as figuras do filme "Aliens - O Resgate", de James Cameron)

Na época do lançamento dos dois volumes as miniaturas do Space Jockey e da espaçonave Sulaco eram bastante raras. Hoje em dia todas as figuras são difíceis de achar, a não ser no Ebay ou em alguns poucos sites de miniaturas e brinquedos na internet. Os preços costumam variar entre 8 e 35 dólares a peça.

Todas as figuras são de vinil rígido, vêm pré-pintadas e basta apenas montá-las por encaixes, de forma bem simples e prática. E apesar de não serem articuladas, as miniaturas são incrivelmente ricas em detalhes, reproduzindo com máxima fidelidade as criaturas e veículos dos filmes da Fox. Para qualquer colecionador de miniaturas que também seja fã de ficção científica, os dois volumes de ALIEN lançados pela Konami são obrigatórios.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O CARA E A MANOBRA DE LECTER

O cara estava revendo "O Silêncio dos Inocentes" pela canibalésima vez na TV. Ele tinha o DVD, mas não resistia quando o filme surgia na programação. Aliás, era assim com vários filmes que ele gostava e tinha em casa. Parece que a transmissão que ele não podia pausar ou voltar tinha uma magia única que o seduzia. Como seria bom atacar a dentadas todas as pessoas rudes que conhecia, assim como fazia o doutor Lecter. Haja pasta de dentes e enxagüante bucal, pensava ele. Assim como havia a Manobra de Heimlich para salvar pessoas que se engasgavam com alguma coisa, também deveria haver a Manobra de Lecter para salvar o mundo de algumas pessoas indesejáveis, gente impossível de se engolir.

E foi com esse pensamento na cabeça que o plim-plim pipocou na tela e anunciou o próximo episódio da Grande Família. Foi só a Bebel aparecer para o cara vislumbrar um uso bem mais interessante da recém-batizada Manobra de Lecter. Ele era fascinado pela Guta Stresser, mas não da mesma forma como era por suas musas supremas. Não morria de tesão por ela nem tinha pensamentos lascivos com a graciosa atriz curitibana. Apenas a achava extremamente adorável – além de talentosa, claro, mas isso não estava em questão. Adoraria apertar a Guta, no sentido que se quer apertar uma criança fofa. Sonhava em morder as bochechas dela. E assim ele percebeu que a Guta Stresser seria a pessoa ideal em quem aplicar a Manobra de Lecter. E bem longe de ser pelos motivos que ele aplicaria em pessoas indesejáveis.

Muitas luas depois, estava o cara com alguns amigos numa mesa de bar quando de repente ela apareceu. Um de seus amigos tinha trabalhado com a Guta em alguma peça de teatro e a convidou a sentar à mesa. Ela era mesmo uma simpatia. Entre goladas de cerveja ela distribuía sorrisos à mesa enquanto trocava abobrinhas com seu amigo em comum. O cara, na dele, só a observava. Até que se levantou, foi até a Guta e soltou "é, o Marcelo nem apresenta os amigos...", no que o Marcelo foi logo corrigindo e apresentando o cara à amiga famosa, cheio de salamaleques. Ela o cumprimentou sorrindo, e disse que estava olhando a camisa dele – com um desenho do Chewbacca disfarçado de Che Guevara, intitulado "Chewie" – e se divertindo muito. O cara começou a conversa se declarando afetivamente a sua musa, dizendo que só de vê-la na tela da TV ou do cinema ela o contagiava com energias positivas, e que além de talentosa ela fazia muito bem a ele, levantando-lhe o astral e coisa e tal. Guta ficou encantada e corada com os efusivos e legítimos comentários do cara. Conversa vai, conversa vem e ele então buscou os instintos Hannibalísticos dentro de si e pediu à Guta para fazer uma coisa que ele sempre sonhou. Ela arregalou os olhos na defensiva, com aquela expressão de criança assustada. "Você deixa eu morder suas bochechas? Eu sempre quis fazer isso!". No que ela "ah, tá... eu sou bochechuda mesmo... pode morder", e se inclinou em sacrifício. E o cara executou sua mais prazeirosa Manobra de Lecter.

Passou dias rindo sozinho, lembrando de como foi gostoso cravar os dentes naquelas bochechas fofas e alegres, de como foi sublime realizar uma fantasia não-sexual com uma musa que ele admirava. Nem o doutor Hannibal Lecter teve um prazer tão grande assim em toda sua vida fictícia.

 

terça-feira, 11 de setembro de 2007

THE BIG LEBOWSKI




Trailer do filme de Joel & Ethan Coen de 1998, com Jeff Bridges, John Goodman, Steve Buscemi, Julianne Moore, John Turturro, David Huddleston, Philip Seymour Hoffman, Tara Reid, Peter Stormare, Flea, Jon Polito, Ben Gazzara e Sam Elliot. Há alguns meses esse é o meu cult-movie que não sai do meu DVD player.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Blue Moon -- The Werewolf Cut




Um grupo de elegantes lobisomens canta o clássico "Blue Moon" na versão pop-rock do grupo The Marcels. Essa versão acompanha os créditos finais do filme "Um Lobisomem Americano em Londres" (1981), de John Landis.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

O CARA E AS FOTOS DO HÉRCULES

Seis da manhã e o cara de pé, agitado e sorridente. Raridade. Isso porque ele estava trabalhando como fotógrafo de um grande jornal e a tarefa naquele dia era cobrir os saltos dos pára-quedistas da FAB de um grande avião Hércules. O céu estava meio encoberto e batia um vento frio na base aérea de Santa Cruz, bem ao gosto do cara. "E Ele sentiu frio... e viu que isso era bom", costumava repetir.

A intenção do cara era saltar de pára-quedas junto com a equipe e fazer imagens durante a queda. Porém o instrutor que faria o salto duplo com ele estava doente e o capacete com câmera automática acoplada – equipamento fundamental para fazer as fotos naquela situação – estava quebrado. Quando o comandante do vôo lhe deu a notícia, o tempo fechou para o cara. E como o céu abriu com tímidos raios de sol, os pára-quedistas e o cara embarcaram no grande Hércules. Terminadas as entrevistas, o repórter se despediu do amigo fotógrafo, que lhe sussurrou "não posso saltar de pára-quedas mas assim mesmo vou fazer fotos que ninguém jamais fez antes durante um vôo... me aguarde!" e se afastou rindo.

No ventre da baleia voadora, cada um se afivelou nos bancos laterais. Para o cara aquela era uma experiência nova e fascinante. Olhava tudo como uma criança, buscando algo que o ajudasse a fazer "as fotos que ninguém jamais fez antes". Perguntou como seriam os saltos e o comandante lhe explicou que os soldados fariam duas filas ao longo das paredes da aeronave e se lançariam no vazio pelas laterais da grande abertura traseira. O cara notou um longo cabo de aço preso no fundo do avião e logo teve a brilhante idéia. Contou ao comandante e lhe disse que já que não poderia saltar como havia planejado, a FAB não poderia negar-lhe esse pedido.

Assim que o Hércules alcançou a altitude certa para o exercício, o cara foi amarrado no cabo de aço pela cintura. A cloaca retangular do leviatã metálico se abriu e todos a bordo se prepararam. Enquanto os soldados fizeram a última checagem nos pára-quedas, o cara certificou-se de que estava bem preso e seguro. Todos se puseram de pé e formaram duas filas para o salto. O cara caminhou até a borda do abismo com a câmera na mão, virou-se uma última vez e puxou o cabo de aço do cinto. Fincou os calcanhares nos centímetros finais da abertura traseira, inclinou-se cerca de 40 graus para fora e mirou o vazio sob seus pés. Se tivesse acrofobia estaria morto agora, pensou. O comandante deu a ordem e os soldados lançaram-se no espaço, com seus pára-quedas e suas coragens cotidianas. Nas mãos do cara, a Nikon FM-2 registrou tudo, tendo as bordas da abertura como moldura. Assim que os pára-quedistas saltavam eram imediatamente congelados e eternizados em celulóide. Com a vida segura por apenas um tênue cabo de aço, o cara se divertia com tudo aquilo. O Rio de Janeiro era uma grande maquete abaixo dele. O vento, o ronco do motor e as manobras que o avião fazia compunham aquela montanha russa aérea, aquela diversão exclusiva que ele experimentava no horário de trabalho. E enquanto o cara imaginava a queda no abismo, o filme de 36 poses cumpriu o seu dever para o jornal.

Minutos depois a aeronave pousava na pista do Recreio dos Bandeirantes, suave como só um monstro voador sabe fazer. Satisfeito, o cara despediu-se do comandante e caminhou na direção do estacionamento, onde outro carro do jornal o aguardava. Com o resto do dia de folga, ele só lamentava não ter conseguido saltar de pára-quedas. Porém o vôo foi incrível e ficaria registrado em sua memória pelo resto da vida. A dez metros do carro de resgate, uma falha no asfalto barrou o dedão direito do cara e ele despencou de cara no chão, sobre o joelho esquerdo e as duas mãos. A bolsa da câmera também tocou o solo, apesar de bem protegida, com fotos incríveis que ninguém jamais fez antes em seu interior acolchoado. Apesar das palmas raladas e da dor forte no joelho, o cara começou a rir de si próprio, e agradeceu à divina providência por não ter tropeçado uns quinze minutos antes, lá em cima.

 

O CARA E A PANELA VIAJANTE

O cara comprou a caçarola que há meses estava procurando, de teflon, e a primeira coisa que fez foi cheirá-la. Tinha acabado de chegar da esbórnia, o longínquo país da farra e da bebedeira. Quase tropeçou nos gatos, se enroscando em suas pernas. Largou a bagagem na porta, pos um CD do Creedence pra tocar e se jogou no sofá, com a cabeça girando. Viu a panelinha em cima da mesa e resolveu descobrir que aroma ela tinha. Coisa nova sempre tem cheiro bom, pensou ele. O metal banhado em teflon ligou algumas chaves inusitadas na mente do cara. A panela tinha cheiro de viagens, corredores de hotéis, arrumações de malas, ruas molhadas de chuva, sentimento de saudades, solidão e deslumbramento em conhecer lugares novos. Surpreso, o cara cheirou a caçarola outra vez, fechou os olhos e se sentiu num quarto de hotel em Passo Fundo, caminhando pelo asfalto molhado do centro de São Paulo e no pier cultural de Belém do Pará ao por-do-sol. Estranhíssimo. Nunca poderia imaginar que uma panela seria capaz daquilo. Um dos gatos miou e o cara disse "é, eu também achei".

Enquanto nas caixas de som John Fogerty pedia que o midnight special brilhasse sobre ele, o cara olhava a caçarola em suas mãos e sorria, satisfeito em ver que tinha comprado um teletransporte olfativo por uma pechincha. E adormeceu no sofá, feliz com um gato sentado em seu peito, uma panela na mão e o gosto de Jack Daniels na boca.

O outro gato não resistiu e também foi cheirar a caçarola. Encontrou saudades do leite da mãe, das estripulias do pai e das brincadeiras com bolas de barbante e guizos coloridos, na casa onde nascera.

 

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O CARA E A TENTAÇÃO LITERÁRIA

Sob o escaldante mormaço do inverno carioca, com pouco mais de dez reais no bolso e uma fome etíope, o cara vagava pelos belos e sujos labirintos do Centro da Cidade. Andava no piloto automático enquanto pensava nas opções gastronômicas e com preço mais em conta que o Centro lhe oferecia. Definitivamente queria distância de sanduíches, salgadinhos gordurosos, fast food. Queria uma refeição digna e substanciosa para se comer de garfo e faca. O Esquimó, na travessa do Ouvidor, reduto dos executivos apressados de escalões menores e dos apreciadores de uma comida barata, farta e honesta, parecia ser a melhor opção. O tempo se encarregara de lapidar as pinturas de esquimós e caçada as focas nas paredes do restaurante, enquanto os velhos e barulhentos ventiladores não davam conta do mormaço e nunca honrariam o nome do simpático restaurante. Mas isso de nada importava. A diplomática e divertida atenção do garçom Alfredo, os copos extras de laranjada e o clima de fartura eram as marcas registradas do Esquimó. E o importante era se abastecer e apagar aquele vácuo que crescia em seu ventre. Depois iria caminhando feliz até em casa, para "fazer o quilo", como diria Adoniran.

Mas acontece que ao virar o leme na direção da avenida Rio Branco, caminho certo para o Esquimó, o cara se deparou com a visão de uma nova livraria – na verdade um sebo de livros. Era novo, bem arrumado, e que parecia chamar-lhe sutilmente para entrar. Todas as livrarias e lojas de discos sempre o seduziam, menos como uma femme fatalle e mais como uma cobra naja hipnotizando a vítima incauta, que se aventura em seu território. E ele, em transe, não resistiu aos chamados mudos do estabelecimento e entrou.

Em cada prateleira, uma surpresa. Sem muito se esforçar, remexer, se abaixar ou se esticar, o cara logo encontrou "O Caso dos Dez Negrinhos", de Agatha Christie, que ele considerava o romance policial perfeito e que tinha emprestado para alguém que – quase em todos os casos de empréstimo – nunca o devolveu. Na prateleira de grandes autores internacionais, Anthony Burgess acenou para ele com o sumido "1985", que o cara perdera mais de uma década antes, num passeio de barca a Niterói. Sam Shepard também se mostrou todo solícito, com seu livro de poesia em prosa "Crônicas de Motel", que o cara procurava para presentear algum amigo que fosse fã de Wim Wenders, que tirou seu "Paris, Texas" de lá. E para completar, Drummond e Clarice Lispector lhes caíram no colo, como rosas de aprendiz, prazeres inesperados, flor, telefone, moça da Ucrânia, enigmática e adorável, já criando laços de família com o incauto andarilho do Centro carioca. Resultado: o cara comprou tudo, gastou quase tudo. Mas estava feliz como uma criança com brinquedo novo, como um velho que tem uma epifania e descobre assombrado o sentido da vida num detalhe aparentemente insignificante que mais ninguém percebe.

Saiu do sebo agradecido até seu estômago reclamar de seus impulsos de consumo literário. O que fazer com tantos livros amados e um rombo no estômago? O cara deixou o Esquimó para outra ocasião e foi caminhando para casa, 40 minutos consumindo as solas dos sapatos de couro, agarrando seu pacote de livros como um valioso tesouro de Estado. Lembrou-se de um velho filósofo grego (ou seria romano?) que uma vez disse que quando conseguia algum dinheiro gastava logo em livros, e se sobrasse algo, comprava roupas e comida. E assim o cara se sentia justificado pela cultura erudita, com suas escolhas pessoais, que quase ninguém entendia e que a maioria condenava.

Em casa, pegou um copo de mate, a maçã solitária de Isaac Newton na geladeira quase tão vazia quanto seu estômago, e foi se refestelar no sofá, para se deliciar com seus mimos literários. Apesar da fome não aplacada, o cara estava feliz por ter avistado um oásis literário para alimentar sua alma antes de chegar ao Esquimó, que iria alimentar seu corpo. Essa troca o enchia de orgulho, pois se alimentar de palavras, idéias e inspirações de seus amados mestres era mais importante para ele do que encher o bucho e ficar de papo pro ar pensando bobagens sem sentido sobre a vida.

E as palavras e frases o saciaram plenamente. Antes de dormir o cara ainda precisou tomar um sal de frutas para digerir melhor os pensamentos políticos de Burgess e alguns contos mais ácidos de Sam Shepard. Seu último pensamento antes de embarcar para a Terra dos Sonhos foi que é fundamental cuidar da alimentação, seja do corpo, da mente ou da alma. Afinal, a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e artzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...

 

quarta-feira, 25 de julho de 2007

STAR WARS - LOBBYCARDS ORIGINAIS DE 1977

Category:   Collectibles
Price:   R$ 100,00

http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-59777889-star-wars-lobbycard-original-imperio-darth-vader-boba-fett-_JM

Além de vários outros (além das fotos abaixo, todos originais da época)

+ 2 lobbycards originais americanos de "OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA".



terça-feira, 24 de julho de 2007

O CARA E A AVENTURA AMAZÔNICA

Quando se fala em praia deserta, logo vem à mente a imagem de um bela extensão de areia branca à beira de algum oceano de marolas preguiçosas, adornada por coqueiros e com um pôr-do-sol incrível ao longe. Foi por isso que o cara se espantou ao encontrar uma praia deserta num lugar tão inusitado.

Naquele mesmo dia bem cedo ele chegara ao sítio de um tio distante de barco, num raro pedaço de terra seca cercado de charcos e rios, no alto Tocantins, interior do Pará. Mal acabaram o café da manhã, já foram todos – primos, tios, pai, peões, feitores – a caminho do interior da floresta para pegar a boiada do tio de volta. Uma vez por semana eles levavam o gado para uma clareira gramada encravada no meio das árvores mais altas para um festim vegetariano. E estava na hora de buscar de volta a turma de couro e chifres.

Para o cara, um urbanóide típico, enfiar as pernas em igarapés coalhados de piranhas e outros bichos estranhos, era algo inimaginável. E era exatamente isso que ele fez. Em menos de cinco passos os chinelos do cara afundaram na lama e se perderam. Os primos riram muito daquele parente desajeitado e estranho. "Não tem perigo das piranhas atacarem a gente?" era só no que o cara pensava. Um dos tios explicou que se pode nadar tranqüilamente entre cardumes de piranhas, se você não estiver sangrando. É o sangue – e a fome – que faz esses peixes atacarem. "Portanto elas têm que estar bem alimentadas também", pensou ele.

Meia hora atravessando a floresta amazônica com água pelas coxas os levou a uma belíssima clareira, parecida com algo de contos de fadas. Reuniram o gado e todos voltaram pelo mesmo caminho alagado, com os feitores na frente, guiando o grupo, e os peões atrás, cuidando para que os bois não saíssem do caminho. No trajeto de volta o banquete de grama que a boiada carregava no bucho foi se transformando em esterco e sendo devidamente expelida diante dos últimos membros da expedição – para o constrangimento do cara e para a diversão dos primos. E todos caminhavam sobre bosta de boi e água de igarapé, felizes da vida.

Para compensar o cansaço da caminhada um farto almoço os esperava, todo feito de caça. O cara e a família comeram jacarés, piranhas, pato ao tucupi e outras iguarias típicas paraenses. A sesta obrigatória nas redes sob as árvores terminou abruptamente quando o dono da fazendo acordou os visitantes e anunciou que iria levá-los a um lugar diferente, mágico. Meio a contragosto o cara – cujo pecado capital favorito era a preguiça – levantou-se da rede e se instalou no barquinho a motor do tio, escolhendo um lugar mais confortável. O problema é que aqueles barcos não tinha nada de confortáveis e o cara, suspirando fundo, foi se aboletar na proa, para pelo menos poder aproveitar a paisagem.

O barco media cerca de dez metros e era quase todo coberto. Porém o motor fazia um barulho ensurdecedor e o cara estava agradecido de ter escolhido ficar ali, bem longe do motor. Mas não era apenas isso: a paisagem era algo de enlouquecer qualquer gringo, mais bela do que qualquer pintura de Gauguin nas ilhas dos mares do sul. Uma vasta floresta, árvores e vegetação de todos os tipos, pincelada de variados tons de verdes e marrons, revoadas de tucanos, araras e outros pássaros menos identificáveis mas tão lindos quanto. Sobre suas cabeças nuvens de algodão doce e cogumelos nucleares, inofensivos e enormes, estampando um fundo azul inacreditável de tão limpo. Com o sol reinando e o vento fresco batendo-lhe no rosto, o cara era o próprio Ishmael na vigia do Pequod, atento a qualquer cardume de (naquele caso) botos.

Cada curva do rio trazia uma surpresa visual mais encantadora que a anterior. De repente o tio anunciou aos parentes urbanos, "vocês pensavam que só existia praia deserta na beira do mar? Pois vejam o que temos pela frente", e a esquina amazônica descortinou uma visão quase inacreditável: uma grande praia quase redonda de areia fina e tremendamente branca, cercada por grandes árvores cerradas por todos os lados, como se fosse uma clareira, dotada de uma lindíssima cerca natural.

O barco aportou, o cara saltou correndo para sentir aquela areia de sonho entre seus dedos. Todos saíram e pisaram na praia como se estivessem conquistando um planeta inexplorado e virgem, totalmente hipnotizados pela beleza do lugar. O cara conseguiu vislumbrar um pássaro alçando vôo de um ponto distante da praia e correu até lá. De longe ouviu o tio gritar alguma coisa. Era um ninho, com alguns ovos inteiros e uns filhotes ainda de olhos fechados. Com mais agilidade do que o cara, a mãe que tinha levantado vôo atacou gritando tentando afugentar aquele intruso. No mesmo pique o cara voltou correndo e se aproximou a tempo de distinguir as palavras do tio: "... não se deve mexer num ninho com filhotes recém-nascidos, ainda mais com uma mãe preocupada por perto!"

Como o crepúsculo trazia a noite como companhia e o sol trocou de turno com a lua cheia, a turma fez uma pequena fogueira próxima ao barco e jantaram os restos do almoço, entre histórias incríveis que só os nativos da amazônia tinham vivenciado – por mais fantásticas que parecessem aos ouvidos de um urbanóide. Quando o sono chegou, a família foi se recolhendo aos poucos dentro do barco, já entrecortado de redes.

O cara, pleno com tanta aventura no mesmo dia, insistiu em dormir na praia. E ali, naquela areia branca e fina, como que saída de uma ampulheta divina, ele adormeceu feliz, olhando encantado aquele infinito de estrelas brilhantes que confirmavam as histórias mágicas de sua família e que anunciavam sonhos únicos e singulares, que o cara jamais poderia ter em qualquer cidade do mundo, sob as luzes artificiais dos homens.

 

sexta-feira, 20 de julho de 2007

"Ajuste Final" - Albert Finney em ação




Mais uma pérola de Joel e Ethan Coen. Albert Finney, um gramofone, um charuto e uma metralhadora 'tommygun' em "Ajuste Final" ("Miller's Crossing", 1990).

Uma das melhores cenas de filmes de gângsters de todos os tempos.

Quem souber que música é essa, agradeço.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O CARA E O ALMOÇO RÁPIDO

Durante a convenção em que fazia um "freela", o cara não tinha hora para almoçar. Mas seu estômago parecia um buraco negro em formação. Se ele deixasse para comer algo mais tarde correria o risco de acontecer uma autofagia espontânea. Ele largou tudo e saiu correndo do hotel em busca de algum lugar para comer, algo que fosse rápido e ao mesmo tempo consistente.

Após se informar com jornaleiros e porteiros, descobriu um diminuto restaurante árabe escondido ali perto. Satisfeito, pediu uma porção de hamus, outra de tabule, um quibe e um guaraná. As porções estavam meio insossas, por isso pediu o sal à atendente, que sorridente estendeu-lhe a caixinha cheia de pacotinhos de papel. O cara não conseguia se acostumar com aqueles pacotinhos mínimos de uma grama de sal, ao invés dos velhos saleiros de sempre. Questão de higiene, diziam alguns, fazem você comer menos sal, que faz mal à saúde, blá, blá, blá. O cara detestava quando o politicamente correto dos outros se infiltrava nos seus hábitos alimentares, mesmo ele tendo pressão alta. E mesmo com dois pacotinhos, a comida continuava com gosto estranho, cada vez mais insossa. Ah, diabos, às favas com a pressão!, e ele abriu e espalhou mais três gramas por cima do tabule e do hamus. Deu uma garfada e sentiu um bizarro sabor intensamente adocicado entre os vegetais. Quando percebeu o que fizera já era tarde: ao invés de sal, ele tinha espalhado adoçante em pó por todo o seu precioso almoço.

A cara de nojo e revolta do cara chamou a atenção de todos em volta e a solícita atendente veio correndo se desculpar, dizendo que não foi sua culpa, que ele não prestou atenção que os saquinhos de adoçante e de sal estavam misturados. Ele agia como se tivesse sido envenenado num filme, bem melodramático, apertando a garganta e esbugalhando os olhos. Devorou o quibe e entornou todo o guaraná goela adentro, como se aquilo fosse apagar os vestígios daquele sabor horroroso de sua boca, tudo em vão. Só queria pagar e sair dali. Pediu um desconto mas a atendente disse que o gerente não estava e ela não poderia fazer isso. "Mas adoçar o meu almoço você pode, né, sua inútil?", pensou ele com cara de "tudo bem, deixa pra lá".

Comprou um Hall’s preto extra-forte e mesmo assim aquela inhaca não desgrudava de seu aparelho digestivo. Sentia-se como John Hurt em "Alien", tentando arrancar aquele bicho feio da cara inutilmente. Entrou na sala de trabalho e uma colega perguntou como foi o almoço. Ele correu para o banheiro, caiu de joelhos diante do vaso e deu sua nojenta resposta a ela.

De noite, em casa, o cara não tomou o remédio para pressão, só de pirraça. Afinal ele nem tinha comido sal...

 

domingo, 15 de julho de 2007

O CARA E O ASSALTO APRESSADO

O cara tinha marcado com Ivone, sua quarta namorada (mas que nem de longe subia ao pódio de suas três grandes musas, as três grandes mulheres da sua vida), de verem um filme na Cinemateca do MAM, no fim do aterro do Flamengo. Fazia parte do Festival Jacques Tati, um cineasta e ator francês de meados do século 20, que baseava seus filmes num humor poético, onde ele vivia o Monsieur Hulot, muito alto, magro e atrapalhado, sempre com um chapeuzinho estranho e um longo cachimbo, e que quase não falava.

O problema é que a sessão estava marcada para as oito da noite e já passava das sete e meia e o cara ainda estava em casa. Saindo do banho afobado, ele era mais enrolado para se arrumar do que qualquer mulher, quebrando vários estereótipos. Só que o cara não pegava três ou quatro roupas e ficava naquele infinito "ser ou não ser" das mulheres. Ele era simplesmente confuso e atrapalhado em vestir as calças, a camisa e os sapatos certos. Parecia o Monsieur Hulot.

Em seu uniforme casual e já suando por todos os poros, o cara pegou o metrô correndo antes que a porta fechasse como se sua vida dependesse disso. O braço esquerdo quase foi mordido pela porta e quase todos no vagão olharam curiosos para aquele sujeito estranho e engraçado que parecia saído de uma comédia muda. Uma dessas que se assiste na Cinemateca do MAM.

Cinco minutos o separavam da boca aberta do trem até a porta da Cinemateca, onde Ivone esperava ansiosa pelo namorado atrasado. O cara nem pensou duas vezes, o negócio era correr, correr muito! Subiu a escada para a superfície pulando a cada dois degraus. Aquela escada, direcionada para o aterro, era o lugar mais ermo e perigoso dos arredores do metrô da Cinelândia. No meio da escada havia um garoto maltrapilho que aparentava uns 13, 14 anos, que interpelou o cara. "Ô, mané, passa toda a grana que tu tem aí!", e o cara, sem pensar em nada a não ser na cara de mau-humor de Ivone, enfiou a mão no bolso, escavou o punhado de moedas variadas que tinha e depositou numa das mãos do garoto com cuidado, já que na outra ele segurava um objeto longo e brilhante. "‘Cê me desculpa, menino, mas isso é tudo o que eu tenho. Se eu pudesse te ajudava mais. Agora tô atrasadíssimo!" Atônito, sem entender nada da reação de sua mais recente vítima, o guri deixou cair algumas moedas no chão e gritou enraivecido "Porra, cara! Que sacanagem! Tu tá marcado comigo! Se passar aqui de novo vou te furar, seu abusado!"

Determinado em chegar na hora, o cara ignorou a passarela até o Museu de Arte Moderna e atravessou correndo as duas pistas de alta velocidade para ganhar tempo e chegar na hora. Porém quando alcançou o gramado em frente à entrada principal da Cinemateca, o cara se deu conta do que tinha acabado de acontecer: ele tinha sido assaltado. Viu Ivone de longe com um saco de pipocas na mão, pronta para dar-lhe uma bronca por chegar em cima da hora do filme. Mas parou de correr, não se conteve e começou a rir. Gargalhava sem parar pelo absurdo total da situação, se segurava nos joelhos, jogava a cabeça para trás, totalmente divertido com aquele assalto-relâmpago, que ele nem se deu conta de que tinha sido vítima.

Nem deu tempo de explicar nada a Ivone, que também ficou desconcertada. Os dois pularam para a sala escura com os letreiros do filme de Jacques Tati já subindo na tela e o cara sem conseguir conter seu riso frouxo, ecoando pela sala. Alguns espectadores ficaram felizes com a garantia de qualidade, pensando que se um cara já entra numa comédia às gargalhadas, o filme só pode ser bom mesmo! E de onde estava, o genial Monsieur Hulot agradecia o involuntário fã, seu semelhante carioca, quase tão atrapalhado quanto ele mesmo.

 

O CARA E O DISCO DO QUEEN

Quando estava no ginásio, o cara colecionava LPs e tinha o maior ciúmes de emprestar seus vinis. Não por egoísmo, de forma alguma, mas por medo de que voltassem arranhados. Afinal acidentes acontecem. Ronaldo, que estudava no mesmo colégio do cara, passou meses insistindo para que ele lhe emprestasse o disco Queen Greatest Hits (na época só existia o primeiro volume). Foi como um aríete tentando derrubar o portão de um castelo. Quase em vão. Depois de tanta insistência, o cara desistiu e emprestou o LP, mas com um aviso: "se vier com um arranhão sequer você vai comprar outro disco pra mim." Isso era sério, seríssimo. Ronaldo prometeu, jurou e levou o bolachão de Freddie Mercury e companhia todo pimpão para casa.

Mais ou menos um mês depois Ronaldo foi na casa do cara com o disco do Queen debaixo do braço. Meio sem jeito, fez mil rodeios até dizer, com um tímido sorriso amarelo, que o disco tinha caído no chão e que arranhou um pouco uma faixa, mas que não tinha danificado nada. Arrumou uma desculpa qualquer e já estava descendo no elevador antes que o cara tirasse o LP da capa e examinasse o estrago. Já com o estado natural de temperatura e pressão alterados – para cima, naturalmente – o cara viu o tamanho do lanho na superfície delicada do vinil. Rapidamente colocou o disco da vitrola (para quem não sabe o que é isso, procure na internet ou pergunte aos seus pais) e logo constatou que quase no final da canção "Good Old Fashioned Lover Boy" o quarteto insistia em repetir sem parar "...that will be fine... that will be fine... that will be fine... that will be fine..." Não, Freddie, não estava NADA BEM.

Com o mesmo empenho obsessivo – adicionado de um mediana dose de fúria – o cara passou a cobrar o juramento do Ronaldo. Após meses de pressão – e pior: se achando com toda razão! – Ronaldo, sentiu-se acossado, foi na Mesbla e comprou o mesmo disco para o cara. Mesmo assim achando que o cara não tinha nenhum direito de o obrigar a lhe devolver um LP novo. Em troca o cara lhe deu o vinil danificado e Ronaldo, só de pirraça, quebrou o bolachão de propósito.

Décadas se passaram, milhões de pessoas morreram (inclusive o líder do Queen), o número de habitantes no planeta chegou a mais de seis bilhões, incontáveis guerras foram travadas, ditaduras caíram, Odete Roitman, milhares de africanos e o fotógrafo japonês que tinha uma loja no meu prédio foram brutalmente assassinados, as "diretas já!" venceram, a internet se popularizou, o cara entrou muito à contragosto no Orkut e um belo dia foi encontrado por Ronaldo, agora gordo, executivo de uma grande empresa e pai de família. E após os devidos cumprimentos e usuais perguntas do que anda fazendo da vida e coisa e tal, o Ronaldo deixou escapar um "lembra do disco do Queen que você me obrigou a comprar pra você? Pois é, agora eu tenho a coleção completa deles em CD! E não empresto pra ninguém! Haha!"

Imediatamente o cara pensou que Ronaldo deveria morrer de medo de encontrar um outro Ronaldo em seu caminho que pudesse estragar seus discos e ainda se achar cheio de razão...

 

O CARA E A GROSELHA NATURAL

Mesa de bar. Papo vai, papo vem, e depois de navegar por vários afluentes, a turma desembocou no caudaloso rio principal comum a todos: as velharias pop dos anos 60, 70 e 80. Entre uma selva de garrafas de cerveja e clareiras de bandejinhas de batatas fritas e provolones à milanesa, a Júlia, o Augusto, a Cíntia, o Ricardo, a Adriane, o Edson, a Josie e a Fabiana levantaram uma questão crucial: será que só existia refresco de groselha artificial? A maioria ali só conhecia a lendária Groselha Milani, enquanto os mais novos mal lembravam das marcas recentes, bem menos cotadas.

No fundo da mesa, encostado num canto e bebericando seu Jack Daniels, o cara observava caladão o debate dos amigos. A maioria estava convencida de que groselha era algo tão artificial quanto os saudosos Drops Dulcora ou os cults Hall’s extra-forte. Porém Ricardo, Adriane e Fabiana tinham certeza que groselha era uma pequena frutinha vermelha, parecida com açaí ou café, mas nunca tinham provado um refresco natural dela. Júlia, a mais convicta de suas crenças, lançou "eu pago 100 reais pra quem me provar que refresco de groselha natural existe de verdade!", o que foi rebatida pelo Augusto que de um jeito sonso perguntou "esses 100 reais seriam em dinheiro ou cheque?"

"Não vejo a menor graça nisso. Parece até que estamos discutindo sobre discos voadores! Groselhas existem, acreditem!", exclamou Adriane. Fã de "Arquivo X" e infame como sempre, Josie não conteve um "eu quero acreditar", que perdeu seu duplo sentido no meio da balbúrdia de vozes do bar. Na sombra, o cara puxou um Alonso Menendez corona do bolso e continuava a prestar atenção na conversa, saborendo o aroma do charuto apagado. Por mais surreal que pudesse parecer, o assunto da groselha natural acirrou os ânimos do pessoal a ponto da Júlia botar o dedo na cara do Ricardo e da Fabiana gritar com o Edson, ameaçando a diplomacia e os afetos na mesa.

A guerrilha verbal cessou de repente quando o rosto do cara se iluminou com o súbito clarão de fogo. Ele riscara dois fósforos para acender seu charuto. Ninguém ali fumava, a não ser o cara, que adorava charutos mas detestava cigarros. Diante do silêncio inesperado ele começou: "Todo mundo aqui me conhece e sabe que eu não minto. E também conhecem meu pai e sabem como ele é sério em tudo o que faz. Eu também pensava como vocês (disse apontando para os descrentes) até que um dia, no início da década de 80 eu acho, meu pai chegou das compras carregado de sacolas – naquele tempo ainda eram de papel – e tirou de dentro de uma delas uma garrafa de vidro de um litro. Pela cor eu pensei que fosse suco de uva ou vinho. Ele anunciou a todos – como se fosse a última ceia – que aquilo que ele tinhas nas mãos era xarope de groselha natural, importada da Itália. Pela primeira vez eu vislumbrei algo que eu também sempre acreditei só existir de forma artificial. Minha mãe, que não deixava nenhum suco ou refresco industrializado entrar em casa (com exceção da groselha artificial) estava deslumbrada e parecia uma beata diante do Papa. Meu pai abriu a garrafa com a precisão de um cirurgião e a reverência de um sacerdote e serviu o xarope para toda a família. Eu peguei água na geladeira para provarmos a santa bebida. Eu garanto a todos aqui nesta mesa de que no rótulo daquela garrafa estava escrito ‘groselha natural, produto importado da Itália’, e que ainda tinha um ‘made in Italy’ no fundo. Posso viver 500 anos e jamais vou esquecer do sabor daquele refresco. Não se parecia em nada com essas groselhas artificiais que a gente estava acostumado a beber, pessoal. O gosto lembrava framboesa, amora, uva, e não era nada disso. Era único. E dava pra sentir que não existia nada de artificial naquilo. Era um líquido dos deuses. Deveria ser a versão não-alcoólica do melhor vinho do mundo. É, amigos... vocês podem brigar à vontade, por a amizade de vocês em risco se quiserem... mas eu sei que xarope de groselha 100% natural existe sim, e fui testemunha ‘paladar’ disso. Quem me dera achar de novo uma garrafa daquelas!"

Dito isso em tom solene, o cara se levantou diante dos olhares emudecidos e respeitosos da turma, deu uma baforada, pediu a Fabiana para pedir outro Jack Daniels ao garçom e anunciou que precisava ao banheiro. Enquanto o rastro da fumaça do corona atravessava o bar em direção ao lavabo, entre crentes e céticos quase todo mundo na mesa salivava, planejando a próxima vez em que iriam numa casa de bebidas importadas.

 

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O CARA E O DIA DO ANIVERSÁRIO

Para o cara, o seu aniversário era a data mais importante do ano. Do século. Da galáxia. Para ele deveria ser feriado universal, e todas as pessoas do mundo deveriam aproveitar aquele dia para fazer o que mais lhes dessem prazer – sem incomodar os outros, naturalmente. Isso era instintivo no cara, ele sentia isso de verdade.

Por esse motivo ele ficou tão frustrado no dia em que sua namorada que morava em outro Estado e que chegaria na manhã do seu aniversário teve que adiar a viagem ao Rio por causa de uma prova da faculdade, obrigando ele a mudar de planos. Pior, a passar seu aniversário sozinho. Foi para um bom restaurante italiano, sentou na varanda, pediu um talharim a matriciana e comeu tudo olhando a lua cheia de julho, com os olhos embaçados de lágrimas como se fosse o cão vagabundo da Disney sem a sua tão amada Lady.

Traumatizado por nunca ter tido uma festa surpresa, uma vez ele pediu a uma amiga uma festa surpresa de aniversário. Um absurdo, claro. E o mais absurdo é que ela conseguiu realizar a tal festa com vários amigos do cara sem que ele soubesse de nada. E na casa dele! Foi uma festa surpresa e tanto, inesquecível!

Porém o cara sempre sonhou que um dia fizessem para ele uma festa surpresa total, o que os norte-americanos chamariam de "the ultimate surprise party". Por morar sozinho, o cara gostava de manter uma cópia das chaves de casa com uma amiga, praticamente sua irmã mais velha, a Cláudia. E já que uma amiga tão querida tinha como entrar na casa do cara sem que ele soubesse, o ingênuo sujeito alimentava a fantasia de que no dia do seu aniversário alguns amigos o tirariam de casa por algum motivo – que o tonto nem perceberia – e que a Cláudia e outro grupo de amigos entrariam em seu apartamento, fariam uma faxina completa, decorariam o ambiente, encheriam o lugar de presentes e surpresas (incluindo uma garota pra passar a noite sozinha com o cara) o esperariam no escuro. Quando ele chegasse com o resto dos amigos que o arrancaram de sua solidão, todos pulariam e gritariam de felicidade, e cantariam os parabéns, e o encheriam de beijos e abraços e presentes... e o cara acordaria, já que isso era uma fantasia grande e inatingível demais para que um dia se tornasse realidade.

Um dos grandes defeitos do cara era esperar demais dos outros, confiar demais nas pessoas, enxergar bondade e boa vontade em todos que o cercavam. E quando isso falhava, ele ia de um extremo a outro: se tornava o sujeito mais paranóico do mundo, alimentando um sentimento de mágoa e raiva com toda a certeza de que todos o odiavam ou o desprezavam, e que nunca deram bola para ele. "Todo mundo me persegue, só porque eu sou paranóico" era a sua máxima nesses momentos.

E o aniversário do cara se aproximava. E como em todo ano, ele tentava sondar seus amigos para ver se descobria se uma festa surpresa estava sendo armada. Mas agora muita coisa mudara. A grande maioria de seus amigos mais queridos e mais antigos tinha se mudado de vez, moravam em São Paulo, Brasília, na serra gaúcha, em Natal, na França, ou perderam contato com ele há tempos. Seria mais fácil fazerem um show dos Beatles, Rolling Stones, The Who, Pink Floyd, Supertramp e Creedence Clearwater Revival – todos juntos no mesmo palco (inclusive os que já morreram) – do que reunir essa turma toda para uma festa surpresa para o cara. Em sua megalomania ele sentia que era um sujeito importante e fundamental para todos os que o cercavam, ao mesmo tempo que se sentia a bactéria da mosca do cocô do cavalo do bandido em sua solidão e em sua longa e forçada solteirice.

Enquanto o relógio andava, a ansiedade o corroía rapidamente como piranhas famintas num boi desgarrado. O sono da véspera o trouxe alento e o Senhor dos Sonhos o presenteou com o mais magnífico de todos os aniversários, em plena Praça de São Marcos em Veneza, pouco antes do por do sol, com todos os amigos que ele tinha imaginado (inclusive os que já morreram) lhes dando parabéns, abraços, beijos, carinho, presentes, tudo regado a bons vinhos, cerveja pros amigos, Jack Daniels e uma caixa de Montecristos no.4 para ele, sushis e sashimis variados para todos, até o raiar do dia, na belíssima e flutuante Veneza.

Depois de um dia tenso, recebendo pouquíssimas chamadas por problemas na sua conta telefônica, o cara terminou o dia do seu aniversário sentado numa mesa de restaurante, cercado de meia dúzia de três ou quatro amigos queridos, comendo sushis e sashimis contados por conta da sua carteira magra, bebendo água tônica e indo dormir sozinho, no seu solitário apartamento.

Em meio a tanta escassez e a tanta frustração, o cara até trocaria a bela e selvagem garota de seus sonhos e fantasias inconfessáveis por um grande tigre de pelúcia para dormir abraçado com ele. Pelo menos assim se sentiria mais como na verdade era, um grande Calvin de Bill Watterson, em carne, osso e ilusões.

 

sábado, 7 de julho de 2007

O CARA E O SEQÜESTRO DE GODARD

Um pouco antes de um desses festivais internacionais de cinema acontecer, a imprensa divulgou que o polêmico cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard viria ao Brasil. A maioria dos cinéfilos, alguns mesmo sem nunca ter visto um filme dele, sabiam que Godard tinha um jeito muito peculiar de fazer cinema, de revirar as entranhas da sétima arte, de mexer com o público, de encher o saco de alguns, de gozar da cara de outros, de fazer pouco do cinema convencional de começo, meio e fim, enfim, de fazer valer a velha expressão "ame-o ou odeie-o". Léo – fã entusiasmado e incondicional do tio Jean – mal continha sua empolgação e contou ao cara sua grande idéia: eles iriam seqüestrar Godard.

"Mas como assim, Léo? ‘Cê tá maluco? Isso dá cadeia, sabia?", foi a reação assustada do cara. Ainda mais por uma idéia daquelas ter vindo de um sujeito tão pacato, tímido e intelectual como o Léo. "Não, você não entendeu! A gente não vai fazer mal nenhum a ele, não vai pedir resgate, vai ser só por um dia, talvez dois!", e aí o cara ficou sem entender nada mesmo. A idéia maluca do Léo era interceptar o carro de Godard perto do aeroporto usando máscaras ou capuzes, com armas de brinquedo, jogá-lo num carro velho de algum amigo de amigo, levá-lo vendado até um casebre alugado numa região o mais erma possível da cidade, amarrá-lo numa cadeira diante de uma câmera de vídeo e fazê-lo falar. "Mas falar o que, seu tonto?", insistia o cara. "Você ainda não percebeu, cara? Vamos fazer a entrevista definitiva de Godard sobre o cinema! Garanto que ele mesmo vai adorar a nossa ousadia, a nossa iniciativa Dziga-Vertov!", e Léo delirava, sonhava acordado em estar diante de seu ídolo, fazendo uma série de perguntas sobre a forma de Godard fazer cinema e dele responder cada questão naturalmente, a despeito de estar amarrado numa cadeira desconfortável e sendo ameaçado por dois sujeitos encapuzados cujo conhecimento da língua francesa se limitava a abajour, croissant, fiancée e alguns tipos de queijos extravagantes.

Abrindo um raro e largo sorriso de entusiasmo, Léo disse "vamos fazer Godard dar a sua versão da História do cinema, cara! Nós vamos entrar pra História!", no que o cara rebateu "vamos entrar é em duas celas de cadeia ou em dois caixões, seu maluco! Seqüestrar uma celebridade internacional que com certeza vai chegar cercado de seguranças com armas de brinquedo??? Se você quer morrer, Léo, arruma um jeito mais simples!" E assim o cara foi fazendo seu amigo Léo lentamente aterrisar e botar os pés no chão, ao mostrar que aquela seria a empreitada mais doida e arriscada que eles poderiam realizar.

Acabou que Godard veio ao festival – cercado de um aparato de segurança, claro – mas por motivos de saúde, voltou para Paris bem antes do previsto, o que deixou Léo frustradíssimo. O cara desconfiava que mesmo tendo sido desencorajado do plano do seqüestro, seu amigo ainda guardava uma ponta de esperança em levar a cabo aquela insanidade.

Cerca de dois anos depois, o cara, Léo, Ricardo, Adriane, Josie e outros amigos entraram numa livraria grande dessas que têm de tudo e deram de cara com o livro "Uma História do Cinema Segundo Jean-Luc Godard". Léo se transfigurou e, enfurecido, começou a empurrar, bater e a xingar o cara aos berros em plena livraria. "Porra, ‘cê viu, seu cagão? Nós dois podíamos ter feito isso antes de todo mundo, até dele mesmo!!!" Os amigos, atônitos, não entenderam nada.

Na farmácia mais próxima, enquanto a turma do deixa disso agia e o cara recebia uns curativos, Josie ainda comentou "puxa, logo o Léo que é tão calminho e tão centrado!"

 

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O CARA E A FAROFA DO TROPEÇO

O cara, sua namorada Clarice, a amiga deles Izabel, a amiga dela Maria e o namorado desta – devidamente apelidado de "Tropeço", pela semelhança física e mental com o mordomo da família Addams – alugaram um apartamento em Arraial do Cabo, região dos lagos do Estado do Rio, para aproveitar um feriadão. Mal chegaram e já estavam loucos para correr para a praia, em frente ao prédio. Porém a fome coletiva também clamava por atenção. Izabel e o cara logo se apresentaram como voluntários para preparar o almoço da turma. Sem que ninguém esperasse, o lerdo Tropeço disse que se encarregaria da farofa, pois tinha uma receita sensacional de família. A turma em silêncio ouviu ele garantir que todos iriam adorar sua farofa especial. Uma pequena atmosfera de medo passou por ali como vento encanado.

O cara se dedicou a fazer seu tão falado bolo de carne com cebola e bacon enquanto Izabel preparava um panelão de arroz. Clarice desfazia as malas e Maria foi num mercadinho próximo comprar uns refrigerantes e cerveja. Tropeço se ofereceu para ir com ela, e logo ouviu "mas você não disse que ia preparar a farofa?" Angustiado com o dilema, o desajeitado namorado de Maria pegou uma frigideira, a farinha e foi se instalar diante do fogão.

Enquanto misturava a carne moída com o creme de cebola de pacote, o cara olhava de rabo de olho para o fogão e logo notou que a "fantástica receita de família" de farofa do Tropeço não passava de farinha e sal, levemente esquentados em fogo baixo. Ele e Izabel se entreolharam com espanto. Tropeço ficava lá com seu olhar vazio mexendo com a colher na frigideira e nada de acrescentar mais nenhum ingrediente. Izabel olhava preocupada para o cara e ambos estampavam a expressão "o que diabos esse cara está fazendo?" na testa.

Clarice entrou na cozinha para preparar uma salada, viu os fatos e rapidamente pensou que a areia da praia talvez fosse mais saborosa que a pseudo-farofa de Tropeço. O esquisitão continuava a mexer, mexer, mexer com a colher na frigideira cheia de farinha, sal e mais nada, sem proferir uma só palavra sequer, ignorando todos à sua volta, como se estivesse sozinho no planeta – e provavelmente estava mesmo, só, no planeta dele. De repente Tropeço desligou o fogo, deu mais umas mexidas e disse "está pronto", e saiu porta afora atrás de Maria.

O cara, Clarice e Izabel se entreolharam por três segundos e meio antes de agir. Com a rapidez de um videoclipe, Izabel cortou mais cebola, Clarice pegou dois ovos que tinham acabado de por na geladeira e o cara esquartejou rapidamente duas fatias de bacon. Antes que o estranho casal retornasse com os líquidos, todos os ingredientes extras já estavam devidamente misturados à farinha morna de Tropeço.

Sentados à mesa, Maria elogiava a farofa crocante e saborosa do namorado, se dizendo sinceramente surpresa, já que ele só sabia fazer farinha morna e salgada. Intrigado, Tropeço não conseguia entender como aquela receita ficou tão diferente da sua tradicional receita familiar. E o resto da turma se concentrava em não rir da situação, pois do contrário seria uma nuvem de farofa só sobre a mesa do almoço.

 

terça-feira, 3 de julho de 2007

O CARA E O SUSHI

Clarice foi a quinta namorada e a segunda grande mulher e musa na vida do cara. Entre muitas outras coisas, eles adoravam comida chinesa. Sempre que podiam, freqüentavam um restaurante bacana no Largo do Machado, em cima de um salão de bilhar. Comiam sempre yakissoba. De frango, de carne, de frutos do mar, misto, sempre o bom e saboroso yakissoba. Clarice de vez em quando sugeria que eles mudassem para sukyaki, que era preparado pelo cozinheiro ao lado da mesa e cheirava muito bem, mas eles acabavam protelando a mudança de cardápio.

Como o restaurante servia comida chinesa e japonesa, as garçonetes costumavam passear com bandejas de comida nipônica o tempo todo. Boa parte da clientela era de executivos japoneses e sempre pediam sushis, sashimis, tekkamakis, kappamakis, e outros acepipes da terra do sol nascente. Aquela comida exótica e multicolorida enchia os olhos do cara e de Clarice, que enquanto degustavam seu querido yakissoba, ficavam a ver os navios de sushis e sashimis singrando pelo restaurante, como se esses lhes sorrissem e acenassem do alto dos ágeis e equilibrados braços das garçonetes.

Esse papo preconceituoso de "argh, isso é peixe cru!" passava longe da cabeça e dos curiosos estômagos do casal, e um dia eles decidiram experimentar o que se comia no país de National Kid. Antes de mais nada, chamaram a garçonete que costumava atendê-los e baixinho explicaram a situação. "A gente nunca comeu sushi mas tá louco pra provar, o que você sugere?" A moça sorriu diante da virgindade gastronômica dos dois e ficou feliz por poder proporcionar sua entrada no maravilhoso mundo da comida japonesa. Explicou que era melhor pedir uma dupla, pois assim cada um experimentava um sushi para ver se realmente os apetites do casal seriam tão seduzidos quando seus olhos. Decidiram por atum, por ser mais barato e pela familiaridade com aquele peixe imenso que eles conheciam das latinhas em óleo vegetal.

Diante dos pequenos sushis de atum, prontos para o sacrifício, a garçonete ensinou à Clarice e ao cara como usar os pauzinhos – ou hashis, para os iniciados – e assim se deu o primeiro contato dos dois com a famosa cozinha japonesa. Clarice detestou aquele bolinho de arroz grudento com um filezinho de atum cru em cima e o cara – surpreendentemente – se apaixonou pelo sabor do sushi na mesma hora. Ficou entusiasmado e queria pedir uma porção maior, sugestão definitivamente vetada por ela. E o bom e velho yakissoba misto, quentinho e cheiroso de sempre aterrisou na mesa em poucos minutos.

Na vez seguinte que Clarice e o cara foram ao restaurante, ele avisou na hora: "Você eu não sei, mas eu vou comer sushi. Um grande prato de sushi de atum." Ela nem cogitou tal sugestão e ficou mesmo num saboroso yakissoba de frutos do mar. Sem discussão, os dois jantaram tranqüilamente. Isso até o cara perceber que sua namorada não desgrudava os olhos de sua generosa porção de sushis de atum, enquanto mandava o yakissoba pra dentro. Meio envergonhada e curiosa, ela pediu "posso provar um sushi de novo?" Ele riu, sentiu-se feliz por ela dar o braço à torcer e esforçando-se em equilibrar o pequeno bolinho de arroz e atum com o hashi, o levou até a boca de sua amada. O cara parou para observá-la. Clarice mastigou demoradamente, revirou os olhos e por fim decretou: "É, até que não é ruim." Ele sorriu, disse algo que a deixou levemente irritada e ambos dedicaram os minutos seguintes a explorar os sabores únicos de suas refeições em silêncio.

Um tempo depois, após muitas massas, churrascos, pastéis de carne de soja, saladas, pratos árabes e mexicanos, Clarice e o cara voltaram ao seu templo alimentar oriental favorito. Novamente ele deixou bem claro: "Você eu não sei, mas eu vou pedir sushi. E desta vez vou provar outros peixes também!", no que ela rebateu "EU TAMBÉM vou pedir sushi!"

Sorridente, a garçonete usual trouxe o primeiro barco de sushis do casal, eles não demoraram a aprender a manipular os hashis como legítimos samurais e por muito tempo – muito tempo mesmo! – Clarice e o cara nunca mais sentiram nem cheiro de yakissoba.

 

sábado, 30 de junho de 2007

O CARA E A JAQUETA JEANS

Chris era paulista e uma das melhores amigas do cara. Ela sempre dizia que ele iria adorar a Feira da Benedito Calixto, arqueólogo pop que era. E quando ela veio ao Rio, na primeira oportunidade que teve, ele a carregou para o equivalente carioca (mais humilde e democrática, verdade seja dita), a Feira da Praça XV. Sábado de manhã, o cara, Chris, Armando, Luísa e Igor se equilibravam entre as ofertas mais diversas do planeta, espalhadas debaixo do viaduto da perimetral.

Para o cara, que montava maquetes e dioramas, a feira era um grande exercício de imaginação. Uma engrenagem de relógio poderia se transformar no motor de algum navio enquanto um brinquedo de bebês podia virar uma máquina de torturar robôs. Igor, que namorava Chris, fazia suas comparações com a Benedito Calixto, que era mais chique e tinha raridades mais caras. Armando e Luísa estavam mais ali de curtição, para ver a luz do sol, let the sunshine in.

De repente, Chris se entusiasma com uma jaqueta jeans que avista no meio de uma maçaroca de roupas velhas. Realmente era uma jaqueta diferente, fora de moda, e justamente por isso bonita e especial. Estava coberta de lama, encrustada em todas as dobras. "Quanto custa essa jaqueta, moço?", perguntou a paulisssta. "São três real, moça", mas vendo a expressão de espanto da menina de olhos verdes brilhantes e arregalados, o mercador completa, "mas posso fazer por dois real, se a senhora achar caro."

Todos se entreolharam espantadíssimos, Chris puxou duas notas, entregou ao moço, pegou uma sacola de supermercado com a jaqueta suja dentro e saiu feliz da vida. "Na minha máquina de lavar essa jaqueta não entra!", decretou o cara.

Depois de um tratamento "stone-washed" no tanque do cara, Chris voltou pra Sampa com um sorrisão no rosto e embrulhada na jaqueta previamente amaciada. Igor teve que concordar que nunca achariam uma oferta dessas na Feira da Benedito Calixto, por melhor que ela fosse.

 

O CARA E A VOLTA PARA CASA

O vôo de Salvador para o Rio de Janeiro estava marcado para às 18 horas. O ônibus de Lençóis para a capital partia ao meio-dia e a viagem durava cerca de cinco horas. Como era o único transporte público local – trocando em miúdos, sua única chance de chegar a Salvador –, o cara nem deu ouvidos aos comentários dos colegas de viagem que o acompanharam até o Poço Encantado, no dia anterior. "Tu é louco, cara! Pegar um ônibus com o tempo certo pra chegar no aeroporto... ainda mais com essas estradas! Tu vai acabar perdendo o avião!", e ele nem ligava.

Às onze horas o cara analisava o cardápio minuciosamente, tentando escolher algo tipicamente baiano e ao mesmo tempo familiar para comer. Resumindo, o carioca queria algo que não existia: um híbrido alimentar. Sentado num canto sombreado do restaurante, ele admirava a luz do sol entrando no recinto e iluminando apenas alguns móveis, paredes, plantas, a poeira nordestina dançando no ar o fascinava. Cansado dos dois dias que mais pareceram duas semanas, o cara decidiu por um filé de peixe ao molho de camarão, com purê de batatas e uma saladinha verde, tudo "à moda da casa". Peixe, purê e salada eram leves e saudáveis, e deveriam servir para agüentar cinco horas dentro de um ônibus calorento. O problema é que ele desconhecia totalmente as intenções dos camarões do molho e o significado da expressão "à moda da casa" naquele restaurante.

Barriga cheia, passagem de busão na mão, mochila nas costas e o indefectível chapéu de feltro na cabeça, o cara embarcou naquele velho ônibus para uma viagem inesquecível até Salvador, cidade de nome bastante sugestivo naquele caso. Acomodou-se na poltrona levemente reclinável, atochou os fones no ouvido, ligou o discman, escolheu Luiz Gonzaga para acompanhar-lhe na viagem e relaxou. "Vai, boiadeiro, que a tarde já vem... leva o teu gado e vai pensando no teu bem..."

Não demorou muito para o ônibus começar a se mexer e pegar a estrada em direção ao litoral. O cara estava tão chapado com as aventuras na chapada e com o farto almoço que parecia organicamente integrado àquela poltrona velha. "Ai, ai, que bom, que bom que é, uma estrada e a lua branca no sertão de Canindé..." e o sono chegando. E com cinco horas pela frente, não custou pro Gonzagão convencer o cara a dar uma passeada pela Terra dos Sonhos. Lá ele dançou no Forró de Mané Vito, agarrando a moça de cintura fina, também a que só qué, só pensa em namorá, deu um giro na Feira de Caruaru, aprendeu o ABC do sertão, singrou pelo riacho do navio no Rio São Francisco até bater no meio do mar...

E enquanto sonhava com o sertão do velho Lua, o cara acordou com os solavancos do ônibus sobre a estrada federal mais esburacada do planeta. Aquela via, apesar de responsabilidade da Federação, nunca tinha sido apresentada ao asfalto. Era terra pura com mais buracos que um queijo suíço. E um dos passageiros próximos avisou: "Ih, essa buraqueira vai até quase Salvador! É um inferno!"

Se fosse só isso o cara continuaria passeando com o Luiz Gonzaga, mesmo acordado. Porém uma rebelião silenciosa (a do pior tipo) acontecia em seu estômago e intestino. Os camarões do molho do almoço se juntaram ao peixe que nadava contra as águas do riacho do navio e armaram um motim. Ouvindo Lua cantar "tem carça de alvorada que é pra matuto não andá nu", o cara arregalou os olhos e temeu por sua cueca limpa. Largou a mochila e o discman e tentando se equilibrar entre as velhas poltronas, alcançou o minúsculo banheiro do ônibus e se trancou lá dentro, antes que seu esfíncter destrancasse de vez. Rapidamente, como se sua vida dependesse disso, arriou as calças de pano e a cueca samba-canção e nem pensou em forrar a tábua com papel toalha. A comporta da hidrelétrica se abriu e o almoço "saudável" do restaurante de Lençóis foi parar na privada metálica do veículo. Os camarões revoltosos saíam como guerreiros ensandecidos, liderados pelo peixe do riacho do navio, tudo em estado líquido. O cara se segurava nas paredes, o suor lhe cobria a testa, enquanto a buraqueira da estrada de terra se encarregou de transformar uma viagem de ônibus numa tempestade em alto mar. Quando os duros amortecedores traseiros se encontravam com a estrada, parecia que o cara estava montado num touro de rodeio enfurecido, porém com uma cobertura indesejável. Desesperado, o cara abriu toda a janela, pôs a cabeça pra fora e não conteve o grito óbvio: "QUE MEEEEEEEERDA!"

Seria cômico, se não fosse trágico. Mas no fim, entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Principalmente as calças e a cueca do cara, que milagrosamente escaparam ilesas à catástrofe gástrica. Ele jogou uma água no rosto cansado, molhou os cabelos para espantar o calor e saiu do banheiro. Foi-se sentar em seu lugar, ainda combalido com a revolta dos camarões baianos. Por precaução, pulou a faixa "Piriri" do CD, apesar do Gonzagão só falar "como é bom São João na roça."

E o rei do baião confessava: "Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz, guardando recordações das terras onde passei, andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei", e a viagem seguia tranqüila e feliz, após o desarranjo inesperado.

Ao notar que o sol era cada vez mais atraído pelo horizonte nordestino, o cara se apercebeu de que estava no limite de tempo para chegar no aeroporto. Começou a ficar preocupado, principalmente porque há anos eles não usava relógio. Levantou-se e foi galgando o corredor do ônibus até chegar perto do motorista. "Moço, que horas o senhor acha que a gente chega na rodoviária?", "Se avexe não, moço, umas cinco horas no máximo a gente está lá!", acalmou o piloto. O cara voltou um pouco mais tranqüilo para o seu lugar.

Aproximando-se de Salvador, o ônibus se encaixou no fim de um engarrafamento imenso e preguiçoso. A velocidade passou de 70 para 15 km por hora, enquanto os batimentos cardíacos do cara iam de 80 para 140 por minuto. Ele olhava o pescoço do motorista e ainda cogitava se valia a pena apertá-lo para que o veículo disparasse até seu destino final. Mas como desesperar não adiantava nada, o bólido enfim alcançou a rodoviária em passos de cágado.

Apesar de tudo, o relógio público marcava 17:15hs. Era hora do cara virar super-herói. Pulou no primeiro táxi vazio que encontrou e anunciou, como num filme de ação, "aeroporto, o mais rápido que você puder!" Pelo visto o taxista tinha visto o mesmo filme, pois nem precisou de explicações para pisar fundo no acelerador. Feliz como se tivesse esperado a vida inteira por um passageiro apressado como aquele, o motorista explicou o trajeto ao cara, dizendo que ia cortar caminho por aqui e acolá, e que assim que passassem por um trevo coberto de pinheirinhos, como se fosse um túnel natural, eles estariam muito próximos do aeroporto. O cara, de estômago vazio, engolia em seco e só pensava se daria tempo de fazer o check-in e pegar seu avião até às seis. "Ô, carioca, te aquieta que comigo tu chega lá num átimo!", disse o baiano arretado.

O túnel de pinheirinhos os cobriu e em segundos o táxi freou, o cara pagou e saiu correndo com a mochila nas costas na direção do balcão de check-in da empresa aérea. Faltando 20 minutos para as seis ele conseguiu relaxar. Agora era só esperar a chamada do vôo. Gonzagão voltou a animar o cara no discman cantando "tá é danado de bom, tá danado de bom, meu cumpade, tá é danado de bom, forrozinho, bonitinho, gostosinho, safadinho, danado de bom." Finalmente relaxado após toda aquela correria bem sucedida, o cara sorria feliz da vida.

Olhou pro relógio do aeroporto e viu que só faltavam cinco minutos pras seis. Por que será que ainda não chamaram pra sala de espera? Decidiu ir mesmo assim, seguindo o bilhete e as indicações nas placas. Entrou e notou que o salão de espera estava vazio. Foi perguntar à comissária que recebe os bilhetes aonde estava o seu vôo. "É aquele avião ali, taxiando na pista... o senhor não ouviu a chamada?"

Alucinado, o cara se atirou na porta de vidro, com esperanças de que pudesse atravessá-la, correr atrás do avião em movimento, se agarrar no trem de pouso e seguir viagem assim mesmo. Tudo em vão, claro. "Eu não tenho mais dinheiro pra pegar outro vôo! Como eu vou fazer pra sair daqui? Pelo amor de Deus, alguém pode me ajudar?", isso tudo aos berros, descontrolado. A comissária o acalmou, o levou para a sala vip e disse que ele embarcaria no avião seguinte para o Rio, que partiria uma hora e meia depois. Mais calmo, o cara lembrou que tinha tudo calculado para chegar no aeroporto internacional do Rio antes do ônibus frescão terminar seu turno do dia, às nove da noite. Que se dane! No Rio ele daria um jeito! E foi fazer uma refeição reforçada numa lanchonete moderna do aeroporto de Salvador. Sem camarões suspeitos, por favor.

Já no Rio, no saguão de desembarque, ainda pensando na falta de ônibus, o cara esbarrou com um sujeito estranho que tinha estudado no mesmo colégio que ele em outra série, e de quem todos zombavam. Por mais que tentasse não lembrava o nome dele. "E aí, rapaz! Você por aqui? Tá vindo de onde? Alguém vem te pegar? Tá de carro? Não sabia que você dirigia, que legal! O carro tá cheio? Será que cabe mais um?"

Com a mochila no colo, espremido entre dois parentes sisudos do ex-colega de colégio semi-desconhecido, o cara desembarcou com educados salamaleques pré-fabricados na frente do seu prédio. Chave na porta, mochila jogada no sofá, o cara se atirou na cama, ainda com resquícios de poeira baiana nas calças. Banho, só no dia seguinte. O mais importante é que ele tinha chegado são e salvo. O cara tinha sobrevivido a mais uma.

 

sexta-feira, 29 de junho de 2007

The Big Wazowski = The Big Lebowski + Monsters Inc.




Perfeita essa fusão entre "O Grande Lebowski" com "Monstros S.A.", principalmente porque John Goodman e Steve Buscemi estão em ambos os filmes. As imagens são do desenho da Disney/Pixar e os diálogos são todos do filme dos irmãos Joel e Ethan Coen, com direito a uma imagem de "Fargo", dos dois, quase no fim do trailer.

"Wazowski no, sir! I'm the dude, man!"

terça-feira, 26 de junho de 2007

“A Man Of Constant Sorrow”




“A MAN OF CONSTANT SORROW”
(Com os Soggy Bottom Boys)


(In constant sorrow through his days.)

I am a man of constant sorrow,
I've seen trouble all my day.
I bid farewell to old Kentucky,
The place where I was born and raised.
(The place where he was born and raised)

For six long years I've been in trouble,
No pleasures here on earth I found.
For in this world I'm bound to ramble,
I have no friends to help me now.
(He has no friends to help him now)

For I'm bound to ride that northern railroad,
Perhaps I'll die upon this train.
(Perhaps he'll die upon this train)

Maybe your friends think I'm just a stranger
My face, you'll never see no more.
But there is one promise that is given
I'll meet you on God's golden shore.
(He'll meet you on God's golden shore)

* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *

(George Clooney liderando, John Turturro & Tim Blake Nelson nos backing vocals e Chris Thomas King na guitarra. Clipe do filme "E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ?", de Joel e Ethan Coen, de 2000)

Jesus Quintana em "O Grande Lebowski"




Uma perfeita apresentação de personagem, Jesus Quintana, um jogador de boliche freak, talentoso, desbocado e pervertido, brilhantemente interpretado por John Turturro. Poucas palavras, movimentos lentos, uma caracterização bizarra, uma interpretação soberba. Um ator excepcional no meio de um elenco de primeira. Na cena, além de Turturro, Jeff Bridges (Jeffrey Lebowski, ou melhor, "the dude"), Steve Buscemi (Donny Kerabatsos) e John Goodman (Walter Sobchak).

Legenda...
The Dude: Fuckin' Quintana... that creep can roll, man.
Walter Sobchak: Yeah, but he's a pervert, Dude.

domingo, 24 de junho de 2007

O CARA E A AVENTURA NA CHAPADA

O cara era louco para conhecer a Chapada Diamantina e tinha terminado um trabalho de uma semana em Ilhéus. Seu bolso lhe disse que ele estava liberado para passar dois dias em Lençóis. O cara desembarcou do ônibus se sentindo um personagem misto de Guimarães Rosa e Sérgio Leone. Com um chapéu de feltro marrom enfiado na cabeça e a barra da calça comendo a poeira quente das ruas, aquele forasteiro não ansiava por um duelo ao sol e sim por conhecer o máximo das belezas naturais da região no mínimo de tempo possível.

Em Salvador conseguiu o endereço de uma simpática pousada na beira do rio de Lençóis e logo estava tirando a mochila dos ombros e espichando as costas numa cama rústica porém confortável. O lugar até podia ser simples mas a vista que o cara tinha da janela do quarto era deslumbrante! Entre árvores de pintura, debruçado sobre a sonoridade repousante do rio, os grande morros ao longe, a luz do dia entrava ali de maneira suave, como se pedisse licença.

A água do banho mal tinha evaporado do seu corpo e o cara já estava de novo nas ruas, procurando uma agência de turismo que alimentasse sua fome de aventuras. A placa numa porta o atraiu, ele entrou. As velhas tábuas de madeira rangeram sob seus pés, o que fez com que os olhos do agente se desviassem dos cheques e faturas dos cartões de crédito e fossem pousar no jovial forasteiro de cabelos molhados. "Mas hoje é segunda-feira, dia morto pro turismo! O pessoal foi todo embora ontem!" O cara acabara de perceber que os dois dias de folga que seu bolso lhe dera eram segunda e terça, dois dias tão agitados para o turismo de Lençóis quanto é um domingo de tarde no Centro do Rio de Janeiro. Mesmo assim ele conseguiu um acordo com o agente. "Eu preciso resolver uns negócios em Mucugê, tenho que passar pelo Morro do Pai Inácio. Te deixo ali e na volta, umas duas horas depois, te pego, ok?" Era o melhor que ele podia conseguir, ainda mais levando-se em conta de que ia sair por menos da metade do preço normal.

Uma hora e meia depois, com um modesto porém honesto café da manhã no estômago, a mochila nas costas e seu estimado chapéu de feltro na cabeça, o cara já estava sacolejando na velha veraneio, em direção ao coração da Chapada Diamantina. O agente, apesar de simpático, falava pouco e se limitava a responder às vorazes curiosidades geográficas e históricas do cara sobre a região. Já sabia ande ficava o Morrão, a Cachoeira da Fumaça, o Poço e a Cachoeira do Diabo, o rio Mucugezinho, e o famoso Poço Encantado, onde pretendia ir no dia seguinte com um grupo de turistas estrangeiros desgarrados como ele.

De repente, logo após uma curva, como Richard Dreyfuss avistando a Torre do Diabo pela primeira vez em "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", o cara tem a primeira visão do Morro do Pai Inácio, o ponto mais alto e símbolo da Chapada Diamantina. É uma visão maravilhosa, incrível. Finalmente ele estava lá, no coração da parte mais bela do sertão baiano. A veraneio passou por uma pousada solitária no meio do nada, fez uma curva fechada, deu a volta no morro e começou a subir. O agente explicou ao cara que ia deixá-lo no pé da trilha por onde seguem os turistas e monitores, que era uma subida simples, que não havia risco. Antes mesmo da poeira do carro baixar, o cara já ajeitava a mochila e ia seguindo as indicações do agente por onde seguir até chegar no topo do Pai Inácio. Cerca de duas horas depois ele seria resgatado na frente do bar da pousada, em frente ao morro, como combinado. Adiós amigo e lá foi ele barranco acima.

Com a endorfina e a adrenalina fluindo nas veias, o cara galgou a trilha de pedregulhos do morro como quem sobre a escada de um prédio, só que com um entusiasmo descomunal. Ele sabia que por mais simples e seguro fosse aquele caminho, nenhum turista se arriscava por ali sozinho, apenas com o auxílio de monitores experientes. Isso o deixava orgulhoso, feliz, intrépido. E lá estava ele, um Indiana Jones tropical improvisado, com o chapéu do herói, totalmente impróprio para aquela situação, fazendo sua cabeça suar em bicas. Rindo sozinho, ele tentava abarcar todos os aspectos da experiência. O Morro do Camelo às suas costas, a visão poderosa da região dos morros em volta, a configuração do próprio Morro do Pai Inácio, o lindo céu azul cheio de nuvens brancas sobre seu chapéu de aventureiro de cinema.

Quase no topo o cara pisou em duas pedras em falso e bambeou. Olhou para baixo e notou que entre as pedras haviam duas cobras, pequenas e coloridas, alternando as cores preta, vermelha e branca, em anéis. Abrindo uma gaveta em seu cérebro, ele consultou um livro de biologia e a velha enciclopédia "Os Bichos", que seu pai colecionou nas bancas para ele, e se lembrou que aquela espécie poderia ser a cobra-coral ou a falsa coral. A segunda, totalmente inofensiva, mas a primeira inexoravelmente letal. Ainda mais num lugar ermo como aquele, longe de qualquer fonte de soro anti-ofídico, seu destino seria óbvio e agonizante. Sem pensar muito, ele preferiu não perguntar aos répteis a qual espécie eles pertenciam e num raio, pulou para o topo do morro.

Lá estava ele, Zeus no Olimpo, ou melhor, o cara no ponto mais alto do Morro do Pai Inácio, dominando a sua tão almejada Chapada Diamantina. Esquadrinhando cada centímetro da vegetação do topo, vislumbrando a Chapada em 360º, programando a câmera pra fotografá-lo no automático, o "Dr. Jones" tupiniquim em toda a sua glória solitária na aorta do coração da Bahia, o cara ficou ali no seu trono natural por duas horas, aproveitando cada segundo, ao som das trilhas sonoras que John Williams compôs para o arqueólogo de Steven Spielberg, feliz como uma criança de seis anos num parque da Disney.

Com medo de perder a espaçonave velha e combalida do agente que o levaria de volta à civilização, o cara desceu o Morro do Pai Inácio, e ao sopé dele ficou esperado o anacrônico bólido bebendo uma água mineral no bar da pousada ali em frente. Uma bela moça, morena-jambo e com mais curvas que as estradas locais, veio lhe atender com um sorriso luminoso. Enquanto a veraneio do agente não dava sinais de vida, e na falta de clientes, ela sentou ao lado do cara na soleira do bar para um dedo de prosa. "Que cidadezinha é aquela ao longe? Parece tão pequena e tão isolada de tudo!", o curioso queria saber. "Ah, ali é São João Não-Sei-das-Quantas", a terra do lobisomem.", disse a menina, com a maior das naturalidades. "Lobisomem?!?!" E ela contou que naquele lugar além do Morro do Camelo, que ao longe mais parecia uma maquete, havia um velho, o homem mais velho do vilarejo, de quem todos gostavam, que presenteava as crianças com criativos brinquedos de madeira e juta, e que em toda noite de lua cheia virava lobisomem. O sujeito beirava os 90 anos e carregava essa maldição há décadas. Como a população do lugar já sabia disso, mantinha as portas e janelas trancadas uma vez por mês e não deixava o monstro entrar em suas casas nem o preconceito contra o querido velho entrar em seus corações. A besta-fera nonagenária se alimentava de rezes, porcos e animais selvagens da chapada, evitando fazer mal a seus conterrâneos. E assim que a lua cheia ia dormir e o sol batia ponto de manhã a vida continuava normalmente.

O cara ouviu aquilo tudo espantado, com a nítida sinceridade da moça, mas deixou escapar um sorrisinho de escárnio e dúvida entre um gole e outro da segunda garrafa d’água. O pai da garçonete, dono da pousada e do bar, veio se juntar a eles e foi logo perguntando à menina se já tinha contado ao forasteiro a história do lobisomem da chapada. O cara engasgou com as bolhas da água com gás e começou a dar mais crédito à narrativa da moça. Ele que tanto adorava filmes como "Grito de Horror" e "Um Lobisomem Americano em Londres" poderia mesmo crer que um monstro sobrenatural daqueles vivia ali pertinho de onde ele reinou por duas horas?

A conversa e as perguntas seguiam adiante e de arqueólogo de araque o cara se transformou em pesquisador do folclore e repórter inquisitivo. Na parede do restaurante, o ponteiro das horas do velho relógio da Brahma indicava que os negócios do agente na cidade vizinha tinham ido muito além do previsto. Pouco antes do crepúsculo se anunciar nos céus da chapada e quando o cara estava praticamente convencido de que ele e os licantropos coexistiam no mesmo mundo, no mesmo país, e falavam a mesma língua, a veraneio freou bruscamente diante do trio, levantando poeira e embaralhando as crenças do turista. "Perdoe a demora, seu moço, mas é que eu tive uns problemas lá em Mucugê que não dava pra deixar pra outro dia."

Pagou as três águas, despediu-se da bela moça e do pai dela, entrou na veraneio largando a mochila no banco de trás e voltou para Lençóis, ignorando as belas visões à sua volta. Não parava de pensar naquela história e se lamentava de não ter a chance de poder conversar cara a cara com o lobisomem da Chapada Diamantina. Será que bala de prata resolvia mesmo? Isso só o velho ancião poderia lhe esclarecer.