quinta-feira, 14 de outubro de 2004

LOUIS ARMSTRONG, UM ANJO ENTRE NÓS


"Por que a vida vale a pena ser vivida? Essa é uma boa pergunta. Hum... Bem, existem certas coisas que a fazem valer a pena. Uh... Como... ok... Pra mim, oh... Eu diria... que, Groucho Marx, pra citar um exemplo... uh... mmm... e Wilie Mays... e mmm... o segundo movimento da Sinfonia Júpiter... e... a gravação de ‘Potato Head Blues’ de Louis Armstrong..."
(Isaac Davis em "Manhattan")

* * *

Até há uns dez anos atrás eu ignorava o jazz. Fora uma ou outra coisa, achava o jazz muito chato. Aquele bebop e aquele fusion dos anos 50 pra cá que muitos veneravam me parecia uma música enfadonha, que levava do nada a lugar nenhum. Nessa época Louis Armstrong era para mim apenas um senhor de idade muito simpático que tocava trompete e cantava "What a Wonderful World".

Devagar, muito sutilmente – um pouco pelos filmes de Woody Allen, um pouco pelo clima que eu buscava quando comecei a curtir meus charutos – fui descobrindo uma nova música. Nova para mim, pois era mais velha do que o jazz que eu conhecia e desprezava. Viajando pelos anos 20 e 30, entre Nova Orleans, Chicago e Nova Iorque (sem sair do Rio de Janeiro), comecei a ouvir sons agitados, alegres, contagiantes, que nada tinham a ver com o tal bebop ou o fusion. Era quase como um tipo de rock’n’roll, só que sem ligar na tomada. Porém tinha uma eletricidade extraordinária! Aos poucos fui me deixando seduzir pelo jazz. Ou mais especificamente, como descobri mais tarde, o dixieland, o ragtime, o jazz de Nova Orleans, o swing das big bands, muito prazer em conhecer! Fui sendo apresentado a artistas como Scott Joplin, King Oliver, Jelly Roll Morton, Fletcher Henderson, Bix Beiderbecke, Billie Holiday, Duke Ellington, Sidney Bechet, Ella Fitzgerald, Count Basie, Chick Webb, Benny Goodman, Glenn Miller, e me encantava por todos eles. Só que de repente percebi que toda essa turma venerava um sujeito jovem e risonho que dividia seu talento entre o trompete e um vozeirão maravilhoso. Era o jovem Louis Armstrong.

"Satchmo" – como também era conhecido – tinha um vigor, um senso de experimentação, uma genialidade extraordinários. Era bem diferente daquele velho senhor que eu conheci minha vida toda. O jovem Louis ditava as regras, criava um swing inédito, era como um navegador pioneiro levando o mundo todo por caminhos desconhecidos e maravilhosos! Seu ‘scat singing’, seus improvisos no trompete, seus arranjos brilhantes revolucionaram a música moderna da mesma forma que Chaplin, Griffith e Eisenstein faziam com o cinema. Um jovem Bach, um Mozart moleque, um garoto Beethoven, negro, pobre e perfeito. O próprio anjo Gabriel com seu trompete!

Há cerca de dois anos assisti e gravei a série "Ken Burns JAZZ", que revi várias vezes e estudei com paixão. Foi meu curso intensivo de jazz. Aprendi muito com a série e passei a amar, respeitar e admirar mais ainda todos esses grandes artistas que faziam a mais louca música entre os anos 20 e 40. Porém aquele garoto de 20 e poucos anos, sorriso largo e trompete na mão sempre será para mim o maior de todos, o monstro sagrado, um legítimo anjo vivendo entre nós. E espalhando alegria e felicidade com sua voz e sua música magníficas.


P.S.: Woody Allen tem toda razão. Uma das coisas que fazem a vida valer a pena é a gravação de "Potato Head Blues" com Satchmo e seus Hot Seven. E "West End Blues" com ele e seus Hot Five. E por aí vai... ;-D

P.S.2: Esse texto é dedicado a todos aqueles que curtem o mesmo tipo de jazz que eu curto. ;-)

7 comentários:

  1. :-)))amei o texto...vou ficar te devendo um CD de uma cantora maravilhosa Diane Shurr, a branca mais negra do Jazz...ela � maravilhosa!!!!
    bjs

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  2. Ritmo fascinante o jazz e seu texto. Parab�ns.

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  3. Gene Krupa foi o precursor do Keith Moon e do John Boham!!!
    Ele literalmente arrebentava na bateria!!!
    Só o baixinho arretado Chick Webb era páreo pra ele!!!
    O próprio Krupa reconhecia isso.

    Abração, sumido!

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  4. Oz, segundo sua recomendação estou aqui e adorei a homenagem a Armstrong. Estou em uma fase Satch Total!!!!! No momento estou ouvindo Louis Armstrong Meets Oscar Peterson mais uma vez. Nunca é demais!!!!
    Nos falamos!!!!
    Abraço!
    Igor Oliveira

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  5. É isso aí.
    Veja bem. Sou, de certa forma, eclético. Vou do metal ao jazz, do blues ao rock'nd'roll (claro, não chego nas esferas baixas do funk, e gêneros afins).
    Quanto ao Jazz, Armstrong é o principal!

    Abraços, Oz
    LNN

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